Diretor Ivo Moreira  \  Periodicidade Mensal
terça, 01 abril 2014 16:16

(Sem título)

Escrever nunca é fácil.
Sobretudo quando se trata de uma primeira vez: os temas escorregam, misturam-se e nem sempre à velocidade certa.
Andei com dúvidas. Queria falar sobre o Djiing no feminino. Não, quero falar das novas sonoridades. Não, quero falar da noite no geral. E, afinal, quero só contar uma história.
 
Hoje quando me sentei na minha Workstation, chuva de primavera a bater na janela, gata com fome, assuntos por resolver, era um dia que começava como os outros. Vi os mails, abri o Facebook e entre os posts delirantes de um 1 de Abril cinzento a noticia da morte de Frankie Knuckles. 
 
Pus o Your Love a tocar.
Homenagem pequena. Era eu também assim, pequena, quando aprendi a gostar de House Music. A minha entrada na rádio tratou de me afinar o ouvido, de me mostrar sonoridades que estavam longe dos meus hábitos e que tinham essa capacidade. A de me levar para longe.
 
Quando, anos depois, pensei que poderia ser uma musical contadora de histórias: ele estava lá. Referencia, reverência. Inspiração. Intocável.
Tal e qual está agora. Ah, a p*ta da insustentável leveza da vida. 
Lugar-comum, tanta verdade nunca antes dita: hoje ficamos mais pobres. Mas depois não. Porque se é o imaterial que nos enriquece, então temos hoje mais de estrela do que pó. Numa House Music pura, bonita, cheia de bom feeling. Pode ser que já não se ouça. Tanto melhor porque é coisa que se sente.
 
Como sempre, para sempre: obrigada pela inspiração. São breves linhas, as tais difíceis de escrever. Mas são a única coisa breve da tua partida, porque o que nos deixas é muito maior do que algum dia poderias imaginar. Há legados que não morrem. Mesmo assim, esta poderia ser uma mentira de 1 de Abril.
See you on the dancefloor, godfather.

 

Publicado em Mariana Couto
quarta, 07 março 2012 00:00

Ser ou não ser

Deixou de ser, finalmente, a questão.
Estamos no acelerado século XXI. E todos querem ser 2 em 1. Ou 3 em 1. O que estiver mais a jeito para trazer a fama com que se sonha de dia e, sobretudo, de noite.
Estamos na era dos futebolistas-estrela, dos cantores-estrela, dos manequins-estrela, dos DJ-estrela.
Ora, se para dar toques na bola é preciso ter "jeito", se para cantar é preciso ter voz e se para ser manequim é preciso, pelo menos, ter altura e ter um palmo de cara... Para ser DJ basta ter meia dúzia de trocos no bolso e fazer o "Curso".
Sim, pode ser a fama que primeiramente motive todos aqueles que lutam por um lugar ao sol (de preferência em Miami), mas não é essa a principal razão que leva tantos (e tantas) a suspirar pela profissão.
A verdade, crua e dura, é que, para ser DJ - nos dias de hoje - não é necessário qualquer talento: as máquinas fazem o que só o coração dos homens deveria comandar. E este é o motivo que torna o Djing, a profissão mais desejada.

Numa época difícil, em que as expetativas de futuro são cada vez menores e em que se fecham centros de novas oportunidades, há lá possibilidade melhor do que a de ser DJ?
Ou DJ e manequim? Ou  DJ e ator? Ou DJ e futebolista? (um bocadinho mais difícil, esta!)

Na verdade, nada contra. O único problema é da infinita desilusão: porque tudo o que é fácil é facilmente imitável, porque copiar é mais fácil do que criar e porque, no fim, apenas meia dúzia conseguem atingir o patamar onde se pintam os sonhos.
Isto não quer dizer que não seja legítimo querer "ser DJ". Pelo contrário. Todos podemos ser tudo... Aquilo que consigamos aprender. Mas nem todos vão lá chegar: nem todos têm a aquela “chama”, naquela que é a essência de ser "dono" de uma cabine, mestre musical de uma noite, a não mais esquecer. E Darwin volta a acertar em cheio.
Entretanto descobrem-se verdadeiros mestrados nestas questões do ser ou não ser DJ. Em geral aparecem em imundas páginas das redes sociais e nada acrescentam de valor ao que é o fenómeno do momento. E esta é outra questão: o momento dita esta moda, outras mais estão para vir.
 
Pelo meio apenas fazem história os que, 3, 6 ou 1 data por mês, são qualquer coisa mais. Música. Coração. Carisma e ética. Disciplinas que não se avaliam via diploma e cujo valor é muito maior do que aquele que qualquer pseudo super equipamento para DJ pode comprar.
 
Mariana Couto
coutomi(at)gmail.com
Publicado em Mariana Couto
domingo, 17 fevereiro 2019 23:28

Os ciclos

O que podemos esperar de 2019? 
Um novo ano entrou e a apreensão que sentimos no seio da indústria da musica electrónica em Portugal é evidente. 
Em 2017, num dos artigos de opinião que escrevi para a 100% DJ, fui criticado quando afirmei que estávamos "a chegar ao fim do EDM". Hoje, é claro para todos que o EDM (electro, progressive, big room) está em queda e a adaptar-se a um novo ciclo.
Poderia fazer um exercício com cada um de vós para encontrar motivos e justificações, mas não existem. 
Tudo tem um ciclo, "sai de moda" e tem uma ascensão, pico e declínio. 
É certo que os estilos a que chamamos EDM (erradamente, porque EDM é uma sigla que abrange toda a música electrónica) não irão desaparecer, simplesmente deixarão de ser a principal referência para os amantes da Dance Music, e produtores e DJs terão de adaptar-se, reinventar as suas produções e actuações ou optar por manter o seu registo e identidade, tendo a noção que irão trabalhar para "um nicho de mercado", tal como outras sonoridades mais "clubbing" tiveram de fazer e "aguardar". 
 
