Diretor Ivo Moreira  \  Periodicidade Mensal
sexta, 09 outubro 2020 22:01

Está quase tudo diferente

Muitos de vocês não me conhecem. Faço produção de eventos e é no backstage e longe das câmaras que me sinto bem.

Fiz parte da criação de alguns projetos e conceitos inovadores e do relançamento de muitos outros - (Flash, Bloop, Ribatexas, I Love Baile Funk, Revende of the 90’s, para vos dar alguns exemplos). Neste momento abraço o projeto H Collective, empresa detentora de alguns destes conceitos e entrei recentemente num novo desafio chamado "Lorosae", um Restaurante/Bar de praia na Costa da Caparica.

Nesta altura do ano normalmente estaria envolvido em duas ou três rentrées de espaços noturnos em Lisboa, só que não. Deveria estar a preparar o lançamento da nova Tour Revenge of the 90's, só que não. Estou com tempo para escrever este artigo de opinião durante o mês de Setembro.

Estamos cansados de não poder trabalhar, a tentar reinventar negócios e formas de estar. Estamos com saudades. Passaram 6 meses desde que o nosso mercado parou e dançar juntos de copo na mão já parece uma coisa do passado.

No início parou mesmo, mas em meados de Julho quando alguns espaços, depois de algumas readaptações, começaram a conseguir fazer algum tipo de eventos com lugares sentados e o devido distanciamento, apareceu uma luz de esperança e o pensamento imediato foi: "isto a pouco e pouco vai arrancar". 

Alguns arregaçaram as mangas e conseguiram dar a volta para abrir, outros não tinham nos seus espaços forma de contornar as coisas para estarem legais nas novas regras. Em tempos tão difíceis foi engraçado ver as pessoas a adaptarem-se a estar depois de um copo ou dois sentadas no mesmo sitio a dançar, à frente da cadeira, a irem ao bar e prolongar a conversa com o barman para poderem estar de pé mais um bocadinho a abanar o corpo em modo dança reprimida.

Durante esta fase assisti com tristeza a pessoas exteriores aos negócios, e até mesmo concorrentes, com empenho em fazer denúncias e prejudicar de forma dramática a possível e lenta retoma.

O mercado da noite e eventos está difícil, praticamente parado, e é tempo de dar os braços, estar unidos e arregaçar as mangas. A concorrência é muita, e mais agora que as pessoas que saem de casa para eventos são ainda menos, mas quanto mais unido estiver o mercado maior a força junto das entidades competentes para um aceleramento da retoma. 

Os eventos e a noite como nós os conhecíamos vão voltar. Até lá muita força para todos porque quando voltarmos não vamos ter mãos a medir.
 
Miguel Cruz
Empresário/Produtor de Eventos
Publicado em Miguel Cruz
quinta, 28 março 2019 21:30

A Indústria e a Integridade Criativa

Os termos Artista e Criação podem ser muito relativos se tivermos em linha de conta todas as necessidades de uma Indústria absolutamente focada na massificação e na componente financeira em detrimento da liberdade artística. Até onde a nossa liberdade criativa se pode sobrepor à realidade quando temos que ter em linha de conta que nada mais do que uma simples opinião muitas vezes pode ser escrutinada até à exaustão, muitas vezes por pseudo-críticos que percebem tanto da nossa Arte de fazer música como eu percebo de cirurgias cardíacas. Infelizmente sou obrigado a chegar à conclusão que como Artistas a nossa liberdade criativa vai até onde a Indústria precisa, é ela que dita as regras, as necessidades e as tendências. 

Posto isto, pergunto eu de uma forma muito directa, o que percebe a Indústria de criatividade, sensibilidade ou originalidade? Serei obrigado a dizer absolutamente nada. Há muitos anos os Artistas ditavam as tendências com a sua criatividade, livre de segundas intenções e absolutamente pura do ponto de vista dos resultados. Não havia redes sociais, não havia estudos de mercado, ou se gostava ou não. Paralelamente a esta maneira de colocar a Arte, temos hoje em dia uma realidade onde o Criativo é literalmente encostado à parede. Alguém acha que o mercado precisa disto, existe um nicho para determinado tipo de "produto" e é isso que se procura. E quem quer fazer uma carreira guia-se pelas directrizes impostas. Torna-se absolutamente banal um qualquer compositor afirmar que tem a fórmula mágica, fórmula essa que lhe foi demonstrada por uma realidade comum e que poderá ou não ser seguida, correndo nós o risco de sermos considerados "infiéis" se optarmos por fugir ao rebanho e apresentamos algo que seja considerado fora do padrão porque todos nos devemos reger. 

