Diretor Ivo Moreira  \  Periodicidade Mensal
Portugal tem sido nos últimos anos conhecido e reconhecido pela enorme paixão pelos espetáculos ligados à música.  Os portugueses gostam de consumir música, de encher salas de concertos e festivais de verão. Se no final do verão de 2015 havia dúvidas de que os portugueses “respiravam” música, com as constantes confirmações de artistas internacionais desde o final de Agosto que vão marcar presença em 2016, não há margem para dúvidas.
 
Com a presença de artistas internacionais em 2016 como Adele, Muse, Justin Bieber, U2, AC/DC, Florence and the Machine ou Bryan Adams (entre tantos outros...) com espetáculos a solo, está dada a garantia de que 2016 vai ser um ponto de passagem das principais tours internacionais. A questão que me ocorre quando penso na confirmação de uma artista como Adele, a maior artista internacional da actualidade, que esgotou duas datas do MEO Arena em poucas horas e que bateu todos os records de vendas é: onde anda o velho do Restelo que fala tantas vezes do Portugal dos pequeninos?
 
O facto de sermos o ponto de entrada para a Europa faz com que grande parte das tours dos maiores artistas internacionais passe por cá, mas sem a qualidade dos nossos produtores de espetáculos, a viagem durava mais uma hora e aterrava em Espanha. A premiação constante das principais produtoras de eventos quer a nível nacional quer a nível internacional, fez com que o reconhecimento que há muito se pedia acontecesse, e que a garantia de qualidade que sempre existiu “obrigasse” as principais agências internacionais a incluírem o nosso país na Tour. A música é actualmente uma das melhores formas para mostrar o nosso País.
 

A música é actualmente uma das melhores formas para mostrar o nosso País.

 
Em 2012 com a crise económica sentiu-se uma quebra de vendas de espetáculos e festivais de verão. A estratégia das principais produtoras de espetáculos passou, e bem, por chamarem a atenção de espectadores estrangeiros com um cartaz que captasse o interesse, através de um trabalho de RP intensivo nos principais países vizinhos ligados à música internacional (Reino Unido, Espanha e França). O Turismo, outro dos sectores com mais qualidade que o nosso país oferece, foi a plataforma de entrada. Passados quatro anos percebe-se que resultou, atendendo ao facto de cada vez mais estrangeiros marcarem presença nos principais festivais de verão no nosso país. O facto do preço dos bilhetes ser dos mais baratos da Europa, do Turismo de Sol e Mar (ao contrário do Reino Unido que é conhecido pela chuva e lama) e do cartaz ser dos melhores da Europa, faz com que estejam reunidas todas as condições para que tenhamos cada vez mais público estrangeiro nos eventos ligados à música.  
 
Um dos pontos mais interessantes para analisar com a quantidade de espetáculos que Portugal vai ter em 2016 nas principais salas é a repercussão que os principais festivais de verão vão sofrer atendendo ao poder de compra dos portugueses. As escolhas são mais que muitas, mas a carteira não aumenta, infelizmente. 
 
Outro dos pontos interessantes em 2016 para analisar é a mudança de paradigma da música em Portugal. Se é ponto assente que o EDM (Eletronic Dance Music) já teve melhores dias e que o Kizomba já não enche clubs como acontecia há um ano atrás, percebemos que, e felizmente, as coisas estão a mudar. O Hip-Hop e o RnB parecem estar a voltar ao que já aconteceu no passado, refletindo-se no aparecimento e confirmação da qualidade de muitos artistas nacionais e internacionais tanto em espetáculos a solo como nos principais festivais de verão. De salientar a estreia de Wiz Khalifa e o regresso de  Kendrick Lamar em Portugal este verão.
 
A verdade é que chegamos a 2016 com uma certeza: as agências e as produtoras de espectáculos nacionais estão a trabalhar melhor do que nunca, de uma forma cada vez mais séria e profissionalizada e com a garantia que o ano que se avizinha vai ser um dos melhores anos que Portugal já viu no mundo da música, a rebentar pelas costuras.
 
Hugo Dinis Silva
Publicado em Hugo Dinis Silva
domingo, 02 novembro 2014 22:26

O fim do EDM

Um novo ciclo da música electrónica está a terminar. Nunca consegui perceber esta "história" do EDM e a confusão sobre o que é realmente. As letras EDM significam Electronic Dance Music mas ficou claramente conotado com o Progressive e Big Room. 
 
Este título que dei ao artigo de opinião (fim do EDM) não é algo que possa ser levado à letra. É óbvio que não vai acabar mas nota-se claramente que deixará de ter o impacto que tem tido nos últimos anos. O EDM passará a ser um estilo musical que muito poucos DJ’s e Produtores terão sucesso ao estar conotados com o mesmo. Os clubes e discotecas já deixaram de contratar como contratavam os DJ’s que tocam este estilo porque perceberam que o EDM é algo que "exige" uma produção, é necessário um "espírito de festival", não é dançável (que é o que se pretende num clube ou discoteca) e que, apesar de movimentar milhares de fãs, foi (está) a ser explorado até à exaustão. 

Os clubes e discotecas já deixaram de contratar como contratavam os DJ’s que tocam este estilo porque perceberam que o EDM é algo que "exige" uma produção (...)

