Diretor Ivo Moreira  \  Periodicidade Mensal
domingo, 02 novembro 2014 22:26

O fim do EDM

Um novo ciclo da música electrónica está a terminar. Nunca consegui perceber esta "história" do EDM e a confusão sobre o que é realmente. As letras EDM significam Electronic Dance Music mas ficou claramente conotado com o Progressive e Big Room. 
 
Este título que dei ao artigo de opinião (fim do EDM) não é algo que possa ser levado à letra. É óbvio que não vai acabar mas nota-se claramente que deixará de ter o impacto que tem tido nos últimos anos. O EDM passará a ser um estilo musical que muito poucos DJ’s e Produtores terão sucesso ao estar conotados com o mesmo. Os clubes e discotecas já deixaram de contratar como contratavam os DJ’s que tocam este estilo porque perceberam que o EDM é algo que "exige" uma produção, é necessário um "espírito de festival", não é dançável (que é o que se pretende num clube ou discoteca) e que, apesar de movimentar milhares de fãs, foi (está) a ser explorado até à exaustão. 

Os clubes e discotecas já deixaram de contratar como contratavam os DJ’s que tocam este estilo porque perceberam que o EDM é algo que "exige" uma produção (...)

 
Vou fundamentar as minhas palavras. Um clube/discoteca retira os seus dividendos da venda de bebidas (percentagem mais elevada) e um percentual mais baixo do valor das entradas. O público (leia-se clientes) está mal acostumado e já não aceitam o que era normal, até há meia dúzia de anos, onde eram feitas "triagens" na porta dos clubes e onde passámos a ter dezenas de promotores a vender pulseiras ou ingressos e a haver "guest lists". Grande parte dessas verbas que são pedidas "para entrar" já não são para o estabelecimento mas sim para as equipas de promotores e RP's, deixando apenas a venda de bebidas como retorno para a casa. Se o retorno vem da venda de bebidas, volta a ser necessário que o estilo de música permita que os clientes estejam o maior tempo possível dentro dos estabelecimentos, os DJ’s consigam "ler uma pista" e ter "altos e baixos" na sua actuação para enviar as pessoas ao bar, tenham um determinado tipo de cliente que queira dançar, ouvir música, tenha qualidade no atendimento e que não esteja "aos saltos", a levar com confetis no seu copo, levar encontrões ou com uns miúdos aos saltos e a pisarem tudo o que esteja em meio metro quadrado e onde vá realmente para um clube/discoteca e não para um festival ou casa de espectáculos. 
 
É justamente nos festivais onde o EDM não vai "morrer" e onde continuará a arrastar os fãs. No entanto, acho que consegui passar a mensagem do porquê do EDM e em especial os DJ’s que o tocam terem uma tendência para desaparecer. A quantidade de DJ’s que seguiu a tendência do EDM tornou a oferta bem maior que a procura e com esta mudança (óbvia e objectiva), - bem como a saturação e exploração excessiva deste estilo - vai trazer dissabores a muita desta nova escola de DJ’s que surgiu nos últimos anos. 
 
Outros sinais claros que vão sendo transmitidos pelo mercado são os que vêm da indústria discográfica e das rádios. Ainda há dias terminou o ADE e essa mensagem clara (que define a nível mundial) veio também da Holanda. As discográficas não querem continuar a apostar num estilo musical esgotado e as que apostam são as que não estão acessíveis ao comum dos DJ’s e onde os seus interesses são com os artistas que elas próprias agenciam ou adquiriram exclusivos. Casos como o Nicky Romero e até o próprio Hardwell são um exemplo e vamos ouvir produções sem aquela "agressividade" do EDM puro.
 
Temos em Portugal o único DJ/Produtor que vingou (e continuará a vingar) com este estilo musical - o Kura - porque foi quem se destacou da concorrência e conseguiu moldar a sua imagem e sonoridade, deixando claro que o seu objectivo era para o mercado Internacional. Editar pela Revealed, Protocol, Armada ou Ultra é mais do que suficiente para fundamentar as minhas palavras e para que se perceba que a única maneira de seres reconhecido num estilo musical destinado a massas e a festivais é se tiveres uma projeção internacional (o que traz reflexos no seu país, como é óbvio).
 
