Diretor Ivo Moreira  \  Periodicidade Mensal
segunda, 23 julho 2018 22:25

Clubs vs Festivais

Nesta crónica resolvi abordar um tema que considero bastante questionável, actuações em Clubs e Festivais. Qual o mais indicado, preferido ou recomendável... segue a minha opinião.

Em época de Verão, sinónimo de calor, férias e festas ao ar livre chegam os inúmeros Festivais. Actualmente em Portugal podemos orgulhosamente dizer que temos alguns dos melhores eventos "outdoor" do mundo, sendo de forma originária ou em parceria, consecutivamente de forma positiva a maioria dos principais nomes mundiais passam assiduamente pelo nosso país, contribuindo para a economia, distinção no panorama ou simples facilidade de acesso ao entretenimento.

Várias vezes sou questionada acerca de qual o meu formato de evento preferido para participar, embora a resposta não seja fácil é simultaneamente bastante objectiva, um evento num Club tem uma capacidade mais reduzida, o que origina um público e tipo de evento mais canalizado e direcionado ao cliente alvo, consequentemente são festas mais pequenas, mas mais calorosas onde tenho mais contacto directo e comunicação com o público. Embora neste caso, maioritariamente "não seja tão favorável" a nível de exposição artística e marketing, quando comparado com um festival, mas neste caso a interactividade é única, o que proporciona uma experiência mais intensa e directa.

Por outro lado, temos o ponto de vista dos grandes palcos e dos eventos de maior dimensão, nestes casos, a exposição a nível de promoção consegue no geral ser de maior alcance, embora a interacção com o público seja diferente, não significando que seja pior. Neste caso em palco, exijo mais de mim pois tenho que agradar a mais público, embora em paralelo me divirta imenso pois tenho "mais braços no ar" e euforia concentrada. Contudo, isto não faz com que os eventos maioritariamente agendados para mim, Clubs e de pequena dimensão, tenham menor importância ou significado.

No mercado "underground" é normal que os eventos sejam de menor capacidade e direcionados para um nicho de mercado mais reduzido, ao mesmo tempo que os festivais e eventos de maior afluência são fundamentais, tanto para a exposição a nível de promoção como para conseguir mostrar em massa a um número maior e significativamente estreante o meu trabalho e aquilo que define a "Miss Sheila".

Após o mencionado, é relevante resumir que adoro participar em ambos os tipos de eventos, não esquecendo as diferenças, ambos são importantes e um pilar na carreira de um artista como eu. Relevante também é o facto, de que sempre fui bastante grata por conseguir marcar presença de forma significativa em ambas as situações expostas aqui, desde o início da minha carreira.
Publicado em Miss Sheila
 
Não me identifico com a grande maioria da música produzida por David Guetta, sobretudo porque desprezo o caráter industrial que as suas produções assumiram. São músicas produzidas em série, num estúdio que mais parece uma fábrica "fordista", que visam apenas conservar, a todo o custo, a sua notoriedade, numa indústria cada vez mais efémera e em que a música assume um relevo cada vez menor, sendo apenas uma das muitas variáveis em jogo. Há muitos anos que a música vazia de David Guetta, pura e simplesmente, não me toca.
 
Dito isto, e pondo os gostos de parte, fico sempre incrédulo quando vejo os inúmeros boatos que sobre ele circulam na Internet. O último li-o no Wunderground, um portal irlandês dedicado à arte e música underground, carregado de mexericos e artigos falsos que apenas servem para ridicularizar alguns artistas e capitalizar leitores rancorosos - para os mais incautos, foi deste mesmo portal que saiu a notícia, também falsa, de que Axwell se iria retirar da indústria musical.
 
Estes artigos teriam piada se os leitores percebessem claramente de que se trata de escrita humorística - como acontece, por exemplo, com o Inimigo Público. O problema é que, ao incluir a informação verdadeira e falsa no mesmo saco, o Wunderground gera a confusão e induz os leitores em erro. Para além de o artigo ser uma sátira evidente, repleto de episódios inverosímeis e caricaturais, faz uma alusão a um post no Twitter de Guetta que nunca existiu.
 
Mas o que mais me espantou nesta história, e que acabou por ser a principal razão por que se multiplicaram os sites que mencionaram o assunto, foi o facto de Frankie Knuckles e David Morales, pioneiros do House e referências incontornáveis dos primeiros produtores de música eletrónica portuguesa - entre os quais eu me incluo -, terem contribuído para amplificar o equívoco, ao comentarem, no site da rádio online americana Coco.fm, um artigo falso como se fosse verdadeiro. Aquilo que não passava de um artigo satírico passou a ser visto como notícia.
 
Conclusão: passadas algumas horas, dezenas de sites referiam a polémica e milhares de pessoas em todo o mundo prontificavam-se a crucificar Guetta, com comentários que exalavam ódio e ressentimento. Porquê? Sobretudo, porque, influenciados por uma campanha na Web que visa ridicularizá-lo, não gostam da música que ele passa e produz. Não querendo fazer de advogado do diabo, posso dizer que já o vi a pôr música antes de ele ter atingido o estatuto que hoje tem e, apesar de não ser a minha praia musical, até o achei eficaz e competente. Alguns colegas meus dizem o mesmo. Para mim, a qualidade de um DJ não é medida pelo estilo de música que ele toca.
 