 
Vou fundamentar as minhas palavras. Um clube/discoteca retira os seus dividendos da venda de bebidas (percentagem mais elevada) e um percentual mais baixo do valor das entradas. O público (leia-se clientes) está mal acostumado e já não aceitam o que era normal, até há meia dúzia de anos, onde eram feitas "triagens" na porta dos clubes e onde passámos a ter dezenas de promotores a vender pulseiras ou ingressos e a haver "guest lists". Grande parte dessas verbas que são pedidas "para entrar" já não são para o estabelecimento mas sim para as equipas de promotores e RP's, deixando apenas a venda de bebidas como retorno para a casa. Se o retorno vem da venda de bebidas, volta a ser necessário que o estilo de música permita que os clientes estejam o maior tempo possível dentro dos estabelecimentos, os DJ’s consigam "ler uma pista" e ter "altos e baixos" na sua actuação para enviar as pessoas ao bar, tenham um determinado tipo de cliente que queira dançar, ouvir música, tenha qualidade no atendimento e que não esteja "aos saltos", a levar com confetis no seu copo, levar encontrões ou com uns miúdos aos saltos e a pisarem tudo o que esteja em meio metro quadrado e onde vá realmente para um clube/discoteca e não para um festival ou casa de espectáculos. 
 
É justamente nos festivais onde o EDM não vai "morrer" e onde continuará a arrastar os fãs. No entanto, acho que consegui passar a mensagem do porquê do EDM e em especial os DJ’s que o tocam terem uma tendência para desaparecer. A quantidade de DJ’s que seguiu a tendência do EDM tornou a oferta bem maior que a procura e com esta mudança (óbvia e objectiva), - bem como a saturação e exploração excessiva deste estilo - vai trazer dissabores a muita desta nova escola de DJ’s que surgiu nos últimos anos. 
 
Outros sinais claros que vão sendo transmitidos pelo mercado são os que vêm da indústria discográfica e das rádios. Ainda há dias terminou o ADE e essa mensagem clara (que define a nível mundial) veio também da Holanda. As discográficas não querem continuar a apostar num estilo musical esgotado e as que apostam são as que não estão acessíveis ao comum dos DJ’s e onde os seus interesses são com os artistas que elas próprias agenciam ou adquiriram exclusivos. Casos como o Nicky Romero e até o próprio Hardwell são um exemplo e vamos ouvir produções sem aquela "agressividade" do EDM puro.
 
Temos em Portugal o único DJ/Produtor que vingou (e continuará a vingar) com este estilo musical - o Kura - porque foi quem se destacou da concorrência e conseguiu moldar a sua imagem e sonoridade, deixando claro que o seu objectivo era para o mercado Internacional. Editar pela Revealed, Protocol, Armada ou Ultra é mais do que suficiente para fundamentar as minhas palavras e para que se perceba que a única maneira de seres reconhecido num estilo musical destinado a massas e a festivais é se tiveres uma projeção internacional (o que traz reflexos no seu país, como é óbvio).
 
Deixo aqui uns parêntesis em relação ao Kura para que esta malta nova perceba uma coisa. O Kura não está aqui à meia dúzia de anos. Começou como todos os grandes DJ’s, a trabalhar à noite (ainda sem ser DJ), "engoliu muitos sapos", tocou por trocos, foi criticado, trabalhou anos a fio a acreditar e a fazer aquilo que pretendia e só ao fim de uma década é que atingiu o patamar em que está. Quem pensa que faz uma faixa e que vai ter alguém a trabalhar por ele ou que vai ter um "hit" e tornar-se uma estrela, lamento desiludir mas isso nunca vai acontecer. 
 
"Os sonhos não têm pernas mas tu tens, por isso corre atrás deles" mas não julgues que isso aparece de um ano para o outro. Num próximo artigo de opinião irei escrever sobre o trajecto e as dificuldades que os TOP DJ’s portugueses tiveram para chegar ao patamar onde estão. 
 

Sim... o EDM está a "morrer" (para alguns) mas a musica electrónica nunca esteve tão bem como está actualmente.

 
Não querendo fugir ao tema deste artigo e porque há muito para escrever sobre ele e estas linhas são poucas para isso, vou deixar a minha recomendação a todos os que entraram nesta industria à pouco tempo. 
 
Pesquisem o que está a ser vendido actualmente na indústria discográfica, oiçam o que as rádios estão a difundir e a apostar, pesquisem o que está a surgir lá fora e antecipem a vossa produção e os vossos registos o mais rápido possível. A Portugal chega tudo com algum "delay" e se conseguirem começar já a ser identificados com o "futuro", as vossas hipóteses de chegarem mais longe na vossa carreira aumenta. Caso o vosso objectivo seja seguir o estilo de música que gostam ou trabalhar para um "nicho" de mercado e esperar que o mesmo seja apetecível ao mercado, preparem-se para ter imenso trabalho e esperar vários anos e mesmo assim nada garante que venham a ser um DJ com sucesso. 
 
Vou terminar com um pensamento muito próprio. Ser DJ é uma arte, ser produtor é algo que até podes saber como fazer, mas podes não ter o "dom" para isso. Eu também sei jogar futebol mas quando cheguei à idade dos séniores, não consegui jogar profissionalmente e receber por isso (no entanto sabia jogar futebol). Ser DJ ou Produtor não é para todos. É uma profissão como outra qualquer com o acréscimo que tens de ter talento e tens de trabalhar imenso. Só o trabalho não chega, teres talento e não trabalhares também não te faz chegar a lado nenhum e na larga maioria das vezes, o trabalho árduo até vale mais que o talento natural que possas ter. 
 
Sim... o EDM está a "morrer" (para alguns) mas a musica electrónica nunca esteve tão bem como está actualmente. Resta saber qual é o novo caminho que esta indústria vai seguir e se vamos voltar a ter um novo ciclo com estilos já existentes.