É evidente que existem sempre fugas à tirania industrial, o que graças às mesmas redes sociais, que tanto aniquilam os verdadeiros criativos, curiosamente acabam por ajudar a furar a hierarquização implementada, fazendo com que mesmo sem termos os padrões ditos consensuais conseguimos chegar ao "paraíso". É evidente que dada a globalização das artes, os diferentes serão sempre meros influenciadores de minorias, se bem que por vezes uma minoria pode dar lugar a um culto que nenhuma máquina industrial oleada ou organizada consegue combater. Ao longo dos anos temos tido os mais variados exemplos de "rebeldes" que acabaram por encostar às cordas a promiscuidade negocial de um mercado absolutamente agarrado a um pagamento de favores e troca de identidades por desvios mais fáceis para os objectivos pretendidos, ganhando respeito das entidades ditas especialistas, não de uma forma natural mas porque também estas perceberam que a equação não tem que ser exata. O que seria de nós se um dia alguém tivesse chegado perto dos Beatles e lhes tivesse dito que estavam errados na sua visão, porque comercialmente não iria resultar? 

E como estes teria centenas de exemplos para vos dar, nos mais variados sectores da Arte. A personalidade Artística acaba por ser o nosso único trunfo perante uma realidade em absoluta decadência e tentativa de monopolização da criação, o que me parece absolutamente desprovido de qualquer sentido de lógica. Quem cria deve ser livre física e espiritualmente para conseguir transportar de dentro de si cá para fora uma forma de comunicação que cada um de nós, como seres humanos, temos para oferecer de uma maneira muito singular. Cada um de nós é especial, seja a pintar um quadro, a escrever um poema ou a compor uma música. Hoje em dia tudo gira à volta da imagem, de quem tem mais seguidores, quem influencia mais, quem choca mais. Na minha opinião, a liberdade criativa é o maior dom que nos foi conferido e se alguém nos está a tentar retirar isso, devemos cerrar os punhos e lutar com todas as nossas forças para que jamais esse objectivo seja alcançado. 

Como Artista sou muito pouco flexível naquilo que é a minha identidade criativa, admito. Tenho a perfeita noção que pago a minha fatura por isso, mas tenho a certeza que estou a contribuir para a defesa de todos aqueles que no futuro sejam também essencialmente focados na criação e no transmitir vibrações e sensações únicas uns para os outros, que no final das contas é a principal função de quem tem a responsabilidade e o dom de poder oferecer algo para a posteridade. O importante não é o agora, mas sim o que deixamos para o futuro. A presunção de pensarmos que somos os mais importantes só porque estamos no nosso tempo acaba por ser actualmente o maior pecado da sociedade criativa em geral.
 
Carlos Vargas
Publicado em Carlos Vargas
Foram divulgados recentemente os primeiros cancelamentos de eventos musicais devido ao surto de Covid-19, o novo coronavírus proveniente da China. Já foi cancelado o Ultra Music Festival que ia acontecer em Miami nos dias 20, 21 e 22 de Março. O Coachella, um dos maiores Festivais nos USA previsto para os fins de semana de 10 e 17 de Abril também já foi adiado para os fins de semana de 9 e 16 de Outubro. Um dos principais "Clubs" Espanhóis, o Fabrik, perto de Madrid, suspendeu ontem os seus eventos devido à recomendação do Ministério da Saúde Espanhol e da comunidade de Madrid e irá em breve divulgar as novas datas. Madrid é a comunidade autónoma com mais casos confirmados do novo coronavírus, com cerca de 1024 casos confirmados. Vários concertos de artistas conceituados foram cancelados ou adiados, tudo devido a este novo vírus que se tem espalhado um pouco por todo o planeta.