Deixo aqui uns parêntesis em relação ao Kura para que esta malta nova perceba uma coisa. O Kura não está aqui à meia dúzia de anos. Começou como todos os grandes DJ’s, a trabalhar à noite (ainda sem ser DJ), "engoliu muitos sapos", tocou por trocos, foi criticado, trabalhou anos a fio a acreditar e a fazer aquilo que pretendia e só ao fim de uma década é que atingiu o patamar em que está. Quem pensa que faz uma faixa e que vai ter alguém a trabalhar por ele ou que vai ter um "hit" e tornar-se uma estrela, lamento desiludir mas isso nunca vai acontecer. 
 
"Os sonhos não têm pernas mas tu tens, por isso corre atrás deles" mas não julgues que isso aparece de um ano para o outro. Num próximo artigo de opinião irei escrever sobre o trajecto e as dificuldades que os TOP DJ’s portugueses tiveram para chegar ao patamar onde estão. 
 

Sim... o EDM está a "morrer" (para alguns) mas a musica electrónica nunca esteve tão bem como está actualmente.

 
Não querendo fugir ao tema deste artigo e porque há muito para escrever sobre ele e estas linhas são poucas para isso, vou deixar a minha recomendação a todos os que entraram nesta industria à pouco tempo. 
 
Pesquisem o que está a ser vendido actualmente na indústria discográfica, oiçam o que as rádios estão a difundir e a apostar, pesquisem o que está a surgir lá fora e antecipem a vossa produção e os vossos registos o mais rápido possível. A Portugal chega tudo com algum "delay" e se conseguirem começar já a ser identificados com o "futuro", as vossas hipóteses de chegarem mais longe na vossa carreira aumenta. Caso o vosso objectivo seja seguir o estilo de música que gostam ou trabalhar para um "nicho" de mercado e esperar que o mesmo seja apetecível ao mercado, preparem-se para ter imenso trabalho e esperar vários anos e mesmo assim nada garante que venham a ser um DJ com sucesso. 
 
Vou terminar com um pensamento muito próprio. Ser DJ é uma arte, ser produtor é algo que até podes saber como fazer, mas podes não ter o "dom" para isso. Eu também sei jogar futebol mas quando cheguei à idade dos séniores, não consegui jogar profissionalmente e receber por isso (no entanto sabia jogar futebol). Ser DJ ou Produtor não é para todos. É uma profissão como outra qualquer com o acréscimo que tens de ter talento e tens de trabalhar imenso. Só o trabalho não chega, teres talento e não trabalhares também não te faz chegar a lado nenhum e na larga maioria das vezes, o trabalho árduo até vale mais que o talento natural que possas ter. 
 
Sim... o EDM está a "morrer" (para alguns) mas a musica electrónica nunca esteve tão bem como está actualmente. Resta saber qual é o novo caminho que esta indústria vai seguir e se vamos voltar a ter um novo ciclo com estilos já existentes.

 

Ricardo Silva
DWM Management
Publicado em Ricardo Silva
sexta, 08 novembro 2019 18:27

O Tio estava lá

Lembro-me perfeitamente da 1a vez que entrei no Kremlin, devia ter praí uns 15 anos ou seja foi há cerca de 30, e só lá entrei porque o meu Pai conhecia o responsável pela contabilidade do espaço, informação que quando chegou ao meu conhecimento me fez iniciar uma pressão gigante sobre o meu progenitor até conseguir que ele ligasse para o seu amigo de modo a meter-me lá dentro.

Eu já tinha ouvido falar do Kremlin, os relatos das suas noites estavam espalhados nas páginas de alguns jornais que me entravam em casa nessa altura, como o Independente e o Expresso, mais uma vez pelas mãos do meu Pai, portanto a minha curiosidade era muita. Não era a primeira vez que eu entrava numa discoteca, eu pertenço a uma geração nascida nos anos 70 que cresceu num ambiente onde era normal levar os filhos à "boite", lembro-me de ser bastante novo e dançar em discotecas, bares e festas particulares onde pais e filhos partilhavam a pista de dança, mas o Kremlin era um espaço diferente desses, sobretudo pela música que passava.

