Diretor Ivo Moreira  \  Periodicidade Mensal
sexta, 10 janeiro 2014 21:35

Qual é o teu estilo, DJ?

 
Falemos dos "estilos". Passam os tempos e cada vez se torna mais difícil defini-los, garanto-vos. Pelo menos definir o que é que este ou aquele DJ toca.
 
São raros, raríssimos os que se conseguiram manter fieis às suas ondas originais. Armin Van Buuren no trance, Carl Cox, Richie Hawtin, Adam Beyer, Marco Carola no tecno, Steve Aoki, Afrojack, Chuckie no electro mais acessível, e pronto, à excepção dos incontornáveis de que não falei (e ainda são alguns pelo mundo fora, "graça a Deus!")... por aí... o resto é tudo uma adaptação do que se ouve agora, do que se quer agora, do que faz mexer as pistas, do que as rádios e playlists online veiculam.
 
Acredito que uma das coisas que mais incomoda um DJ, hoje em dia, é por isso, a pergunta: "Então e qual é o teu estilo?" Irrita, porque todos nós temos, obviamente as nossas preferências. Podemos gostar de minimal, progressivo, tecno, puro house... mas obviamente, que se queremos trabalhar nos dias que correm, temos mesmo que nos adaptar e tentar, fazer a melhor "viagem" possível durante as duas ou três horas normais de um set, MISTURANDO, sim, misturando... estilos, sonoridades e fazendo até o que à partida os puristas te ensinam a não fazer... colar a "bota e a perdigota"... uma de house comercial, seguida de uma "electrozada" e a seguir um techouse bem metido.
 
É obra dura de fazer.  E aqui, a diferença de quem o sabe ou não fazer, tem a ver com o bom senso, o bom gosto, a coerência... dentro do que à partida seria incoerente.
 
É mais isso, do que  passar uma horas seguidinhas das batidas certinhas da onda com que nos identificamos. Porque aí, à partida, sabemos que não falhamos (tecnicamente é mais fácil, claro, porque não há o perigo de "picos" e porque estamos fechados e encantados com o que nos enche as medidas como artistas). Mas, a verdade é que... não falhamos para nós, mas para o pessoal que está lá na frente, a não ser que vá já completamente formatado a ouvir o "nosso som" (ui, e é tão bom quando isso acontece), eles querem é diversidade e que a tal viagem os surpreenda, encha as medida, que as músicas lhes sejam familiares na sua maioria. E até os tais "picos" que às vezes não seriam aquilo que para nós faria sentido... é o que se quer.  E a nós... ai ai… e a nós, DJs de casa cheia, resta a magia (que esperamos ser certeira) de conseguir fazê-lo sábia e energeticamente.
 
Falo por mim, que nunca fui adepta do comercial puro e duro e cada vez mais a ele tenho que recorrer. Porque assim as casas o exigem  (ou só tocaria em mini clubes e bares com cachets baixinhos e onde o público seria muito menor em número que nas discotecas e festas mais massificadas por este país fora) e porque mesmo os "grandes", os internacionais, que em tempos produziram sons que nos ficaram no coração e na memória cada vez mais se dedicam a criar tendências comerciais e que os outros seguem pelo mundo fora.
 
"E é assim que é"... o Amor à música eletrónica, como tudo na nossa sociedade, tem que ser readaptado. Pelo menos a forma de o transmitir. E aí volto de novo aos estilos. "Qual é o teu estilo, DJ?"... Acho que a resposta da maioria, se não é, deveria ser: "O que eu toco? Ou o que eu gosto?".
 

Qual é o teu estilo, DJ? Acho que a resposta da maioria, se não é, deveria ser: "O que eu toco? Ou o que eu gosto?"

 
Amigos... o estilo confunde-se com o local, com a carreira, com a imagem que têm de nós, com o party people que temos à frente, com a hora a que tocamos, com o tipo de evento. Eu, por exemplo, toco desde em eventos corporativos às 4 da tarde até ao pico da hora dos "chalalás" todos comerciais que é às 3 da manhã e até de vez em quando faço um ou outro after em que me estico com o tecno e electro menos acessível.
 
Além de tudo isto... é impressionante constatar as "modas" que tão rapidamente entram e saem de cena. Por exemplo, o ano passado o público mais novo, quase que inexplicavelmente (porque não fazia parte da sua cultura musical, foi sim uma moda passageira) exigia quase lado a lado com os temas comerciais do Avicii, Alesso e afins... o dubsetp para embalar uma noite bem bebida. Este ano que passou... foi o Afrobeat. Para todos. Brancos. Pretos. Na cidade. No interior. Mesmo que não tenham qualquer afinidade com a cultura africana... gostam de afrobeat e mais espantoso ainda... de Kizomba e Kuduro.
Pergunto-me o que virá este ano e que... fará esquecer o que ficou para trás e que já foi apagado no iPod, para ganhar mais espaço para músicas novas?...
 
Falemos de "estilos", comecei assim a minha crónica... Ou não. Falemos então da nova filosofia de DJ. Da forma de adaptação à pista. Da vontade que temos que fazer crescer em nós de continuar a pôr o público a dançar. Da arte que considero perfeito de oferecer "uma para nós" e "duas para o público" e da magia que já raramente acontece, mas que não é, obviamente impossível quando a comunhão entre eles e nós - os DJs - acontece e esta máxima passa a ser: "uma para nós", "uma para eles" ou até mesmo "todas para todos".
 
São noites dessas que ficam na nossa história pessoal e independentemente de ondas, estilos ou géneros são noites dessas que mantêm aceso o nosso amor por esta arte.
 
E... que este ano tenha umas quantas dessas. Desejo-o para mim e para vocês. E assim, nos cruzaremos, aí pelas estradas desse país, de clube em clube, com aquele sorriso de satisfação e realização de que tão bem conhecemos o puro feeling, e é cada vez mais raro.
 
Rita Mendes
Publicado em Rita Mendes
quarta, 03 julho 2013 21:18

Summer Sessions

 
Uma crónica de Verão tem sempre muito que se lhe diga. E tem, principalmente, porque como a "Silly Season" costuma ser a patetice pegada em quase todas as áreas, escrever coisas sérias parece-me também pretensioso...
 
Sublinho o quase, porque se houver, no entanto, a viabilidade de algum motivo sério de conversa... talvez essa seja a da área da Música. Sim, é a época áurea do rodopio de internacionais, cá a poisar na terrinha. E cada canto vai ter um. Ou mais.
 
Festivais "à séria", festas "da terrinha" e populares, discotecas da moda e "disco-nights" da aldeia... tudo vai ter os seus Steve Angelos, David Guettas e Axwells da vida , os seus Allessos e Hardweels, Sashas milionários e com quase pornográficos cachets.
 
Eles vão a todas. Desde a grandes certames de qualidade, com outros grandes nomes comerciais lado a lado no cartaz, como se "sujeitam" a locais estranhos em que o dono é um qualquer novo rico  do local que decide "fazer mexer" a terriola e desembolsa 50 mil euros para um destes monstros da house music tocar a seguir ao residente Huguinho, Zézinho ou Luisinho.
 
Por isso é que o meu amor pela música eletrónica se mantém fiel a alguns dos que considero "estrelas" à séria, não porque exigem 100 mil euros por set, mas porque mantém a coerência e o cuidado quanto aos eventos em que se envolvem.
 
Ritchie Hawtin, Plasticman, Marco Carola, Dubfire, Steve Lawler, Loco Dice... são alguns aos quais, sim, tiro o chapéu. Tocam no que considero os melhores Clubes. E há uma real diferença entre Discoteca e Club. As primeiras são para massas, os segundos para amantes de música. E para estes estes senhores não há cá "pão para malucos"... tocam e tocam bem, não há cá buzinadas e loops de 2 minutos. Eles continuam a encantar e são elitistas nos sítios que escolhem para trabalhar e por isso... os sítios também fazem "nome" ligado a eles.
 
A bola de neve é esta: um DJ e um estilo, fazem a onda do espaço e o espaço onde toca, vai criando pouco a pouco a verdadeira credibilidade do DJ.
 
Os nomes que falei também são grandes e não podem sequer ser considerados "alternativos", mas basta não serem "vendidos" e manterem a sua linha musical para os aplaudir de pé. Não vivem do hit do momento, mas sim da carreira consolidada, não arrastam os miúdos de 18 anos mas o público da minha geração, dos 30, os que cresceram com o puro house e com o tecno apurado. Para mim, a base de tudo o resto.
 
As festas, nesta altura multiplicam-se. Mesmo!! Cada beco tem a sua e parece que o dinheiro cresce, num tempo de crise anunciada, vivida e choramingada  por quase todos - mesmo na noite, onde tantas casas têm fechado portas - para competir com o "vizinho" do lado que trouxe o DJ X ou Y. Por vezes, batalhas ganhas, por vezes perdidas. E a quantos lamentos de produtores, já assisti, quando ao investirem largos milhares "certos de retorno", se tornam menos certos e perdem outras tantas milenas, que inviabilizam os Verões e Invernos seguintes.
 

É Verão, "Silly Season" e a melhor altura de trabalho, com mais mercado para os DJs, com mais público na rua, com mais dinheiro para gastar.

 
Quero chegar ao seguinte: DJ de renome já foi dinheiro certo em caixa, já lá vão os tempos em que se gastava 100 mil para ganhar 300... Mas nessa altura, haviam 4 ou 5 festivais, não 50. Mas nessa altura os DJs conceituados eram 10 no mundo e não 100. Mas os cachets a que chamávamos milionários eram de 10 mil euros e não 100 mil. As apostas hoje em dia já não são tão certeiras, há quem se ria e há quem chore. E depois ainda há os "sets de merda" a que nos submetem por ser o que o povinho que enche as casas quer ouvir…
 
Uff... Volto à carga. É Verão, "silly season" e a melhor altura de trabalho, com mais mercado para os DJs, com mais público na rua, com mais dinheiro para gastar. Mas é também, cada vez mais, nos tempos que correm, altura mais do que obrigatória para fazer triagem. Não ir a "todas" (nem como DJ e muito menos como público) e, a não ser que se vá para "ver as gajas"..., escolher a vibe e a qualidade musical que se procura e aí sim... seguir a "Yelow Brick Road" até... ao bom festival mais próximo!
 
Neo Pop, Refresh e numa onda mais comercial - Azurara... Para mim são os eleitos. Não que seja lei, mas é a minha opinião até porque o Verão é feito de brisas e por aí vão sempre existir os momentos que elegemos como nossos e marcantes, as memórias que farão parte da nossa vida e claro, sempre com a banda sonora perfeita, a que se adequou à hora certa, e com a batida que tinha que ser. 
 
A procura é nossa, a escolha também, a coerência faz parte dessa escolha. E quem ama a Club Scene, sabe do que falo, não sabe?
 
Bom Verão e encontramo-nos por aí? Nas boas e quem sabe, até nas medíocres festas! 
 
Como DJ, RP e Music Blogger... no fundo, terei que "papar" com o bom e com o mau, para poder falar com conhecimento de causa e claro... ganhar o meu. :)
 
Certo?
 
 
Rita Mendes
Publicado em Rita Mendes
domingo, 16 setembro 2018 22:47

Os "ginastas" da Dance Scene

O motivo da minha crónica deste mês vem na sequência de um post de um DJ que li há alguns dias numa das suas redes sociais em que dizia "isto é o que eu faço quando me pedem para tocar EDM" e fazia um gesto com a mão e o dedo do meio erguido dizendo também no mesmo post "I'm a Techno addict!". Como eu tinha a noção que o dito DJ tinha produzido há relativamente pouco tempo temas originais/remixes de EDM que tinha visto à venda no Beatport e que até tinha uma agenda internacional preenchida, fui um pouco atrás na sua rede social e realmente estavam lá os posts relativos a "great EDM Remix", vídeos no estúdio "what a EDM BOMB!", fotos com alguns dos artistas EDM do momento, etc. E fiquei realmente um pouco confuso...
 
O motivo da minha surpresa não é o facto de o DJ em questão ter mudado de estilo. Acho isso perfeitamente normal e faz parte do nosso percurso, quer como artistas, quer como pessoas. O que me faz muita confusão é como certos artistas podem, num momento querer ser os maiores num determinado estilo musical, porque está na moda e quando este deixa de estar na moda já é uma porcaria, já "passou o seu tempo" ou "isto é o que eu faço quando me pedem para tocar...". Essa parte já não entendo. Se até há pouco tempo querias ser o "novo príncipe do EDM", não podes, passado um ano e meio, dois anos, dizer que "isto é o que eu faço quando me pedem para tocar EDM" com um gesto obsceno. Até porque hoje em dia temos a internet que regista tudo o que publicamos, para sempre. E se vais publicar que és um "techno addict" e que "EDM sucks", ao menos apaga os posts anteriores onde dizes que estás a produzir a próxima "bomba EDM" ou que "respiras EDM". É o mínimo que se pode fazer em nome da coerência.
 
Entendo que seja o estilo musical mais "underground" que está na moda, mas ver alguns artistas (e muitas pessoas) que até à bem pouco tempo diziam mal do techno em favor de outros estilos (não só EDM) que agora são "techno addicts" faz-me alguma confusão. 

É verdade que o techno está na moda há já alguns anos e que parece que assim se vai manter durante algum tempo. Obviamente que não tenho nada contra isso até porque toco alguns temas techno nos meus sets, apesar de não ser um DJ cuja base seja esse estilo. Gosto de alguns dos temas que saem neste momento, embora já não seja tão fã da "nova" moda do techno mais rápido (para cima de 130/132 BPMs) que é bastante popular neste momento e que projectou vários DJs para a ribalta nos últimos tempos. Talvez porque, embora para a malta mais jovem seja uma sonoridade nova, alguns dos temas que estão na moda aos meus ouvidos soam-me ao techno que se tocava nos anos 90, inícios de 2000 com alguns sons novos, mas cuja base é bastante parecida e por isso não me soa a "novidade". Mas o certo é que há milhares de pessoas que seguem esse estilo e que enchem pavilhões, clubs, eventos e que para eles é uma sonoridade totalmente nova, coisa que entendo perfeitamente e que respeito totalmente. 

Mas será mesmo necessário que de repente quase toda a gente "viva para o techno", "respire techno" e seja "techno fanatic"? Entendo que seja o estilo musical mais "underground" que está na moda, mas ver alguns artistas (e muitas pessoas) que até à bem pouco tempo diziam mal do techno em favor de outros estilos (não só EDM) que agora são "techno addicts" faz-me alguma confusão. 

Tal como disse antes, obviamente que não tenho nada contra os artistas que mudam de estilo musical, isso faz parte do percurso de vida, da evolução pessoal de cada um, e é uma situação perfeitamente normal. O que me faz confusão é o aproveitamento de alguns em "mudar" para o estilo que está na moda dizendo mal do estilo que lhes deu muito dinheiro a ganhar. Quer publicamente quer em privado. Os Ingleses têm uma expressão para isso, chamam-lhe "jump on the bandwagon".

PS: Recentemente o DJ e produtor de EDM Hardwell comunicou que ia fazer uma pausa nos seus gigs por tempo indefinido para se dedicar a ser "Robbert e deixar de ser Hardwell 24 horas por dia" devido à pressão que isso significava na sua vida pessoal e ao efeito que estava a ter sobre a sua criatividade como artista. O que me levou a ler mais uma vez a crónica anterior que escrevi para a 100% DJ sobre o falecimento de Avicii. A vida de um DJ de topo com uma agenda internacional como Avicii ou Hardwell tinham, não é nada fácil. Felizmente Hardwell percebeu onde estava o seu limite e conseguiu parar a tempo...
 
Carlos Manaça
DJ e Produtor
 
(Carlos Manaça escreve de acordo com a antiga ortografia)
Publicado em Carlos Manaça
domingo, 02 dezembro 2012 21:59

Back in the club, the story

Este mês resolvi dar a conhecer todo o processo que atravessei para criar, desenvolver e acabar o nosso novo tema "Back In The Club". A faixa foi apresentada pela primeira vez, ao vivo, na 'MEGA HITS Kings Fest' no Campo Pequeno em Lisboa, a 27 de Outubro. A ideia de fazer um tema com o Dani (Daniel Fontoura) começou após o ter visto a cantar num karaoke, no Cruzeiro MEGA HITS que participámos em maio de 2011 - fiquei impressionado com a voz dele e gostei muito de o ouvir cantar. Nesse momento, o meu primeiro pensamento foi: "Vou ter que fazer uma música com ele". Começámos a conversar sobre essa possibilidade e de como poderíamos avançar para a música e mal cheguei ao estúdio, a primeira coisa que fiz foi selecionar todos os esboços que tinha guardados no disco do meu iMac, até que cheguei àquele que usei para o "Back In The Club".
 
Lembro-me que esse tema começou pelo verso, uma melodia simples e ao mesmo tempo alegre, que estivesse de alguma forma relacionada com o nosso estado de espírito, com aquilo que os FY2 – The Party Rockers apresentam no seu estilo de set, mas acima de tudo, algo que nos divertisse e que nos desse prazer construir. Desenvolvi um pouco a ideia, sequenciei a música de forma a ser algo "apresentável" para o Dani poder opinar e ter uma base sólida para começar a construir a melodia vocal e a letra. Claro que ao longo de todo o processo criativo, várias mudanças foram acontecendo: desde mudar toda a estrutura rítmica (pelo menos duas vezes), trocar vários elementos, acrescentar e retirar beats - mas tudo isto faz parte do processo criativo e da busca pela "batida perfeita".
A meio do tema, percebi que a ajuda de um compositor seria bem-vinda e que iria tornar a faixa mais interessante melodicamente. Foi aí que conheci o Miguel Amorim. Um jovem músico, compositor e produtor que me fez ver certas coisas de forma diferente e com quem, para além da relação de amizade, mantive uma relação de trabalho constante em diferentes áreas dentro da música! O Miguel veio desempatar algumas coisas e resolver certas "equações" musicais que serviram como a "cereja no topo do bolo" - e verdade seja dita, a união faz a força e quantas mais boas pessoas tivermos ao nosso lado para nos ajudar, apoiar e aconselhar, melhor!
 

(...) Mas o que interessa é que façam algo e que trabalhem, não deixem as ideias de músicas gravadas no telemóvel ou mesmo na cabeça - exteriorizem e materializem!

 
Depois do Dani concluir a letra e a melodia vocal, gravámos alguns takes "experimentais" daquilo que poderia ser a voz no tema e fomos reconstruindo a música de forma a se adequar que nem uma luva à voz. Uma vez o instrumental finalizado, fomos para estúdio gravar a voz. Depois, basicamente, foi substituir os takes gravados no meu "home studio" pelos novos que gravámos e a música estava pronta para enviar para o Engenheiro de Som que iria misturar e masterizar o tema.
 
Por intermédio do Miguel Amorim, conheci o José Diogo Neves, um músico, produtor e Engenheiro de Som fantástico, com uma capacidade de aprendizagem fora de série (e uma paciência de aço para ouvir todos os meus devaneios) e que acabou por misturar e "masterizar" o tema – e que, a par com o Miguel, se tornou meu amigo e hoje em dia, basicamente, fazemos os três parte de uma equipa e temos a nossa "cena" juntos onde estamos em constante ligação e a trabalhar em conjunto! Após alguns ajustes e experimentações ao vivo, chegámos ao resultado final - que podem ouvir em algumas das principais rádios nacionais!
 
Eu sei que toda a gente tem a sua forma de criar e começar uma música - seja pela linha de baixo, pela parte rítmica ou pelo refrão - whatever - mas o que interessa é que façam algo e que trabalhem, não deixem as ideias de músicas gravadas no telemóvel ou mesmo na cabeça - exteriorizem e materializem! E acima de tudo, nunca desistam dos vossos sonhos!
 
 
Daniel Poças
FY2 - The Party Rockers
Publicado em Daniel Poças
segunda, 03 junho 2013 19:59

O que fazer e o que mudar

Aceitei o desafio da 100% DJ para poder dirigir algumas palavras a todos os leitores/visitantes.
Escolher o tema para esta primeira crónica foi complicado. Não por não haver inspiração, mas porque há tanto para falar e dizer sobre a música, DJs, produtores e noite Portuguesa. 
 
Para quem não me conhece, sou o responsável pela DWM e representamos vários DJs e produtores Nacionais e fazemos o seu management.
Vou partilhar convosco alguns pensamentos e experiência adquirida em 20 anos de mercado. 
 
Em primeiro lugar, já é tempo de se mudar mentalidades entre DJs e produtores. Em Portugal em vez de se pensar em "crescer" profissionalmente, prefere-se deitar abaixo os colegas de profissão. Se olharmos para países como a Holanda ou a Suécia, vemos o quanto estamos errados. Não é a denegrir um colega que o nosso trabalho sai valorizado. Especialmente na produção, é altura de puxarmos uns pelos outros para conquistar o mercado Internacional. Portugal tem muitos e bons produtores que não são valorizados porque existe esta "guerrilha interna" onde ninguém ajuda ninguém e o "falar mal" é muito mais fácil. Todos os produtores sofrem com isto e não há quem saia beneficiado. 

Não é a denegrir um colega que o nosso trabalho sai valorizado. Especialmente na produção, é altura de puxarmos uns pelos outros para conquistar o mercado Internacional.

 
Dentro da produção, há algo que tem de ser interiorizado. Quem produz (independentemente do estilo) tem de perceber para quem a sonoridade é destinada. Vejo muitos produtores a lançarem faixas Afro, Latinas, com sonoridades Brasileiras, vocais em Português e que depois não compreendem porque é que não têm datas Internacionais ou não vendem as suas produções. O motivo é fácil de perceber. São estilos musicais destinados ao mercado interno, PALOP's, Brasil e comunidades Lusas. 
 
Não estou a dizer com isto que não o devem fazer, apenas pretendo que compreendam que é um produto esgotado, limitado geograficamente e pouco "consumido" quando se trata de vendas musicais. Ou conseguem produzir algo "fresh" e com um estilo muito próprio, ou estarão a produzir algo com limitações e muita concorrência. 
 
Ainda dentro da produção, outro erro recorrente é a produção excessiva de sonoridades mais "clubbing" onde a concorrência Internacional é feroz. Para esta situação é essencial editarem numa label Internacional que promova convenientemente a vossa faixa. Editar num "depósito" de faixas ou numa label Nacional, é apenas um capricho. A vossa música por mais qualidade que tenha, não chega como promo aos Top DJs Internacionais (que são quem a pode projectar ao ser tocada), não é divulgada, não há seguidores da label onde editam a faixa para a poderem ouvir (e comprar), etc.
 
 
Quais são as alternativas? 
Como é que se pode projectar a música e abrir portas para as actuações?
 
Chegamos a um ponto que muitos rejeitam e teimam em não aceitar. A Promoção. 
Quer gostem ou não, hoje em dia é essencial terem imensos Likes, Followers, Subscribers, etc. Se não querem investir, falam mal de quem paga anúncios publicitários, não investem em vídeo e imagem e julgam que só a música vai ser suficiente, então nunca vão sair do patamar onde estão. 
Se a vossa música não chega ao público e profissionais, se a quiserem oferecer (free download) mas não têm seguidores ou têm muito poucos, como é que alguém sabe do vosso trabalho se a informação não chegou ao destinatário?
 

Tirem da ideia que vão produzir uma faixa que vai ser um Hit se não tiverem uma máquina à vossa volta para projectar a vossa música.

Podem não saber como o fazer ou a melhor forma de executar. Afinal de contas, são DJs/produtores e não têm obrigação de saber alguma coisa de Marketing. Neste caso, recorram a profissionais. Contactem um management (que vão ter de pagar, não julguem que há alguém que vai trabalhar de borla), falem com um PR (Public Relations) que vos coloque a música nas rádios, "disparem" newsletters, etc., e mentalizem-se que para colher, têm de semear. 
 
Não existe nenhum produtor actualmente que tenha ganho notoriedade sem ter efectuado investimento em Marketing. Tirem da ideia que vão produzir uma faixa que vai ser um hit se não tiverem uma máquina à vossa volta para projectar a vossa música. 
 
 
Então e os DJs?
 
O DJ como o conhecíamos acabou. Sim... acabou. Quem conseguiu atingir patamares elevados, foi porque andou (anda) há muitos anos no mercado. Actualmente o DJ mudou. Com as novas tecnologias tornou-se fácil passar musica (o que para mim, por si só, não faz um DJ). 
 
Situações como tocar durante 5 ou 6 horas seguidas, saber "ler a pista" ou saber baixar a intensidade musical para os clientes irem ao bar consumir e agarrar a pista novamente, são coisas que os actuais DJs não sabem fazer. Foi incutida uma ideia diferente do que é na realidade um DJ, principalmente quando todos pensam em tocar num palco para milhares de pessoas, quando o lugar do DJ é numa cabine a fazer aquilo que sabe (ou sabia) fazer melhor que ninguém. 
 
Um DJ era um "educador musical". Hoje em dia, ninguém quer ser educado porque a Internet dá-lhe tudo para ele escolher por si e é influenciado pelo que ouve na rádio ou na TV. O DJ actual tem de mentalizar-se que tem de optar. Ou toca um estilo muito próprio e fica sujeito à aceitação do mercado e dos clubes que aceitam essa sonoridade, ou "regressa às origens" e é um executante musical que tem de tocar para o que o publico quer ouvir. 
 
Muitos estarão a pensar que vêm DJs a tocar em palcos para milhares de pessoas em Festivais por todo o mundo. Sim, é verdade, mas se virem bem, ou são DJs/produtores que vão para passar a sua música ou ficaram conhecidos por uma determinada faixa ou então são DJs com muitos anos de experiência que ganharam a sua notoriedade há anos atrás. 
 
Actualmente não há um único profissional que seja apenas DJ que nos últimos 6/7 anos tenha atingido a ribalta. Principalmente para os novos DJs que todos os dias aparecem, tirem da ideia que por saberem misturar com um software e passarem as músicas dos SHM, Avicii ou Hardwell, que isso irá levar-vos a algum palco Internacional ou atingir um patamar elevado.
 

Um DJ era um "educador musical". Hoje em dia, ninguém quer ser educado porque a Internet dá-lhe tudo para ele escolher por si e é influenciado pelo que ouve na rádio ou na TV.

O meu conselho para todos os DJs que agora surgiram, é o de procurarem uma residência para trabalhar. Se realmente é como dizem e argumentam (que a música é a vossa vida, o vosso sonho, etc.) vivam então a música como ela tem de ser vivida e principalmente pensem no que realmente querem. Se o que querem é ser um Hardwell, Avicii, Skrillex ou Carl Cox (seja qual for o estilo) sigam o vosso sonho por causa da música e nunca pela fama, dinheiro, prestigio, sexo, copos, etc. porque para atingirem um patamar elevado, não basta ter vontade, qualidade e sorte. Precisam de muito investimento financeiro, "padrinhos", contactos, imenso trabalho e mesmo assim nada é garantido. 
 
Por hoje é tudo e há muito mais para falar, mas o texto já vai longo.
 
Lembrem-se que a oferta é muita e a procura é pouca. Vivam um sonho mas não criem ilusões e valorizem os outros profissionais e principalmente os Portugueses, porque só dando as mãos, podemos sair para o Mundo que é um mercado muito maior que este País no cantinho da Europa.
 
Ricardo Silva
DWM Management
Publicado em Ricardo Silva
sexta, 09 outubro 2020 22:01

Está quase tudo diferente

Muitos de vocês não me conhecem. Faço produção de eventos e é no backstage e longe das câmaras que me sinto bem.

Fiz parte da criação de alguns projetos e conceitos inovadores e do relançamento de muitos outros - (Flash, Bloop, Ribatexas, I Love Baile Funk, Revende of the 90’s, para vos dar alguns exemplos). Neste momento abraço o projeto H Collective, empresa detentora de alguns destes conceitos e entrei recentemente num novo desafio chamado "Lorosae", um Restaurante/Bar de praia na Costa da Caparica.

Nesta altura do ano normalmente estaria envolvido em duas ou três rentrées de espaços noturnos em Lisboa, só que não. Deveria estar a preparar o lançamento da nova Tour Revenge of the 90's, só que não. Estou com tempo para escrever este artigo de opinião durante o mês de Setembro.

Estamos cansados de não poder trabalhar, a tentar reinventar negócios e formas de estar. Estamos com saudades. Passaram 6 meses desde que o nosso mercado parou e dançar juntos de copo na mão já parece uma coisa do passado.

No início parou mesmo, mas em meados de Julho quando alguns espaços, depois de algumas readaptações, começaram a conseguir fazer algum tipo de eventos com lugares sentados e o devido distanciamento, apareceu uma luz de esperança e o pensamento imediato foi: "isto a pouco e pouco vai arrancar". 

Alguns arregaçaram as mangas e conseguiram dar a volta para abrir, outros não tinham nos seus espaços forma de contornar as coisas para estarem legais nas novas regras. Em tempos tão difíceis foi engraçado ver as pessoas a adaptarem-se a estar depois de um copo ou dois sentadas no mesmo sitio a dançar, à frente da cadeira, a irem ao bar e prolongar a conversa com o barman para poderem estar de pé mais um bocadinho a abanar o corpo em modo dança reprimida.

Durante esta fase assisti com tristeza a pessoas exteriores aos negócios, e até mesmo concorrentes, com empenho em fazer denúncias e prejudicar de forma dramática a possível e lenta retoma.

O mercado da noite e eventos está difícil, praticamente parado, e é tempo de dar os braços, estar unidos e arregaçar as mangas. A concorrência é muita, e mais agora que as pessoas que saem de casa para eventos são ainda menos, mas quanto mais unido estiver o mercado maior a força junto das entidades competentes para um aceleramento da retoma. 

Os eventos e a noite como nós os conhecíamos vão voltar. Até lá muita força para todos porque quando voltarmos não vamos ter mãos a medir.
 
Miguel Cruz
Empresário/Produtor de Eventos
Publicado em Miguel Cruz
terça, 16 fevereiro 2021 12:07

Noite AC e DC

Que noite tínhamos Antes do Covid (AC) e que noite teremos Depois do Covid (DC)? O tempo é péssimo para a memória e a maioria já se recusa a lembrar que a noite AC já era uma pálida imagem de outros tempos áureos, como a inesquecível década de 90 que tantas saudades deixou. O privilégio que foi viver esses tempos. 

Contudo não deixo de reconhecer que talvez a noite já não fosse apetecível para mim, para muitos da minha geração e anteriores, mas que preenchesse os requisitos das gerações mais jovens, acredito que a música que nos fere os ouvidos, a nós mais gimbras, faz as delícias de quem hoje salta para a pista aos primeiros acordes de um "Despacito". 

Mas a grande incógnita reside no DC, com as portas das discotecas encerradas há um ano, a fazer no dia 8 de Março, que noite nos espera quando for dada ordem de soltura? Numa entrevista a um histórico da noite do Porto, li que o mesmo dava um prazo de 4 anos até que a noite estivesse maturada para ser consumida, em resposta, nos grupos da noite numa rede social, outros empresários mostravam-se mais otimistas, havendo alguns que acreditam mesmo, que abertas as portas, não haverá distanciamento social que resista. 

A verdade é que nos países onde a noite se iluminou e ganhou vida, as quebras foram significativas DC em comparação com o AC, razão da falta de confiança por parte dos consumidores, da incapacidade financeira e, na minha modéstia mas sábia opinião, a mudança de hábitos. 

Hoje temos uma sociedade com hábitos diferentes, janta-se mais cedo, dorme-se mais cedo e acorda-se mais cedo, mesmo confinados. Os hotéis servem refeições, nos restaurantes as iguarias acompanham-se som de um DJ que convida a bater o pé e os bares servem duchesses e galões de manhã à noite, para recuperar a tesouraria, e no formato 24/7 assume pistas de dança iluminadas por luzes dinâmicas, de qualidade duvidosa, adquiridas nos chineses. 

E quando abrirem as discotecas? Ainda haverão forças para mais uma voltinha no carrossel ou já estaremos esgotados e com as carteiras cansadas? Propus, ao autarca máximo da capital, reciclarmos os horários ou limitarmos a pressão acústica para que, os utentes da noite, não ficassem retidos em espaços de restauração ou em bares onde o nível de DBs deveria dissuadir à dança. 

A ver vamos, desde já, navegamos à vista em embarcações de esperança que tudo volte à normalidade. Igual não será, esperemos que seja melhor. 
A Gerência.
 
Zé Gouveia
Publicado em Zé Gouveia
terça, 05 setembro 2017 17:49

Eu ainda acredito

Acabou o verão (leia-se Julho e Agosto) e regressamos a outra realidade para os DJs Portugueses. Voltam a olhar para os clubes/discotecas como a sua fonte principal de rendimento, depois de dois meses em que puderam pisar palcos por todo o país.
 
Estamos claramente na mudança para um novo ciclo da música electrónica onde apenas alguns conseguirão manter-se no mercado. Durante vários anos vimos o aparecimento de “fornadas” de novos DJs (peço desculpa pelo uso da palavra) e rapidamente perceberam que ser DJ não é tocar uma playlist de um PC e de um controlador ou produzir música com uns samples “sacados” da net e fazer umas coisas num programa pirata. 
O mercado está a mudar novamente e "o DJ" perdeu imenso do espaço que tinha conquistado nos últimos cinco anos. 
Os palcos perderam a necessidade de fazer um cartaz repleto de DJs que nada de novo trouxeram ao mercado nos últimos três anos. Um formato "gasto", baseado no "show off" e utilização excessiva de "efeitos especiais" que deviam servir de "complemento" e tornaram-se na própria actuação, relegando para segundo plano o principal - a música. 
 
Quem conseguiu perceber "o caminho certo" foi quem conseguiu manter e afirmar-se. Os Turntablists, DJs de Hip Hop e principalmente os DJs com sonoridades mais "clubbing" (House, Techouse, etc.) conquistaram o seu espaço por mérito próprio e temos assistido a um crescimento de festivais e eventos com essas sonoridades por todo o país e com uma autêntica legião de seguidores.
 

Durante vários anos assistimos à degradação da profissão de DJ por culpa própria.

 
Ninguém consegue prever o futuro mas tudo indica que vamos ter um novo ciclo onde a "música de fusão" pode ser a única alternativa para todos aqueles DJs que quiseram afirmar-se com estilos que "só servem" para festivais e com uma produção gigantesca em torno da actuação. Querer actuar em clubes/discotecas regularmente e massacrar os clientes com Big Room e Electro deixou de fazer sentido (excepto se o evento ou temática for adequada).
 
Durante vários anos assistimos à degradação da profissão de DJ por culpa própria. Qualquer um era DJ. O dono da casa, a malta que saiu dos Reality Shows, as figuras públicas que não tinham trabalho, o desempregado que achou que era fácil, o "modelo" que ficou velho e ficou sem trabalho, o "puto" da escola preparatória que queria ser o David Guetta ou as "raparigas ou rapazes" que queriam ser "famosos" e que para eles a música não era o importante.
 
Dizer a alguém "sou DJ", deixou de ser algo que era dito com orgulho. Deixou de ser aquela pessoa que tinha cultura, conhecimento musical, a pessoa que tinha capacidade para "mexer contigo" durante 5 ou 6 horas para passar a ser um indivíduo que mete uma playlist durante 1h00, dispara uns confetis e CO2 e vai para casa com o ego em alta a pensar que é o melhor artista do mundo.
 
Perdeu-se o principal... A MÚSICA.
 
O DJ deixou de o ser para passar a ser um mero "entertainer". Alguém que "não precisa" de ter "skills", alguém que não "arrisca" e testa novas músicas e sonoridades. O DJ é alguém que é uma cópia de outro DJ que tem mais sucesso que ele. O DJ deixou de ser um "educador musical" para ser uma "jukebox" em que ele lá estar a ser pago pelo serviço que presta ou uma caixa onde inserimos moedas e escolhemos o que queremos ouvir é a mesma coisa.
 
Eu ainda acredito que há esperança para a profissão tão nobre que é ser DJ. 
Acredito que vai piorar antes de melhorar mas que os DJs voltarão às cabines e deixarão os palcos onde tocam playlists. Acredito que o verdadeiro DJ ainda existe e está apenas "adormecido" e a aguardar que esta fantochada termine. 
Eu ainda acredito nos verdadeiros DJs.

Ricardo Silva
DWM Management
Publicado em Ricardo Silva
segunda, 04 novembro 2013 14:40

DJs VS Produtores

 
É obrigatório ser DJ e produtor hoje em dia? Um DJ é um produtor melhor? Um produtor é um bom DJ? Saberes fazer música faz com que a tua carreira evolua mais rápido? Aparentemente, hoje em dia quem faz um tão aclamado "hit" passa do 0 para o #40 da DJ Mag - como foi o caso do Martin Garrix, era "desconhecido", e hoje em dia é dos DJs/produtores que mais toca e corre o mundo.
 
Nos clubes e nos festivais o que se ouve são as músicas feitas pelos produtores de música, sempre foi assim e sempre será, são eles que inspiram as pessoas a ouvir e a gostar de música, é por causa deles que as pessoas acabam por sair à noite, para ouvir e se divertir ao som da música deles... e a maior parte dos DJs, são DJs porque se inspiraram em algum DJ/produtor.
 
Mas o reverso da medalha também existe. Se não houvessem DJs, os produtores não tinham forma de sustento, as suas músicas não eram vendidas e não eram tocadas nas pistas de todos os clubes e festivais que existem por esse mundo fora... o DJ é o principal porta-voz das músicas nos tempos que correm - existem cada vez mais clubes, cada vez mais festivais e todas as músicas que saem para o mercado hoje em dia, já vêm acompanhadas com o "remix pack" e na sua grande maioria, já agradam a toda a gente - desde o tech ao trap.
 
Nos anos 80 e 90, não era fácil ser-se produtor de música - tudo era extremamente caro de se comprar e não havia internet com as velocidades estonteantes que há agora, mas acima de tudo, era tudo analógico, não havia muito software. Hoje em dia, com a internet e a pirataria a fervilhar - e como ser DJ/produtor está na moda - qualquer pessoa pode ser um "DJ/produtor", ainda que não saia de casa e tenha apenas um laptop e um DAW qualquer à escolha - pirateado, e meia dúzia de VSTs. 

Um simples DJ acaba por ser como uma banda de covers, nunca toca as suas músicas mas sim os sucessos das outras bandas.

 
Ver um DJ passar a produtor de música é capaz de o transformar em alguém melhor - o facto de aprender a ouvir "não" (das editoras e de outros DJs/produtores), a coragem que é preciso ter para mostrar o seu trabalho - ainda que alguns não têm bem noção do que fazem e só porque os amigos dizem que está "bom" já se acham a "última bolacha do pacote", por outro lado também têm a força de criar algo do zero, do nada, algo inexistente, investir tempo, aprender, evoluir, crescer como artista, como profissional e como pessoa. Um simples DJ acaba por ser como uma banda de covers, nunca toca as suas músicas mas sim os sucessos das outras bandas, podem ser super talentosos e com uma técnica e leitura de pista inacreditável, mas no final, são apenas um "DJ". Claro que um DJ é sempre alguém que cria de uma certa forma e expressa a sua criatividade, mas poucos são os que tentam evoluir e fazer algo inovador e diferente...
 
Um DJ/produtor, por outro lado, é visto como alguém que escreve música, criar e toca os seus próprios temas, faz edits, bootlegs, mashups, procura sempre dar o seu cunho pessoal à música que toca e apresenta aos seus fãs e acrescenta valor à indústria musical, ao mercado que o rodeia e à sua "fan base". 
 
Ao contrário do mundo de um DJ, que na sua maior parte, vive "sozinho" quando está a actuar, porque a cabine é sua e ele é que decide o que vai tocar, um produtor vive em colaborações - podem ser músicos, cantores ou até mesmo outros produtores - isto impulsiona a comunicação, a exploração das fraquezas e forças, a interação, a criatividade e a inspiração - basicamente, aprende-se imenso quando se faz colaborações, tens que ser cordial, saber ouvir e respeitar as opiniões.
 
Quando fazes música estás a ser obrigado a tomar decisões - se vais fazer uma música de house, progressive, tech, trap, dubstep, whatever... que VST's vais usar, que som vais escolher, vais perder tardes a mexer num knob de um synth que altera uma frequência que muda a música toda e és obrigado a seguir em frente, a decidir. Vais procurar uma editora ou pensar se vais abrir a tua própria ou ainda se a vais disponibilizar grátis. Vais enviar a música a todos os teus amigos DJs, vais ouvir "nãos" e vais ouvir "sims". É um processo que não acaba e as decisões são constantes e a maior parte do tempo, tu não tens tempo para parar e pensar - tens que tomar decisões na hora. É um processo criativo, intenso, emocional e divertido... mas no final, super recompensador.
 
 
Daniel Poças
FY2 - The Party Rockers
Publicado em Daniel Poças
segunda, 19 março 2018 19:36

O que fiz para estar onde estou

A música é o que nos faz ser DJs? 

Todos sabemos que hoje a indústria da música eletrónica atravessa um período de mudança - o que é bom para uns e maus para outros. Em todas as formas de arte há tendências, o público segue-as e dependemos do público para "vingar" neste ramo. A música tem um período de consumo muito mais rápido se comparado a anos passados. Não me quero alongar nesta questão, mas há forma de contornar isso? 

A minha carreira de DJ/Produtor começou há 6 anos atrás. Nunca imaginei poder trabalhar com grandes artistas, nem lançar em grandes editoras como Lokosound ou Revealed. Para mim era sem dúvida algo muito distante, sobretudo olhando para o estado do mercado: muito saturado de demasiada informação desnecessária e com escassez de música. Será que se perdeu o que realmente me fez passar horas agarrado ao computador? 

Já tive muitos fracassos, e já ouvi muitos “nãos” e ainda acontece - porque acontece a todos - mas as “derrotas musicais” não se superam com uma foto no Instagram, nem tão pouco com likes. De certo que sobe a auto-estima e que alivia o processo de focagem noutro passo. 

Estou a dar a minha opinião, não quero discordar de ninguém que diz o contrário. Claro que todos nós sabemos que as redes sociais têm um peso enorme na carreira de um artista e que hoje talvez até tenham mais peso do que a própria música. Isso não significa que precisamos de deixar de ser produtores para ser modelos - a música, como já disse, é e sempre será o mais importante. 

"Não digo que as redes sociais devem ser postas de parte, porque eu mesmo não as ponho (precisamos delas para promover o nosso trabalho e dar-nos a conhecer ao público), estou a dizer que a maneira mais fácil de não sermos postos de parte é não por de parte a música." 

 

É importante ter um Manager/Agente? Ou será mais importante ter uma equipa?

Uma das lições mais importantes que aprendi ao longo destes anos em que sigo no ramo da música, é a que temos de ser nós a “bater com a cabeça” para ver o que está mal e com quem não devemos trabalhar. 

Eu trabalhei desde sempre com o Miguel. O Miguel não é agente, nem manager, não tem formação na área: trabalha em restauração. Mas a vantagem de trabalhar com o Miguel é que ele me conhece: as fraquezas, as forças, os dias bons e maus. E o mais importante é que ele acredita tanto no "ZINKO" como eu. Por isso acredito solenemente que a formação de uma equipa forte, com base na credibilidade do projecto e na confiança mútua é um ponto-chave para tudo funcionar.

Hoje em dia sou agenciado, sim, e tenho alguém "do outro lado". Tratamo-nos como equipa, delineamos estratégias e caminhos para chegar onde queremos. Mesmo que não consigamos, amanhã tentamos novamente. 

Quem quer que escolham para a vossa equipa nunca tratem a pessoa como alguém que está a trabalhar para vocês, mas sim que está a trabalhar convosco. A importância de ter um manager ou agente passa a não ter nexo se não se tratarem como equipa. "Nenhum treinador consegue ganhar campeonatos sem jogadores", é uma mensagem simples, mas que para mim faz toda a diferença. Eu sei quem não estaria onde estou agora, talvez até mesmo a escrever um texto de opinião, se não tivesse uma equipa a trabalhar comigo. 


Enviar Promos

A parte mais importante do artista passa obviamente pela música. Podemos cada vez mais potenciar a mesma e fazê-la chegar aos ouvidos de quem queremos. O envio de promos é algo muito importante no momento em que temos uma "nova música", mas é importante termos um método adequado e prático para o fazer.
 
Alguns pontos que tenho notado quando recebo as promos no meu e-mail.
 
1 - Apresentação 
Acho que ninguém gosta de ser abordado sem uma apresentação do que vai ouvir antes - nome, idade, país, breve descrição -, mas não é preciso alongar ao ponto de escrever uma biografia inteira. Artistas como Hardwell, Afrojack, ou Martin Garrix não estão minimamente interessados se vocês têm uma casa à beira-mar, ou se o vosso cão se chama "Rex". Uma breve descrição e o link da música chega perfeitamente. 

2 - Links
Nenhum artista dos que falei há pouco vai fazer download do vosso ficheiro, por isso acho que o mais prático será enviar um link privado de Soundcloud com download activo, ou link de Dropbox. A falta de pré-escuta é um ponto crucial para a música não ser ouvida. Passados 5 ou 6 emails com anexo, o que enviarem será considerado spam,  perdendo-se boas oportunidades de serem ouvidos, porque a vossa música podia estar boa.

3 - Música
Têm de estar certos de que o que estão a enviar é o melhor que conseguem. Nunca sabemos se o artista a quem enviamos a promo vai ouvir ou não. Por isso é óbvio que um ponto que todos devem considerar é que músicas inacabadas, sem mix/master, entre outros problemas, provavelmente não vão ter feedback ou se tiverem não vai ser o que gostariam de ouvir. Isso faz com que nós fiquemos desmotivados.

Processo Criativo / Mixing e Mastering
Neste tópico certamente não há muito para dizer, pois cada um tem o seu formato de trabalho e as suas manias. Não vou falar de nada que quem faz música não saiba, contudo acho importante referir alguns pontos. Não são precisas colunas topo de gama para fazer música. Não é preciso um estúdio de milhares de euros, não é preciso um teclado midi super atual e cheio de controladores, pois a maior parte das minhas músicas foram feitas de fones, teclado do computador sentado na mesa da minha cozinha. 

É tudo uma questão de conforto. Ter um espaço organizado é o ponto, não tem de ser o espaço nem a altura, acho que naquele momento tem de se estar completamente focado no que se está a fazer - esse é o truque -, obviamente que um bom computador e um bom equipamento ajuda, mas não é o mais importante. O mais importante é sim conseguir passar a ideia da cabeça para o software. 

A música não tem tempo para se fazer, eu tenho músicas com dois anos que sofreram alterações durante esse espaço de tempo até ter o produto final com que me sinto satisfeito. A minha faixa “Footprint” em colaboração com o “Tong Apollo” saiu em novembro de 2017, a ideia da música ficou pronta ainda em 2016. Mudámos tudo, 4 drops diferentes até chegarmos ao resultado final. Já a “Guaraná” demorou três dias a ser feita e consegui assiná-la numa das maiores editoras do mundo. O que importa na realidade é a ideia. Claro que uma ideia bem executada só tem a ganhar. 

Tentar fazer algo diferente não é nada fácil, eu sei disso, sei que fazer algo num estilo muito ouvido - Big Room, por exemplo - mas que não soe genérico é complicado. As labels procuram cada vez mais ideias novas, para criar tendências, algo novo, que não se ouve no mercado. É isto que chama a atenção dos A&R´s, a meu ver é tudo uma questão de ideias e alguma sorte. 

Depois existe a segunda parte, talvez das coisas mais importantes, pode parecer que não faz diferença, mas faz: o Mix/Master é algo que vai finalizar a música. Por vezes sem darmos conta é o que falta, aquele pormenor que não sabemos o que é.  Eu pago esse serviço: https://wiredmasters.co.uk/. Não sou profissional da área, ainda estou a aprender e a pouco e pouco é algo que se vai encaixando no ouvido, pois também tem a ver com o gosto de cada um. 

Sei que é um entrave para muita gente, porque são preços que não são acessíveis a todos, e por isso é aconselhável que o investimento seja numa música que valha a pena, porque como disse há pouco faz toda a diferença.

Gostava mesmo muito que este texto ajudasse a malta, isto é só a minha opinião. Não fiz nem mais nem menos que outros artistas, eu trabalho assim e estou a partilhar alguns dos meus métodos com vocês. Todos os erros de que falei acima eu já os cometi. Não me arrependo de forma alguma, serviram para aprender e a acreditar cada vez mais na minha música. Todos os dias trabalho nisto porque acredito. Espero que vocês partilhem este pensamento. Assim será muito mais fácil que nós, amantes de música, tenhamos um maior sucesso e que levemos o nosso país fantástico além-fronteiras pelo que mais gostamos de fazer.
 
Zinko
Publicado em Zinko
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