Às vezes, sinto-me numa cena em que estamos todos à espera da machadada final, uma espécie de "Dance Music Sucks" (...)

Não gostar de David Guetta, é uma coisa; enxovalhá-lo e linchá-lo publicamente, utilizando o boato como modus operandi, é outra muito diferente. Os fins não justificam os meios. No final do dia, é toda a música de dança que perde, que fica cada vez mais dividida e, por isso mesmo, enfraquecida. Às vezes, sinto-me numa cena em que estamos todos à espera da machadada final, uma espécie de "Dance Music Sucks", num remake do conhecido episódio protagonizado por Steve Dahl que simbolizou o fim da era Disco.
 
Para além de ter tornado patente a crispação e a divisão que hoje existem entre duas diferentes correntes de música de dança, uma mais underground e outra mais mainstream, este episódio serve para nos relembrar de que é necessário sermos especialmente prudentes quando lemos online. Se nem tudo o que aparece em revistas e jornais é verdadeiro, imagine-se na Internet, que não passa pelo crivo jornalístico ou de gente preparada para rever o material publicado.
 
"Como disse o antigo primeiro-ministro britânico James Callaghan, 'uma mentira pode dar a volta ao mundo antes de a verdade conseguir calçar as botas'. Nunca tal foi tão verdade quanto com a acelerada, destravada e desgarrada cultura da blogosfera da atualidade"1.
 
1Andrew Keen, O Culto do Amadorismo
 
Alex Santos
Publicado em Alex Santos
quinta, 18 fevereiro 2016 20:07

O talento das redes sociais

Para os fãs de música, as redes sociais são salas imensas cheias de musicalidade nos diversos estilos, onde se compram bilhetes para os festivais de verão e se descobre qual o DJ que vai estar no clube onde costumam frequentar. Para os artistas, pode significar a exposição necessária para a sua carreira.
 
Antes do boom da internet ser o que é hoje, os artistas encontravam as músicas novas nas lojas de venda ao público onde, espantem-se, era necessário pegar num vinil ou cd e realmente ouvir. Não havia Beatport, iTunes, Traxsource ou Soundcloud. Não havia forma de publicitar os gigs da mesma maneira que há hoje e para se estar a par das novidades, era necessário sair à noite e ouvir outros DJs.
 
Posto isto, Não sou hipócrita. Hoje em dia, em todas as áreas e todas as profissões, o “Social Networking” é uma ferramenta que não se deve negligenciar, de forma alguma. 
 
No entanto, por vezes dou por mim a pensar: “Quando é que o talento na gestão das redes sociais se sobrepôs ao talento musical?”.
 
Parece-me que grande parte dos novos DJs são mestres em design, percebem imenso de logos e de photoshop, inclusive até conseguem colocar mais pessoas no clube X do que aquelas que realmente lá estiveram. Tiram umas fotos do suposto estúdio com legendas “quase pronta a nova música”, mas que nunca sai... porque simplesmente estar dias a fio em frente a um computador a fazer música não é tarefa tão simples quanto parece ser. E a má notícia é: tu só vais tocar a um clube de topo ou um festival estilo Tomorrowland quando tens músicas tuas.
 
Não importa se tens 100.000 fãs no Facebook se o teu “engagement” e “edge rank” são nulos. Não é isso que faz de ti melhor artista nem faz com que vás tocar ao clube A ou B.
 

Não importa se tens 100.000 fãs no Facebook se o teu “engagement” e “edge rank” são nulos. Não é isso que faz de ti melhor artista nem faz com que vás tocar ao clube A ou B.

 
Os produtores de grandes eventos, festivais ou clubes, procuram sempre artistas que as pessoas se possam relacionar através da música, seja ela Big Room, Techno, HipHop, Kizomba, whatever. Se enquanto artista não tens a criatividade para seres um DJ diferente dos outros, através de scratch, uso de máquinas ao vivo - maschine, por exemplo, ou a capacidade de ser produtor de música, a verdade é que nunca vais passar de um DJ de warmups a tocar músicas de outros artistas.
 
O marketing é importante mas até certo ponto... Não importa se tens 100.000 fãs no Facebook se o teu “engage” e “edge rank” é nulo. Não é isso que faz de ti melhor artista nem faz com que vás tocar ao clube A ou B. 
 
No final, o que interessa saber é se tens a capacidade de te distanciar dos outros como DJ/Produtor e sejas realmente reconhecido junto do público: a qualidade vai sempre sobrepor-se à quantidade. 
 
 
Dan Maarten
Publicado em Daniel Poças
sábado, 17 setembro 2016 14:30

O Convite

Se recuarmos à década de 90, final da década de 80, recordamos com saudade o desejo desenfreado por um singelo convite, uma passagem para uma festa imperdível. O convite tinha duas vias, a do correio, não sendo para todos, mas no meio das contas para pagar, era o envelope, ou mero postal, o mais desejado, ou entregue por mão na porta, por norma à saída, e já aqui havia uma selecção, ser um dos escolhidos, apesar do álcool ingerido, não passava ao lado a sensação de ser especial, "special one", um da elite restrita, colocávamos-nos a jeito para que reparassem em nós, chegávamos a empurrar quem a nossa frente ousasse atravessar-se, aquele tinha que ser nosso. Fizeram-se coleções, dava um certo status tê-los espalhados pela mesa da sala, para serem invejados. Um convite com o nosso nome, personalizado, fazia de nós gente, alguém. 
 