Foi ali que ouvi pela primeira vez House e Techno, estilos carinhosamente apelidado de "Música às bolinhas" mas que incendiavam a pista de dança de uma maneira que o Rock não fazia, com mais êxtase e sensualidade, mal sabia eu que ali nas Escadinhas da Praia estava a assistir ao início de uma revolução na noite em Portugal, pouco tempo depois abriu o Alcântara-Mar, onde eu também só entrava devido aos conhecimentos do meu Pai e aí então a coisa explodiu, os relatos das festas que ali se passavam espalhavam-se não só pela cidade e arredores mas por todo o país e de um momento para o outro, ali no inicio dos anos 90, uma geração de DJs e produtores de eventos tratou de implantar uma cultura que já há alguns anos se tinha implantado na Europa e Estados Unidos.

Nomes como Tó Pereira, Luís Leite, XL Garcia, Jiggy, Tó Ricciardi, Mário Roque, António Cunha, Beto Perino, Chumbinho, entre tantos outros foram a vanguarda que levou os novos sons e conceitos de festa aos 4 cantos do país fosse em discotecas ou raves, fosse em armazéns ou em Castelos, a primeira vaga da música de dança em Portugal foi gigantesca e quem a viveu guarda-a na memória como algo excitante, mágico e de certa forma irrepetível. 

Hoje em dia a cultura da música de dança é muitas vezes o Mainstream, e nada de mal há nisso, cada vez mais são os artistas de música de dança que têm o maior destaque em festivais, festas e até arraiais. A paisagem sonora mudou muito e eu fui um dos privilegiados que assistiram à génese dessa mudança, graças ao meu Pai que muitas portas ao longo da vida abriu para mim. Hoje em dia, e por um acaso do destino, sou eu por vezes a atração em alguns destes espaços onde se dança em Portugal, também isso agradeço ao meu Pai que, tal como eu, adorava dançar e esse gene que me passou é sem dúvida uma das coisas mais importantes para o meu bem-estar nos dias que correm. Obrigado Pai, onde quer que estejas, o Sal Grosso que vou espalhando também é teu.
 
Jel
Publicado em Jel
quarta, 05 junho 2019 21:55

Miss Sheila - 20 Anos de Música

Para a minha primeira crónica de 2019, o tema selecionado é imprescindivelmente o meu 20.º aniversário de carreira e o meu percurso no mundo da música, desde o dia "zero", até aos dias de hoje.

20 anos, parece que foi ontem, no entanto muito tempo se passou desde o dia em que fiz a minha primeira atuação profissional ao vivo. "20", não é o número exacto e correspondente à minha ligação com a musica electrónica, mais concretamente com o "House e Techno". Comecei bem antes de 1999, a experiência das primeiras "raves", o meu cargo na Bimotor DJ com as encomendas internacionais de vinyl para Portugal, os eventos no Rocks, a Kaos Records, a Supersonic... tudo isto e muito mais faz parte da minha introdução ao "mundo" que hoje chamo "meu", e um importante pilar naquilo que hoje sou.

Resumir a minha carreira não é de todo tarefa fácil. 
Sempre tive uma imensa paixão pela música. Nasci em Sasolburg (Africa de Sul), depois vivi em Nova York, até que conheci o maravilhoso país que é Portugal, onde passei a residir.

Iniciei bem cedo a minha experiência com a música no geral, já nos Estados Unidos, com as aulas de piano, flauta e bateria. Sempre senti que eu e a musica éramos mais que meros "conhecidos", havia algo que me fazia sentir bem e em harmonia, sempre que ouvia um tema com que me identificasse. Naturalmente, senti a necessidade de partilhar esses sentimentos. Daí surgiram as primeiras experiências com a arte do "DJing", isto já em Portugal, no bar do qual era proprietária em conjunto com o meu irmão. Malibu Bar, era na Praia De Esmoriz e foi onde tive a oportunidade de dar início e desenvolver a minha paixão pela electrónica. Na altura, Esmoriz era prova-velmente uma das cidades onde residiam mais DJs. A forma como falávamos acerca dos temas mais recentes, do panorama no geral, contribuiu bastante para aquilo que sou hoje e para todo o "background" que ganhei.

