terça, 15 dezembro 2020 22:17

Pensar o futuro

Se tivesse de escrever sobre o que se passou este ano na Cultura e mais concretamente nos Djs e/ou na música electrónica, certamente 2 linhas seriam suficientes ou até mesmo um "texto em branco".

O ano de 2020 ainda não terminou e apesar de estarmos quase a entrar em 2021, tudo indica que iremos permanecer em 2020 até ao Verão (para ser optimista). 

Depressivos e apreensivos já todos nós estamos, pelo que resolvi partilhar convosco "um olhar sobre o futuro" e deixar-vos algumas informações do que se está a fazer, pensar e planear para os DJs Portugueses. 

Recentemente (Setembro de 2020) foi criada uma Associação sem fins lucrativos que juntou várias pessoas do sector e que dá pelo nome de "Associação Portuguesa do Entretenimento" que engloba também os DJS e produtores (consultem www.apent.pt).

Esta Associação não tem qualquer valor de inscrição como associado, não cobra qualquer quotização (em virtude da actual ausência de actividade do sector) e não recebeu qualquer apoio financeiro, sendo totalmente suportada pelas verbas e trabalho dos sócios fundadores. Em Janeiro irá ter um espaço físico (sede) para que possa iniciar o seu trabalho social e com espírito de missão onde um dos principais "problemas" para resolver está relacionado com os DJs. 

Os DJs sempre "reclamaram" por não serem ouvidos, reconhecidos como profissão e serem devidamente regulados, mesmo havendo associações específicas mas que pouco ou nada fizeram ou podem fazer devido à sua natureza juridica, falta de representatividade ou interesses próprios. Com esta nova Associação, devidamente enquadrada, legalizada e estruturada, há finalmente condições para "pensar o futuro". 

Os estatutos dão total autonomia aos associados e é deles a associação e não de uma pessoa singular ou um grupo de pessoas, o que permite que TODOS tomem iniciativa e apresentem ideias, projectos e "exigências" que sejam levadas junto das entidades competentes para que haja uma regulamentação, reconhecimento da profissão e principalmente um olhar sobre a importância do papel que o DJ desempenha na Cultura Portuguesa. 

Todos aqueles que agora estão a passar dificuldades, não têm qualquer tipo de apoio, não podem desenvolver projectos, partilhar o seu trabalho por falta de meios físicos e equipamentos, ter perspectivas de futuro, expôr as suas ideias, etc., não terão mais desculpas porque cada associado é "dono" da associação e terá os mesmos direitos (e deveres) que os restantes associados. 

Os tempos estão difíceis e nada podemos fazer sem ser "pensar o futuro" e está nas mãos de cada um de nós, alterar, precaver e melhorar o futuro de todos nós. 

Os meus votos de Boas Festas (na medida do possível) para todos e aproveito para parabenizar o portal 100% DJ por mais um aniversário ao serviço da divulgação e promoção do melhor que fazemos em Portugal nesta área específica que necessita mais que nunca de ser apoiada.
 
Ricardo Silva
DWM Management
Publicado em Ricardo Silva
quarta, 01 agosto 2012 21:15

A moda de ser DJ

 
Assunto proibido para um suspeito Ser como eu, e por si só ainda mais aliciante de abordar. Esmiuçar, rapinando a expressão aos Gatos, ou desenvolvendo melhor o tema: esmigalhar, esboroar, retalhar, desmantelar, esquartejar ou pura e simplesmente… Opinar. O famoso e perigoso tema tem como título “A Moda de Ser DJ” (e reparem nas letras maiúsculas que aqui não foram arrumadas ao acaso) e fala de todos aqueles atores, apresentadores, modelos e afins que acodem a sua vida profissional já pouco dada a ovações… virando DJ e trocando a bancada, o palco, a mesa ou a passerelle… pela cabine da discoteca. Portanto… de alguém como… a minha pessoa.

Quando se tem exposição pública, com ela acarreta-se não só a fama, as entradas à pala, os patrocínios, as festas exclusivas, os olhares derretidos e os espécimes do sexo oposto a dar graxa até mais não, mas também os olhares desconfiados, as invejas, as bruxarias e os maus-olhados dos malogrados “wannabe’s”, o descrédito dos pseudo-intelectuais e principalmente – e aqui entra o nosso tema – as desconfianças dos “velhos do Restelo”, sim, aqueles para quem tudo o que é discrepante das suas crenças de sempre, lhes cheira a esturro. E pronto. Assim chegamos ao fulcro da questão. Porque raio é que uma pessoa não pode mudar de profissão ou até acrescentar outra às competências já adquiridas e mesmo assim poder, conseguir e ser bom profissional? Ser comunicador e bom comunicador é isso mesmo, ensaiar a vida que ela é para isso mesmo, chegar ao público, com a Palavra, com o Gesto ou neste caso com a Música… e mais, importantíssimo: com a energia de um Palco – que muitos DJs “de origem” se esquecem de utilizar mesmo quando tecnicamente excelentes.

A questão é esta: E se por acaso, por uma qualquer vicissitude da vida, te aperceberes que tens jeito para mais do que uma coisa? E por acaso já és conhecido a essa altura do campeonato… Ai!! O medo, o terror!! O que fazer num país em que ao invés de te olharem como talentoso, te tentam cortar as pernas a cada passo pioneiro que dás?? Desistir? No Way. E que venham os desafios que eles existem é para ser superados. E que venha a Música a acompanha-los que em toda a boa Vida que se preze uma boa banda sonora é requerida.
 