Portugal, de momento ainda tem, felizmente, poucos casos confirmados (59, no momento em que escrevo esta crónica) comparativamente com os países que nos são mais próximos. Espanha neste momento já tem 2124 casos confirmados e 49 mortos e França que tem 1700 casos confirmados e 33 mortos. O que leio sobre a maior parte dos falecidos relativamente ao Covid-19 é que são pessoas de avançada idade, com problemas respiratórios crónicos prévios à infecção pelo vírus o que os torna muito frágeis relativamente a novas infecções, especialmente aquelas que atacam as vias respiratórias. Parece que este novo vírus não é muito eficaz em pessoas mais jovens, sãs, e que os seus sintomas nestes casos passam por ser os mesmos de uma vulgar gripe, muito comum nesta altura do ano. 

Justifica-se então o "pânico" que se está a gerar neste momento em Portugal, relativamente à difusão deste novo coronavírus, quando ainda existem tão poucos casos confirmados, comparativamente a outros países?

Na minha opinião há que redobrar os cuidados a ter quando vamos a locais onde se juntam muitas pessoas e sejam potencialmente focos de contágio, tal como os aeroportos. Como vivo em Espanha, passo por vários todos os fins de semana e nas últimas vezes tenho tido alguns cuidados "extra", como lavar as mãos muito bem e varias vezes, especialmente depois de tocar sítios onde muita gente toca, tentar espirrar só em locais onde não estão pessoas próximas e caso isso não seja possível espirrar para o cotovelo, de maneira a conter as partículas que possam conter o Covid-19. Neste momento estou com (mais uma) uma infecção na garganta que me provoca sintomas compatíveis com uma gripe e no fim de semana passado já tive várias pessoas que me olharam de lado no aeroporto e durante o voo por estar com esses sintomas... 

É um facto que este novo coronavírus é bastante mais contagioso do que uma gripe normal, mas os sintomas em geral são leves. São preocupantes os casos de pessoas sem sintomas aparentes que deram positivo no teste do Covid-19 e que o podem ter transmitido sem sequer saber que estavam infectadas. No entanto, todas as notícias que li e ouvi até hoje referem que o grupo de risco e principal afectado por este novo coronavírus é o grupo de pessoas de media idade/idade avançada, com doenças prévias e que as pessoas jovens só têm praticamente os mesmos sintomas de uma gripe sazonal. Está provado que a mortalidade do Covid-19 é superior à de uma gripe normal, mas tal como já referi, a taxa de mortalidade entre os jovens contagiados é muito reduzida.

Acho que é a primeira vez que uma epidemia é acompanhada "ao minuto" à escala global, o que tem provocado alguma desinformação. As redes sociais também estão a ajudar a espalhar algumas informações incorrectas sobre o Covid-19 e estão a provocar aqui em Espanha a corrida aos supermercados, com medo a que se chegue a uma situação de “fecho total” do país, como está a acontecer neste momento com Itália, apesar dos directores das principais marcas já terem vindo a público dizer que não vai haver falta de produtos nas prateleiras.

Apesar de haver poucos casos em Portugal, o Covid-19 já chegou à música electrónica. Na passada sexta 6 de Março houve um evento no Hard Club no Porto onde actuou um DJ que posteriormente deu positivo ao novo coronavírus e está neste momento internado em isolamento no Hospital Pedro Hispano em Matosinhos. Ele próprio veio tranquilizar as pessoas através de um vídeo em que diz que está tudo bem, que está fisicamente bem e que simplesmente tem sintomas de uma gripe "normal" mas tem que estar isolado para não contagiar outras pessoas. Já havia algumas pessoas alarmadas com a notícia desse positivo, mas o certo é que o Covid-19 só se contagia através de contacto físico directo, ou através de partículas em suspensão vindas da pessoa infectada que normalmente se projectam no espaço de um, dois metros no máximo. Às pessoas que estiveram em contacto directo com esse DJ que atuou na pista 2 do Hard Club, a Direcção Geral de Saude aconselha a ligar para os números 220 411 170 ou 220 411 171.