Considero que tenho uma carreira solida e sinto-me imensamente grata por isso. Contudo, o processo de gestão de uma carreira para que tudo prevaleça de forma relevante e consistente não é de todo fácil, tema que já abordei de uma forma mais concreta na minha Crónica de Opinião: "A Máquina atrás do artista".

Fazendo uma retrospectiva, passei por varias gerações. Inicialmente onde apenas existia o "vinyl",  aquelas malas pesadas e os "White Labe" exclusivos, posteriormente o início da "Era Digital", onde surgiram os primeiros "CDjs", mais atualmente os DJ Softwares. Todo este processo de evolução no que diz respeito às ferramentas para actuação fez-me ganhar bastante experiência, que se reflete nos dias de hoje, sempre que saio para trabalhar.
 
A música também mudou bastante, felizmente a música boa nunca vai acabar, isto é algo certo, mas é normal que existam mudanças, devido às influências (culturais, sociais, políticas) ou mesmo ao material de estúdio, que em paralelo ao de performance ao vivo, também foi alvo de um grande "upgrade" ao longos dos tempos.

A música também mudou bastante, felizmente a música boa nunca vai acabar, isto é algo certo, mas é normal que existam mudanças, devido às influências (culturais, sociais, políticas) ou mesmo ao material de estúdio, que em paralelo ao de performance ao vivo, também foi alvo de um grande "upgrade" ao longos dos tempos.


Resumidamente, o facto de no início não ser tudo tão simplificado, fez com que eu e os artistas da minha geração tivéssemos que nos esforçar um pouco mais para que o produto final fosse o mais perfeito possível.

A nível do trabalho de estúdio e produção, como já referi inicialmente, também houve um grande desenvolvimento, seja a nível do Hardware, Software ou mesmo a forma como a informação é partilhada.

Editei o meu primeiro disco em 2001, pela conceituada "Tango" em parceira com o Joeski. Desde aí fui desenvolvendo as técnicas de forma intensa e editando originais e remisturas um pouco pelos quatro cantos do mundo, Digital Waves, Kaos, Magna (Portugal), Fresh Form, Datagroove (Espanha), Moderate (Itália), Fatal (Holanda), Na-nowave (Japão), Tango (EUA), Hypno (Reino Unido) e mais recentemente pela conceitua-da e restrita Natura Viva onde apenas figuram os melhores do mundo. 

De salientar também que em 2014 realizei um dos meus sonhos, abrir uma editora. A minha Digital Waves está também de parabéns em 2019 com os seus já 5 anos de existência. Estou a preparar desde Janeiro alguns temas, que vão sair até ao final do ano juntamente com tudo o que está projectado entre mim e a minha agência para esta temática.

Para finalizar, durante todo este percurso tive o prazer de conhecer pessoas fantásticas e conhecer outros países e culturas, como foi mais concretamente o caso de Nova Iorque, Ibiza, Geneva, Luanda, Cidade do Sal, Luxemburgo, Rotterdam, Bruxelas, Funchal, Lyon, Hartford, Sevilha, Vigo, Neuchatêl, Friburgo, Amsterdão, entre muitas ou-tras fantásticas cidades do mundo, como Portugal, obviamente! 

Assim sendo e de forma a celebrar este marco na minha carreira, do qual não podia estar mais grata por cada minuto, decidi retribuir todo o apoio e carinho que recebi ao longo dos anos, com a temática "20 Years of Music", que irá originar dois grandes eventos no final do ano. Um a Norte e outro a Sul. Mais novidades estão planeadas para sair, por isso fiquem atentos, este ano festejamos juntos.
 
Publicado em Miss Sheila
segunda, 02 abril 2012 21:33

Conversas à beira bar

 
DJs...
Nos dias que correm, surgem cada vez mais DJs (wannabes) ou projetos envolvendo os mesmos. A polémica estalou! As casas agradecem os cachets mais baixos e a capacidade de movimentar gente, característica típica de RPs. Mas no meio de tanta polémica acabamos por atirar pedras, quando de facto mesmo nós temos telhados de vidro...

Um dia ao olhar à volta cheguei a uma conclusão: no nosso dia-a-dia protagonizamos algo que segue a mesma linha lógica sobre a qual muitos de nós se queixam.