Para certas festas matava-se por um, entre nós questionávamos, "Tens?", "Consegues arranjar?", havia o amigo do amigo que era amigo de outro amigo que conseguia, óptimo! Mas só o convite não chegava, que serve um convite sem a roupa apropriada, o smoking nas inaugurações e aniversários, a fantasia no Carnaval, ou não, numa festa temática, o fato escuro na passagem de ano, perdão, no Réveillon. 
 

(...) venham cedo e de qualquer maneira, porque não importa se a festa é de gala (...)

 
Para elas, um dia para uma noite, um dia para compor da unha do pé a ponta do cabelo, não eram mais bonitas do que hoje, simplesmente ficavam. O tempo passa, muda, e muda-se o tempo, mudam-se as vontades, hoje, os tão desejados convites chovem, por e-mail, por sms, nas redes sociais, no Whatsapp, no Viber, na porta do carro, faça chuva ou sol, forram as calçadas, rejeitados, hoje o convite é corriqueiro, desinteressante, basta ligar para um número qualquer e de lá atende um desconhecido, para quem sou desconhecido também, e lá fica o meu nome na guest-list, de quem não conheço e não me conhece, que importa, sou mais um número, "Hoje a guest está longa, venham cedo!", venham cedo e de qualquer maneira, porque não importa se a festa é de gala, não importa o que vestes, não gastas o teu dia a preparares-te para a noite, até a roupa de dia serve. Porque o que importa é se está cheio. - Como estava? - Cheio! - E o ambiente? - Estava cheio! 
 
O aniversário deixou de ser o dia em que agradeciam aos clientes mais um ano que deram de vida, brindando-os com uma noite de bar aberto, sem custos, onde só se pagava o tabaco, quem fumava, e o bengaleiro, se tivesse algo para guardar, de resto a noite era "por conta da casa", e que noites memoráveis. Sem saudosismo, outros tempos, bem vividos, que souberam bem, hoje a realidade é outra, para outros melhor, quem nunca comeu filet mignon, assim está bom.
 
Zé Gouveia
Publicado em Zé Gouveia
Portugal tem sido nos últimos anos conhecido e reconhecido pela enorme paixão pelos espetáculos ligados à música.  Os portugueses gostam de consumir música, de encher salas de concertos e festivais de verão. Se no final do verão de 2015 havia dúvidas de que os portugueses “respiravam” música, com as constantes confirmações de artistas internacionais desde o final de Agosto que vão marcar presença em 2016, não há margem para dúvidas.
 
Com a presença de artistas internacionais em 2016 como Adele, Muse, Justin Bieber, U2, AC/DC, Florence and the Machine ou Bryan Adams (entre tantos outros...) com espetáculos a solo, está dada a garantia de que 2016 vai ser um ponto de passagem das principais tours internacionais. A questão que me ocorre quando penso na confirmação de uma artista como Adele, a maior artista internacional da actualidade, que esgotou duas datas do MEO Arena em poucas horas e que bateu todos os records de vendas é: onde anda o velho do Restelo que fala tantas vezes do Portugal dos pequeninos?
 
O facto de sermos o ponto de entrada para a Europa faz com que grande parte das tours dos maiores artistas internacionais passe por cá, mas sem a qualidade dos nossos produtores de espetáculos, a viagem durava mais uma hora e aterrava em Espanha. A premiação constante das principais produtoras de eventos quer a nível nacional quer a nível internacional, fez com que o reconhecimento que há muito se pedia acontecesse, e que a garantia de qualidade que sempre existiu “obrigasse” as principais agências internacionais a incluírem o nosso país na Tour. A música é actualmente uma das melhores formas para mostrar o nosso País.
 

A música é actualmente uma das melhores formas para mostrar o nosso País.

 
Em 2012 com a crise económica sentiu-se uma quebra de vendas de espetáculos e festivais de verão. A estratégia das principais produtoras de espetáculos passou, e bem, por chamarem a atenção de espectadores estrangeiros com um cartaz que captasse o interesse, através de um trabalho de RP intensivo nos principais países vizinhos ligados à música internacional (Reino Unido, Espanha e França). O Turismo, outro dos sectores com mais qualidade que o nosso país oferece, foi a plataforma de entrada. Passados quatro anos percebe-se que resultou, atendendo ao facto de cada vez mais estrangeiros marcarem presença nos principais festivais de verão no nosso país. O facto do preço dos bilhetes ser dos mais baratos da Europa, do Turismo de Sol e Mar (ao contrário do Reino Unido que é conhecido pela chuva e lama) e do cartaz ser dos melhores da Europa, faz com que estejam reunidas todas as condições para que tenhamos cada vez mais público estrangeiro nos eventos ligados à música.  
 
Um dos pontos mais interessantes para analisar com a quantidade de espetáculos que Portugal vai ter em 2016 nas principais salas é a repercussão que os principais festivais de verão vão sofrer atendendo ao poder de compra dos portugueses. As escolhas são mais que muitas, mas a carteira não aumenta, infelizmente. 
 