 

Ricardo Silva
DWM Management
Publicado em Ricardo Silva
sexta, 23 janeiro 2015 22:17

Os talibãns dos géneros musicais

 
A guerra dos géneros musicais que hoje em dia se vive na scene é quase tão inútil, descabida e infrutífera como a guerra dos sexos. Discutir se há um género musical superior ou inferior é o mesmo que discutir quem é que é melhor: os homens ou as mulheres. É óbvio que não há géneros musicais superiores ou inferiores e é óbvio que a música evolui, mas o talibanismo musical tem sido a saga da história da música electrónica: pelo menos em Portugal.
 
Comecei a interessar-me a sério pela música electrónica em pleno auge do Iberican Sound, quando o house progressivo era rei e senhor e era totalmente diferente do que é hoje em dia. Os ritmos tribais e étnicos pareciam encaixar na perfeição nas teclas mais dark e atmosféricas. E Portugal tinha uma palavra gigante a dizer na scene internacional. Rui da Silva tinha acabado de chegar a níveis estratosféricos com o tema "Touch Me" e artistas como DJ Vibe ou Carlos Manaça eram dos mais aclamados do mundo inteiro, o que fazia do nosso país: "A Paradise Called Portugal".
 
Depois aconteceu o inevitável quando se espreme uma laranja até à casca. Deixa de haver sumo e passamos para a próxima. E surgiu uma vaga de electro house que trouxe para a ribalta artistas como Trentemoller, Mylo, Tiga, Tiefschvartz e, numa vertente mais comercial, o mais conhecido David Guetta. Eu, que tinha nascido em plena era do tribal house e do house progressivo via esta nova vaga com um quase ódio. Eram os destruidores da minha cultura. Era um miúdo e sem o saber estava a comportar-me como um autêntico "velho do Restelo": acalorado pelo conforto do "mais do mesmo" e aterrorizado com a ideia de mudança. Mas tudo na vida evolui e a história - mesmo que cíclica - escreve-se sempre em frente. Foi então que o maximalismo do electro house e, de certa forma, do tribal house gerou a emergência de uma nova corrente: o minimal techno.

Não estar na redoma de um estilo musical único faz-nos evoluir musicalmente mesmo dentro do nosso estilo musical de origem.

Foi a primeira vez que evoluí a sério e num curto espaço de tempo a minha produção musical. Não estar na redoma de um estilo musical único faz-nos evoluir musicalmente mesmo dentro do nosso estilo musical de origem. Só depois de me dedicar a tentar perceber o conceito, técnicas e elementos do minimal é que consegui, enfim, colocar-me num patamar de produção musical que me satisfazia pessoalmente. 
 
Mas, rapidamente, o minimal techno gerou o ressurgimento com grande pompa e circunstância de um estilo que estava adormecido há demasiado tempo - o techno. Muita gente falava num novo techno com um BPM mais lento e capaz de se fundir facilmente com os estilos que tinha sucedido.
 
E foi com a exaustão desta vaga que começa a surgir o que actualmente se chama de "EDM" muito influenciado primeiramente pelo trabalho do Deadmau5 e da fusão brilhante entre o trance e o house que teve a mestria de fazer na altura certa. Muito do que se fez entre 2008 e 2010 eram reproduções quase intactas de um estilo muito próprio do canadiano. E é nessa senda que surgem os Swedish House Mafia e mais tarde Hardwell e tantos outros.
 
Tudo isto para vos dizer que a música, na minha opinião, é como a história: cíclica e pendular. Precisa de se esgotar, de se deteriorar, de degenerar-se e depois de uma revolução de abanões, e de gente que coloque tudo em causa para voltar a tornar-se interessante. Um exemplo que costumo dar e que acho dos mais interessantes é o dos Beatles. Quem ouvir pela primeira vez o primeiro LP "Please Please Me" e o último "Let it Be" de seguida, certamente achará que se trata de uma banda totalmente diferente. Mas quem ouvir todo o trabalho que está pelo meio e analisar a realidade musical da época rapidamente se apercebe que se tratou de uma profunda e extraordinária evolução. No final da década de 60 lançar temas como "Love me Do" ou "From me To You" já não faziam o mesmo sentido e, neste sentido, não deixa de ser curioso que o álbum que demonstrou de forma mais vincada a evolução musical dos Beatles: "Sgt. Pepper’s Lonelly Hearts Club Band" seja considerado pela Rolling Stone como o "maior álbum de todos os tempos."
 

(…) a música, na minha opinião, é como a história: cíclica e pendular.

 
É por este motivo que fico chocado ao ver os talibãs dos géneros musicais a actuar na internet. Estou a falar directamente para os arautos do underground/tech house e techno que vêm na EDM: "música de carrinhos de choque" e para os talibãs do EDM que só de pensarem na possibilidade de a house music voltar a ganhar terreno em géneros musicais como o "future house" ficam logo com urticária. Foram SEMPRE, mas SEMPRE os que souberam sair e aventurar-se, os que fizeram a scene evoluir e dar o próximo passo. Não estou com isto a dizer que todos devamos agora produzir e consumir todos os géneros musicais, mas somente que não se barriquem atrás do EDM e apedrejem o vosso vizinho que por acaso até gosta é de música latina, tech house, psy trance e vice-versa.
 
E acabo com as palavras do insuspeito Carl Cox: "It's about music! Not one music style is better than the other, not one music style is more truly than the other. The whole thing is based on respect. It's all about respect, respect to the music, respect to the DJ's, respect to the crowd and respect to each other. It's all music, music never separates people!". 
 