"Não posso falar pelos outros - 5 ou 6 ou 7, 8 ou 9... - que têm aparecido a ocupar com mais ou menos mérito as cabines dos clubes, bares e discotecas do nosso país. Como em todas as profissões, há bons e maus, há sérios e charlatães, há mestria e há incompetência."

 
Não posso falar pelos outros – 5 ou 6 ou 7, 8 ou 9… - que têm aparecido a ocupar com mais ou menos mérito as cabines dos clubes, bares e discotecas do nosso país. Como em todas as profissões, há bons e maus, há sérios e charlatães, há mestria e há incompetência. Mas por mim falo, ou neste caso, tratando de Música, o nosso tema, por mim, misturo os sons do vocábulo que sem palavras povoa actualmente a minha Vida e confesso em tom de alegação final, respirar melodia, trabalhar batidas, aprender sôfrega produção e novas técnicas e tecnologias, desembolsar muito do que recebo nos “milionários” cachês em música, material, software e cursos. Ah, além de semanalmente fazer do público - que vou por aí alegremente descobrindo  nas esquinas do nosso país - cúmplice destas minhas descobertas constantes que considero mais constatações do que indagações. Sentir os sorrisos no ar, enquanto exerço as minhas escolhas musicais, criar emoções, servir de tom ao primeiro beijo ou apaziguar uma discussão com o volume dos decibéis, fazer a festa onde quer que passe! Sonhar com os temas novos que comprei no dia anterior e sentir que cada noite que passa, os meus dedos acompanham cada vez mais os meus pensamentos e sabem exatamente o efeito a fazer, o timming da mistura, descobrem a tempo a “a capela” perfeita que os faz cantar comigo. Digam-me, se isto não é ser DJ, o que é afinal?

E brilhar… sim, brilhar como só um DJ iluminado consegue fazer quando acerta no set perfeito e encontra assim a noite exemplar. Talvez aí possa concordar que os apresentadores, actores modelos e afins, que tanto são criticados, gostam efetivamente de brilhar, porque assim cresceram na sua profissão “de base”, se assim lhe quisermos chamar. Mal – ou bem – habituados, a verdade é que a profissão de DJ acaba por lhes afagar o ego e lhes oferecer o seu público, as suas palmas, os seus créditos, por lhes dar o fogo que gostam de ver a arder. Tudo o que precisam, para se sentirem como se tivessem bebido um batido energético, revigorados e entusiastas. E… que mal há nisso? Ser criador, comunicador, artista, é isso mesmo. E é tão bom. Porquê ter vergonha?

Enfim, toda esta conversa para que entendam, que por vezes, para nós “os tais”, os “meninos bonitos e conhecidos”, vingar nesta profissão, pode até ser mais difícil do que para os outros. Vingar à palavra, não aparecer, porque aí, já a estória é outra e exista quem o faça ou não, é algo que nem me apraz comentar. Para os capazes e verdadeiros, talvez se possa assegurar já um palco montado à nossa espera, sem o esforço de o alcançar já que ele já nos recebe há anos e já nos aguarda de uma forma familiar. Mas, por outro lado os focos nunca apagam, não saem um minuto de cima, a exigência é muito maior e o tombo, que tanto torcem para que dêmos, a acontecer… É sempre muito maior porque até aí há espetadores. E o tema vira sempre nacional e não só conversa na coletividade ou na rua dos amigos.
 

"[...] Sonhar com os temas novos que comprei no dia anterior e sentir que cada noite que passa, os meus dedos acompanham cada vez mais os meus pensamentos e sabem exatamente o efeito a fazer, o timming da mistura, descobrem a tempo a "a capela" perfeita que os faz cantar comigo. Digam-me, se isto não é ser DJ, o que é afinal?"

 
Toda esta conversa para vos dizer que para os 3, 4, 5 ou 6 DJs - figuras públicas (os sérios, que dos outros, em breve não rezará a história) que querem um público, não de moucos mas sim uma audiência com bom gosto, uma mão cheia de groovy party people e uma série de críticos do seu lado… a vida não é de todo assim tão facilitada como tantos gostam de apregoar. E o maior gozo que podemos ter é, quando no final de um gig, numa qualquer noite de inspiração, um daqueles DJs “à séria”, um senhor, um profissional com anos de carreira e sabedoria, perícia e experiência, vem ter connosco e diz: “Miúda. Parabéns! ATÉ te estás a sair bem!” E aí… mesmo com um ATÉ à mistura, a força volta a estar contigo e que se lixem os que à partida já têm um dedo apontado e uns tampões nos ouvidos… só porque és a Rita da televisão.

Se ser DJ virou moda? Moda vira o que é bom, o que sabe bem e dá vontade de imitar. E asseguro-vos que ser DJ é efetivamente Fenomenal!!

E assim destes pequenos grandes nadas se faz a Lei da Vida :).

Turn on the music!
 
Rita Mendes
Publicado em Rita Mendes
Se estás a tocar e achas que o teu público é mau… és provavelmente tu que estás mal.
 