Outro dos pontos interessantes em 2016 para analisar é a mudança de paradigma da música em Portugal. Se é ponto assente que o EDM (Eletronic Dance Music) já teve melhores dias e que o Kizomba já não enche clubs como acontecia há um ano atrás, percebemos que, e felizmente, as coisas estão a mudar. O Hip-Hop e o RnB parecem estar a voltar ao que já aconteceu no passado, refletindo-se no aparecimento e confirmação da qualidade de muitos artistas nacionais e internacionais tanto em espetáculos a solo como nos principais festivais de verão. De salientar a estreia de Wiz Khalifa e o regresso de  Kendrick Lamar em Portugal este verão.
 
A verdade é que chegamos a 2016 com uma certeza: as agências e as produtoras de espectáculos nacionais estão a trabalhar melhor do que nunca, de uma forma cada vez mais séria e profissionalizada e com a garantia que o ano que se avizinha vai ser um dos melhores anos que Portugal já viu no mundo da música, a rebentar pelas costuras.
 
Hugo Dinis Silva
Publicado em Hugo Dinis Silva
domingo, 09 agosto 2020 14:43

A saúde mental do entretenimento

O verão em Portugal é sinónimo de festa, diversão e convívio. Não só festivais de verão com cartazes internacionais, mas sobretudo centenas de festas municipais e religiosas, bailes, convívios e concertos ao ar livre espalhados em todo Portugal e Ilhas. 

Por esta altura do ano é normal para quem trabalha no sector de entretenimento toda a azáfama, correria, poucas horas de sono. A criação de sorrisos e felicidade a milhares de pessoas é uma rotina diária. E tudo isto graças ao trabalho dedicado de milhares de técnicos, artistas, agências, seguranças, limpeza, comerciantes locais, carrocéis, entre outros.

O que está a acontecer no verão 2020 é uma nova realidade que nunca foi experienciada. 

Até que ponto estará em causa a saúde mental de todos os profissionais deste sector? E já agora a de todos os utilizadores finais, o público, que neste caso é apenas e só toda a população portuguesa? 

Ter contas por pagar e a família para sustentar é uma realidade que assusta qualquer indivíduo na nossa sociedade.

O sentimento de impotência é gigante. Ainda que se pense desesperadamente em trabalhar temporariamente noutro sector económico, permanece o "pequeno" problema de toda a economia portuguesa estar em baixa, numa altura em que a maioria das empresas entram em período de férias e o turismo externo cai a pique devido à pandemia. 

Para a maioria das pessoas não se vê grande solução, portanto. Isto obviamente potencia o desespero interno mental de qualquer indivíduo. Estão aqui em causa graves problemas de saúde para muitos milhares de pessoas, nomeadamente depressões, que poderão originar um ciclo destrutivo individual e familiar nos próximos meses. 

Para piorar tudo, há a incerteza total sobre o futuro do próprio sector. 

Quando nem sequer há uma luz ao fundo do túnel... fica tudo mais difícil de consciencializar, enfrentar e lutar.  Afinal de contas, se não sofremos de COVID podemos ainda assim sofrer outras consequências muito graves para a nossa saúde a longo prazo.

E o que irá acontecer à população em geral que se vê privada, ou muito limitada, de animação, convívio, reencontros...? Não há mesmo nenhuma forma de minimizar estes danos sociais? Já se percebeu que Portugal é dos poucos países Europeus onde nem sequer será autorizado abrir estabelecimentos de entretenimento num formato de horário normal noturno, absolutamente necessário para dar um boost de diversão e satisfação a todos.

Num país desenvolvido, toda esta temática do âmbito psicoemocional deveria ser abordada pelos governantes, comunicação social, etc. Contudo, mais uma vez Portugal ignora por completo a componente psicológica de uma grave crise num sector de atividade, e neste caso, do possível início de uma crise financeira em todo o país. Foi assim em 2010 e é agora com o COVID. 

Sobretudo no sector de entretenimento e cultura devemos por isso estar mais atentos e solidários uns com os outros, a todos os níveis. Nunca houve uma situação tão extremista de desaparecimento de atividade como a dos dias de hoje.

É importante e benéfico haver sempre concorrência num sector de atividade. No entanto um fator muito mais valioso se levanta: a saúde mental de todos nós, que irá fazer a diferença para que o sector se possa levantar mais rapidamente, assim que haja condições sanitárias e governamentais para tal.

A união, o apoio e o positivismo são absolutamente necessários para enfrentar os desafios e estigma social que ainda todos nós temos pela frente, enquanto durar a sociedade COVID19. 

#NãoVaiFicarTudoBem, mas podemos contribuir para que fique tudo melhor!
 
João Casaleiro
CEO Agência DO HITS
Publicado em João Casaleiro
sexta, 02 maio 2014 00:05

A lei do mercado dos DJs

Mas afinal, existe alguma "lei do mercado" que influencie a carreira dos DJ's? Claro que sim. 
No meu último artigo de opinião, escrevi um pouco sobre isso mas não aprofundei este assunto que muitos dos novos DJ's ainda não compreenderam. 
Muitos reclamam por "falta de oportunidades". Oportunidades? Será que colocando um DJ num determinado evento/actuação irá alterar em definitivo a sua carreira? A resposta é NÃO. 
 