Hugo Rizzo
Publicado em Hugo Rizzo
Existe um filósofo francês chamado Paul Virilio que defende que, na sociedade actual, é a velocidade o que define os vencedores e os líderes. Nas palavras dele: “a velocidade da luz já não transforma o mundo, a velocidade da luz é hoje o mundo”. Nada mais correcto. A meu ver, a velocidade é hoje a força motriz de qualquer pessoa. Todos estabelecemos prazos - cada vez mais curtos - para alcançar objectivos e encaramos como falhanço se não os alcançarmos. A nossa sociedade hoje funciona assim. É refém da velocidade. Fazer bem é fazer rápido.
 
É certo que este é o mundo em que vivemos. Se olharmos para o que nos rodeia percebemos facilmente que as músicas se tornam facilmente epifenómenos. Basta pensar que há não muitos anos atrás, hits mundiais das pistas de dança subsistiam no tempo e, hoje em dia, é bastante improvável apanhar os hits de 2013 ou 2014 em 2015. Nos próprios radioshows dos top DJ’s da actualidade há uma quase obsessão com a novidade e a exclusividade. É mesmo difícil em grande parte deles encontrar “músicas já editadas”, quase como se as músicas por já terem sido editadas ultrapassassem o prazo.
 
Este, a meu ver é um dos principais problemas da nova geração de produtores e DJ’s que surgiu nos últimos dois / três anos. É obcecada com a velocidade. Quer, a todo o custo, fazer rápido. Mas atenção que fazer rápido não significa fazer bem. Mas o erro não está em querer fazer rápido. O erro está em só querer fazer rápido, ou, de outra forma, só admitir como sucesso fazer rápido.
 
A verdade é que o insucesso gera frustração. E, em grande parte das vezes, o insucesso e a frustração são nada mais que sinónimos de impaciência. Todos olham para fenómenos como Martin Garrix ou Madeon e pensam “também quero ser um prodígio de 16 ou 17 anos, cheio de sucesso”. Mas esquecem-se que estamos a falar em primeiro lugar de artistas com uma estrutura profissional gigantesca e em segundo lugar de artistas que, apesar da juventude, já cá andam há alguns aninhos. 
 

O talento só não é premiado quando os talentosos desistem. Parece um cliché, mas é assim que a vida funciona.

 
Por isso quando se sentirem frustrados, ou a achar que vivem num mundo cruel em que só não têm sucesso porque “o público não tem cultura”, “nenhuma agência aposta em mim”, “não tenho um bom estúdio”, “não tenho dinheiro para investir”, “nasci no país errado”, pensem que grande parte dos top DJ’s da actualidade, tirando poucas excepções, construiu uma carreira ao longo de 5, 10 ou 15 anos antes de chegar ao topo. É como em tudo, nenhum recém-licenciado começa a trabalhar como Director numa multinacional. Se for um prodígio, trabalhar e fizer tudo bem, certamente lá chegará. E sim, em Portugal como em tudo, as coisas obviamente demoram um bocadinho mais.
 
Não estou a dizer para serem passivos ou abrandarem o ritmo. Nada disso. Apenas que precisam de conviver com o tempo, tendo sempre em mente que o talento é sempre premiado. Mais tarde ou mais cedo. Pode tardar, mas é quase uma inevitabilidade. O talento só não é premiado quando os talentosos desistem. Parece um cliché, mas é assim que a vida funciona. É como diz o ditado: “Roma não se fez num dia”.
 
Hugo Rizzo
Publicado em Hugo Rizzo
Apesar de ser difícil evitar comentar o facto de, mais uma vez, todo o sector da diversão nocturna e produção de eventos estar a pagar o preço da subida dos contágios de Covid-19, quase dois anos (!) depois deste pesadelo ter começado (apesar de serem as escolas o grande motivo desta subida), e depois de só nos terem deixado trabalhar "sem restrições" desde 1 de Outubro até 1 de Dezembro (60 dias!) a minha crónica este mês é sobre um tema bem diferente.
 
Há umas semanas chegaram-me vários vídeos de uma atuação "D.J." de alguém que, não o sendo profissionalmente, estava a exercer essa actividade, num local público, onde as pessoas pagam para entrar e onde a música é um dos produtos que esse local "vende”. As pessoas pagam para entrar, para dançar, para beber um copo, socializar. Como acontece em todos os locais do género. 
 
Num dos vídeos que recebi, a qualidade da atuação, a parte técnica, não era propriamente a melhor, e resolvi publicar esse vídeo numa rede social. O certo é que o vídeo atingiu uma repercussão que eu não estava à espera e o "performer", indignadíssimo, conhecido pela sua linguagem "solta" no Twitter, partiu para o insulto grátis e "mandou" os seus seguidores fazer o mesmo, numa onda de "social media bullying" que eu só vi bastante mais tarde, porque aos primeiros "comentários" menos próprios usei aquela opção bastante útil que se chama "silenciar".
 
Tem alguma piada que estas pessoas que vão actuar como D.J.'s num local aberto ao público, onde eles próprios digam que "eu não sou D.J., estou a fazer isto por paixão/amor à música" para justificar a sua menor capacidade para, tecnicamente, fazerem um bom trabalho, fiquem indignadíssimos quando alguém grava um vídeo dessa falha, desse momento em que a coisa não está a correr bem. Hoje em dia toda a gente tem um telemóvel com uma boa câmara de vídeo e se o nosso trabalho corre mal, temos que ter encaixe para aceitar a crítica dessa falha, venha ela de profissionais, venha do público.
 