Espero sinceramente que a situação não se agrave em Portugal e que esta epidemia não atinja os números que já atingiu nos países vizinhos. Há que extremar os cuidados, lavar as mãos frequentemente, se possível desinfectá-las várias vezes ao longo do dia. Segundo os médicos, este tipo de coronavírus é bastante sensível ao calor e quando as temperaturas subirem (o que deve acontecer em breve, com a entrada da Primavera) as partículas contaminantes têm uma vida útil bastante mais curta o que vai reduzir muito o número dos contágios.

Eu acabei de ter o primeiro evento adiado devido ao surto de coronavírus. Vamos esperar que esta "pausa" em que o país vai estar nos próximos dias seja a maneira mais eficaz de conter o vírus e que depois destes adiamentos a “dance scene” e a vida em geral em Portugal volte ao seu ritmo normal. É importante termos muito presente que isso também depende de todos nós. Ao tomar as medidas recomendadas pelos serviços de Saúde, sem entrar em "pânico", estamos a contribuir para que este Covid-19 seja controlado o mais rápido possível!
 

Carlos Manaça

DJ e Produtor

www.facebook.com/djcarlosmanaca

 

(Carlos Manaça escreve de acordo com a antiga ortografia)

Publicado em Carlos Manaça
domingo, 10 março 2019 19:50

O Mercado DJ em Portugal

Ao contrário do que muitos defendem, acredito que o mercado nacional de música ainda tem muito a ganhar com artistas DJ nacionais. Que Portugal é um País com bastante talento musical já todos sabemos, nomeadamente na música eletrónica. 

O que é que está a mudar? Noto que grande parte dos artistas DJ já faz uma coisa que era impensável pela maioria no passado: Adaptam o estilo de música ao espaço/publico onde irão atuar. Há uns anos era quase um "crime" dizer a um DJ para tocar os géneros X ou Y, porque o "artista" tinha um estilo musical próprio e não se iria adaptar e "trair" o seu género musical ou "estragar" a sua imagem, ao adaptar-se musicalmente. 

Felizmente o tempo veio mudar algumas mentes mais teimosas e fê-los perceber: O que um evento quer é manter o máximo de tempo possível os clientes a divertir-se e satisfeitos. A maioria dos DJs tem de entender: Há eventos específicos onde o seu género musical é "rei" e aí não faz nenhum sentido adaptar ou fugir à essência que o define como artista. O problema é que estes eventos não são, para já, a maioria, e os eventos de massas têm pessoas que gostam de géneros díspares, desde Funk ao Rock...

O que é que esta mudança está a causar? Já podemos ver muitos eventos "Festas Anuais da Região X" a contratar artistas DJ em detrimento das típicas bandas ou artistas de música popular. Reparem, o que os eventos querem é diminuir ao máximo os seus custos, aumentando a satisfação dos participantes. Um DJ cobra 25% do que qualquer banda/artista de música popular, e não tem uma comitiva composta por meia dúzia de pessoas, ou mais. Há 5 anos era quase impensável que as comissões de festas, compostas geralmente por várias pessoas com mais de 40 anos, procurassem contratar DJs e estar a par desse segmento de mercado. Hoje em dia a mentalidade mudou.

Na DO HITS Agency, felizmente, conseguimos antecipar esta tendência. Nos últimos anos criámos conceitos, projetos e aconselhámos artistas parceiros a seguir o caminho que achávamos mais correto. Temos neste momento vários projectos DJ, não só ideais para eventos com um público-alvo específico, mas também variado (Feiras, Festas Regionais, etc.). No final ganha o evento, ganham os artistas DJ e criam-se mais oportunidades para ainda mais artistas DJ singrarem no mercado nacional. 

E por favor não cometam um erro habitual: Não se preocupem com a opinião dos outros "colegas DJ" por adaptarem musicalmente e tocarem géneros trending. Interessa sim o feedback do público e de quem contrata. Lembrem-se, se ninguém vos ouvir, é impossível criarem seguidores ou uma marca. Um DJ pode, ou não, ter uma vertente de produção musical, mas é impossível ser considerado DJ se não atuar ao vivo. 

PS: Gostei muito de assistir a Karetus a passar a música do Toy, ainda no início do verão. Quando há qualidade, até musicas "da moda" se sabe utilizar e adaptar ao seu público-alvo.
 