A "lei do mercado" que eu falo, não é mais do que a aplicação do termo "Oferta VS Procura" num serviço que é fornecido (serviço de entretenimento). 
Quando existem mais DJ's do que locais ou eventos que necessitam desse serviço, quando a concorrência é mais que muita e numa altura em que a profissão foi "banalizada" devido às facilidades em ser DJ que foram trazidas pela tecnologia, ninguém pode dizer que uma actuação (leia-se oportunidades) vai fazer a diferença e colocar alguém num patamar de relevo. 
Hoje foste tu contratado mas amanhã já há outro para ser contratado. 
 
Um factor que influencia as actuações e onde existem críticas por parte dos DJ's da "velha guarda" ou daqueles mais ligados ao "House" é o tradicional termo "mãos no ar". 
Sinceramente, alguém ainda quer ir assistir à actuação de um DJ que não levanta a cabeça, não olha para ninguém e onde ninguém vê o que ele está a fazer? 
Poderão dizer que a música fala por si... ok. Posso concordar, mas então tirem o "homem" dali e metam um set gravado porque estar a olhar para uma cabine onde estar lá alguém ou não estar, é igual, mais vale meter uma jukebox (isto se o importante for a música). 
 
Não quero dizer com isto que os DJ's terão de fazer "palhaçadas" ou estar sempre aos saltos, mas temos que "exigir" que demonstrem que estão a sentir a música e que transmitam (corporalmente) esse sentimento para o público que pagou para os ver (porque se for só para ouvir, ouvem em casa no Soundcloud). 
 

Infelizmente, assim que um "artista" começa a ter alguma projecção e um elevado número de actuações, pensa logo que o motivo é unicamente ele ser melhor que os outros (...)

Uma outra situação que influencia o mercado é o número de actuações dos DJ's - é sem dúvida alguma, se são representados por alguém ou se têm agente de marcações. 
 
Infelizmente, assim que um "artista" começa a ter alguma projecção e um elevado número de actuações, pensa logo que o motivo é unicamente ele ser melhor que os outros ou que a "sua música ou técnica" é superior aos demais "colegas de trabalho". 
 
Regra geral, esquecem-se que só têm esse elevado número de actuações ou são reconhecidos no mercado porque houve alguém que marcou as referidas actuações ou os promoveu convenientemente para que as possam realizar (solicitações/pedidos de actuação).
Como manager e booker que sou, não faço milagres (tal como qualquer outro colega meu). O que "nós" fazemos, não é mais do que fazer aquilo que um DJ não faz e devido a estarmos inseridos no mercado, é normal que o conhecimento que temos dele seja superior ao de alguém que a sua função não é a mesma que a nossa. O acordo principal que se deve obter é o de que um manager/booker não "mete", nem produz música e um DJ/artista não faz management, nem marca datas. 
 
Quanto à questão monetária entre agentes/agências e artistas, tenho uma opinião muito própria (apesar de também eu não a fazer na maioria dos casos): Se um DJ/Produtor fica com os dividendos da sua produção musical (regra geral) então porque é que quando faz uma actuação, tem de ficar com 70% ou 80% do cachet por 1h00/2h00 de trabalho?
 
Será que sabem quantas horas é que o seu representante teve de trabalhar para ele ter essa actuação ou quanto é que investiu (tempo e dinheiro) para que a actuação fosse solicitada/agendada? Será justo?
É verdade que o agente/agência precisa do produto (leia-se artista) para poder "vender", mas também é verdade que o artista sem ser representado, terá de fazer ele o trabalho do agente e certamente ficará muito mais tempo na "prateleira" (como produto que é). 

Raros são os casos em que a mudança de representante deu bom resultado e, tal como tu, ninguém trabalha de borla ou faz investimentos para perder (...)

 
Como referi anteriormente, nenhum agente/agência faz milagres e se não tiver bons artistas, também não conseguirá fazer alguma coisa. Devido a essa situação é que as tais "oportunidades" não são dadas a quem ainda não tem "valor de mercado" porque não existe o retorno devido, relativamente ao trabalho que um agente ou booker tem. 
 
Nos dias que correm, existem poucas soluções para os artistas. Ou assumem um "casamento" com um agente/agência que irá investir em vocês e no caso de quererem mais tarde o "divórcio", vão ter de pagar pelo trabalho e investimento que foi feito, ou então não são agenciados e trabalham nas duas vertentes e assumem o investimento de tempo e dinheiro (não será certamente a mesma coisa nem obter os mesmos resultados). 
 
Se fores artista (DJ, produtor, Mc, musico, etc.) e estiveres ligado a algum agente ou agência (ou se fores convidado para ser agenciado), nunca te esqueças que a opção foi feita entre duas partes. Caso queiras quebrar essa ligação tenta sempre que seja de uma forma amigável e com os motivos bem claros para que possam chegar a um entendimento, nunca esquecendo que "não se deve cuspir no prato onde comeu". Raros são os casos em que a mudança de representante deu bom resultado e, tal como tu, ninguém trabalha de borla ou faz investimentos para perder onde não tenha de ser devidamente compensado. 
 