Talvez esteja errado mas não consigo imaginar o aparecimento de nada de novo na música electrónica. Poderá aparecer algo "criativo" com alguma fusão de estilos, mas coloco muitas dúvidas que apareça um "Dubstep, D&B, Hard Style ou uma variação da House Music" que consiga afirmar-se como "novo ou inovador". Estou convicto que os ciclos serão cada vez mais rápidos e passageiros, tendo as diferentes sonoridades um nicho muito próprio de seguidores. 
 
Então e em Portugal? 
Portugal não é diferente e assistimos neste último ano ao desaparecimento de dezenas (para não dizer centenas) de DJs e produtores, sendo cada vez mais difícil a afirmação de novos talentos sem terem um elevado investimento financeiro que lhes permita ter uma equipa, meios de comunicação e marketing e uma rede de contactos que os acompanhe e catapulte para o mercado. 
Em termos de sonoridades também não somos diferentes do resto do mundo. 
Há um claro regresso das vertentes mais "House", o Techno está em novo crescimento e as sonoridades com vocais (letras completas) ocuparam o espaço do que antigamente chamava-mos de "comercial". 
O mercado (leia-se pessoas/consumidores) é e sempre será quem tem a última palavra e tudo o que julgamos prever ou ter certezas, não passa de uma leitura dos sinais que o mercado vai dando. 
 
Termino este primeiro artigo de opinião de 2019 com uma palavra para a 100% DJ, a quem parabenizo por mais um ano e agradeço o convite para continuar esta longa parceria/participação. 
Publicado em Ricardo Silva
terça, 06 dezembro 2016 22:35

30 Anos

Num dia de Setembro de 1986, depois de ter participado em alguns eventos na escola que frequentava (a Escola Secundária de Santo André, no Barreiro, distrito de Setúbal) e algumas festas particulares, fui até à Discoteca “Os Franceses” (chamava-se assim porque ficava por baixo de uma Sociedade Recreativa chamada “Os Franceses”) para “prestar provas” e assim poder começar a trabalhar ali como DJ residente.
 
Foi uma tarde de muitos nervos, com o gerente, alguns empregados e amigos a ouvir o meu “set” feito ali, em directo, para depois decidirem se eu iria ou não ficar como segundo DJ da Discoteca. Aquele que fazia as folgas do DJ principal e passava os “slows”, a música mais calma que se passava numa determinada altura da noite (ou tarde) e onde as pessoas dançavam agarradas. Dois “pratos” com “pitch” (com sistema de correia, o que os tornava bastante “variáveis”) uma mesa de mistura de dois canais (sem equalizador por canal) e alguns discos de vinil escolhidos pelo gerente foram os instrumentos usados para esta avaliação.
 
Apesar dos nervos, de não conhecer os discos e de não ter monitores na cabine (“luxo” que só apareceria muitos anos mais tarde...) a “audição” correu bem e fui aceite como DJ residente. Foi uma sensação inesquecível para mim! Todas as horas passadas a ouvir (e a gravar em cassetes) os programas “Discoteca”, “Som Da Frente”, “Todos No Top” na RDP-Rádio Comercial (entre outros) tinham valido a pena... O meu primeiro ordenado: 25 contos por mês para trabalhar quartas, quintas, sextas e sábados à noite e domingos à tarde! Hoje seriam 125 euros...
 
Em 2016 ano passaram 30 anos desde este momento. Desde essa altura muita coisa mudou no papel que o DJ desempenha num Club. Em 1986 um DJ era simplesmente mais um empregado da Discoteca, cuja função era passar a música que funcionasse melhor para o público do momento, fosse Pop, Rock, Reggae, ou outro qualquer estilo desde que não se “esvaziasse a pista”. Os discos eram comprados pelas discotecas e não pelos DJ’s, por isso os gerentes (que muitas vezes acompanhavam os DJ’s nas compras) também tinham uma  desde que fosse dançsmente acompanhavam os DJs , Rock, Reggae, ou outro qualquer estilo, desde que fosse dançuma palavra a dizer sobre o estilo de música. Nos dias de hoje é difícil imaginar uma situação destas, certo? Mas era assim que funcionavam a maior parte dos Clubs...
 

O DJ é neste momento um dos ícones, uma das principais referências dentro da música, nas suas várias vertentes e estilos.

 
Hoje em dia o DJ é o artista principal da discoteca/evento. É por ele, pela música que ele “toca” (a aplicação deste termo a um DJ dará para outra crónica...) que as pessoas ali se deslocam. Ou pelo menos é assim na maioria dos casos. O papel que um DJ tem nos dias de hoje não tem nada a ver com o que tinha nos anos 80/90, o seu protagonismo é (quase) total, tendo-se mesmo tornado uma estrela Pop nos últimos anos. Quando nomes como David Guetta, Carl Cox, Richie Hawtin, (entre muitos outros) enchem estádios/pavilhões com milhares de pessoas e têm os seus próprios dias nos maiores festivais de música em todo o planeta, facturando milhões, é toda uma geração que os segue. Os DJ’s são, sem dúvida, dos artistas mais importantes do século XXI. Os cantores do momento querem gravar com os nomes mais importantes, as bandas querem remixes suas, o seu nome aparecer num tema é (praticamente) garantia de sucesso. O DJ é neste momento um dos ícones, uma das principais referências dentro da música, nas suas várias vertentes e estilos. Um exemplo a seguir por muitos.
 
É por isso normal que muita gente queira seguir este caminho. Todo o mediatismo gerado à volta da figura do DJ leva a que muitas pessoas queiram, naturalmente, fazer o mesmo percurso, tentar chegar “lá acima”. As novas tecnologias e o seu fácil acesso (e o baixo preço do equipamento, quando comparado com os preços dos anos 80/90 e 2000) tornaram muito mais fácil o caminho para os novos talentos. É bastante mais fácil para uma pessoa com talento e determinação, mesmo com poucos recursos económicos, conseguir produzir um tema com muita qualidade que tenha sucesso nas rádios e que projecte o seu nome como Produtor, o que leva (na maior parte dos casos) a um aumento das suas actuações como DJ.
 
O “ser DJ” tornou-se por isso um objectivo de muitos, o que em alguns casos provocou reacções menos positivas de pessoas que criticam a “banalização” do papel do Disc Jockey. É verdade que houve (e continuará a haver enquanto o DJ tiver o protagonismo que tem hoje) muitas pessoas que “apanharam o autocarro” (os ingleses têm uma expressão para isso - “jump on the bandwagon”) do DJ’ying e que se aproveitam (ou aproveitaram) desse fenómeno e “de repente” também são DJ’s. É uma situação normal e que não vai acabar tão cedo. Mas também é verdade que esta “massificação” nos trouxe alguns artistas de muito talento que de outra forma nunca poderiam ter chegado ao grande público.
 
Para mim 2016 foi um ano muito especial. Foi o ano em que cumpri 30 anos totalmente dedicados à música, deixando para trás uma (possível) carreira como arquitecto. Uma data que sinceramente nunca pensei em atingir, até porque quando comecei a minha carreira, os DJ’s com mais de 30 anos de idade (salvo raras excepções) já eram considerados “cotas” ou “desactualizados”. Foi também um ano de balanço, de pensar em tudo o que aconteceu ao longo destes 30 anos, em toda a música que me “passou pelas mãos”, em todas as horas, noites, tardes, dias passados em estúdio ou a actuar em algum das centenas de eventos onde participei. Na mudança radical do papel do DJ ao longo destes 30 anos...
 

Sinto-me um privilegiado por ter acompanhado todo este processo e por ainda hoje, creio eu, fazer parte do lote de artistas que impulsionou e impulsiona a “Dance Scene” em Portugal.

 
Tive a sorte de estar nos princípios do “boom” da música de dança em Portugal, ao lado das primeiras editoras a arriscar editar música electrónica “Made in Portugal” (das quais a Magna Recordings fez parte), nos primeiros eventos com DJ’s convidados vindos do estrangeiro a actuar em solo nacional e mais tarde nos primeiros mega-eventos de música de dança em Portugal. Sinto-me um privilegiado por ter acompanhado todo este processo e por ainda hoje, creio eu, fazer parte do lote de artistas que impulsionou e impulsiona a “Dance Scene” em Portugal.
 
2016 foi sem dúvida um dos melhores anos da minha carreira, recebi alguns prémios (entre os quais o da 100% DJ), participei em muitos eventos que me marcaram bastante, tal como os “Melhores do Ano da Radio Nova Era” (Porto) em Abril, onde recebi o Prémio Carreira (totalmente de surpresa...); no mega evento “Rock In Rio” em Maio em Lisboa, onde actuei ao lado de nomes como Carl Cox, DJ Vibe ou Octave One, todos referência para mim enquanto DJ’s/Produtores. Uma noite inesquecível!
 
Foi por isso com muito prazer que no final de Outubro estive no Salão de Plenos da Câmara Municipal do Barreiro para receber uma homenagem aos meus 30 anos de carreira, das mãos do próprio Presidente da Câmara. Foi uma total surpresa para mim que a Câmara Municipal da minha cidade se tivesse dado ao trabalho de organizar essa cerimónia onde estiveram alguns dos meus amigos mais próximos, a minha família mas também alguns meus ex-colegas da Escola Secundaria, pessoas que eu já não via há décadas! Nunca eu iria imaginar que, 30 anos depois de passar tantas vezes a pé em frente à Camara Municipal a caminho dos “Franceses” para ir trabalhar, iria estar ali no Salão de Plenos a receber uma homenagem pelos meus 30 anos de carreira das mãos do próprio Presidente da Câmara!!
 
A minha mensagem é por isso muito simples: acreditem nos vossos sonhos, por mais difíceis que possam parecer, dediquem-se o mais que puderem à música se esta for mesmo a vossa paixão. Não vão por “modas”, tentem “tocar” aquilo que realmente gostam, se puderem entrem também pelo caminho da produção, criem os vossos próprios temas, porque, se o vosso trabalho tiver mesmo qualidade, mais cedo ou mais tarde a vossa oportunidade vai (mesmo) aparecer... Eu (ainda) acredito nisso!
 