João Casaleiro
CEO Agência DO HITS
Publicado em João Casaleiro
segunda, 02 maio 2022 22:05

Tudo na mesma

Depois de dois anos de pandemia que forçou a uma paragem da actividade do entretenimento nocturno e eventos, o regresso veio trazer o que já se esperava - ficou tudo na mesma. 

Apesar dos esforços de inúmeras pessoas, onde associações foram criadas com investimento pessoal, numa tentativa de municiar os DJs das ferramentas necessárias para o seu reconhecimento profissional, as dificuldades foram encontradas dentro da própria "comunidade DJ". 

Rapidamente foram esquecidas as "queixas" de falta de apoios sociais, a inexistência de "voz" junto das entidades competentes, o reconhecimento da profissão e o auxílio para todos aqueles que iniciam ou que já exercem mas não têm o conhecimento de situações em que verbas que são suas por direito ficam nas mãos de terceiros.  

A desconfiança natural por parte da maioria dos DJs é justificada com o passado, onde várias associações foram criadas com intuitos poucos claros ou onde visavam o lucro, mas nem com o aparecimento de associações sem fins lucrativos, onde os associados não pagavam quotização, com estatutos claros e onde todos os associados tinham direito de apresentar candidatura aos orgãos sociais, tiveram uma recepção por parte desta comunidade para poderem oferecer o que os DJs tanto "reclamam" mas que pelos vistos não pretendem ter...

Foi uma oportunidade perdida e basta olhar para o modelo Holandês para perceber que há (havia) uma oportunidade única que podia levar à internacionalização do produto português e internamente munir os DJs de ferramentas que permitisse darem passos em frente nas suas carreiras.

Ao invés disso, agências e agentes (como eu) passaram a canalizar os seus esforços para outras áreas dentro da música, eventos e entretenimento e dezenas (para não dizer centenas) de DJs e produtores de música electrónica vão ficar pelo caminho ou com maiores dificuldades, havendo mesmo um decréscimo acentuado na contratação para eventos não especificados onde os DJs tinham o seu espaço e que foi ocupado por outro tipo de artistas e estilos musicais. 

Não há culpados (cada um é livre de fazer o que entender) mas há responsáveis e essa responsabilidade não precisa de ser assumida mas está imputada a quem deixou ficar "tudo na mesma". 
 
Ricardo Silva
Agente Artístico e Empresário
Publicado em Ricardo Silva
quarta, 15 julho 2020 21:35

Bares e Discotecas: Os Esquecidos

Festas ilegais em vivendas.
Festas ilegais na via pública.
Festas ilegais em bombas de gasolina.
Festas ilegais em todo o lado e os legais fechados e sem hipótese de trabalhar.

Que sentido faz hoje dia 15 de Julho, ainda não haver legislação para os Bares e Discotecas poderem trabalhar?
Que sentido faz querer turistas quando depois quando chegarem aqui a animação é idêntica a um cemitério?
Que destinos turísticos vivem ou sobrevivem sem animação?
Que sentido faz incentivar aglomerados de gente sem regras, sem cuidados sanitários, sem controlo?
Que sentido faz estar a incentivar a proliferação da pandemia em vez de evita-la?
Que sentido faz condenar milhares de empresas à falência?
E centenas de milhares de pessoas ao desemprego e à miséria?
Que tipo de sociedade estamos a criar?

Não reconhecer o direito das pessoas para se divertirem e obriga-las à clandestinidade, não é digno de um estado democrático.
Eu sei que conseguem fazer melhor.
Nós sabemos que até sabem.
Basta quererem.

Devolvam a vida a quem faz viver.
Não há dia, sem a noite.
 
Eliseu Correia
Empresário
Publicado em Eliseu Correia
quarta, 02 março 2022 20:59

O Regresso de uma Noite Anunciada

Ultrapassados quase dois anos, os bares e discotecas, de Norte a Sul do Portugal Noturno, voltam a abrir portas sem restrições. Aquela que foi a indústria mais afetada em toda a Era pandémica, é agora a mais livre.

Junta-se à ausência de máscaras, o levantamento da necessidade de apresentação de qualquer certificado ou teste Covid, e assim o fim de todas e qualquer restrição, regressamos assim a Março de 2020.