As casas procuram DJs mais baratos que arrastem gente para os ouvir, fazendo um paralelo com outra realidade. Neste mundo existe tanta gente que tem um amigo habilidoso que consegue arranjar o nosso computador, TV ou máquina de lavar roupa, aí poupamos uns trocos por não precisarmos de recorrer a pessoas ou empresas especializadas que nos sairiam mais caras.
Então essas mãos e mentes habilidosas, embora não sejam formadas ou treinadas para a área especifica, acabam por “desenrascar” de uma forma que nos serve perfeitamente e nos favorece economicamente, retirando trabalho a quem estudou, treinou ou se especializou em determinada arte, ciência, etc.
 
A luta dos DJs já remonta a tempos míticos em que se criticava quem não tinha um mix perfeito ou não tocava uma determinada linha musical da eleição da maioria dos artistas mais conceituados. Agora para além da técnica ser quase nula por parte destes, ainda existe a problemática da qualidade musical que é em grande parte a única possível... numa conversão medíocre de um vídeo online para formato áudio (o que é ainda mais reprovável)!
 
Mas no meio de tantas polémicas esquecemo-nos que ser DJ não é apenas o “mix perfeito”, é sim a espiritualidade e a forma de estar com a música e o público numa sintonia repleta de boas vibrações e, de facto, o que falta em profissionalismo ou habilidade a todos os "wannabes" é compensado com essa boa vibe que eles levam para as cabines e pistas!

Prego atrás de prego (usando a gíria DJística) eles constroem uma noite bem regada de sorrisos, dança e amizade ainda que a técnica e qualidade sonora estejam ausentes... se bem que a base da história do DJing era apenas passar música sem ter necessariamente que existir o "mix". Se formos ao "fusilis" da questão, este novos iniciados também podem ser considerados DJs porque passam música (mesmo que pareça uma noite de feira popular ou um bom bailarico da terrinha)!

Já cansa tanta queixa. Vivemos num mundo livre e cada um tem o direito de experimentar, viver, vibrar e a música e o público potenciam toda uma panóplia de emoções. Chega de tanto drama, "diz que disse" e mau estar entre os demais.
Todos sabemos que no final prevalece sempre a qualidade e a alma que poucos podem oferecer. Em todo esse mundo se procura o barato de biscates mas no final quando queremos qualidade garantida, acabamos por recorrer a quem “sabe o que faz” e está certificado para isso, porque o mais barato por vezes sai caro...
Fica esta no ar para os mais atentos: “Deixa-os andar” como diria o mais típico dos portugueses!
 
Francisco Praia
www.facebook.com/funkyou2djs
Publicado em Francisco Praia
quarta, 15 maio 2019 21:12

O melhor ainda está para vir

Quando recebi o convite da 100% DJ para escrever uma crónica de opinião, acabei por ser obrigado a fazer uma reflexão sobre todos os que estiveram, a determinada altura, presentes no meu percurso, ampliando o que fazia e por onde andava. Tenho pretensões de ser uma série de coisas, mas nenhuma delas passa por escrever. Deixo isso para a minha irmã Patrícia e para o meu pai, os profissionais do sector, mas sempre gostei de desafios e portanto vou dar o meu melhor, como é habitual, naquilo que me proponho fazer.

Com 40 anos feitos e tendo começado a trabalhar à noite aos 16 - como "apanha-copos" - no bar Amas do Cardeal, em Évora, pro bonno e por carolice, para aquele que veio a ser meu sócio e, ainda hoje, um dos meus melhores amigos, João Pedro Queiroga, terei uma quase obrigação de dar a minha visão da movida em Portugal.

Ao longo dos anos, do país e dos meus, assistimos a uma mudança de paradigma: É que diversão, é diversão e para satisfazer novos hábitos houve que conceber novos produtos. Daí, hoje existir uma ampla oferta, com muita qualidade, que passou para outros horários: matinés, sunsets, after work e por aí vamos... Hoje, estes produtos, são os meus preferidos. Gosto muito de ouvir grandes DJs e poder estar na cama à meia noite.  A idade é outra. Agora que penso nisso, é curioso: Em Évora, nos meus 14 ou 15 anos, os míticos 90’s, havia matinés ali à Rua Serpa Pinto. O álcool era-nos vedado e mesmo assim divertíamo-nos tanto!