Carlos Manaça
 
(Carlos Manaça escreve de acordo com a antiga ortografia)
Publicado em Carlos Manaça
 
Não me identifico com a grande maioria da música produzida por David Guetta, sobretudo porque desprezo o caráter industrial que as suas produções assumiram. São músicas produzidas em série, num estúdio que mais parece uma fábrica "fordista", que visam apenas conservar, a todo o custo, a sua notoriedade, numa indústria cada vez mais efémera e em que a música assume um relevo cada vez menor, sendo apenas uma das muitas variáveis em jogo. Há muitos anos que a música vazia de David Guetta, pura e simplesmente, não me toca.
 
Dito isto, e pondo os gostos de parte, fico sempre incrédulo quando vejo os inúmeros boatos que sobre ele circulam na Internet. O último li-o no Wunderground, um portal irlandês dedicado à arte e música underground, carregado de mexericos e artigos falsos que apenas servem para ridicularizar alguns artistas e capitalizar leitores rancorosos - para os mais incautos, foi deste mesmo portal que saiu a notícia, também falsa, de que Axwell se iria retirar da indústria musical.
 
Estes artigos teriam piada se os leitores percebessem claramente de que se trata de escrita humorística - como acontece, por exemplo, com o Inimigo Público. O problema é que, ao incluir a informação verdadeira e falsa no mesmo saco, o Wunderground gera a confusão e induz os leitores em erro. Para além de o artigo ser uma sátira evidente, repleto de episódios inverosímeis e caricaturais, faz uma alusão a um post no Twitter de Guetta que nunca existiu.
 
Mas o que mais me espantou nesta história, e que acabou por ser a principal razão por que se multiplicaram os sites que mencionaram o assunto, foi o facto de Frankie Knuckles e David Morales, pioneiros do House e referências incontornáveis dos primeiros produtores de música eletrónica portuguesa - entre os quais eu me incluo -, terem contribuído para amplificar o equívoco, ao comentarem, no site da rádio online americana Coco.fm, um artigo falso como se fosse verdadeiro. Aquilo que não passava de um artigo satírico passou a ser visto como notícia.
 
Conclusão: passadas algumas horas, dezenas de sites referiam a polémica e milhares de pessoas em todo o mundo prontificavam-se a crucificar Guetta, com comentários que exalavam ódio e ressentimento. Porquê? Sobretudo, porque, influenciados por uma campanha na Web que visa ridicularizá-lo, não gostam da música que ele passa e produz. Não querendo fazer de advogado do diabo, posso dizer que já o vi a pôr música antes de ele ter atingido o estatuto que hoje tem e, apesar de não ser a minha praia musical, até o achei eficaz e competente. Alguns colegas meus dizem o mesmo. Para mim, a qualidade de um DJ não é medida pelo estilo de música que ele toca.
 

Às vezes, sinto-me numa cena em que estamos todos à espera da machadada final, uma espécie de "Dance Music Sucks" (...)

Não gostar de David Guetta, é uma coisa; enxovalhá-lo e linchá-lo publicamente, utilizando o boato como modus operandi, é outra muito diferente. Os fins não justificam os meios. No final do dia, é toda a música de dança que perde, que fica cada vez mais dividida e, por isso mesmo, enfraquecida. Às vezes, sinto-me numa cena em que estamos todos à espera da machadada final, uma espécie de "Dance Music Sucks", num remake do conhecido episódio protagonizado por Steve Dahl que simbolizou o fim da era Disco.
 
Para além de ter tornado patente a crispação e a divisão que hoje existem entre duas diferentes correntes de música de dança, uma mais underground e outra mais mainstream, este episódio serve para nos relembrar de que é necessário sermos especialmente prudentes quando lemos online. Se nem tudo o que aparece em revistas e jornais é verdadeiro, imagine-se na Internet, que não passa pelo crivo jornalístico ou de gente preparada para rever o material publicado.
 
"Como disse o antigo primeiro-ministro britânico James Callaghan, 'uma mentira pode dar a volta ao mundo antes de a verdade conseguir calçar as botas'. Nunca tal foi tão verdade quanto com a acelerada, destravada e desgarrada cultura da blogosfera da atualidade"1.
 
1Andrew Keen, O Culto do Amadorismo
 
Alex Santos
Publicado em Alex Santos
domingo, 11 abril 2021 12:41

Música, Noite e Eventos

É um pouco ingrato falar sobre eventos quando há mais de um ano que estamos confinados. 
Isso não quer dizer, e antes pelo contrário, que não ousamos música, se calhar mais do que antes.
A música sempre foi pra mim a segunda coisa que mais consumo na vida depois do ar.
Se a felicidade é viver intensamente cada instante, na medida que eles acontecem, a música traz-nos felicidade, pois em cada batida estamos, nela, sintonizados.

Costumo dizer que, no convívio é que está o ganho.
A troca de energias no convívio entre nós é fundamental.
Os eventos, os eventos com música, a noite.
Coisas maravilhosas que a saudade me faz sentir uma lágrima.
A reunião.
Que falta faz!
 
Adiante.
Mais adiante virá.

Entretanto falemos do que temos. Do desejo, de vontade, do sonho.
Sonhar é viver. Viajar e viver.
A música leva-nos numa viagem traçada pelo ritmo e colorida pela melodia. Uma viagem no tempo, nos sonhos, nas memórias, no desejo, no amor...
...o amor, a partilha,... a Noite reúne tudo isto. 
A noite é a reunião.

Noite. Leva-me contigo a dançar, a falar, a imaginar, a ser, a parecer, a inventar, a elevar.
Transforma-me em sons eletrônicos de ritmos irresistíveis e olhares profundos de sensações novas. Faz-me rir, gritar, ver de olhos fechados.
Faz-me ter o que não tenho, aceitar o que não quero. Faz-me novo na tua luz ou cúmplice na escuridão.
Voa em mim, em sublime liberdade.
Veste-me de euforia, esconde-me a verdade.
Sê um sonho infinito. Sê a pura fealdade.
Traz-me a vida de outras margens, leva-me a morte no destino.

Música. Alimenta-me de alma, Liga-me às correntes. Abandona-me em ti.
Existes por dentro.
Pincela-me a existência com lufadas de energia, Dá-me o contexto da alegria.
Sigo-te cego, em sintonia, és o amor sem caligrafia.
Tudo isto no contexto de um grande evento, onde te encontre a ti, e todos os que não conheço.
Faz-me sentir o mundo, faz-me ser o alcance, desenha-me de humano, num aperto de comoção. Torna o meu instante no infinito, o agora no eterno.
Implanta a tua essência, pela música selada, numa memória sagrada.
Ilumina os meus passos com o valor da tua graça, dá-me a tua mão e uma chalaça.

Vem. Vem comigo para onde fores. Sempre.
 
Luís Magone
DJ
Publicado em Luís Magone
terça, 12 novembro 2019 22:06

Quanto vale o "TOP 100 DJs" da DJ Mag?

No passado dia 19 de Outubro foram revelados os resultados de mais um "DJ Mag Top 100 DJs" e mais uma vez, com polémica. Os irmãos Thivaios mais conhecidos por Dimitri Vegas & Like Mike ganharam pela segunda vez (a primeira tinha sido em 2015) e voltaram novamente as acusações de "marketing agressivo" e "caça ao voto" para o "Top 100" da revista inglesa. Já em 2015 foram acusados de que o seu management tinha contratado uma vasta equipa de promotoras para visitar vários eventos onde eles actuavam que, de iPad's na mão com a página aberta e já preenchida com o nome da dupla na votação do Top 100 da revista, pediam o voto a quem estava no evento. Essa equipa da promotoras chegou mesmo a andar por todo o festival Tomorrowland em 2015 (festival co-produzido pela ID&T, empresa que representa a dupla Belga), com os famosos iPad's a pedir o voto para a dupla e não permitindo votar em outros nomes quando alguém lhes dizia que Dimitri Vegas & Like Mike não eram os seus artistas favoritos e queriam votar noutros nomes.
 
Já em 2013 a dupla levantou alguma polémica quando teve uma subida fantástica no "Top 100" da revista Inglesa, passando do lugar 38 em 2012 para a sexta posição em 2013 quando em 2011 tinham entrado pela primeira vez para a posição 79. De 2011 a 2013 tiveram uma subida de 73 lugares no "Top 100" da DJ Mag e tudo devido, segundo algumas pessoas ligadas ao meio, a uma política muito agressiva de marketing direcionado (quase) exclusivamente a pedir o voto para a lista da revista inglesa.

É certo que o "Top 100" da DJ Mag sempre esteve envolto em algumas polémicas, mesmo quando a votação era feita através do envio dos cupões da revista por correio. Fui assinante da revista durante cerca de 20 anos e lembro-me de ler algumas críticas que diziam que já nessa altura a revista "aconselhava" os artistas a fazerem publicidade nas suas páginas como forma de atingir os potenciais votantes e de artistas como Paul Van Dyk, Ferry Corsten e Armin Van Buren (que lideraram a tabela durante vários anos) reconhecerem que gastavam entre 10.000 a 15.000 libras ao ano em publicidade na revista inglesa.

Com o aparecimento das redes sociais a relação dos artistas com o público alterou-se totalmente, passou a ser mais directa, mais pessoal, e as suas campanhas de marketing começaram a usar os "social media" para chegar mais facilmente ao seu público alvo, deixando de usar quase exclusivamente as páginas das revistas especializadas para o fazer. De qualquer forma, o "Top 100" da revista inglesa continua a ser a sua principal fonte de receitas, quer através da publicidade no formato físico, quer na sua página web e tornou-se numa das principais referências de quem contrata artistas para grandes eventos e festivais especialmente de EDM, nas suas varias vertentes, representando uma subida de cachet muito importante para quem colocar ao lado do seu nome a indicação "#1 DJ Mag Top 100 DJs", representando por isso muito dinheiro. Logicamente os artistas/managers apercebendo-se disso, começaram a usar todos os meios ao seu dispor para chegar ao mais alto possível da tabela, sabendo que isso lhes pode acrescentar um valor importante ao seu cachet.
 
O "Top 100" da revista inglesa continua a ser a sua principal fonte de receitas, quer através da publicidade no formato físico, quer na sua página web e tornou-se numa das principais referências de quem contrata artistas para grandes eventos e festivais.

Há no entanto algumas diferenças entre os artistas de topo sobre a maneira como encaram a sua posição neste "Top 100". Enquanto alguns (como Dimitri Vegas & Like Mike, entre outros) gastam verdadeiras fortunas em campanhas online a pedir o voto e em publicidade, há outros que referem que "nunca pediram, nem vão pedir o voto para este tipo de votações". Ainda recentemente Martin Garrix o disse numa entrevista, apesar de ter sido o número um, três anos consecutivamente, 2016, 2017 e 2018.


É um facto que muitos dos artistas da chamada electrónica "não comercial", mesmo aqueles que entram na lista, dizem não dar importância a este "Top 100 DJs" (muitos deles até o ridicularizam, especialmente nos últimos anos) mas o que é certo, é que a sua posição na tabela da revista inglesa influência muito alguns mercados na hora de decidir a contratação para alguns dos eventos/clubes mais importantes. 

A Ásia e o Brasil são dos locais que mais olham para o "Top 100" da DJ Mag, são dois mercados enormes e que representam muito dinheiro para os artistas. Por esse motivo, para muitos deles, especialmente os do circuito mais "mainstream", estar no "Top 100" ou não estar, pode alterar significativamente o valor que vão facturar ao longo do ano, e por isso apostam muito na publicidade nas redes sociais (e não só) para pedir o voto ao seu público para os ajudar a subir o mais alto possível sabendo que isso vai subir consideravelmente o cachet em muitos locais.

Uma das acusações que mais ouço e leio ao "Top 100" da DJ Mag é que deixou de ser um top de DJs para ser um concurso de popularidade, onde (quase) qualquer pessoa pode entrar desde que aposte numa campanha de marketing agressiva e junto dos mercados certos. Mas a realidade é mesmo essa, o "Top 100" da revista britânica há muito que não é um "Top 100 DJs" (apesar do nome) mas sim uma tabela de popularidade dos artistas! Esse é o erro de muita gente que ainda teima em ver este top como uma lista dos melhores DJs e produtores, quando na minha opinião há muito que não o é. Especialmente com o aparecimento do EDM, com todos os milhões (em facturação e em pessoas) que envolve anualmente, o "Top 100 DJs" é uma tabela dos artistas mais populares, com mais seguidores nas redes sociais e que participam nos eventos com mais repercussão mediática, que nestes últimos anos têm sido os eventos de música electrónica mais "mainstream".
 
Mas a realidade é mesmo essa, o "Top 100" da revista britânica há muito que não é um "Top 100 DJs" (apesar do nome) mas sim uma tabela de popularidade dos artistas!

Obviamente a popularidade dos artistas também vem do seu bom trabalho, dos seus bons sets nos grande eventos/clubes, do sucesso dos seus temas na rádio, nas listas de vendas, etc. Pelo menos deveriam ser esses os factores mais importantes, na minha opinião, para a popularidade do artista. Mas o certo é que se todo esse bom trabalho que o artista faz, nas várias vertentes, não for bem divulgado, à escala global, este não atinge a popularidade que necessita para um dia poder entrar numa lista como o "Top 100 DJs". Por isso, na minha opinião, há muitos anos que este "Top 100 DJs" é um concurso de popularidade e é assim que o devemos ver.  (Os meus parabéns ao Kura e ao meu amigo Diego Miranda pelas posições #40 e #55).


Talvez para calar um pouco as críticas que sempre aparecem quando são divulgados os 100 nomes do "Top 100 DJs" a revista inglesa criou em 2018 o "Alternative Top 100 DJs" com a colaboração da maior loja online, o Beatport. Esta lista é feita com base nas votações do "Top 100 DJs" normal juntamente com as vendas dos temas dos artistas no Beatport e para muitos é a "verdadeira" lista dos melhores DJs e produtores do momento. Para mim é sem duvida o "Top 100" que melhor reflecte quais os artistas mais destacados dentro da música electrónica nos seus vários estilos (com toda a subjectividade que uma lista deste género pode ter) uma vez que contam também os números de vendas dos seus temas e não só a votação dos fans. 

Por cá e felizmente com muito menos polémica está a decorrer até dia 20 de Novembro a votação para o "Top 30" da 100% DJ. Para apoiarem os vossos artistas favoritos basta escolherem 4 nomes e votar online em www.top30deejay.pt. Já faltam só 8 dias para terminarem as votações!
 

Carlos Manaça

DJ e Produtor

www.facebook.com/djcarlosmanaca

 

(Carlos Manaça escreve de acordo com a antiga ortografia)

Publicado em Carlos Manaça
sexta, 25 março 2016 21:44

O DJ Residente

Andando por aqui a explorar os temas que tenho em agenda para esta minha primeira crónica, decidi focar a importância do DJ residente num espaço noturno.
 
Na ideia e opinião de muita gente, o DJ residente não é mais do que um trabalhador habitual de um club que tem como função tocar ao início da noite, quando a casa se encontra ainda vazia e que ali está apenas a ‘encher chouriço’ como se diz na gíria popular, até que entre na cabine o convidado da noite, que esse sim é a estrela.
 
Nestes meus 16 anos de carreira como DJ, contei com 2 residências: uma de 2 anos e outra de 3 anos, sentindo-me como tal com capacidade de opinar livremente acerca daquilo que é um DJ residente e da suprema importância que ele tem para um club!
 
O DJ residente tem sido relegado para uma posição secundária na noite e cada vez mais se encontram espaços que não têm mesmo um residente. Parece que se esqueceu que o residente é o mais importante elo de ligação das normalmente 3 fases em que a noite se divide: Warm-up, Peak Hour e Closing.
 
O residente tem como principal missão preparar a noite para o convidado. Saber o que tocar e quando tocar. Levar o público ao encontro do convidado mas sem nunca chocar com a sonoridade que esse vai apresentar no seu set! Como residentes, temos de saber brilhar à nossa maneira.
 

(…) o residente é o mais importante elo de ligação das normalmente 3 fases em que a noite se divide: Warm-up, Peak Hour e Closing.

 
Aprendemos a conhecer as caras habituais do club e como tal, aprendemos a conhecer os seus gostos. Saber pôr o público a mexer deixa rapidamente de ser um problema e é com essa arma que muitas vezes salvamos a noite, ajudando também o convidado a familiarizar-se com o público que tem na sua frente. Tudo isto, sabendo sempre qual é o nosso lugar na noite e sem nunca querermos tomar a lead… lembrem-se: não são o ponto alto da noite.
 
É por isso que continuo a dizer que ser residente não é um trabalho fácil! Requer know-how, leitura de pista, trabalho de casa para com o convidado que vamos ter nessa noite, cultura musical acima da média, capacidade de gestão e acima de tudo saber conhecer as suas fronteiras. Muitos DJs falham isto e é por isso que vulgarmente vemos supostos residentes a fazer warm ups completamente desenquadrados daquilo que vai ser a noite, a reproduzirem musicas produzidas pelos convidados (parece um cliché, mas é uma situação que se repete frequentemente), a tocar ‘mais forte’ querendo mostrar ao convidado e às vezes ao público que também estão à altura do artista seguinte, mesmo ‘queimando’ completamente a noite… São pequenos detalhes mas muito importantes! Tão pequenos e tão importantes que até mesmo o nível de volume do som é para ter em conta. Sabemos o efeito que o som tem no nosso corpo… sentimo-lo como que se de uma batida de um coração se tratasse e é algo que marca o nosso ritmo ao longo da noite.    
 
Outra das situações recorrentes de muitos dos DJs residentes na atualidade é a de reproduzirem muita música antiga. Na tentativa de quererem fazer tão bem o seu trabalho de não querer ‘roubar’ o estrelato do convidado, acabam por pecar na sua playlist, reproduzindo muitas vezes a medo e recorrendo a temas mais antigos. Pessoalmente, considero isto um excesso! Há muita música nova e recente que não vai chocar com o trabalho do convidado. É certo que devemos guardar os chamados ‘hits’ para a Peak Hour, normalmente dominada pelo convidado, mas há muitos outros ‘hits’ de fácil uso no warm up. Mais uma vez , aqui encontramos os frutos do nosso trabalho de casa.
 
Assim sendo, se vos convidarem para ser residente, pensem primeiro se consideram ter os requisitos necessários para tal! Não é fácil! E não tomem esse trabalho apenas como uma oportunidade de atuar todas as noites sem terem de estar à procura de gigs, mas sim como uma escola, uma fonte de aprendizagem, que vos prepara para tudo. Até mesmo para os mais experientes, pois a arte de aprender é uma experiência contínua que devemos saber abraçar!
 
Pedro Carvalho
Publicado em Pedro Carvalho
sexta, 10 janeiro 2014 21:35

Qual é o teu estilo, DJ?

 
Falemos dos "estilos". Passam os tempos e cada vez se torna mais difícil defini-los, garanto-vos. Pelo menos definir o que é que este ou aquele DJ toca.
 
São raros, raríssimos os que se conseguiram manter fieis às suas ondas originais. Armin Van Buuren no trance, Carl Cox, Richie Hawtin, Adam Beyer, Marco Carola no tecno, Steve Aoki, Afrojack, Chuckie no electro mais acessível, e pronto, à excepção dos incontornáveis de que não falei (e ainda são alguns pelo mundo fora, "graça a Deus!")... por aí... o resto é tudo uma adaptação do que se ouve agora, do que se quer agora, do que faz mexer as pistas, do que as rádios e playlists online veiculam.
 
Acredito que uma das coisas que mais incomoda um DJ, hoje em dia, é por isso, a pergunta: "Então e qual é o teu estilo?" Irrita, porque todos nós temos, obviamente as nossas preferências. Podemos gostar de minimal, progressivo, tecno, puro house... mas obviamente, que se queremos trabalhar nos dias que correm, temos mesmo que nos adaptar e tentar, fazer a melhor "viagem" possível durante as duas ou três horas normais de um set, MISTURANDO, sim, misturando... estilos, sonoridades e fazendo até o que à partida os puristas te ensinam a não fazer... colar a "bota e a perdigota"... uma de house comercial, seguida de uma "electrozada" e a seguir um techouse bem metido.
 
É obra dura de fazer.  E aqui, a diferença de quem o sabe ou não fazer, tem a ver com o bom senso, o bom gosto, a coerência... dentro do que à partida seria incoerente.
 
É mais isso, do que  passar uma horas seguidinhas das batidas certinhas da onda com que nos identificamos. Porque aí, à partida, sabemos que não falhamos (tecnicamente é mais fácil, claro, porque não há o perigo de "picos" e porque estamos fechados e encantados com o que nos enche as medidas como artistas). Mas, a verdade é que... não falhamos para nós, mas para o pessoal que está lá na frente, a não ser que vá já completamente formatado a ouvir o "nosso som" (ui, e é tão bom quando isso acontece), eles querem é diversidade e que a tal viagem os surpreenda, encha as medida, que as músicas lhes sejam familiares na sua maioria. E até os tais "picos" que às vezes não seriam aquilo que para nós faria sentido... é o que se quer.  E a nós... ai ai… e a nós, DJs de casa cheia, resta a magia (que esperamos ser certeira) de conseguir fazê-lo sábia e energeticamente.
 
Falo por mim, que nunca fui adepta do comercial puro e duro e cada vez mais a ele tenho que recorrer. Porque assim as casas o exigem  (ou só tocaria em mini clubes e bares com cachets baixinhos e onde o público seria muito menor em número que nas discotecas e festas mais massificadas por este país fora) e porque mesmo os "grandes", os internacionais, que em tempos produziram sons que nos ficaram no coração e na memória cada vez mais se dedicam a criar tendências comerciais e que os outros seguem pelo mundo fora.
 
"E é assim que é"... o Amor à música eletrónica, como tudo na nossa sociedade, tem que ser readaptado. Pelo menos a forma de o transmitir. E aí volto de novo aos estilos. "Qual é o teu estilo, DJ?"... Acho que a resposta da maioria, se não é, deveria ser: "O que eu toco? Ou o que eu gosto?".
 

Qual é o teu estilo, DJ? Acho que a resposta da maioria, se não é, deveria ser: "O que eu toco? Ou o que eu gosto?"

 
Amigos... o estilo confunde-se com o local, com a carreira, com a imagem que têm de nós, com o party people que temos à frente, com a hora a que tocamos, com o tipo de evento. Eu, por exemplo, toco desde em eventos corporativos às 4 da tarde até ao pico da hora dos "chalalás" todos comerciais que é às 3 da manhã e até de vez em quando faço um ou outro after em que me estico com o tecno e electro menos acessível.
 
Além de tudo isto... é impressionante constatar as "modas" que tão rapidamente entram e saem de cena. Por exemplo, o ano passado o público mais novo, quase que inexplicavelmente (porque não fazia parte da sua cultura musical, foi sim uma moda passageira) exigia quase lado a lado com os temas comerciais do Avicii, Alesso e afins... o dubsetp para embalar uma noite bem bebida. Este ano que passou... foi o Afrobeat. Para todos. Brancos. Pretos. Na cidade. No interior. Mesmo que não tenham qualquer afinidade com a cultura africana... gostam de afrobeat e mais espantoso ainda... de Kizomba e Kuduro.
Pergunto-me o que virá este ano e que... fará esquecer o que ficou para trás e que já foi apagado no iPod, para ganhar mais espaço para músicas novas?...
 
Falemos de "estilos", comecei assim a minha crónica... Ou não. Falemos então da nova filosofia de DJ. Da forma de adaptação à pista. Da vontade que temos que fazer crescer em nós de continuar a pôr o público a dançar. Da arte que considero perfeito de oferecer "uma para nós" e "duas para o público" e da magia que já raramente acontece, mas que não é, obviamente impossível quando a comunhão entre eles e nós - os DJs - acontece e esta máxima passa a ser: "uma para nós", "uma para eles" ou até mesmo "todas para todos".
 
São noites dessas que ficam na nossa história pessoal e independentemente de ondas, estilos ou géneros são noites dessas que mantêm aceso o nosso amor por esta arte.
 
E... que este ano tenha umas quantas dessas. Desejo-o para mim e para vocês. E assim, nos cruzaremos, aí pelas estradas desse país, de clube em clube, com aquele sorriso de satisfação e realização de que tão bem conhecemos o puro feeling, e é cada vez mais raro.
 
Rita Mendes
Publicado em Rita Mendes
 
É desde o ano 2012, que as crónicas de opinião têm assumido um importante lugar de destaque no Portal 100% DJ, ou não fosse este, um espaço assinado por ilustres figuras do panorama noturno nacional.
 
Não querendo fugir à regra, nem tão pouco defraudar os nossos leitores, este ano voltamos em força no que diz respeito ao sublime painel de cronistas que prontamente aceitaram o nosso convite para as Crónicas deste ano. É um orgulho para nós, e ficamos mesmo com um sorriso de orelha a orelha.
 
A destacar na nossa grelha de 2014 temos o facto de continuarmos com a nossa "mulher-dos-sete-ofícios" - Rita Mendes. Este ano, coube-lhe abrir "as hostes", onde já nos brindou com a sua novíssima crónica, abordando o assunto dos estilos musicais dos DJs. "Qual é o teu estilo, DJ?". Outra renovação que também nos orgulha imenso, é a do Ricardo Silva, rosto da DWM-D World Management. Também o DJ e produtor português Massivedrum, volta a juntar-se este ano ao ilustre painel.
 
Destacamos ainda o regresso de Mariana Couto às lides da escrita de opinião na nossa plataforma e a fusão do DJ Rusty e da dupla FunkYou2 à Agência EUROPA, que, desta feita, disponibilizará a opinião dos seus DJs. Motivos mais que suficientes para acompanhares todos os meses, as crónicas de opinião do Portal 100% DJ, 365 dias ao ritmo da noite.
 
Publicado em 100% DJ
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