Mas se julgam que o pesadelo terminou, desenganem-se, o buraco deixado pela pandemia é demasiado grande para ser tapado com um ou dois meses mais satisfatórios. Por tradição, que não mudou, em função do calendário académico, as noites de Janeiro e Fevereiro são mais serenas e, até à Páscoa, só o Carnaval descontinua uma temporada ascendente lenta, até lá, luta-se para retirar as tesourarias do red line.

O Estado, escudado pelas eleições e posterior demorada tomada de posse, livra-se de negociar novos apoios. As empresas estão, nesta altura, entregues à própria sorte. Contudo, não foi só dinheiro que se perdeu nestes dois anos, não foram só empregos, muito se perdeu com esta paragem, com este período forçado de alqueive, perderam-se oportunidades.

Este tinha sido o tempo de mudança, de limpar a casa, ser audaz, mudar mentalidades, mudar a cultura de noite, da nossa noite. A necessidade de faturar levou a que a maioria apostasse de forma segura, como se tivessem parado no tempo, optaram por formatos seguros de faturação, quem os pode censurar? Abençoados destemidos que procuraram vingar pela diferença.

Arrepia-me ver uma publicação, numa qualquer rede social, de alguém numa discoteca qualquer e ouvir músicas que nunca deveriam ter saído das colunas no passado, e que deviam ter sido exterminadas neste período de silêncio nas pistas de dança.

Já dizia o Evaristo (não é o Luís), no Pátio das Cantigas"comprei esta grafonola, a pronto pagamento, propositadamente, para educar o povo." Durante anos fizemos isso mesmo, educámos o povo, não fomos em modas, criámos as modas, mas isso é tema para outra crónica.

Outra questão que não viu mudanças foi a questão da segurança, apesar dos esforços da ADN junto do poder central e local, não há melhorias à vista e ainda a noite não está a 100%. A noite continua boa para o larápio, o agressor, e os assaltos e as agressões gratuitas vão continuar, não porque não exista contingente policial, mas porque estamos perante uma total ausência de estratégia. Já me sentei à mesa com presidentes de câmara, secretários de Estado e Ministros, a todos levo a mesma ideia, dissuasão. Deixo um exemplo em Lisboa, um carro, uma mota, das Docas de Santo Amaro de Alcântara ao Cais do Sodré demora menos de 5 minutos, se tivermos um veículo ou motorizada a circular de um lado para o outro, de 5 em 5 minutos, temos um elemento policial, dissuasor, nos pontos mais frequentados da Zona Ribeirinha, prevenção, antecipação.

Termino esta crónica com uma palavra a todos os empresários desta indústria tão fustigada pela pandemia, foi com orgulho que defendi os vossos interesses, foi um privilégio falar em nome de tantos que sobreviveram, pela sua resiliência, pela sua paixão, pelo amor, que partilhamos pela Noite. Boa Noite!
 
Zé Gouveia
Presidente da Associação de Discotecas Nacional
Publicado em Zé Gouveia
segunda, 06 janeiro 2020 22:30

DJ Residente, o comandante

Pode-se ter um grande artista DJ convidado, mas sem um DJ Residente à altura, a diversão, os consumos de bar e o feedback geral sobre o evento irá ser muito limitado e ficar muito além do que seria expectável.

O DJ Residente é o motor da animação musical do evento.

Em Portugal temos de dar graças pelo grande número de excelentes profissionais que existem de Norte a Sul e Ilhas, apelidados de DJ Residente.

Felizmente que cada vez mais se começa a reconhecer e a valorizar o trabalho do DJ Residente. Infelizmente esse reconhecimento e respeito muitas vezes não surge por parte do artista convidado.

Os artistas convidados têm de se consciencializar: estão a atuar num espaço que não é seu "habitat" usual, mas sim do artista que toca naquele estabelecimento/evento diversas vezes ao longo do ano. É absolutamente normal, portanto, que o residente saiba quais os melhores géneros musicais, o público alvo da noite, o melhor horário para o convidado atuar, etc.

Não é portanto nenhum "rebaixamento" que o artista convidado faça perguntas como: Quais são os géneros musicais usuais do espaço? Qual o horário de atuação preferencial? Até que ponto posso ter a liberdade de tocar completamente o meu estilo musical mais característico? 