A vida é feita de ciclos e voltei a ser um cliente de "matinés". Fuse e Bloop são aqueles que acompanho mais regularmente por fazerem um trabalho incrível e tropeço amiúde num esforço em fazer melhor, dar sempre alguma coisa de novo ao cliente, e, a cereja no topo do bolo, tudo feito com muita seriedade e profissionalismo. A qualidade dos artistas é do melhor que o panorama, neste caso de música electrónica, tem para oferecer. 

Hoje vivo em Lisboa e portanto é a realidade que tenho mais presente e por onde me movo mais vezes. No que diz respeito ao turno da noite, o tradicional, vejo uma grande melhoria nos últimos três anos. Acho que se assimilou que fazer ofertas iguais e tentar trabalhar sempre na zona de conforto ou naquilo que podia ser mais óbvio, já não chega para um público cada vez mais diversificado e exigente.
 
Fuse e Bloop são aqueles que acompanho mais regularmente por fazerem um trabalho incrível e tropeço amiúde num esforço em fazer melhor, dar sempre alguma coisa de novo ao cliente, e, a cereja no topo do bolo, tudo feito com muita seriedade e profissionalismo.

Actualmente temos bons clubes em todas as vertentes da música. O Kamala tem feito um trabalho incrível nas suas casas, o João Magalhães, este ano, conseguiu dar uma nova vida ao Mome. Lust e Urban atingiram as grandes massas e o Lux, como a grande referência no panorama alternativo em Portugal e lá fora, continua a dar cartas na nossa madrugada. Já não saio muito, mas quando o faço, tenho imenso por onde escolher e sempre bom.


Pensamos em casas ou empresários, mas não podemos deixar de falar de outros que são tão ou mais importantes para nivelar a oferta por cima. Hoje temos barmans e barmaids profissionais que fazem tudo com uma recém inaugurada qualidade. Este que vos escreve, foi, ele próprio, barman no Inox Clube em Évora e tudo o que fosse mais do que vodka com gelo e sumo de qualquer coisa, já não dava! Éramos todos assim! 

E na música, são tantos os DJs e tão bons, que acabam por contrariar aquela história de que qualquer um é DJ e blá-blá-blá. Essa mesma premissa, acabou por aumentar a vontade de tantos tentarem, é certo, mas uma grande parte deles apostou mais e melhor na profissão e permitiu usufruirmos todos de gente de grande valor em vários géneros de som. Saímos todos a ganhar! Destaco o curador do (meu) The Garden, o Moullinex e o meu grande amigo Audio Deep: O primeiro, um génio da música e o segundo, um dos melhores de Portugal, que está a começar a chegar aos sítios certos, para nosso gáudio.

Nem tudo são rosas e, para quem não está em Lisboa ou Porto, as coisas são realmente mais complicadas. Embora constate que, cada vez mais, estas produtoras, se atrevem a partir para o interior, descobrindo a grande qualidade de profissionais que lá se encontram. Se existe bom público, tem que existir bons profissionais, parece óbvio. O consumidor dá pouco por isso, mas é imperativo falar da importância das marcas dos produtos que se vendem habitualmente nestes espaços: Quando abri o primeiro bar, tinha cerca de 20 anos, o Pátio da Lua. Vendia, e tal como todos os outros empresários, não fazia a mínima ideia sobre quem estava por de trás das marcas de bebidas e dos seus distribuidores. Nós comprávamos, mais ou menos ao preço que nos queriam vender, aquilo que acreditávamos que o público consumiria. Mais à frente, no Praxis, a coisa foi piando de outra forma. Com a acrescida maturidade, tínhamos sempre alguém a trabalhar de perto connosco nas compras, a ajudar no que podia, para que os negócios fossem realmente vantajosos nos dois sentidos. Pensando nisto, só me vem à cabeça, com saudade, o grande Artur.
 
Hoje com Pernond Ricard, por exemplo, com quem trabalhamos, chego a vê-los como consultores... o Rúben, homem da marca, falou comigo sobre o The Garden, mais do que qualquer outra pessoa, antes e depois de abrir! E faz sentido: conhecem melhor o mercado que qualquer um dos proprietários e podem ajudar a criar um conceito único e não a tal cópia que ninguém quer. Afinal, são eles que, realmente, sabem o que todos os seus outros clientes vendem.
 