A decisão de ser agenciado tem de partir de duas partes (tal como num casamento) mas ninguém obriga ninguém a estar "casado" se não estiver contente com a decisão. No entanto, quando alguém quebra um compromisso, não pode ficar com tudo o que foi construído a dois. "Artistas" há muitos e nunca te julgues melhor que os teus colegas, em especial se o trabalho não foi "só teu". 
 
Nenhum agente ou agência consegue nada "sem ti" mas tu podes ser substituível. Quem não pode ser substituído é quem paga (clientes), quem te promove e apoia (parceiros) e quem te dá visibilidade. Ninguém (como eu) faz milagres e qualquer agente/agência sabe que sozinho nada consegue e muito menos faz com que "tu" (DJ) consigas entrar nesta "lei do mercado". 
 
Afinal existe ou não uma "lei do mercado para os DJ's"?
Sim... existe. E acredites ou não, é exactamente a mesma que para outro produto qualquer. 
Existem "Lobys"? Claro que sim. 
Basta ter qualidade? Claro que não. 
Vais lá chegar sozinho e com o teu trabalho? Nem em sonhos. 
 
Ninguém consegue nada sozinho e enquanto não perceberem que ser DJ ou artista é algo que nada mais é do que um serviço/produto e é regido pelas leis de mercado normais, dificilmente conseguirão que alguém "compre" o que querem "vender".

 

Ricardo Silva
DWM Management
Publicado em Ricardo Silva
Chamo-me Herick Pinto, conhecido como "Baruke", tenho 23 anos, sou DJ profissional há 1 ano, fui formado na Academia Internacional de Musica Eletróncia (AIMEC) e contarei aqui um pouco sobre os sonhos e dificuldades que um jovem DJ encontra no início da carreira.

Desde que me entendo por gente que amo a música e tinha o sonho de seguir esse ramo de trabalho, poder expressar os meus sentimentos, transmitir para o público o que estava a sentir e fazer com que eles também vibrassem e entendessem a história que a minha música estava a contar.

Acredito que como um jovem DJ, não só eu, mas, como todos vocês que estão a iniciar a carreira, posso dizer que partilhamos o mesmo sonho: atuar em grandes palcos, participar nos festivais que fomos como público, mas agora como DJs, sermos reconhecidos, dividir o palco com os nossos ídolos, etc.; Só que muitos não imaginam as dificuldades que existem por trás disso e sonhar é realmente muito bom, mas acho que devemos também tentar perceber e contornar as dificuldades que vão aparecer ao longo do caminho. 

Vou tentar elucidar-vos um pouco sobre algumas dificuldades que podem encontrar ao longo do vosso percurso. Claro que é a minha experiência e acho que todos os jovens iniciantes na carreira também o vão passar ou já passaram por isso.

Em primeiro lugar acredito que uma das maiores dificuldades que encontrei foi arranjar gigs onde pudesse atuar, mostrar o meu talento e o meu som, porque ainda não nos conhecem, não somos ninguém aos olhos dos contratantes, não conhecem o nosso trabalho. Então ficam receosos de contratarem, como dizem "o desconhecido assusta". Quando contratam restringem a música que podemos passar, ou seja, só tocamos as músicas que eles querem e mais nada e isso realmente é muito frustrante, pois todos queremos tocar o nosso estilo, mas, acima de tudo acho que temos que parar e pensar que ser DJ também é um negócio e temos que saber aproveitar as oportunidades que nos são dadas, contruir o nosso curriculum, obter experiência em diversos tipo de sítios, seja em esplanadas, bares, discotecas, concertos, etc... tudo isso conta. 

Sem falar na parte em que muitos de nós trabalhamos, pois ainda não podemos viver da música e temos que garantir o nosso sustento e ter também para investir na nossa carreira. Se não podes investir 100% do teu tempo na música a treinar e procurar por gigs, investe 80 ou 70%, mesmo que seja só aquelas poucas horas do dia, faz algo, pois se ficarmos parados à espera que os contratantes venham ate nós e que nossos trabalhos cheguem sozinhos às mãos deles: não vão chegar, é assim que funciona. Por isso, invistam sempre que possam, é essa a minha dica.

Acredito que com foco no que realmente queremos, conseguimos atingir os objetivos que desejamos na nossa carreira. Eu por exemplo já atuei no "Ministerium Club" um espaço que eu só conhecia como visitante e sempre me imaginei a tocar ali, no Palco LG do Meo Sudoeste também tive a oportunidade de fazer o público vibrar e realmente foram experiências incríveis. Por isso, se realmente é o que tu desejas fazer tenho 3 palavras para ti: Foco, Força e Inspiração!
 
Publicado em Baruke
sexta, 04 janeiro 2013 22:23

DJ Mumy

 
Assumo que tenho 20 minutos para escrever esta crónica. São 15:49h e combinei entregar os bebés às 4 horas na minha mãe (já me vou esticar no atraso que pode comprometer o resto do dia, tipo comboio de dominó em que uma peça leva todas as outras a cair. Sim é assim tão grave!...).
 