Já trabalhamos há vários anos esta questão em todos os artistas da DO HITS Agency, não só por uma questão de respeito, por um ser humano que está ali para nos receber da melhor forma possível, mas também pela busca do sucesso final, não só para o projeto/artista DJ convidado, mas também para o evento em si. 

Na nossa opinião, isto é também fundamental para mostrarmos respeito e apreço pelo cliente (gerente/produtor) que nos está a contratar para darmos um espetáculo no seu estabelecimento/evento. 

O mesmo pedido de respeito também se aplica naturalmente ao DJ Residente. Nunca se pode avaliar um livro pela capa. Tem de se saber dar a oportunidade a todos os convidados de mostrarem o seu valor. Afinal de contas, o artista convidado deverá ter sido contratado por possuir mais valias para o evento e público presente. 

O respeito mútuo irá entregar o serviço desejado a todos: animação, diversão e se possível uma experiência de noite positiva que ficará na memória de cada pessoa presente, valorizando assim não só o evento mas também os artistas envolvidos no mesmo. 
 

João Casaleiro

CEO Agência DO HITS

Publicado em João Casaleiro
quarta, 27 julho 2022 22:34

O funk da nova geração

Finalmente podemos fazer dançar, sem quaisquer limitações, todos aqueles que foram impedidos de o fazer durante dois anos! Confesso que já tinha muitas saudades, e pelo que sinto nos meus eventos e vejo nas redes sociais, o público também.

Os festivais estão cheios, os eventos locais estão cheios, há uma dinâmica enorme, milhares de pessoas na rua, todos os fins-de-semana. Ainda bem!

Há sem dúvida uma grande "fome" de música. As pessoas vieram para a rua, festejar, dançar, depois de dois anos em que isso não foi possível.

No entanto, estes dois anos de paragem alteraram as dinâmicas do "sair à noite" (ou à tarde). Sinto, pelo que vejo, que houve uma faixa de público que depois destes dois anos de paragem deixou de sair, enquanto uma nova geração apareceu "de repente". 

Isso está a provocar algumas alterações no funcionamento de alguns locais "clássicos" e a favorecer o aparecimento de novos espaços, direccionados para a nova geração que começou a sair agora.

E o que ouve (na sua maior parte) a nova geração que começou a sair agora? Pelo que vejo em muitos cartazes, a música brasileira, o chamado "funk brasileiro", domina os gostos da maior parte dos mais novos. 

Já actuei em alguns (poucos) locais onde antes de mim estava a tocar esse estilo de música e o que ouvi deixou-me de boca aberta... em muitos temas a letra é do mais sexista possível relativamente às mulheres, e, curiosamente, pelo que pude assistir, são elas que as que melhor sabem (e cantam) as letras, efusivamente! Confesso que fiquei baralhado...

Nesta sociedade actual onde (e bem) se luta pela defesa da mulher e onde se têm perseguido os abusos que aconteceram no passado tentando que não aconteçam no presente, ouvir a letra de alguns desses temas e ver o destaque que estão a ter, é, para mim, bastante confuso.

Obviamente que esta questão não tem nada a ver com o gosto pessoal de cada um. Nem podia ter, cada pessoa ouve o que gosta, dança o que gosta de dançar e isso eu respeito totalmente.

A minha questão é simplesmente relativa à linguagem usada na maior parte desses temas. Se por um lado há toda uma consciencialização que começou com o movimento #MeToo em revelar praticas abusivas em relação às mulheres, ao dar tanto destaque (até nas rádios) a este tipo de temas só porque "é o que os miúdos querem", não estamos precisamente a fomentar o tipo de atitudes que condenamos?

Pode-se argumentar "é simplesmente uma letra de uma canção, não significa nada" (como já me disseram), mas quando vejo vídeos das actuações ao vivo de alguns desses artistas, com toda a carga sexual que está nessas letras, será que não estão a incentivar os mais novos a fazerem o que está na mensagem transmitida por essas canções? Deixo aqui a pergunta.
 
Carlos Manaça
DJ e Produtor
(Carlos Manaça escreve de acordo com a antiga ortografia)
Publicado em Carlos Manaça
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