A boa nova é que já não há desculpas e aquilo que foi uma alavanca para o sucesso com utilizadores restritos e já poderosos, tornou-se acessível a todos, através do Marketing Digital.
A forma de nos comunicarmos também mudou e, por estes dias, todos o fazemos facilmente através de plataformas digitais. Qualquer um de nós consegue fazer campanhas produtivas, com sucesso e baixo custo e acima de tudo sustentáveis. Há vinte anos era impossível! Na Era pré redes, pré internet popularizada, não ganhávamos para publicidade eficiente. Ter um outdoor como o que tive em Évora era caríssimo! Colar mupies pela cidade, uma despesa faraónica, e aos jornais e revistas, mormente, nem acreditávamos chegar, tal era a despesa. O mercado da publicidade não estava feito (como ainda não está), nos meios tradicionais, para que empresas pequenas apostem na sua divulgação. A boa nova é que já não há desculpas e aquilo que foi uma alavanca para o sucesso com utilizadores restritos e já poderosos, tornou-se acessível a todos, através do Marketing Digital. Bons profissionais na área não faltam - a começar pela minha mulher!

Sim, nós cá por casa tendemos a agregar recursos para ficarmos mais fortes. Ou isso ou, pessoas com visão e futuro, agradam-se, naturalmente, umas às outras.

Voltando ao tema...

Atente-se, por outro lado, nos festivais. Temos muitos e tão bem produzidos, em diferentes regiões, do interior ao litoral, passando pelas ilhas, que passaram a ser bilhete postal para vender o Verão aos estrangeiros. Marcas internacionais em Portugal como o é o caso do BPM no Algarve ou do Rock in Rio em Lisboa ou nacionais - Nos Alive ou Super Bock e um rol de outros com tanta, mas tanta qualidade. Estamos a atravessar uma grande fase e creio que o melhor ainda está por vir! O mais fantástico é que, atrás desta transformação e desta maturidade, que inevitavelmente desaguarão num ainda maior sucesso, estão pessoas a aprender e a crescer, cheias de garra e com uma visão pluralista e abrangente do mundo, por isso não podemos estar mais confiantes no que virá.

Atualmente, ainda que como cliente, na maioria dos casos, tenho orgulho por pertencer a este sector e de tudo o que se tem inovado é realizado!

Beijos e abraços para todos e não se esqueçam: May the party be in you!
 
Francisco Rafael
Empreendedor
Publicado em Francisco Rafael
quinta, 18 fevereiro 2016 20:07

O talento das redes sociais

Para os fãs de música, as redes sociais são salas imensas cheias de musicalidade nos diversos estilos, onde se compram bilhetes para os festivais de verão e se descobre qual o DJ que vai estar no clube onde costumam frequentar. Para os artistas, pode significar a exposição necessária para a sua carreira.
 
Antes do boom da internet ser o que é hoje, os artistas encontravam as músicas novas nas lojas de venda ao público onde, espantem-se, era necessário pegar num vinil ou cd e realmente ouvir. Não havia Beatport, iTunes, Traxsource ou Soundcloud. Não havia forma de publicitar os gigs da mesma maneira que há hoje e para se estar a par das novidades, era necessário sair à noite e ouvir outros DJs.
 
Posto isto, Não sou hipócrita. Hoje em dia, em todas as áreas e todas as profissões, o “Social Networking” é uma ferramenta que não se deve negligenciar, de forma alguma. 
 
No entanto, por vezes dou por mim a pensar: “Quando é que o talento na gestão das redes sociais se sobrepôs ao talento musical?”.
 
Parece-me que grande parte dos novos DJs são mestres em design, percebem imenso de logos e de photoshop, inclusive até conseguem colocar mais pessoas no clube X do que aquelas que realmente lá estiveram. Tiram umas fotos do suposto estúdio com legendas “quase pronta a nova música”, mas que nunca sai... porque simplesmente estar dias a fio em frente a um computador a fazer música não é tarefa tão simples quanto parece ser. E a má notícia é: tu só vais tocar a um clube de topo ou um festival estilo Tomorrowland quando tens músicas tuas.
 