De seguida vou rapidamente para casa escolher o kit da noite e fazer a mini mala de fim-de-semana, dar uma "limpeza" às músicas das pens, confirmar se os phones estão ou não OK e ainda tenho que ir buscar uns novos à Pioneer - que têm andado meio "perros", talvez já da quilometragem feita em parceria comigo aí pelas estradas de Portugal -, fazer um rápido download de 2 temas novos que comprei no beatport, ligar ao pessoal do evento - para combinar umas boleias, as horas e os locais do encontro quando chegar o hotel de hoje, rezar para que o meu carro se aguente sem soluços de maior durante 270 kms - que tem estado com os problemas eléctricos típicos dos seus já quase 200 mil kms de rodagem. E que rodagem!
 
Chegar, ligar à "vovó" Clara, saber como estão os pirralhos, dar a indicação "tim tim por tim tim" dos truques para o Afonso papar a sopa de cenoura que fiz antes de sair de Lisboa - que o puto anda agora armado em caprichoso -, tomar um duche maravilha (estes momentos nos hotéis têm, neste momento da minha vida um sabor muito especial, porque podem demorar um pouco mais do que 5 minutos), pintar as unhas de vermelho nos "entretantos" e enquanto secam as ditas e os meus caracóis "enremoinhados", dar uns beijinhos ao meu namorado que felizmente me tem acompanhado por estar de licença parental - já que eu sou patroa de mim de mim própria -, voltar a ligar para saber do sono e do banho, organizar o line-up e dar uma última vista de olhos no computador, fazer o eyeliner, ligar para todos os quartos para confirmar que todos estão no lobby do hotel às nove e meia (sim este evento também "é meu" organizo-o e faço a assessoria), descer perfumada e airosa, já com a certeza de que o anti-cerne cobre bem as olheiras de vários meses de noites com menos horas de sono do que me apeteciam realmente... e de me sentir pelo menos 1 ou 2 noites por semana giraça e catita.
 

"Agora és Mãe. Passaste a ser eterna! E assim, lhes dedico a vida e assim lhes dedico os meus sets, e assim lhes dedico a minha força, paciência, inspiração e dinamismo!"

 
As noites em que a Mãe vira DJ, RP, figura pública ou afim. Eu gosto. Mas também gosto dos dias sem sono, em que refilo pela falta de tempo, em que o Afonso Luz e a Matilde Estrela se tornam prioridade entre os meus trabalhos no estúdio, os meus textos e músicas no computador, o meu blog, as minhas reuniões. Os dias e também as noites... em que as calças largas e as t-shirts tiram o lugar ao salto agulha e ao top glamouroso e em que a sopa de cenoura cuspida em cima de mim sabe bem melhor que o meu Jameson-Ginger Ale de sábado à noite.
 
Bem, eu falei em 20 minutos. São agora 16:12. Hora de seguir para a vida airada. Hora de começar a azáfama profissional do fim-de-semana, despir uma capa, vestir a outra e curtir a outra parte da vida. No fundo, não há bem "outra parte", percebo eu agora. Ser mãe é isso mesmo. Sejas DJ, empresária, actriz, contabilista, agricultora ou até dona de casa. Ser Mãe está-te no coração. E estejas onde e como estiveres, eles - os teus filhos, O Afonso e agora a Matilde que nasceu só há 2 meses... estão contigo, no teu coração e na tua cabeça que , no fundo continua a ser a mesma de sempre. A diferença é que a palavra "Multitasking" passa agora mesmo a fazer sentido. Se antes eu me sentia tantas pessoas e versões de mim mesma... agora acrescento a versão mais importante: a de ter um filho.
 
Como me disse há tempos uma amiga: Agora és Mãe. Passaste a ser eterna! E assim, lhes dedico a vida e assim lhes dedico os meus sets, e assim lhes dedico a minha força, paciência, inspiração e dinamismo!
 
Agora vou-me pisgar. Estou mesmo super atrasada.
 
E... se faz favor, aqueles que não entendem esta vida por mim escolhida (e adora criticar...), peço que, por 2 segundos imaginem a ginástica que faço para manter acesos os amores da minha vida. Ser Mulher com M grande, em toda a sua plenitude e ainda tentar "competir" com os "espécimes" masculinos que se dedicam só ao trabalho... pode ser uma batalha não ganha nesse palco... mas acreditem que o é no da vida. Porque... me sinto realizada por conseguir, "ir a todas" com muito amor e dedicação.
 
E que tal começar o ano com esta premissa?
 
 
Rita Mendes
Publicado em Rita Mendes
quarta, 03 dezembro 2014 18:58

O caso holandês

 
A questão da nacionalidade na música electrónica de dança deveria ser pouco importante, o que importa é a música e a quantos agrada sem olhar a fronteiras ou barreiras, afinal a grande conquista da electrónica é a democratização do acesso à música. No entanto é impossível não reparar no domínio de um pequeno país europeu, que tem crescido sustentadamente ao longo da última década, a Holanda. A maior evidência é o domínio do Top100 da DJ Mag, o ranking que serve de referência à indústria mainstream. Quatro dos DJs do Top5 mundial são holandeses, e se alargarmos para o Top20, metade são holandeses. A representatividade holandesa não tem par noutra nacionalidade e é um verdadeiro fenómeno. Se olharmos com mais um pouco de atenção verificamos que esta é apenas a ponta do icebergue. Grandes editoras são holandesas (a Spinnin; a Revealed; a Armada, entre outras); grandes produtoras de eventos são holandesas (a ID&T, responsável pelo Tomorrowland e pelo Sensation, por exemplo; ou a Alda Events, responsável pelas tours mundiais de Hardwell e Armin Van Buuren). A maior conferência anual é de organização holandesa e realiza-se em Amesterdão, o Amsterdam Dance Event. Mas como é que um pais tão pequeno consegue um peso tão significativo numa indústria mundial? Será algo na água que bebem? Ou será um fenómeno mais complicado de explicar?
 