É verdade que há alguns anos atrás, quando a carreira de D.J. começou a ter um grande destaque a nível dos media e com o aparecimento dos softwares que permitem o "beat mixing" muito mais facilmente do que até então, muita gente que nunca tinha estado à frente de uma mesa de mistura cedeu à tentação de começar a fazer atuações D.J. em espaços abertos ao público. Actores, ex-futebolistas, manequins, bailarinos, entre outros, decidiram assumir actuações como D.J. em discotecas, bares e eventos. Alguns com mais sucesso do que outros, mas o certo é que houve uma "fornada" de figuras "públicas" que decidiu enveredar por esse caminho. 
 
Obviamente não tenho nada contra isso, se os donos dos espaços/eventos os contratam, é porque acham que vão fazer dinheiro com as suas actuações, ninguém faz contratações para perder dinheiro, acho eu.
 
A pergunta pertinente na minha opinião é: vamos "ouvir" o D.J. ou vamos "ver" o D.J.? 
É um facto que nos últimos anos houve uma tendência para o aparecimento de D.J.'s/"live acts" com grande interação com o público, com saltos, microfone, toda uma parafernália de efeitos luminosos, de fumo, sonoros, que criam um conceito de espetáculo total em que o D.J. e a música são só uma parte desse espetáculo. Ou seja, nestes eventos vamos “ver” e “ouvir” os D.J.'s num conceito de espectáculo global.
 
Embora não sendo a minha área, obviamente que não tenho nada contra esse tipo de espectáculos/actuações D.J., há muita gente que gosta e de facto é um quase sempre um evento com muito mais impacto a nível visual do que um evento "normal" onde a música é o principal motivo de este acontecer, a principal atracção.
 
O tema desta crónica leva-me a essa pergunta: devemos "alimentar" essa curiosidade sobre uma figura "pública" que vai para dentro de uma cabine, para fazer um trabalho que tem muitas falhas técnicas só porque é "aquele senhor da TV"? É isso o mais importante? 
 
Ou é a música, a maneira como ela é usada, o que verdadeiramente importa?
 
Carlos Manaça
DJ e Produtor
 
(Carlos Manaça escreve de acordo com a antiga ortografia)
Publicado em Carlos Manaça
segunda, 05 março 2018 21:25

Num Mundo de Lobby's

No mundo do negócio, seja qual for a arte existe sempre a tendência às ajudas e aos conhecimentos entre entidades que tendem em favorecer quem por norma com as mesmas trabalha ou priva.

Este é um assunto bastante sensível e delicado, sendo que centralizando a questão, no meio da electrónica, deparamo-nos sempre com a questão do talento vs conhecimentos. Existe a necessidade de ter uma estratégia a longo prazo e no entanto estar sempre atento às oportunidades que possam surgir no intuito de fazer as melhores escolhas para uma carreira consistente. É preciso encarar a construção de uma carreira musical como jogar uma lotaria ou entregar a sorte ao destino, assim como dizer tenho um amor ou um dom, mas de verdade quem decide é a indústria e todos os que apoiam e seguem o meu trabalho. 

No meu caso em específico e ao longo da minha carreira sempre me fui deparando com algumas situações e entidades que me ajudaram, mas também com outras tantas que me fizeram trabalhar ainda mais e criar projectos que me ajudassem a depender apenas das minhas ideias e do trabalho artístico que tinha e tenho traçado como objetivo a alcançar. 

Não obstante tudo o que já mencionei é não menos importante referir que apesar de todo apoio que tenho e tive (do qual estou infinitamente grata), sempre foi o facto de eu fazer aquilo que mais gosto que de certa forma ajudou a ter uma carreira sólida. Basicamente por mais que sejam as "ajudas" e conhecimentos, se todas as vezes que que subo a uma cabine o trabalho não for bem feito, não existe nenhum "lobby" que ajude a longo prazo. 
Esta é a verdadeira realidade e resumo da questão, acreditar no que faço, fazê-lo com paixão sempre com o intuito de inovar e agradar todos aqueles que me seguem, porque são esses a quem eu agradeço e devo o sucesso da minha carreira como artista. Trabalhar bastante, ser optimista e humilde são os antídotos para a questão desta minha opinião.

Acontecem várias vezes e pessoalmente conheço inúmeros talentos, estes infelizmente por não conhecerem alguém ou uma plataforma que os ajude a mostrar o trabalho acabam por ficar no anonimato ou desistir, o que é lamentável. Eu como proprietária de uma editora e com a curadoria de alguns projectos faço tudo ao meu alcance para que estas situações não aconteçam, como apostar em novos talentos, contudo nem sempre é o suficiente. Mas por outro lado acredito que com persistência e a dedicação tudo é possível.
Publicado em Miss Sheila
terça, 15 março 2016 17:28

Moda de música ou música da moda

Começo por agradecer ao Portal 100% DJ pelo simpático convite de me juntar a esta prestigiada família.
Quando me convidaram para escrever esta crónica, pensei com medo, estando ciente de estar ao lado de tanta gente conhecedora da indústria, que eu não teria expertise suficiente sobre o assunto.
 
Confesso que pensei que deveria fazer como tantos famosos artistas mundiais o fazem… pedir a alguém que escrevesse e eu apenas dava o nome! 
 
Não cedi à tentação e escrevi apenas este texto como um... desabafo!
 
Lembro-me agora de uma troca de opiniões que tive nos finais dos anos 80 com o meu Pai, sobre um estilo musical que estava a dar os primeiros passos em Portugal: o House Music.
 
Nessa altura eu defendia a música gerada e difundida pelo "messias" Mr. Frankie Knuckles e que tinha como elemento característico a batida electrónica sempre acima dos 120 bpm. 
O meu Pai, amante de música e locutor de rádio nas madrugadas da Antena1, não compreendia como era possível alguém ouvir aquilo a que chamava “barulho” e pior... como era possível ainda alguém gostar.
 
Nessa altura, pensava eu: 
- O meu pai está mesmo velho, pois não compreende as novas tendências da música.
 
Hoje, passados anos, quando saio à noite nos principais eventos ou clubes mundiais, penso ao ouvir as músicas da moda:
- Como é possível alguém gostar disto?
 
Acredito que a minha filha pense também como eu há uns anos atrás que o pai coitado, já está velho e não entende nada sobre música moderna. 
 
Estou assustado com esta ideia, confesso! 
 
Será que estou mesmo a ficar velho e sem a capacidade de me atualizar musicalmente?
 
Penso então que talvez ainda haja uma possibilidade de me safar deste meu envelhecimento de actualização musical, peço então a vossa ajuda para refletirem comigo:
 
O agora auto-denominado EDM - (a que eu carinhosamente chamo “Música das Buzinas”). Começa logo pela usurpação de um nome - EDM
 
  • EDM - Electronic Dance Music é toda uma cultura de música de dança e electrónica e não apenas uma categoria dentro da pasta completa do House Music.
 
Aqui começa a minha reflexão sobre o que é a moda de música ou música da moda.
 
  • Nos anos 90 havia um estilo de música (EuroPop), que por tão frequentemente e quase que em exclusivo se ouvir nas feiras populares, até se utilizava a simpática denominação de música “carrinhos de choque”. 
 
A “Música das Buzinas” e enganosamente chamada EDM é na sua generalidade semelhante à música “Carrinhos de Choque”, sendo a sua construção sem grandes alterações na sua génesis musical e a aplicação de apenas modernos retoques de produção de máquinas que não existiam na altura.
 

Fico triste, pois acho que o House Music que eu defendi, se transformou apenas num espectáculo de estrelas Pop(…)

 
PLEASE, onde está então a novidade? Porque é que a música de “carrinhos de choque” era foleira na altura e está agora na moda movimentando milhões de seguidores?
 
A resposta a esta pergunta é quase tão difícil como saber o porquê de os carros brancos nessa altura serem chamados frigoríficos com rodas e agora até eu estar a pensar em ter um?
 
Ainda há pouco tempo, falei com um conjunto de reconhecidos coreógrafos que me disseram que era quase impossível hoje em dia, coreografar espectáculos com a “Música das Buzinas”. 
Então como é possível? Fica então a minha dúvida, se a base da música electrónica é fazer as pessoas dançar, como é possível ser difícil fazer dançar os coreógrafos?
 
Será que quando se diz que a máxima "nada se inventa e tudo se transforma", já esgotou o espírito de imaginar música realmente nova? 
Era necessário pegar em tudo o que era piroso há uns anos atrás, retocar, modernizar tecnologicamente e virar tendência?
 
Fico também rendido, quando me recordo que até eu próprio, no concerto dos Swedish House Mafia no Meo Arena, estava na pista maravilhado com o espectáculo visual e que dei por mim a pensar que a magia que ali estava a acontecer em termos técnicos, não era compatível com a possibilidade de os artistas poderem estar a tocar realmente, pois tudo batia perfeito: as explosões de CO2 com a batida, as imagens com os vídeos e os laser com os refrões que todos cantávamos, mas que isso afinal, ou seja a arte inicial dos artistas, já não era fundamental!
 
Fico triste, pois acho que o House Music que eu defendi, se transformou apenas num espectáculo de estrelas Pop e onde o marketing de comunicação do mundo actual, nos fez perder o gosto e a consciência própria do que realmente gostamos e ensinou-nos ou impingiu-nos a seguir tendências e conceitos que por muito que já tínhamos achado foleiro ou pimbas em determinadas alturas das nossas vidas, agora somos seguidores convictos.
 
Provavelmente eu, estou de facto, velho!
 
João Paulo Lourenço
Publicado em João Paulo Lourenço
segunda, 09 fevereiro 2015 21:21

O que nunca vos disseram

Muita gente tem e vive o sonho de vir a ser um artista (DJ, cantor, etc.) mas nunca lhe disseram a verdade. Muita gente vive na ilusão que um dia vai lá chegar mas nunca soube a verdade. A grande verdade é que a larga maioria dos artistas, não faz a mínima ideia ou tem noção do que é preciso para atingir um patamar elevado e continua a pensar que a sua qualidade (ou a que pensa que tem), o seu empenho ou trabalho, serão suficientes. 
 
Existem manuais, cursos, blogs, escolas e até tutoriais mas ninguém explicou aos artistas que os tempos mudaram, a industria discográfica já não funciona da mesma forma e que ninguém quer saber ou ouvir a tua música, se tens técnica, se sabes realmente alguma coisa de música, se tens uma grande voz ou se és um exímio executante de um instrumento musical ou nos "pratos". 
 
Não tenho a presunção de dizer que "sei como se faz um artista". Julgo que ninguém o poderá dizer mas todos podem afirmar que com um investimento financeiro elevado e alguma qualidade, qualquer um pode chegar ao topo. 
Vamos chamar as "coisas" pelos nomes. Tanto eu como qualquer agente/manager ou agência, não fazemos milagres. Fazemos valer a experiência, os contactos, o know-how e principalmente onde e como investir na carreira de um artista. Muitos colegas meus vão ficar chateados comigo com o que vou dizer mas a verdade é só uma... grande parte dos artistas de primeira linha em Portugal, só lá estão porque tiveram visão, apareceram no timing certo ou tiveram alguém que os puxou para cima. Existem dezenas (para não dizer centenas) de outros artistas que estariam na ribalta se tivessem tido alguma das situações que mencionei, por isso, não vale a pena tapar o sol com a peneira e dizer que o artista A ou B está "lá em cima" porque tem imensa qualidade ou é melhor que os outros. Doa a quem doer, esta é a realidade. 
 

(...) grande parte dos artistas de primeira linha em Portugal, só lá estão porque tiveram visão, apareceram no timing certo ou tiveram alguém que os puxou para cima.

 
Este artigo de opinião é escrito para um portal mais direcionado à noite e à musica electrónica, por isso vou "apontar baterias" aos DJs.
 
Alguém consegue explicar-me a diferença de valores de actuação que existem entre os DJs que passam o mesmo estilo de música? 
Como é que avalias as tais chamadas "skills" entre DJs que passam música a 4 tempos (larga maioria dos estilos de música electrónica), que têm "keys", "sync", "delays" e todos os efeitos e mais alguns ou usam hardware linkado?
A diferenças dessas "skills" ou até da seleção musical e leitura de pista (que hoje em dia não existe) é suficiente para diferenciar um valor de actuação entre os 50€ e os 5.000€ entre dois DJs? Óbviamente que não. 
A diferença é simples, óbvia e fácil de entender e não é compreendida pelos "puristas" e "cabeças duras" que nunca vão ser nada neste mercado porque teimam em arranjar os mais variados pretextos para o seu insucesso. 
 
Quantas vezes já ouviram estas frases?
- "Eu não sou vendido";
- "Não passo azeite";
- "Eu passo a minha musica e um DJ é um educador musical";
- "O numero de fãs (likes, views, plays, followers. etc.) não querem dizer nada";
- "Aquele gajo tem likes comprados";
- "Ou passo o meu som (quando às vezes nem produtores são) ou não actuo";
- "Eu não sou RP nem tenho de arrastar ninguém para me ouvir";
 
Poderia estar mais 1h00 a escrever as célebres frases que todos já ouvimos e o que já todos disseram e no fundo vocês sabem que ninguém quer saber desses argumentos para nada e só estão a enganar-se a si próprios.
 
Música é música e cada um gosta do que quer, ouve e compra o que entende, paga com o seu dinheiro aquilo que quiser. 
 
Um artista é um produto e como qualquer produto, tem de ser promovido e demonstrar a sua qualidade no mercado e criar "necessidade" de ser adquirido. 
Ninguém quer ouvir a música de um DJ (a não ser que a música ou o próprio DJ sejam conhecidos). 
Ninguém paga um valor alto por actuação se um DJ não tiver um público que pague para o ver/ouvir.
Ninguém contrata um "educador musical" porque o que querem é um DJ que vá fazer o serviço para o qual foi contratado.
Nenhuma editora (de topo ou major) vai editar um tema de um DJ sem fãs ou que não chegue através de alguém influente no meio e interceda por ele. 
Nenhuma rádio vai passar um tema, que até pode ser excelente mas se não for feito com um nome conhecido, ter influência de uma label ou management, ninguém quer saber ou tocar essa faixa. Doa a quem doer, esta é a realidade. 
 
Continuo a não ter a presunção de dizer que sei "como se faz um artista" mas posso afirmar que enquanto os artistas não perceberem que têm de investir fortemente na sua carreira como se estivessem a abrir um negócio, nunca vão ter expressão neste mercado e não podem esperar que sejam as suas actuações ou música a dar o montante que precisam para "crescerem" porque isso nunca vai acontecer. Têm de ter capital para investir neles próprios para que as "datas" apareçam. Se não sabem como fazer, paguem a alguém que possa fazer esse serviço por eles. 
Precisam de investimento constante e de estimular o mercado para que a sua marca seja apetecível de ser comprada. Toda a gente compra um "Red Bull" em vez de outra marca energética porque foi criada essa "necessidade" e ninguém questiona se a Red Bull é melhor ou pior do que outra bebida similar.
 

Todos querem tudo "para ontem" e quando são questionados do porquê de ainda não terem conseguido nada, a resposta é sempre a mesma - "falta de oportunidades".

 
Isto é tão simples de entender e ver artistas em constante negação a encontrarem argumentos descabidos para justificar o seu insucesso é algo incompreensível porque estão só a enganar-se a eles próprios. 
 
Em 20 anos de mercado, não conheci um único artista que se queira lançar no mercado que tenha chegado junto a mim (comigo na qualidade de agente/agência) com capacidade de investimento, plano de marketing, estudo de mercado e viabilidade e que perceba que até o Cristiano Ronaldo teve de fazer as "escolinhas", passar por vários escalões e só atingiu o estrelato ao fim de muitos anos. Todos querem tudo "para ontem" e quando são questionados do porquê de ainda não terem conseguido nada, a resposta é sempre a mesma - "falta de oportunidades". 
 
Caros artistas, ninguém nasce ensinado e quando não há oportunidades a solução é criar e não esperar que caia do céu porque isso nunca vai acontecer e ninguém dá nada de borla. Mesmo com os argumentos que os artistas usam do "amor à musica", ninguém dá amor sem receber em troca. Não existe nada neste mundo que seja gratuito. Mesmo os sentimentos têm de ter retorno ou deixam de ser "dados". Ficarem a arranjar desculpas, esperarem que apareça alguém para investir em vocês sem que tenham a certeza que vão ter retorno desse investimento ou teimarem a insistir em algo que ninguém quer comprar, podem ter a certeza absoluta que nunca vão ser alguém neste meio. 
 
E se estiverem a ler esta frase, é sinal que leram todo o texto e o título desta crónica já não faz sentido porque "o que nunca vos disseram", acabou de ser dito.

 

Ricardo Silva
DWM Management
Publicado em Ricardo Silva
sexta, 09 outubro 2020 22:01

Está quase tudo diferente

Muitos de vocês não me conhecem. Faço produção de eventos e é no backstage e longe das câmaras que me sinto bem.

Fiz parte da criação de alguns projetos e conceitos inovadores e do relançamento de muitos outros - (Flash, Bloop, Ribatexas, I Love Baile Funk, Revende of the 90’s, para vos dar alguns exemplos). Neste momento abraço o projeto H Collective, empresa detentora de alguns destes conceitos e entrei recentemente num novo desafio chamado "Lorosae", um Restaurante/Bar de praia na Costa da Caparica.

Nesta altura do ano normalmente estaria envolvido em duas ou três rentrées de espaços noturnos em Lisboa, só que não. Deveria estar a preparar o lançamento da nova Tour Revenge of the 90's, só que não. Estou com tempo para escrever este artigo de opinião durante o mês de Setembro.

Estamos cansados de não poder trabalhar, a tentar reinventar negócios e formas de estar. Estamos com saudades. Passaram 6 meses desde que o nosso mercado parou e dançar juntos de copo na mão já parece uma coisa do passado.

No início parou mesmo, mas em meados de Julho quando alguns espaços, depois de algumas readaptações, começaram a conseguir fazer algum tipo de eventos com lugares sentados e o devido distanciamento, apareceu uma luz de esperança e o pensamento imediato foi: "isto a pouco e pouco vai arrancar". 

Alguns arregaçaram as mangas e conseguiram dar a volta para abrir, outros não tinham nos seus espaços forma de contornar as coisas para estarem legais nas novas regras. Em tempos tão difíceis foi engraçado ver as pessoas a adaptarem-se a estar depois de um copo ou dois sentadas no mesmo sitio a dançar, à frente da cadeira, a irem ao bar e prolongar a conversa com o barman para poderem estar de pé mais um bocadinho a abanar o corpo em modo dança reprimida.

Durante esta fase assisti com tristeza a pessoas exteriores aos negócios, e até mesmo concorrentes, com empenho em fazer denúncias e prejudicar de forma dramática a possível e lenta retoma.

O mercado da noite e eventos está difícil, praticamente parado, e é tempo de dar os braços, estar unidos e arregaçar as mangas. A concorrência é muita, e mais agora que as pessoas que saem de casa para eventos são ainda menos, mas quanto mais unido estiver o mercado maior a força junto das entidades competentes para um aceleramento da retoma. 

Os eventos e a noite como nós os conhecíamos vão voltar. Até lá muita força para todos porque quando voltarmos não vamos ter mãos a medir.
 
Miguel Cruz
Empresário/Produtor de Eventos
Publicado em Miguel Cruz
segunda, 02 maio 2022 22:05

Tudo na mesma

Depois de dois anos de pandemia que forçou a uma paragem da actividade do entretenimento nocturno e eventos, o regresso veio trazer o que já se esperava - ficou tudo na mesma. 

Apesar dos esforços de inúmeras pessoas, onde associações foram criadas com investimento pessoal, numa tentativa de municiar os DJs das ferramentas necessárias para o seu reconhecimento profissional, as dificuldades foram encontradas dentro da própria "comunidade DJ". 

Rapidamente foram esquecidas as "queixas" de falta de apoios sociais, a inexistência de "voz" junto das entidades competentes, o reconhecimento da profissão e o auxílio para todos aqueles que iniciam ou que já exercem mas não têm o conhecimento de situações em que verbas que são suas por direito ficam nas mãos de terceiros.  

A desconfiança natural por parte da maioria dos DJs é justificada com o passado, onde várias associações foram criadas com intuitos poucos claros ou onde visavam o lucro, mas nem com o aparecimento de associações sem fins lucrativos, onde os associados não pagavam quotização, com estatutos claros e onde todos os associados tinham direito de apresentar candidatura aos orgãos sociais, tiveram uma recepção por parte desta comunidade para poderem oferecer o que os DJs tanto "reclamam" mas que pelos vistos não pretendem ter...

Foi uma oportunidade perdida e basta olhar para o modelo Holandês para perceber que há (havia) uma oportunidade única que podia levar à internacionalização do produto português e internamente munir os DJs de ferramentas que permitisse darem passos em frente nas suas carreiras.

Ao invés disso, agências e agentes (como eu) passaram a canalizar os seus esforços para outras áreas dentro da música, eventos e entretenimento e dezenas (para não dizer centenas) de DJs e produtores de música electrónica vão ficar pelo caminho ou com maiores dificuldades, havendo mesmo um decréscimo acentuado na contratação para eventos não especificados onde os DJs tinham o seu espaço e que foi ocupado por outro tipo de artistas e estilos musicais. 

Não há culpados (cada um é livre de fazer o que entender) mas há responsáveis e essa responsabilidade não precisa de ser assumida mas está imputada a quem deixou ficar "tudo na mesma". 
 
Ricardo Silva
Agente Artístico e Empresário
Publicado em Ricardo Silva
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