Não importa se tens 100.000 fãs no Facebook se o teu “engagement” e “edge rank” são nulos. Não é isso que faz de ti melhor artista nem faz com que vás tocar ao clube A ou B.
 

Não importa se tens 100.000 fãs no Facebook se o teu “engagement” e “edge rank” são nulos. Não é isso que faz de ti melhor artista nem faz com que vás tocar ao clube A ou B.

 
Os produtores de grandes eventos, festivais ou clubes, procuram sempre artistas que as pessoas se possam relacionar através da música, seja ela Big Room, Techno, HipHop, Kizomba, whatever. Se enquanto artista não tens a criatividade para seres um DJ diferente dos outros, através de scratch, uso de máquinas ao vivo - maschine, por exemplo, ou a capacidade de ser produtor de música, a verdade é que nunca vais passar de um DJ de warmups a tocar músicas de outros artistas.
 
O marketing é importante mas até certo ponto... Não importa se tens 100.000 fãs no Facebook se o teu “engage” e “edge rank” é nulo. Não é isso que faz de ti melhor artista nem faz com que vás tocar ao clube A ou B. 
 
No final, o que interessa saber é se tens a capacidade de te distanciar dos outros como DJ/Produtor e sejas realmente reconhecido junto do público: a qualidade vai sempre sobrepor-se à quantidade. 
 
 
Dan Maarten
Publicado em Daniel Poças
terça, 05 setembro 2017 17:49

Eu ainda acredito

Acabou o verão (leia-se Julho e Agosto) e regressamos a outra realidade para os DJs Portugueses. Voltam a olhar para os clubes/discotecas como a sua fonte principal de rendimento, depois de dois meses em que puderam pisar palcos por todo o país.
 
Estamos claramente na mudança para um novo ciclo da música electrónica onde apenas alguns conseguirão manter-se no mercado. Durante vários anos vimos o aparecimento de “fornadas” de novos DJs (peço desculpa pelo uso da palavra) e rapidamente perceberam que ser DJ não é tocar uma playlist de um PC e de um controlador ou produzir música com uns samples “sacados” da net e fazer umas coisas num programa pirata. 
O mercado está a mudar novamente e "o DJ" perdeu imenso do espaço que tinha conquistado nos últimos cinco anos. 
Os palcos perderam a necessidade de fazer um cartaz repleto de DJs que nada de novo trouxeram ao mercado nos últimos três anos. Um formato "gasto", baseado no "show off" e utilização excessiva de "efeitos especiais" que deviam servir de "complemento" e tornaram-se na própria actuação, relegando para segundo plano o principal - a música. 
 
Quem conseguiu perceber "o caminho certo" foi quem conseguiu manter e afirmar-se. Os Turntablists, DJs de Hip Hop e principalmente os DJs com sonoridades mais "clubbing" (House, Techouse, etc.) conquistaram o seu espaço por mérito próprio e temos assistido a um crescimento de festivais e eventos com essas sonoridades por todo o país e com uma autêntica legião de seguidores.
 

Durante vários anos assistimos à degradação da profissão de DJ por culpa própria.

 
Ninguém consegue prever o futuro mas tudo indica que vamos ter um novo ciclo onde a "música de fusão" pode ser a única alternativa para todos aqueles DJs que quiseram afirmar-se com estilos que "só servem" para festivais e com uma produção gigantesca em torno da actuação. Querer actuar em clubes/discotecas regularmente e massacrar os clientes com Big Room e Electro deixou de fazer sentido (excepto se o evento ou temática for adequada).
 
Durante vários anos assistimos à degradação da profissão de DJ por culpa própria. Qualquer um era DJ. O dono da casa, a malta que saiu dos Reality Shows, as figuras públicas que não tinham trabalho, o desempregado que achou que era fácil, o "modelo" que ficou velho e ficou sem trabalho, o "puto" da escola preparatória que queria ser o David Guetta ou as "raparigas ou rapazes" que queriam ser "famosos" e que para eles a música não era o importante.
 
Dizer a alguém "sou DJ", deixou de ser algo que era dito com orgulho. