Diretor Ivo Moreira  \  Periodicidade Mensal
sexta, 09 fevereiro 2018 21:24

Recap da música electrónica

Um novo ano começou e aceitei, mais uma vez, o convite da 100% DJ para deixar alguns artigos de opinião para os leitores/utilizadores deste portal que tem prestado um serviço de informação isento e de qualidade sobre a indústria da música electrónica em Portugal. 

Não tenho a presunção de achar que sou um conhecedor profundo ou um "visionário" do que se irá passar no futuro mas lanço o desafio a quem não leu artigos de opinião anteriores e publicados neste portal para que percebam um pouco que há sinais que surgem e que quem trabalha neste meio consegue sentir e prever mudanças e que na altura foram alvo de imensas críticas. 

Tive o privilégio de assistir ao início do aparecimento da música electrónica em Portugal e aos primeiros DJs que ousaram agarrar nos "martelinhos" e fazer uma carreira. Sinto a tristeza inerente de ter visto muitos deles desaparecer devido ao aparecimento das novas tecnologias, ao "facilitismo" da produção musical onde tudo passou a ser "informatizado" e as "máquinas" foram metidas para um canto e onde um PC, um teclado e uns programas informáticos bastam para que saia uma obra musical. 

Na ultima década assistimos a uma autêntica "epidemia" de novos DJs e produtores musicais que julgaram que tinham encontrado o "El Dorado" na música electrónica. 

Deixo uma pergunta: 
- Onde estão 80% desses DJs que apareceram do nada e desapareceram mais rápido do que surgiram?

Poucos, muito poucos, são os DJs que surgiram nos últimos cinco anos e que continuam no mercado. Apenas permaneceram aqueles que souberam adaptar-se às mudanças (leiam os artigos anteriores que mencionei) e outros que souberam profissionalizar-se. Continuamos a ter os "velhinhos" e aqueles que fizeram uma carreira (mais de 10 anos no mercado) como referência e a manterem a indústria em movimento por um único motivo... quiseram uma carreira e deram atenção ao mais importante - A Música. 

A música electrónica (seja qual for o estilo) não é diferente de outro tipo de música qualquer. Tivemos o "boom" da Kizomba e assistimos à sua queda. Temos agora o Hip Hop em alta  e que está a cometer o mesmo erro que a Kizomba. Tenho a certeza que daqui a uns anos vamos todos olhar para trás e só conseguimos lembrar-nos de meia dúzia de nomes que marcaram estes estilos e que vão continuar no mercado no futuro. Façam esse exercício para a Kizomba e vejam se conseguem dizer 10 nomes de artistas portugueses ou que estivessem no mercado português, quando foram mais de uma centena que percorreram palcos e clubes deste país. 

A música electrónica sofreu (está a sofrer) o mesmo "problema". Está a haver a triagem natural do mercado. Quer pela qualidade, quer pela "oferta vs procura". 

Olhem para esta indústria como um negócio, para vocês como um produto e para música como arte. Só assim poderão ter sucesso. Querer vender arte (leia-se múisica) sem a divulgar, dificilmente haverá quem a queira comprar. Tenham um produto (leia-se DJ + Música) que seja apetecível ser adquirido e para isso é preciso olhar para a indústria como um negócio. 
Se não pensares desta forma ou quiseres apenas ser "um artista", lembra-te que os maiores artistas só tiveram reconhecimento depois de falecerem... 
A escolha é tua...
 

Ricardo Silva
DWM Management
Publicado em Ricardo Silva
domingo, 05 novembro 2017 21:31

A noite de novo em prime time

Mas qual Urban Beach? O problema não é de hoje nem de ontem. Foi, é e será sempre, apenas e só o "K"!
 
Começo por esclarecer, que discordo totalmente e considero inadmissíveis alguns dos actos que vi por parte de alguma da segurança da casa mas, também estou longe de conhecer toda a verdade pois, garantidamente que tudo isto aconteceu fruto de muita coisa.
 
Infelizmente, a noite não é segura e não o é por uma razão simples. À volta de quem sai tranquilamente para se divertir, existe quem saia apenas e só para arranjar problemas, quem saia para roubar, quem saia para alimentar grupos de conflito e tudo, sem a polícia se encontrar nas redondezas; é mais fácil e menos complicado estar em operações Stop na caça à multa! Mas, manda quem pode, obedece quem é esperto e também os polícias acabam embrulhados num problema que não é deles.
 
Ao longo de duas vidas, provavelmente somados, pelo menos sessenta anos bem intensos, apenas registei um problema com a segurança e esse, foi prontamente resolvido pela dita segurança no local e no mesmo dia. Para ser respeitado, é preciso respeitar e essa, é a regra de ouro que cada vez alimenta menos gente que por aí anda.
 
Há bons e maus profissionais, sejam eles seguranças, empresários, barmans, djs ou outros, tal como, existem bons e maus clientes e até, clientes que servem para um mas, não servem para outro espaço. Não raras vezes, tudo isto, é bizarramente conotado com racismo ou sectarismo mas, meus caros, no Palácio de Belém apenas dorme o Presidente e quem ele bem entende e para usufruir da Assembleia da República, é preciso fazer parte da corja reinante ou então, só passando pela revista e de Cartão de Cidadão na mão. Não somos todos portugueses? Não deveríamos todos poder ir à cantina da AR?
 
O "K" por desde sempre ter definido padrões, regras, ideias e formas, por nunca se ter escondido de assumir pretender ser, ter e fazer o melhor, sempre seleccionou e isso, naturalmente que foi provocando e continua a provocar uma profunda dor de corno a quem não está dentro dos padrões por eles definidos. É traumático, imagino que seja mas, é a tal democracia a funcionar. Ou não? Serei eu obrigado a abrir o meu investimento a quem não quero? Não me parece!
 

Ao contrário do que a maioria pensa, a segurança não é gratuita, custa muito dinheiro a uma casa (...)

 
Nos últimos anos, não raras vezes vi situações em que, sem um segurança é impossível uma rapariga chegar ao seu carro sem ser importunada e como polícia não há, lá vão sendo enviados os seguranças da casa. Estaladões no meio da rua a miúdos já vi muitos e sempre, por grupos de animais, que por um telemóvel é capaz de tudo.
 
Ao contrário do que a maioria pensa, a segurança não é gratuita, custa muito dinheiro a uma casa, é mais uma área delicada a controlar... tem que se lhe diga! Porém, sem ela, garantidamente que cada discoteca seria uma selva, onde imperaria a lei das matilhas mais fortes e nada mais.
 
No dia em que nos deparamos com esta triste história à porta do tal "Urban Beach", em Coimbra, dois selvagens em pleno dia desfazem um bom samaritano de forma bastante mais barbara em plena rua. Fecharam os MacDonalds do país? Abriram Telejornais com eles, foram para o Facebook vociferar? Algum Ministro veio teorizar? Claro que não, a história é o Urban, a azia é o "K" e foi por isso, que tudo o que é paineleiro tudo fez para se meter no assunto. O Urban tem 38 queixas? E quantas tem o Metropolitano? É só tentar perceber a proporcionalidade, não esquecendo, que nos Urban's bebe-se álcool e é por norma, onde o João se atira à Clara que é namorada do Manuel... e repito, não há polícia!
 
Com e sem geringonças, todos meteram a foice em seara alheia mas, alguém se preocupou com a verdade, com as razões, com o que se passa noite a noite país fora! Todos falam do que não sabem e isso, é triste e caricato.
 
O Urban é mau? Come criancinhas? É provável que sim mas, é a casa que os mais novos preferem na cidade de Lisboa. Será, que é por ali chegarem e serem muito mal tratadas? Será esta, uma geração masoquista? Duvido!
 
Este é um problema de polícia, quem abusou, certamente será julgado e condenado dentro das razões que existirem para isso já que isto não é um caso de lesados do BES. Os ditos seguranças estão devidamente detidos, os dois "doutores" de Coimbra, à solta! Dois pesos e duas medidas.
 
Para ser franco, a quase totalidade dos comentários metem-me nojo, sinto neles de imediato repulsa, por neles rever traumas privados de muita gente que, em bicos de pés, aproveita para ladrar em regime de vingança pacóvia. É o que temos! 
 

Depois dos resultados da irresponsabilidade do Estado nos incêndios deste ano, a irresponsabilidade da falta de polícias à porta dos espaços nocturnos mantém-se vinte anos depois.

 
Lentamente, da melhor noite da Europa em 1994 para a catástrofe que se vê hoje passaram apenas vinte e tal anos e houve, quem previsse este desfecho, ele aí está.
 
Quanto à famosa PSG, terá certamente bons e maus profissionais, terá mais ou menos culpas no cartório e penso, pelas medidas agora tomadas no Urban Beach que metade dos bares do Bairro Alto irá também fechar ou talvez não, pois por aí, continua tudo a levar bom tratamento, não têm K!
 
Depois dos resultados da irresponsabilidade do Estado nos incêndios deste ano, a irresponsabilidade da falta de polícias à porta dos espaços nocturnos mantém-se vinte anos depois. Será assim tão difícil perceber, que hoje, sair de uma discoteca sem um segurança às 5 da manhã é um risco de alto calibre por culpa dos políticos que temos que apenas souberam legislar para o pagamento de direitos, direitos conexos e sei lá que mais direitos!
 
Mais uma vez, o "K" está na dança e pelo que vejo, não faltam idiotas a opinar e certamente que a grande maioria movida por outros interesses ou traumas.
 
Este, para mim, é apenas e só mais um caso de polícia. Tudo o resto que tenho lido, é apenas e só de lamentar.
 
Miguel Barreto
Publicado em Nightlife
quinta, 14 maio 2020 10:22

Não tenham medo de fazer música

Não, não vou falar do atual tema que tanto assombra o nosso trabalho, de nome COVID-19. Não vou falar em números, perdas, ganhos ou datas de quando tudo pode voltar ao normal. Hoje vou falar do que realmente nos une: a música. 

Nestas últimas semanas como tenho tido mais tempo, como todos nós, tenho estado a trabalhar muito em produções novas, e por isso até decidi trabalhar num EP. Algo que já queria há algum tempo, mas devido a outros trabalhos, atuações, lançamentos, etc., a que tive de dar prioridade, ainda não me tinha debruçado sobre o "assunto". Isto para dizer que acho fascinante a capacidade que nós temos para ser criativos quando temos algum tempo, tempo que sobra até... Deixo uma pequena mensagem direcionada para a malta, que, como eu, está dias inteiros agarrada ao computador a fazer música. 

Não tenham medo de explorar, de fazer Rock, Kizomba, Fado ou Hip-Hop. Não tenham medo de criar coisas novas e tirar o melhor partido deste dom que temos, que é o de criar música. Vamos deixar o "EDM" descansar um pouco. Acreditem, faz falta. Temos de "mudar de ares" para conseguirmos fazer o que gostamos cada vez melhor. Tentem samplar, gravar a vossa voz, gravem instrumentos, instalem plugins random, explorem outros meios de produção. Toquem piano, guitarra, bateria e até flauta. Vejam vídeos, documentários, filmes sobre música, ouçam temas de outras alturas, de outros estilos. 

Volto a dizer: façam isto sem medo. Estamos na altura certa de experimentar. Garanto-vos que vai aumentar as vossas skills de produção, vai estimular a vossa criatividade e fazer-vos ver algo para além de "puntz, puntz, puntz". Isto não é uma crítica ao "EDM" porque eu também gosto e faço com a mesma dedicação. 

Mas se explorarmos outras "áreas" temos mais hipóteses de evoluir as nossas capacidades dentro da música. A nível pessoal não temos de estar vinculados a um estilo musical - é importante não esquecer isso. Em primeiro lugar, antes de sermos DJs, Produtores, somos criativos, e se praticarmos da maneira certa, conseguimos fazer coisas incríveis e conseguimos chegar a resultados onde nunca pensámos chegar outrora. 

A música tem um tempo de consumo muito rápido e depois de tudo passar, é muito provável que existam novas tendências a aparecer, o que me leva a crer que se nós formos dedicados e criativos o suficiente, podemos fazer algo que se torne "novo". Não precisamos de mais música "igual". Eu próprio estou, como referi, a criar um EP onde aplico tudo o que disse anteriormente. Não, não vou deixar de ser ZINKO, nem deixar de fazer "EDM" mas vou lançar algo da minha autoria, onde mostro um pouco mais do que aquilo que tenho feito. Considero que há males que vêm por bem, talvez esta pausa na vida de todos seja o caso, talvez seja um "bónus" de tempo para nos reinventarmos como artistas, como criativos e como humanos. 

Façam muita música. Não tenham medo de a mostrar.
 
Publicado em Zinko
sábado, 14 abril 2018 22:47

O DJ e a (in)capacidade de integração

Muitas vezes me perguntam a opinião acerca do actual estado da noite e do mercado de trabalho para os DJs nacionais. Apesar desta ser uma temática bastante complexa, basta recuarmos uma dezena de anos para facilmente conseguirmos encontrar um paralelismo que de certa forma ajuda a responder a esta pergunta. Será fácil para mim e todos os meus colegas conseguirmos nomear pelo menos quinze ou vinte clubes dessa altura que geriam as suas programações baseadas não nas exigências musicais acentuada dos seus clientes mas sim numa política de gestão daquilo que eles próprios consideravam importante para oferecer uma real e sustentada personalidade e identidade para as suas casas. Era relativamente usual vermos todos os fins de semana vários artistas nacionais a viajarem de Norte a Sul do país, criando desta forma uma dinâmica de indústria que acabava por ser benéfica para uma classe que paulatinamente ia criando os alicerces imprescindíveis para conseguir atingir um nível de profissionalismo condizente com as exigências de um mercado em pleno crescimento.
 
O problema, na minha opinião, surgiu quando as regras mudaram de um momento para o outro. O nosso país entrou em crise, trazendo com isso sérias consequências aos mais variados sectores da nossa sociedade, incluindo, como é óbvio, as artes. As rádios abriram o filtro numa tentativa de conseguir cativar cada vez mais ouvintes e a televisão não demorou a fazer o mesmo, já para não falarmos do facto de que a maioria da população portuguesa passou a dispor de Internet de uma forma praticamente livre, o que a tornou uma ferramenta magnífica que dava a todos a possibilidade de se educarem a eles próprios, neste caso específico musicalmente. Esta opção soa, por si própria bastante interessante, termos a possibilidade de ouvir o que muito bem entendermos não só é um feito amplamente merecido mas também uma grande vitória na livre expressão de um povo, nomeadamente na procura de informação, especialmente nós, que não à tanto tempo assim saímos de um ditadura que nos impedia inclusivamente de estar em contacto com novas formas de expressão artística. 

(…) tornou-se automaticamente muito mais difícil gerir e programar um espaço de dentro para fora, uma vez que as pessoas passaram a querer ouvir nas pistas de dança o que ouviam no carro ou em casa.

 
Mas com todas estas boas notícias surgiram também algumas menos positivas. Devido ao facto de muito rapidamente nos termos apercebido de que, comercialmente falando, cada pessoa acaba por ter a sua própria maneira de apreciar a música, tornou-se automaticamente muito mais difícil gerir e programar um espaço de dentro para fora, uma vez que as pessoas passaram a querer ouvir nas pistas de dança o que ouviam no carro ou em casa. Com isso rapidamente a personalidade e identidade de um clube passou para segundo plano, fazendo com que os empresários deixassem de se poder dar ao luxo de pensar a médio longo prazo, tendo que começar a repensar todas as decisões comerciais dos seus espaços, incluindo a parte da programação musical, que passariam a ter nas suas cabines. De um momento para o outro, o DJ nacional que não fosse musicalmente "acessível" ao que a partir daquela altura os responsáveis dos espaços necessitavam, acabaram por lentamente começar a ser postos de lado, muito por culpa dos cachets que a partir dessa altura começaram a ser considerados altos e não justificados devido ao facto do estilo de determinado artista não se enquadrar com a política musical adoptada por determinado espaço. 

O que importava era o lucro fácil e rápido,  tanto por uma questão concorrencial como principalmente para se conseguir fazer frente a compromissos financeiros, algo absolutamente compreensível para quem, como eu próprio, também tem negócios na Indústria da noite além da música, mas que facilmente retira consistência e preponderância para algumas das características principais que um espaço que oferece um serviço de diversão nocturna deveria proporcionar aos seus clientes, a diferença, qualidade e identidade em que tanto me foco nesta crónica e que como é evidente também se reflecte no tipo de consumos que uma clientela de circunstância oferece, afinal um risco que se corre quando se quer encher uma casa a qualquer custo. Consequência natural de todas estas mudanças foi o facto de ano após ano vermos clubes que ainda tentavam seguir a política do "elitismo", como então lhe passaram a chamar, a fecharem portas, incapazes de contrapor uma política de qualidade com o facilitismo auditivo com que os grandes grupos cada vez mais acenavam. Começou-se então a culpar o DJ nacional pela sua "incapacidade de integração" no circuito e voltámos por exemplo a apostar nos grandes nomes internacionais, o que longe de ser mau em muitos casos, camufla um problema muito grande, que é o facto de que o que é nosso ter cada vez menos espaço para trabalhar, pelo menos por valores equitativos com o seu valor, até porque não nos podemos esquecer de que não são só os artistas internacionais que vivem exclusivamente da música.

Posto isto chegamos ao estado do nosso mercado actual, que se resume a quatro opções quando se pensa no curto prazo: opção um, apostamos em nomes internacionais quando queremos ser "elitistas", porque assim não se chateia ninguém, afinal de contas está na moda e pode passar as músicas que quiser, até porque, opção dois, temos um DJ residente que resolve tudo porque sabe e tem as músicas todas que lhe vierem pedir, faz toda a gente feliz e melhor que tudo, cobra tanto como um funcionário qualquer do clube. Opção três, temos aqueles rapazitos que conhecem toda a gente, até passam música com os cotovelos e em tronco nu se for preciso e trabalham tão bem como o DJ Residente e por último como opção quatro temos aquele artista com 10, 15 ou 20 anos de Carreira, que lutou anos a fio pelo respeito e reconhecimento de uma profissão que no início era tudo menos apaixonante ou cheia de glamour mas que aqui e ali não tem as músicas que toda a gente conhece e certamente não se importará de trabalhar por um cachet simpático (aos olhos dos proprietários dos espaços) para ter o seu nome num alinhamento com um grande nome internacional, afinal já tem tão pouco trabalho que até o estamos a ajudar. É lógico que como resultado final, a vertente identidade e personalidade acaba claramente por ficar comprometida, mas no final o que interessa é que tenhamos fotografias com a casa cheia, os compromissos financeiros resolvidos e dinheiro em caixa, se bem que esperando ao mesmo tempo que ninguém se lembre de abrir um novo espaço por perto, porque não convém, pode-se perder freguesia e isso não interessa a ninguém, especialmente depois desta trabalheira toda que tivemos a preparar tudo como eles gostam.

Que fique bem claro que não pretendo de maneira alguma minimizar o trabalho de alguns excelentes clubes, DJs residentes ou DJs nacionais e internacionais que continuam a estar no nosso circuito de trabalho, muitos deles meus amigos que muito admiro e que valorizam a nossa indústria, esta crónica tem um teor claramente generalista que reflecte, na minha opinião, uma situação geral e nunca individual, estando obviamente centrada única e exclusivamente na temática DJ, uma vez que olho para o tema DJ/Produtor como uma realidade completamente diferente e que será inclusivamente tema para uma futura crónica.
 
Carlos Vargas
Publicado em Carlos Vargas
quarta, 02 março 2022 20:59

O Regresso de uma Noite Anunciada

Ultrapassados quase dois anos, os bares e discotecas, de Norte a Sul do Portugal Noturno, voltam a abrir portas sem restrições. Aquela que foi a indústria mais afetada em toda a Era pandémica, é agora a mais livre.

Junta-se à ausência de máscaras, o levantamento da necessidade de apresentação de qualquer certificado ou teste Covid, e assim o fim de todas e qualquer restrição, regressamos assim a Março de 2020.

Mas se julgam que o pesadelo terminou, desenganem-se, o buraco deixado pela pandemia é demasiado grande para ser tapado com um ou dois meses mais satisfatórios. Por tradição, que não mudou, em função do calendário académico, as noites de Janeiro e Fevereiro são mais serenas e, até à Páscoa, só o Carnaval descontinua uma temporada ascendente lenta, até lá, luta-se para retirar as tesourarias do red line.

O Estado, escudado pelas eleições e posterior demorada tomada de posse, livra-se de negociar novos apoios. As empresas estão, nesta altura, entregues à própria sorte. Contudo, não foi só dinheiro que se perdeu nestes dois anos, não foram só empregos, muito se perdeu com esta paragem, com este período forçado de alqueive, perderam-se oportunidades.

Este tinha sido o tempo de mudança, de limpar a casa, ser audaz, mudar mentalidades, mudar a cultura de noite, da nossa noite. A necessidade de faturar levou a que a maioria apostasse de forma segura, como se tivessem parado no tempo, optaram por formatos seguros de faturação, quem os pode censurar? Abençoados destemidos que procuraram vingar pela diferença.

Arrepia-me ver uma publicação, numa qualquer rede social, de alguém numa discoteca qualquer e ouvir músicas que nunca deveriam ter saído das colunas no passado, e que deviam ter sido exterminadas neste período de silêncio nas pistas de dança.

Já dizia o Evaristo (não é o Luís), no Pátio das Cantigas"comprei esta grafonola, a pronto pagamento, propositadamente, para educar o povo." Durante anos fizemos isso mesmo, educámos o povo, não fomos em modas, criámos as modas, mas isso é tema para outra crónica.

Outra questão que não viu mudanças foi a questão da segurança, apesar dos esforços da ADN junto do poder central e local, não há melhorias à vista e ainda a noite não está a 100%. A noite continua boa para o larápio, o agressor, e os assaltos e as agressões gratuitas vão continuar, não porque não exista contingente policial, mas porque estamos perante uma total ausência de estratégia. Já me sentei à mesa com presidentes de câmara, secretários de Estado e Ministros, a todos levo a mesma ideia, dissuasão. Deixo um exemplo em Lisboa, um carro, uma mota, das Docas de Santo Amaro de Alcântara ao Cais do Sodré demora menos de 5 minutos, se tivermos um veículo ou motorizada a circular de um lado para o outro, de 5 em 5 minutos, temos um elemento policial, dissuasor, nos pontos mais frequentados da Zona Ribeirinha, prevenção, antecipação.

Termino esta crónica com uma palavra a todos os empresários desta indústria tão fustigada pela pandemia, foi com orgulho que defendi os vossos interesses, foi um privilégio falar em nome de tantos que sobreviveram, pela sua resiliência, pela sua paixão, pelo amor, que partilhamos pela Noite. Boa Noite!
 
Zé Gouveia
Presidente da Associação de Discotecas Nacional
Publicado em Zé Gouveia
sexta, 08 novembro 2019 18:27

O Tio estava lá

Lembro-me perfeitamente da 1a vez que entrei no Kremlin, devia ter praí uns 15 anos ou seja foi há cerca de 30, e só lá entrei porque o meu Pai conhecia o responsável pela contabilidade do espaço, informação que quando chegou ao meu conhecimento me fez iniciar uma pressão gigante sobre o meu progenitor até conseguir que ele ligasse para o seu amigo de modo a meter-me lá dentro.

Eu já tinha ouvido falar do Kremlin, os relatos das suas noites estavam espalhados nas páginas de alguns jornais que me entravam em casa nessa altura, como o Independente e o Expresso, mais uma vez pelas mãos do meu Pai, portanto a minha curiosidade era muita. Não era a primeira vez que eu entrava numa discoteca, eu pertenço a uma geração nascida nos anos 70 que cresceu num ambiente onde era normal levar os filhos à "boite", lembro-me de ser bastante novo e dançar em discotecas, bares e festas particulares onde pais e filhos partilhavam a pista de dança, mas o Kremlin era um espaço diferente desses, sobretudo pela música que passava.

Foi ali que ouvi pela primeira vez House e Techno, estilos carinhosamente apelidado de "Música às bolinhas" mas que incendiavam a pista de dança de uma maneira que o Rock não fazia, com mais êxtase e sensualidade, mal sabia eu que ali nas Escadinhas da Praia estava a assistir ao início de uma revolução na noite em Portugal, pouco tempo depois abriu o Alcântara-Mar, onde eu também só entrava devido aos conhecimentos do meu Pai e aí então a coisa explodiu, os relatos das festas que ali se passavam espalhavam-se não só pela cidade e arredores mas por todo o país e de um momento para o outro, ali no inicio dos anos 90, uma geração de DJs e produtores de eventos tratou de implantar uma cultura que já há alguns anos se tinha implantado na Europa e Estados Unidos.

Nomes como Tó Pereira, Luís Leite, XL Garcia, Jiggy, Tó Ricciardi, Mário Roque, António Cunha, Beto Perino, Chumbinho, entre tantos outros foram a vanguarda que levou os novos sons e conceitos de festa aos 4 cantos do país fosse em discotecas ou raves, fosse em armazéns ou em Castelos, a primeira vaga da música de dança em Portugal foi gigantesca e quem a viveu guarda-a na memória como algo excitante, mágico e de certa forma irrepetível. 

Hoje em dia a cultura da música de dança é muitas vezes o Mainstream, e nada de mal há nisso, cada vez mais são os artistas de música de dança que têm o maior destaque em festivais, festas e até arraiais. A paisagem sonora mudou muito e eu fui um dos privilegiados que assistiram à génese dessa mudança, graças ao meu Pai que muitas portas ao longo da vida abriu para mim. Hoje em dia, e por um acaso do destino, sou eu por vezes a atração em alguns destes espaços onde se dança em Portugal, também isso agradeço ao meu Pai que, tal como eu, adorava dançar e esse gene que me passou é sem dúvida uma das coisas mais importantes para o meu bem-estar nos dias que correm. Obrigado Pai, onde quer que estejas, o Sal Grosso que vou espalhando também é teu.
 
Jel
Publicado em Jel
quarta, 15 maio 2019 21:12

O melhor ainda está para vir

Quando recebi o convite da 100% DJ para escrever uma crónica de opinião, acabei por ser obrigado a fazer uma reflexão sobre todos os que estiveram, a determinada altura, presentes no meu percurso, ampliando o que fazia e por onde andava. Tenho pretensões de ser uma série de coisas, mas nenhuma delas passa por escrever. Deixo isso para a minha irmã Patrícia e para o meu pai, os profissionais do sector, mas sempre gostei de desafios e portanto vou dar o meu melhor, como é habitual, naquilo que me proponho fazer.

Com 40 anos feitos e tendo começado a trabalhar à noite aos 16 - como "apanha-copos" - no bar Amas do Cardeal, em Évora, pro bonno e por carolice, para aquele que veio a ser meu sócio e, ainda hoje, um dos meus melhores amigos, João Pedro Queiroga, terei uma quase obrigação de dar a minha visão da movida em Portugal.

Ao longo dos anos, do país e dos meus, assistimos a uma mudança de paradigma: É que diversão, é diversão e para satisfazer novos hábitos houve que conceber novos produtos. Daí, hoje existir uma ampla oferta, com muita qualidade, que passou para outros horários: matinés, sunsets, after work e por aí vamos... Hoje, estes produtos, são os meus preferidos. Gosto muito de ouvir grandes DJs e poder estar na cama à meia noite.  A idade é outra. Agora que penso nisso, é curioso: Em Évora, nos meus 14 ou 15 anos, os míticos 90’s, havia matinés ali à Rua Serpa Pinto. O álcool era-nos vedado e mesmo assim divertíamo-nos tanto!

A vida é feita de ciclos e voltei a ser um cliente de "matinés". Fuse e Bloop são aqueles que acompanho mais regularmente por fazerem um trabalho incrível e tropeço amiúde num esforço em fazer melhor, dar sempre alguma coisa de novo ao cliente, e, a cereja no topo do bolo, tudo feito com muita seriedade e profissionalismo. A qualidade dos artistas é do melhor que o panorama, neste caso de música electrónica, tem para oferecer. 

Hoje vivo em Lisboa e portanto é a realidade que tenho mais presente e por onde me movo mais vezes. No que diz respeito ao turno da noite, o tradicional, vejo uma grande melhoria nos últimos três anos. Acho que se assimilou que fazer ofertas iguais e tentar trabalhar sempre na zona de conforto ou naquilo que podia ser mais óbvio, já não chega para um público cada vez mais diversificado e exigente.
 
Fuse e Bloop são aqueles que acompanho mais regularmente por fazerem um trabalho incrível e tropeço amiúde num esforço em fazer melhor, dar sempre alguma coisa de novo ao cliente, e, a cereja no topo do bolo, tudo feito com muita seriedade e profissionalismo.

Actualmente temos bons clubes em todas as vertentes da música. O Kamala tem feito um trabalho incrível nas suas casas, o João Magalhães, este ano, conseguiu dar uma nova vida ao Mome. Lust e Urban atingiram as grandes massas e o Lux, como a grande referência no panorama alternativo em Portugal e lá fora, continua a dar cartas na nossa madrugada. Já não saio muito, mas quando o faço, tenho imenso por onde escolher e sempre bom.


Pensamos em casas ou empresários, mas não podemos deixar de falar de outros que são tão ou mais importantes para nivelar a oferta por cima. Hoje temos barmans e barmaids profissionais que fazem tudo com uma recém inaugurada qualidade. Este que vos escreve, foi, ele próprio, barman no Inox Clube em Évora e tudo o que fosse mais do que vodka com gelo e sumo de qualquer coisa, já não dava! Éramos todos assim! 

E na música, são tantos os DJs e tão bons, que acabam por contrariar aquela história de que qualquer um é DJ e blá-blá-blá. Essa mesma premissa, acabou por aumentar a vontade de tantos tentarem, é certo, mas uma grande parte deles apostou mais e melhor na profissão e permitiu usufruirmos todos de gente de grande valor em vários géneros de som. Saímos todos a ganhar! Destaco o curador do (meu) The Garden, o Moullinex e o meu grande amigo Audio Deep: O primeiro, um génio da música e o segundo, um dos melhores de Portugal, que está a começar a chegar aos sítios certos, para nosso gáudio.

Nem tudo são rosas e, para quem não está em Lisboa ou Porto, as coisas são realmente mais complicadas. Embora constate que, cada vez mais, estas produtoras, se atrevem a partir para o interior, descobrindo a grande qualidade de profissionais que lá se encontram. Se existe bom público, tem que existir bons profissionais, parece óbvio. O consumidor dá pouco por isso, mas é imperativo falar da importância das marcas dos produtos que se vendem habitualmente nestes espaços: Quando abri o primeiro bar, tinha cerca de 20 anos, o Pátio da Lua. Vendia, e tal como todos os outros empresários, não fazia a mínima ideia sobre quem estava por de trás das marcas de bebidas e dos seus distribuidores. Nós comprávamos, mais ou menos ao preço que nos queriam vender, aquilo que acreditávamos que o público consumiria. Mais à frente, no Praxis, a coisa foi piando de outra forma. Com a acrescida maturidade, tínhamos sempre alguém a trabalhar de perto connosco nas compras, a ajudar no que podia, para que os negócios fossem realmente vantajosos nos dois sentidos. Pensando nisto, só me vem à cabeça, com saudade, o grande Artur.
 
Hoje com Pernond Ricard, por exemplo, com quem trabalhamos, chego a vê-los como consultores... o Rúben, homem da marca, falou comigo sobre o The Garden, mais do que qualquer outra pessoa, antes e depois de abrir! E faz sentido: conhecem melhor o mercado que qualquer um dos proprietários e podem ajudar a criar um conceito único e não a tal cópia que ninguém quer. Afinal, são eles que, realmente, sabem o que todos os seus outros clientes vendem.
 
A boa nova é que já não há desculpas e aquilo que foi uma alavanca para o sucesso com utilizadores restritos e já poderosos, tornou-se acessível a todos, através do Marketing Digital.
A forma de nos comunicarmos também mudou e, por estes dias, todos o fazemos facilmente através de plataformas digitais. Qualquer um de nós consegue fazer campanhas produtivas, com sucesso e baixo custo e acima de tudo sustentáveis. Há vinte anos era impossível! Na Era pré redes, pré internet popularizada, não ganhávamos para publicidade eficiente. Ter um outdoor como o que tive em Évora era caríssimo! Colar mupies pela cidade, uma despesa faraónica, e aos jornais e revistas, mormente, nem acreditávamos chegar, tal era a despesa. O mercado da publicidade não estava feito (como ainda não está), nos meios tradicionais, para que empresas pequenas apostem na sua divulgação. A boa nova é que já não há desculpas e aquilo que foi uma alavanca para o sucesso com utilizadores restritos e já poderosos, tornou-se acessível a todos, através do Marketing Digital. Bons profissionais na área não faltam - a começar pela minha mulher!

Sim, nós cá por casa tendemos a agregar recursos para ficarmos mais fortes. Ou isso ou, pessoas com visão e futuro, agradam-se, naturalmente, umas às outras.

Voltando ao tema...

Atente-se, por outro lado, nos festivais. Temos muitos e tão bem produzidos, em diferentes regiões, do interior ao litoral, passando pelas ilhas, que passaram a ser bilhete postal para vender o Verão aos estrangeiros. Marcas internacionais em Portugal como o é o caso do BPM no Algarve ou do Rock in Rio em Lisboa ou nacionais - Nos Alive ou Super Bock e um rol de outros com tanta, mas tanta qualidade. Estamos a atravessar uma grande fase e creio que o melhor ainda está por vir! O mais fantástico é que, atrás desta transformação e desta maturidade, que inevitavelmente desaguarão num ainda maior sucesso, estão pessoas a aprender e a crescer, cheias de garra e com uma visão pluralista e abrangente do mundo, por isso não podemos estar mais confiantes no que virá.

Atualmente, ainda que como cliente, na maioria dos casos, tenho orgulho por pertencer a este sector e de tudo o que se tem inovado é realizado!

Beijos e abraços para todos e não se esqueçam: May the party be in you!
 
Francisco Rafael
Empreendedor
Publicado em Francisco Rafael
quarta, 03 junho 2020 23:04

(Des)governados

Atravessamos momentos únicos da nossa vida e ninguém consegue fazer futurologia. Estamos completamente desgovernados por tudo, por todos e também por nossa culpa por não sabermos antecipar problemas.

Apesar de tudo, há algo que sempre iremos conseguir fazer - adaptação aos novos desafios. 

Existem DJs desde o tempo em que a tecnologia permitiu que uma única pessoa conseguisse "tocar musica gravada" (excluindo o aparecimento das grafonolas) e sempre houve adaptações e mudanças.

Provavelmente, nunca terá havido tantos recursos tecnológicos que permitissem adaptações como existem nos dias de hoje e cabe a cada um de nós pensar e implementar essas adaptações.
 