Não me interpretes mal. Não te estou a dizer que és mau no que fazes, ou que tocas mal. Estou-te simplesmente a dizer que estás no local errado a fazê-lo. Este é um dos primeiros e principais erros de percurso dos DJ’s em início de carreira: lá porque que o teu set funcionou no local A não quer dizer que funcione no local B. O tempo, o espaço e as expectativas do público são factores determinantes para o sucesso da tua prestação. Mas vamos por partes:
 

AS EXPECTATIVAS

 
99% das pessoas que vão a festivais de EDM (Tomorrowland, Ultra, EDC, etc..) vão na expectativa de ouvir EDM. O que aconteceria se num festival em que existe esta expectativa aparecesse lá um DJ que ninguém conhece, com os últimos êxitos do Kizomba e Reggaeton? Provavelmente ficaria para a história no guiness como o tipo que conseguiu mais assobios em simultâneo. O que aconteceria se subitamente num festival de Reggae como o Rototom ou, em Portugal, o MUSA, aparecesse uma banda de Death Metal ? Por acaso esta não sei.. mas era engraçado de se ver o resultado.. Mas já perceberam onde quero chegar. Existem expectativas, as pessoas são rígidas quanto a elas e intolerantes com tudo o que fuja a essas expectativas. Isto é válido para bares, discotecas, sunsets, festivais, afters… tudo!
 

O ESPAÇO

 
O espaço é outro factor determinante na recepção do público a determinado repertório musical. Estás num bar numa praia, pôr do sol, caipirinhas na mão, miúdas giras, um PA que não aguenta assim tanto… e um DJ a tocar dubstep.. faz sentido? Não me parece. Da mesma forma que não faz sentido ouvires Chillout num festival open air com uma mega produção de som e luz. A música adapta-se ao espaço e às suas condições. Não o espaço à música.
 

O TEMPO

 
Ora aqui está um dos factores mais importantes e um dos mais difíceis de gerir. Aqui não existem regras. Só lá vai com experiência e olhos no público. A quantidade de DJ’s que erra neste ponto é avassaladora. Todos os espaços e festivais têm o seu tempo. O tempo em que o público chega ao festival, vai beber uma bebida e conhecer o espaço, se ambienta, ganha mood, ganha espírito e se começa finalmente a libertar. Não há ninguém - nem mesmo o maior party animal do mundo - que chegue a um festival e mal entre seja transportado para um estado em que instantaneamente está aos saltos ou a fazer moches. O público tem um tempo para se ambientar e começar a responder. E da mesma forma tu enquanto DJ também tens que gerir o teu tempo da melhor forma. Se tens 2 horas para actuar e 30 minutos daquelas músicas que deixam toda a gente literalmente a dar o máximo, não as descarregues todas seguidas ou no início da actuação. Mas também não as deixes todas para o fim. Gere-as de forma inteligente.
 
Por isso se tocas EDM e te metem num bar que todas as noites vai corrido a Kizomba e Reggaeton, estás mal tu - que foste ao engano -, está mal o bar - que te contratou para ires tocar -, mas nunca está mal o público. Há público mais frio ou mais quente a reagir. Mas nunca há mau público. Dizermos que “o público é que não sabe o que é bom” é só o maior erro e a maior falta de humildade que podemos ter enquanto profissionais e o princípio do fim de muitas carreiras promissoras, até porque são poucos - pelo menos em Portugal - os que se podem orgulhar de dizer: este espaço encheu e estas pessoas estão todas aqui por minha causa: eu toco o que quero.
 
Em suma, há expectativas, espaços e tempo para tudo. Se conseguires gerir estes factores da melhor forma, é meio caminho andado para seres bem sucedido.
 
DJ e Produtor
Publicado em Hugo Rizzo
quinta, 28 maio 2015 19:35

Soundcloud: o princípio do fim?

Quem se lembra do MySpace? Grandes artistas foram descobertos, muitos temas, álbuns apareceram no MySpace e foram assinados em Major Labels. Com o evoluir dos tempos, o site acabou por ficar obsoleto porque não acompanhou a rápida evolução da internet e outros serviços semelhantes apareceram e acabaram por o substituir. 
 
Um deles foi o SoundCloud, que nos últimos 5 anos foi uma das principais, se não a principal plataforma de divulgação de música e onde foram descobertos vários artistas e outros tantos promovidos à exaustão.
 
A par com a evolução do SoundCloud, a pirataria também ganhou proporções gigantescas e hoje em dia é sabido que a venda de música já não é aquilo que outrora foi, no entanto, o investimento nos artistas por parte das labels não parou de existir ou diminuiu. Pelo contrário, como hoje em dia é mais fácil fazer música com um computador, é preciso investir ainda mais para garantir que os artistas e as musicas têm a visibilidade necessária.
 
Um utilizador frequente do SoundCloud sabe que por lá se encontra imensa música “gratuita” e, na verdade, há mais bootlegs e mashups do que temas originais (ou havia), o que faz com que as labels não vendam os temas originais. E mesmo que as músicas não estejam em free download, sabe-se que há sempre meios de contornar isso e o público em geral consegue fazer mais rápido um download pirata para ouvir no carro (não interessa a qualidade da música) do que comprar um tema.
 

O SoundCloud como o conhecemos está a acabar e não interessa se pagas um serviço premium ou não.

 
Quando foi anunciada a parceria entre o SoundCloud e a Zefr, uma das plataformas líder de mercado de gerencia de direitos e royalties, que é responsável por identificar os temas no YouTube e consequentemente entregar os direitos e royalties às labels, pensou-se que iam terminar os famosos “takedowns” no SoundCloud porque as editoras iriam finalmente poder ganhar dinheiro com os temas que iriam sendo colocados no SoundCloud e que seria implementado o mesmo sistema de publicidade paga que o YouTube. No entanto, o resultado foi outro: nessa semana os artistas revoltaram-se contra o SoundCloud porque os “takedowns” foram gigantescos e até chegaram a nomes como Martin Garrix, que viu os seus temas originais serem removidos.
 
O SoundCloud como o conhecemos está a acabar e não interessa se pagas um serviço premium ou não. Os mix sets, bootlegs e mashups estão a ser apagados diariamente e, é o que vai continuar a acontecer a curto-médio prazo.
 
Apesar do SoundCloud ter pago mais de 2 milhões de dólares em publicidade aos seus parceiros, a Sony afirma que não ganha dinheiro suficiente e é quem está a criar mais problemas.
 
Sabemos que o SoundCloud tem uma audiência mensal de cerca 350 milhões de utilizadores e que, apesar de tudo, ajudou a desenvolver e a lançar artistas como a Lorde, promover artistas do meio como o Drake, Miguel e mesmo a Beyonce e ainda a descobrir outros tantos. Mas o que se passa é, ao mesmo tempo que os artistas precisam de exposição, as labels precisam de ser pagas pela música e enquanto o SoundCloud não pagar aquilo que as labels acham justo, a situação vai-se manter como está e vamos continuar a ver os takedown’s diários e a revolta dos artistas. 
Inclusive a Sony já retirou temas de grandes artistas como Adele, Miguel e Hozier; e sabe-se também que as negociações entre os dois falharam por falta de acerto monetário. 
Um serviço que outrora foi feito a pensar nos artistas, hoje em dia é controlado pelas editoras.
 
Como o SoundCloud é um dos principais “fornecedores” de musica dos blogs, sites e redes sociais, pela sua fácil integração, a pergunta que eu faço é: quanto tempo falta para aparecer um sério concorrente do SoundCloud e que o destrone, como aconteceu com o MySpace?
 
Dan Maarten
Publicado em Daniel Poças
quarta, 03 junho 2020 23:04

(Des)governados

Atravessamos momentos únicos da nossa vida e ninguém consegue fazer futurologia. Estamos completamente desgovernados por tudo, por todos e também por nossa culpa por não sabermos antecipar problemas.

Apesar de tudo, há algo que sempre iremos conseguir fazer - adaptação aos novos desafios. 

Existem DJs desde o tempo em que a tecnologia permitiu que uma única pessoa conseguisse "tocar musica gravada" (excluindo o aparecimento das grafonolas) e sempre houve adaptações e mudanças.

Provavelmente, nunca terá havido tantos recursos tecnológicos que permitissem adaptações como existem nos dias de hoje e cabe a cada um de nós pensar e implementar essas adaptações.
 
É certo que todos estamos desgovernados e até desesperados porque a principal fonte de rendimentos de um DJ é por norma as suas actuações e não havendo eventos ou espaços físicos com público para o fazer, as alternativas são escassas. O streaming é a opção lógica mas jamais poderá trazer a rentabilidade, o sentimento, a "magia" das actuações em "contacto" com o público, no entanto não nos podemos esquecer que num passado recente, muitos DJs usavam a rádio para ganhar a notoriedade que têm nos dias de hoje e as diferenças para um streaming são apenas em termos de imagem e suporte em que são transmitidas. 
 

Não tenho a pretensão de imaginar ou prever o futuro deste sector mas tenho a certeza que servirá como triagem para muitos amadores e profissionais ficarem pelo caminho (…)


Não tenho a pretensão de imaginar ou prever o futuro deste sector mas tenho a certeza que servirá como triagem para muitos amadores e profissionais ficarem pelo caminho, deixando a quem tenha perseverança um caminho aberto para o futuro quando esse mesmo futuro voltar a permitir o regresso dos DJs ao seu habitat natural. 

Sim, estamos desgovernados (todo o sector e não apenas os DJs) mas não existem soluções no imediato. 

Nada será como foi e com maior ou menos adaptação, maiores ou menores mudanças, o DJ pode estar "infetado" mas não irá "morrer".
 
Ricardo Silva
DWM Management
Publicado em Ricardo Silva
quarta, 07 março 2012 00:00

Ser ou não ser

Deixou de ser, finalmente, a questão.
Estamos no acelerado século XXI. E todos querem ser 2 em 1. Ou 3 em 1. O que estiver mais a jeito para trazer a fama com que se sonha de dia e, sobretudo, de noite.
Estamos na era dos futebolistas-estrela, dos cantores-estrela, dos manequins-estrela, dos DJ-estrela.
Ora, se para dar toques na bola é preciso ter "jeito", se para cantar é preciso ter voz e se para ser manequim é preciso, pelo menos, ter altura e ter um palmo de cara... Para ser DJ basta ter meia dúzia de trocos no bolso e fazer o "Curso".
Sim, pode ser a fama que primeiramente motive todos aqueles que lutam por um lugar ao sol (de preferência em Miami), mas não é essa a principal razão que leva tantos (e tantas) a suspirar pela profissão.
A verdade, crua e dura, é que, para ser DJ - nos dias de hoje - não é necessário qualquer talento: as máquinas fazem o que só o coração dos homens deveria comandar. E este é o motivo que torna o Djing, a profissão mais desejada.

Numa época difícil, em que as expetativas de futuro são cada vez menores e em que se fecham centros de novas oportunidades, há lá possibilidade melhor do que a de ser DJ?
Ou DJ e manequim? Ou  DJ e ator? Ou DJ e futebolista? (um bocadinho mais difícil, esta!)

Na verdade, nada contra. O único problema é da infinita desilusão: porque tudo o que é fácil é facilmente imitável, porque copiar é mais fácil do que criar e porque, no fim, apenas meia dúzia conseguem atingir o patamar onde se pintam os sonhos.
Isto não quer dizer que não seja legítimo querer "ser DJ". Pelo contrário. Todos podemos ser tudo... Aquilo que consigamos aprender. Mas nem todos vão lá chegar: nem todos têm a aquela “chama”, naquela que é a essência de ser "dono" de uma cabine, mestre musical de uma noite, a não mais esquecer. E Darwin volta a acertar em cheio.
Entretanto descobrem-se verdadeiros mestrados nestas questões do ser ou não ser DJ. Em geral aparecem em imundas páginas das redes sociais e nada acrescentam de valor ao que é o fenómeno do momento. E esta é outra questão: o momento dita esta moda, outras mais estão para vir.
 
Pelo meio apenas fazem história os que, 3, 6 ou 1 data por mês, são qualquer coisa mais. Música. Coração. Carisma e ética. Disciplinas que não se avaliam via diploma e cujo valor é muito maior do que aquele que qualquer pseudo super equipamento para DJ pode comprar.
 
Mariana Couto
coutomi(at)gmail.com
Publicado em Mariana Couto
domingo, 02 novembro 2014 22:26

O fim do EDM

Um novo ciclo da música electrónica está a terminar. Nunca consegui perceber esta "história" do EDM e a confusão sobre o que é realmente. As letras EDM significam Electronic Dance Music mas ficou claramente conotado com o Progressive e Big Room. 
 
Este título que dei ao artigo de opinião (fim do EDM) não é algo que possa ser levado à letra. É óbvio que não vai acabar mas nota-se claramente que deixará de ter o impacto que tem tido nos últimos anos. O EDM passará a ser um estilo musical que muito poucos DJ’s e Produtores terão sucesso ao estar conotados com o mesmo. Os clubes e discotecas já deixaram de contratar como contratavam os DJ’s que tocam este estilo porque perceberam que o EDM é algo que "exige" uma produção, é necessário um "espírito de festival", não é dançável (que é o que se pretende num clube ou discoteca) e que, apesar de movimentar milhares de fãs, foi (está) a ser explorado até à exaustão. 

Os clubes e discotecas já deixaram de contratar como contratavam os DJ’s que tocam este estilo porque perceberam que o EDM é algo que "exige" uma produção (...)

 
Vou fundamentar as minhas palavras. Um clube/discoteca retira os seus dividendos da venda de bebidas (percentagem mais elevada) e um percentual mais baixo do valor das entradas. O público (leia-se clientes) está mal acostumado e já não aceitam o que era normal, até há meia dúzia de anos, onde eram feitas "triagens" na porta dos clubes e onde passámos a ter dezenas de promotores a vender pulseiras ou ingressos e a haver "guest lists". Grande parte dessas verbas que são pedidas "para entrar" já não são para o estabelecimento mas sim para as equipas de promotores e RP's, deixando apenas a venda de bebidas como retorno para a casa. Se o retorno vem da venda de bebidas, volta a ser necessário que o estilo de música permita que os clientes estejam o maior tempo possível dentro dos estabelecimentos, os DJ’s consigam "ler uma pista" e ter "altos e baixos" na sua actuação para enviar as pessoas ao bar, tenham um determinado tipo de cliente que queira dançar, ouvir música, tenha qualidade no atendimento e que não esteja "aos saltos", a levar com confetis no seu copo, levar encontrões ou com uns miúdos aos saltos e a pisarem tudo o que esteja em meio metro quadrado e onde vá realmente para um clube/discoteca e não para um festival ou casa de espectáculos. 
 
É justamente nos festivais onde o EDM não vai "morrer" e onde continuará a arrastar os fãs. No entanto, acho que consegui passar a mensagem do porquê do EDM e em especial os DJ’s que o tocam terem uma tendência para desaparecer. A quantidade de DJ’s que seguiu a tendência do EDM tornou a oferta bem maior que a procura e com esta mudança (óbvia e objectiva), - bem como a saturação e exploração excessiva deste estilo - vai trazer dissabores a muita desta nova escola de DJ’s que surgiu nos últimos anos. 
 
Outros sinais claros que vão sendo transmitidos pelo mercado são os que vêm da indústria discográfica e das rádios. Ainda há dias terminou o ADE e essa mensagem clara (que define a nível mundial) veio também da Holanda. As discográficas não querem continuar a apostar num estilo musical esgotado e as que apostam são as que não estão acessíveis ao comum dos DJ’s e onde os seus interesses são com os artistas que elas próprias agenciam ou adquiriram exclusivos. Casos como o Nicky Romero e até o próprio Hardwell são um exemplo e vamos ouvir produções sem aquela "agressividade" do EDM puro.
 
Temos em Portugal o único DJ/Produtor que vingou (e continuará a vingar) com este estilo musical - o Kura - porque foi quem se destacou da concorrência e conseguiu moldar a sua imagem e sonoridade, deixando claro que o seu objectivo era para o mercado Internacional. Editar pela Revealed, Protocol, Armada ou Ultra é mais do que suficiente para fundamentar as minhas palavras e para que se perceba que a única maneira de seres reconhecido num estilo musical destinado a massas e a festivais é se tiveres uma projeção internacional (o que traz reflexos no seu país, como é óbvio).
 
Deixo aqui uns parêntesis em relação ao Kura para que esta malta nova perceba uma coisa. O Kura não está aqui à meia dúzia de anos. Começou como todos os grandes DJ’s, a trabalhar à noite (ainda sem ser DJ), "engoliu muitos sapos", tocou por trocos, foi criticado, trabalhou anos a fio a acreditar e a fazer aquilo que pretendia e só ao fim de uma década é que atingiu o patamar em que está. Quem pensa que faz uma faixa e que vai ter alguém a trabalhar por ele ou que vai ter um "hit" e tornar-se uma estrela, lamento desiludir mas isso nunca vai acontecer. 
 
"Os sonhos não têm pernas mas tu tens, por isso corre atrás deles" mas não julgues que isso aparece de um ano para o outro. Num próximo artigo de opinião irei escrever sobre o trajecto e as dificuldades que os TOP DJ’s portugueses tiveram para chegar ao patamar onde estão. 
 

Sim... o EDM está a "morrer" (para alguns) mas a musica electrónica nunca esteve tão bem como está actualmente.

 
Não querendo fugir ao tema deste artigo e porque há muito para escrever sobre ele e estas linhas são poucas para isso, vou deixar a minha recomendação a todos os que entraram nesta industria à pouco tempo. 
 
Pesquisem o que está a ser vendido actualmente na indústria discográfica, oiçam o que as rádios estão a difundir e a apostar, pesquisem o que está a surgir lá fora e antecipem a vossa produção e os vossos registos o mais rápido possível. A Portugal chega tudo com algum "delay" e se conseguirem começar já a ser identificados com o "futuro", as vossas hipóteses de chegarem mais longe na vossa carreira aumenta. Caso o vosso objectivo seja seguir o estilo de música que gostam ou trabalhar para um "nicho" de mercado e esperar que o mesmo seja apetecível ao mercado, preparem-se para ter imenso trabalho e esperar vários anos e mesmo assim nada garante que venham a ser um DJ com sucesso. 
 
Vou terminar com um pensamento muito próprio. Ser DJ é uma arte, ser produtor é algo que até podes saber como fazer, mas podes não ter o "dom" para isso. Eu também sei jogar futebol mas quando cheguei à idade dos séniores, não consegui jogar profissionalmente e receber por isso (no entanto sabia jogar futebol). Ser DJ ou Produtor não é para todos. É uma profissão como outra qualquer com o acréscimo que tens de ter talento e tens de trabalhar imenso. Só o trabalho não chega, teres talento e não trabalhares também não te faz chegar a lado nenhum e na larga maioria das vezes, o trabalho árduo até vale mais que o talento natural que possas ter. 
 
Sim... o EDM está a "morrer" (para alguns) mas a musica electrónica nunca esteve tão bem como está actualmente. Resta saber qual é o novo caminho que esta indústria vai seguir e se vamos voltar a ter um novo ciclo com estilos já existentes.

 

Ricardo Silva
DWM Management
Publicado em Ricardo Silva
sábado, 13 junho 2020 23:38

Tempo para meditar

Não faria sentido algum, neste momento, dissociar o mercado dos DJs e Produtores musicais do COVID-19.

Para ser sério, direi que foi o melhor que poderia ter acontecido. Não que tudo estivesse mal mas, a maioria encontrava-se no mau caminho.

Se no que diz respeito aos consagrados pouco haverá a dizer, já que vão garantidamente aproveitar para produzir música, retemperar forças e reaparecer ao seu melhor nível pois possuem situações financeiras que lhes permitem dedicar-se à sua profissão, o mesmo não se poderá dizer da grande maioria e, desta, opto por começar pelos mais novos.

Para estes, melhor do que um semestre de COVID-19 não poderia existir e, embora tema que não vá servir para grande coisa, penso que deveriam ter aproveitado para ler e ouvir música, que julgo ser aquilo que maioritariamente lhes faz falta. Por muito que as pessoas se contorçam com esta afirmação e que a mesma até possa ser vista como afronta, não o é.
 

Mudar, exigiu que os DJs educassem musicalmente o público e, contra ventos e marés, foi exactamente isso que aconteceu.


Se retrocedermos há vinte e muitos anos atrás, facilmente concluímos que, quando a música de dança começou a despertar entre nós, a maioria dos empresários e até clientes, afirmavam à boca cheia que não queriam "martelinhos". Mudar, exigiu que os DJs educassem musicalmente o público e, contra ventos e marés, foi exactamente isso que aconteceu. Dj Vibe, ao contrário do que muitos pensam, não caiu do céu, não foi obra e graça do Espírito Santo. Ouviu muita música e daí, não surpreende que ainda hoje detenha, através da parceria com Rui da Silva - Underground Sound of Lisbon - o maior êxito internacional que algum português alguma vez produziu e que perdura como hino "So Get Up" e que cada um dos seus set's seja uma viagem, naturalmente que uns melhores que outros. Depende do estado de espírito de cada um.

A maioria dos novos Produtores, que serão certamente os grandes da música de amanhã, não conhecem Música além daquela que hoje produzem. Não conhecem, sequer, clássicos de 70/80/90 quanto mais, um pouco de música clássica!

A maioria dos grandes nomes - atenção que estou essencialmente a falar do mercado nacional - foi residente, fez o seu percurso e cresceu. A maioria dos grandes nomes, sabe ir ao baú pois, tem conhecimento, história e arte, a tal arte que aprenderam nos anos 90 em que a máxima era; música é cultura. Se um DJ não educa a sua pista, apenas lhe resta ir copiando o sucesso do vizinho e, daí à maioria das pistas de dança estarem a passar cópias de lixo umas das outras, é o sistema reinante. Ninguém procura ter o seu público procuram sim, copiar o sucesso da pista ao lado seja ele qual for. E os produtores? Fazem exactamente o mesmo!

O COVID-19 veio, se não para safar isto, pelo menos, para voltar a baralhar e para dar de novo. Saiba a nova geração olhar para isto com olhos de ver. Perceber que não é por aquele ser kizombeiro que todos têm que ser kizombeiros ou, porque o que está a dar é a latinada, que Lisboa apenas tem que ouvir latinada em cada porta aberta.
 

Em Portugal, a maioria das rádios passa lixo durante as 24 horas do dia pois, a única preocupação reside nas audiências. Se for Zé Cabra ou Maria Leal que está a dar, é isso que irá passar.


O trabalho das rádios e dos DJs é de educar mas, para educar é preciso ouvir, saber, conhecer e procurar. Em Portugal, a maioria das rádios passa lixo durante as 24 horas do dia pois, a única preocupação reside nas audiências. Se for Zé Cabra ou Maria Leal que está a dar, é isso que irá passar. Quanto mais fácil, brega e sem nexo melhor. Tudo isto seria um cântico gregoriano se os DJs fossem DJs e não, maioritariamente, tipos que, por €50 euros/noite pagos por fora, assumem a categoria dos discos pedidos da senhora que passa a semana a ouvir Maria Leal na rádio e que vê na pista a forma de aplicar os seus trejeitos mundanos entre três vodkas.

Por sua vez, os mais novos, cuja maioria de música pouco percebem, independentemente de existirem alguns com grande valor, ao ser-lhes dada uma oportunidade, agarram-se aos potenciómetros da mesa e aplicam golpes de karate noite fora como que a correr com todos os que estão à sua frente, excepção feita claro está, aqueles vinte que são a sua falange de amigos pessoais e respectivas namoradas. Depois choram-se, o mercado não lhes dá oportunidades, é ingrato, são os malditos lobbies. Não, os proprietários das casas e promotores de festas, precisam é de manter os clientes, não que corram com eles.

Ao contrário daquilo que vou vendo nos cursos para DJs e Produtores disponíveis no mercado, nenhum indivíduo sem o mínimo de cultura musical poderia ter aprovação em qualquer curso destes. É quase como dar uma catana para as mãos de um atrasado mental. Pode alguém que não conhece música educar maiorias? O resultado está à vista de todos e, só não vê quem não quer. Acaba o cliente por ter que fugir, o segurança, saturado, perder a cabeça, o porteiro, preferir ficar do lado de fora da porta, a barmaid utilizar O.B.s nos ouvidos e, claro, o empresário a coleccionar contas, a ter que mudar de empresa e a deixar rasto como o caracol.

Sobre a injecção de "live's" que temos levado nos últimos 70 dias, direi o seguinte. Será difícil perceber que, tirando casos pontuais de festivais - que para mim, mesmo assim, não fazem qualquer sentido - pois ninguém está em casa de castigo a ouvir um doido a gravilhar como se de uma cabine de um jardim zoológico se tratasse! Maioritariamente não há música, há barulho.

Aconselho, para este período, voltarem a ouvir Opus de Eric Prydz até o perceberem. É simples e eficaz, possui musicalidade e é um exemplo moderno de algo com princípio, meio e fim.
 
Miguel Barreto
Publicado em Miguel Barreto
Portugal tem sido nos últimos anos conhecido e reconhecido pela enorme paixão pelos espetáculos ligados à música.  Os portugueses gostam de consumir música, de encher salas de concertos e festivais de verão. Se no final do verão de 2015 havia dúvidas de que os portugueses “respiravam” música, com as constantes confirmações de artistas internacionais desde o final de Agosto que vão marcar presença em 2016, não há margem para dúvidas.
 
Com a presença de artistas internacionais em 2016 como Adele, Muse, Justin Bieber, U2, AC/DC, Florence and the Machine ou Bryan Adams (entre tantos outros...) com espetáculos a solo, está dada a garantia de que 2016 vai ser um ponto de passagem das principais tours internacionais. A questão que me ocorre quando penso na confirmação de uma artista como Adele, a maior artista internacional da actualidade, que esgotou duas datas do MEO Arena em poucas horas e que bateu todos os records de vendas é: onde anda o velho do Restelo que fala tantas vezes do Portugal dos pequeninos?
 
O facto de sermos o ponto de entrada para a Europa faz com que grande parte das tours dos maiores artistas internacionais passe por cá, mas sem a qualidade dos nossos produtores de espetáculos, a viagem durava mais uma hora e aterrava em Espanha. A premiação constante das principais produtoras de eventos quer a nível nacional quer a nível internacional, fez com que o reconhecimento que há muito se pedia acontecesse, e que a garantia de qualidade que sempre existiu “obrigasse” as principais agências internacionais a incluírem o nosso país na Tour. A música é actualmente uma das melhores formas para mostrar o nosso País.
 

A música é actualmente uma das melhores formas para mostrar o nosso País.

 
Em 2012 com a crise económica sentiu-se uma quebra de vendas de espetáculos e festivais de verão. A estratégia das principais produtoras de espetáculos passou, e bem, por chamarem a atenção de espectadores estrangeiros com um cartaz que captasse o interesse, através de um trabalho de RP intensivo nos principais países vizinhos ligados à música internacional (Reino Unido, Espanha e França). O Turismo, outro dos sectores com mais qualidade que o nosso país oferece, foi a plataforma de entrada. Passados quatro anos percebe-se que resultou, atendendo ao facto de cada vez mais estrangeiros marcarem presença nos principais festivais de verão no nosso país. O facto do preço dos bilhetes ser dos mais baratos da Europa, do Turismo de Sol e Mar (ao contrário do Reino Unido que é conhecido pela chuva e lama) e do cartaz ser dos melhores da Europa, faz com que estejam reunidas todas as condições para que tenhamos cada vez mais público estrangeiro nos eventos ligados à música.  
 
Um dos pontos mais interessantes para analisar com a quantidade de espetáculos que Portugal vai ter em 2016 nas principais salas é a repercussão que os principais festivais de verão vão sofrer atendendo ao poder de compra dos portugueses. As escolhas são mais que muitas, mas a carteira não aumenta, infelizmente. 
 
Outro dos pontos interessantes em 2016 para analisar é a mudança de paradigma da música em Portugal. Se é ponto assente que o EDM (Eletronic Dance Music) já teve melhores dias e que o Kizomba já não enche clubs como acontecia há um ano atrás, percebemos que, e felizmente, as coisas estão a mudar. O Hip-Hop e o RnB parecem estar a voltar ao que já aconteceu no passado, refletindo-se no aparecimento e confirmação da qualidade de muitos artistas nacionais e internacionais tanto em espetáculos a solo como nos principais festivais de verão. De salientar a estreia de Wiz Khalifa e o regresso de  Kendrick Lamar em Portugal este verão.
 
A verdade é que chegamos a 2016 com uma certeza: as agências e as produtoras de espectáculos nacionais estão a trabalhar melhor do que nunca, de uma forma cada vez mais séria e profissionalizada e com a garantia que o ano que se avizinha vai ser um dos melhores anos que Portugal já viu no mundo da música, a rebentar pelas costuras.
 
Hugo Dinis Silva
Publicado em Hugo Dinis Silva
sexta, 09 fevereiro 2018 21:24

Recap da música electrónica

Um novo ano começou e aceitei, mais uma vez, o convite da 100% DJ para deixar alguns artigos de opinião para os leitores/utilizadores deste portal que tem prestado um serviço de informação isento e de qualidade sobre a indústria da música electrónica em Portugal. 

Não tenho a presunção de achar que sou um conhecedor profundo ou um "visionário" do que se irá passar no futuro mas lanço o desafio a quem não leu artigos de opinião anteriores e publicados neste portal para que percebam um pouco que há sinais que surgem e que quem trabalha neste meio consegue sentir e prever mudanças e que na altura foram alvo de imensas críticas. 

Tive o privilégio de assistir ao início do aparecimento da música electrónica em Portugal e aos primeiros DJs que ousaram agarrar nos "martelinhos" e fazer uma carreira. Sinto a tristeza inerente de ter visto muitos deles desaparecer devido ao aparecimento das novas tecnologias, ao "facilitismo" da produção musical onde tudo passou a ser "informatizado" e as "máquinas" foram metidas para um canto e onde um PC, um teclado e uns programas informáticos bastam para que saia uma obra musical. 

Na ultima década assistimos a uma autêntica "epidemia" de novos DJs e produtores musicais que julgaram que tinham encontrado o "El Dorado" na música electrónica. 

Deixo uma pergunta: 
- Onde estão 80% desses DJs que apareceram do nada e desapareceram mais rápido do que surgiram?

Poucos, muito poucos, são os DJs que surgiram nos últimos cinco anos e que continuam no mercado. Apenas permaneceram aqueles que souberam adaptar-se às mudanças (leiam os artigos anteriores que mencionei) e outros que souberam profissionalizar-se. Continuamos a ter os "velhinhos" e aqueles que fizeram uma carreira (mais de 10 anos no mercado) como referência e a manterem a indústria em movimento por um único motivo... quiseram uma carreira e deram atenção ao mais importante - A Música. 

A música electrónica (seja qual for o estilo) não é diferente de outro tipo de música qualquer. Tivemos o "boom" da Kizomba e assistimos à sua queda. Temos agora o Hip Hop em alta  e que está a cometer o mesmo erro que a Kizomba. Tenho a certeza que daqui a uns anos vamos todos olhar para trás e só conseguimos lembrar-nos de meia dúzia de nomes que marcaram estes estilos e que vão continuar no mercado no futuro. Façam esse exercício para a Kizomba e vejam se conseguem dizer 10 nomes de artistas portugueses ou que estivessem no mercado português, quando foram mais de uma centena que percorreram palcos e clubes deste país. 

A música electrónica sofreu (está a sofrer) o mesmo "problema". Está a haver a triagem natural do mercado. Quer pela qualidade, quer pela "oferta vs procura". 

Olhem para esta indústria como um negócio, para vocês como um produto e para música como arte. Só assim poderão ter sucesso. Querer vender arte (leia-se múisica) sem a divulgar, dificilmente haverá quem a queira comprar. Tenham um produto (leia-se DJ + Música) que seja apetecível ser adquirido e para isso é preciso olhar para a indústria como um negócio. 
Se não pensares desta forma ou quiseres apenas ser "um artista", lembra-te que os maiores artistas só tiveram reconhecimento depois de falecerem... 
A escolha é tua...
 

Ricardo Silva
DWM Management
Publicado em Ricardo Silva
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