O peso da música electrónica na economia holandesa é de 587 milhões de Euros por ano (...)

 
Comecemos esta análise pelo principio: os holandeses são porventura o único povo que tem estudos de impacto económico da indústria da música electrónica desde o início do século XXI. O primeiro estudo publicado data de 2002 e foi realizado pela consultora KPMG. O mais recente data de 2012 e foi executado pela consultora EVAR, e foi um dos documentos imprescindíveis a este texto1. O peso da música electrónica na economia holandesa é de 587 milhões de Euros por ano, ou seja, mais de meio milhar de milhões. Para este valor global contribuem as receitas dos DJs e produtores musicais, que ultrapassam os 254 milhões de Euros; os festivais e eventos que contribuem com uma fatia de 137 milhões de Euros; a recolha de royalties que ascende a 53 milhões de Euros; A organização de eventos a contribuir com 35 milhões de Euros; entre outras fontes de receitas que ascendem a uns impressionantes 587 milhões de Euros. Como se os números não falassem por si, esta é uma área de negócio em expansão mundial pelo que é expectável que cresça mais nos próximos anos. Uma estimativa cautelosa do mercado mundial dos eventos relacionados com a música electrónica cifra-se nos 2,7 mil milhões de Euros. E o que é que isto significa? Que os holandeses tiveram desde muito cedo a noção de que esta era uma indústria que poderia vir a ter tanto peso na economia do país como condições para crescer exponencialmente no futuro. 
 
Com esta ideia em mente o governo holandês teve o golpe de vista de acarinhar a música electrónica, de a reconhecer, de lhe dar um lugar de destaque na cultura e de criar um sistema de apoio, directo e indirecto, a toda a indústria. Um exemplo claro, e ímpar, desta integração e aceitação? Armin Van Buuren em 2013 a actuar no Kingsday (feriado nacional para celebrar o aniversário do Rei) ao lado da orquestra The Royal Concertgebouw: 
 
 
Outro grande exemplo do investimento na música electrónica foi a criação de uma conferência em 1996 - o Amsterdam Dance Event (ADE) - financiada pela Buma/Stemra (a Sociedade de Autores Holandesa), numa altura em que existia apenas a Winter Music Conference (WMC) de Miami. Focando mais a parte profissional e diurna do negócio, o ADE conseguiu destronar a WMC da sua posição de maior conferência mundial, e tornou a WMC de Miami uma opção, e o ADE de Amesterdão uma obrigação anual para qualquer profissional da indústria. 
 
Além desta óbvia integração dos DJs na cultura do país realizam-se no Kingsday vários eventos de música de dança públicos em todas as grandes cidades holandesas (Amesterdão, Roterdão, Haia, Utrecht, etc) feitos em cooperação com o governo local porque há um entendimento da parte de quem tem o poder público que estes eventos atraem pessoas e geram receitas. Ainda no campo do apoio existem várias organizações de caridade como a Unicef, WWF, War Child (Dance 4 Life), que são parcialmente financiadas pelo governo e que organizam diversos eventos, entre os quais eventos de EDM, para chamar a atenção para as suas causas.  
 
Por último, mas não de somenos importância, os estudos dos músicos e produtores também são apoiados através de financiamento estatal. Qualquer estudante holandês, em função das suas condições de vida pode pedir um apoio estatal até 400€ mensais e, desde que termine os estudos no tempo mínimo e sem falhar nenhuma disciplina, não tem que devolver o dinheiro que recebeu ao Estado. 
 

O caso holandês é um case study mas deveria ser também um exemplo a seguir por outros países.

 
Já ouviram falar de outro país que tenha algo de remotamente semelhante em termos de apoio, integração e valorização da cultura da música electrónica? Eu também não. Parece-me que podemos excluir a hipótese da água.
 
É evidente que sem talento nada se faz, pelo que há um valor artístico no caso holandês que não pode ser medido, e que é a variável nesta equação. Contudo a expressividade dos números da representatividade holandesa na indústria da EDM mundial é directamente proporcional ao investimento de uma nação, não só em apoio financeiro e institucional mas também em aceitação de uma forma de arte e cultura tão vanguardista (sim, porque ainda há quem discuta o valor de um produtor musical versus um músico instrumentista) que permanece na sombra na maioria das culturas mundiais apesar da crescente exposição e da conquista da pop mundial. 
 
O caso holandês é um case study mas deveria ser também um exemplo a seguir por outros países. 
 
(1) "Dance-onomics - The Economic Significance of EDM for the Nederlands" - EVAR Advisory Services, October 2012
 
Thanks Celwin Frezen for the Dutch insider input, couldn’t have done it without you!
 
Um agradecimento especial a toda a equipa e artistas da WDB Management pelo input valioso que dão a todas as minhas crónicas.
 
Sónia Silvestre
Brand Manager
WDB Management
Publicado em Sónia Silvestre
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