É certo que todos estamos desgovernados e até desesperados porque a principal fonte de rendimentos de um DJ é por norma as suas actuações e não havendo eventos ou espaços físicos com público para o fazer, as alternativas são escassas. O streaming é a opção lógica mas jamais poderá trazer a rentabilidade, o sentimento, a "magia" das actuações em "contacto" com o público, no entanto não nos podemos esquecer que num passado recente, muitos DJs usavam a rádio para ganhar a notoriedade que têm nos dias de hoje e as diferenças para um streaming são apenas em termos de imagem e suporte em que são transmitidas. 
 

Não tenho a pretensão de imaginar ou prever o futuro deste sector mas tenho a certeza que servirá como triagem para muitos amadores e profissionais ficarem pelo caminho (…)


Não tenho a pretensão de imaginar ou prever o futuro deste sector mas tenho a certeza que servirá como triagem para muitos amadores e profissionais ficarem pelo caminho, deixando a quem tenha perseverança um caminho aberto para o futuro quando esse mesmo futuro voltar a permitir o regresso dos DJs ao seu habitat natural. 

Sim, estamos desgovernados (todo o sector e não apenas os DJs) mas não existem soluções no imediato. 

Nada será como foi e com maior ou menos adaptação, maiores ou menores mudanças, o DJ pode estar "infetado" mas não irá "morrer".
 
Ricardo Silva
DWM Management
Publicado em Ricardo Silva
quarta, 15 julho 2020 21:35

Bares e Discotecas: Os Esquecidos

Festas ilegais em vivendas.
Festas ilegais na via pública.
Festas ilegais em bombas de gasolina.
Festas ilegais em todo o lado e os legais fechados e sem hipótese de trabalhar.

Que sentido faz hoje dia 15 de Julho, ainda não haver legislação para os Bares e Discotecas poderem trabalhar?
Que sentido faz querer turistas quando depois quando chegarem aqui a animação é idêntica a um cemitério?
Que destinos turísticos vivem ou sobrevivem sem animação?
Que sentido faz incentivar aglomerados de gente sem regras, sem cuidados sanitários, sem controlo?
Que sentido faz estar a incentivar a proliferação da pandemia em vez de evita-la?
Que sentido faz condenar milhares de empresas à falência?
E centenas de milhares de pessoas ao desemprego e à miséria?
Que tipo de sociedade estamos a criar?

Não reconhecer o direito das pessoas para se divertirem e obriga-las à clandestinidade, não é digno de um estado democrático.
Eu sei que conseguem fazer melhor.
Nós sabemos que até sabem.
Basta quererem.

Devolvam a vida a quem faz viver.
Não há dia, sem a noite.
 
Eliseu Correia
Empresário
Publicado em Eliseu Correia
sexta, 09 outubro 2020 22:01

Está quase tudo diferente

Muitos de vocês não me conhecem. Faço produção de eventos e é no backstage e longe das câmaras que me sinto bem.

Fiz parte da criação de alguns projetos e conceitos inovadores e do relançamento de muitos outros - (Flash, Bloop, Ribatexas, I Love Baile Funk, Revende of the 90’s, para vos dar alguns exemplos). Neste momento abraço o projeto H Collective, empresa detentora de alguns destes conceitos e entrei recentemente num novo desafio chamado "Lorosae", um Restaurante/Bar de praia na Costa da Caparica.

Nesta altura do ano normalmente estaria envolvido em duas ou três rentrées de espaços noturnos em Lisboa, só que não. Deveria estar a preparar o lançamento da nova Tour Revenge of the 90's, só que não. Estou com tempo para escrever este artigo de opinião durante o mês de Setembro.

Estamos cansados de não poder trabalhar, a tentar reinventar negócios e formas de estar. Estamos com saudades. Passaram 6 meses desde que o nosso mercado parou e dançar juntos de copo na mão já parece uma coisa do passado.

No início parou mesmo, mas em meados de Julho quando alguns espaços, depois de algumas readaptações, começaram a conseguir fazer algum tipo de eventos com lugares sentados e o devido distanciamento, apareceu uma luz de esperança e o pensamento imediato foi: "isto a pouco e pouco vai arrancar". 

Alguns arregaçaram as mangas e conseguiram dar a volta para abrir, outros não tinham nos seus espaços forma de contornar as coisas para estarem legais nas novas regras. Em tempos tão difíceis foi engraçado ver as pessoas a adaptarem-se a estar depois de um copo ou dois sentadas no mesmo sitio a dançar, à frente da cadeira, a irem ao bar e prolongar a conversa com o barman para poderem estar de pé mais um bocadinho a abanar o corpo em modo dança reprimida.

Durante esta fase assisti com tristeza a pessoas exteriores aos negócios, e até mesmo concorrentes, com empenho em fazer denúncias e prejudicar de forma dramática a possível e lenta retoma.

O mercado da noite e eventos está difícil, praticamente parado, e é tempo de dar os braços, estar unidos e arregaçar as mangas. A concorrência é muita, e mais agora que as pessoas que saem de casa para eventos são ainda menos, mas quanto mais unido estiver o mercado maior a força junto das entidades competentes para um aceleramento da retoma. 

Os eventos e a noite como nós os conhecíamos vão voltar. Até lá muita força para todos porque quando voltarmos não vamos ter mãos a medir.
 
Miguel Cruz
Empresário/Produtor de Eventos
Publicado em Miguel Cruz
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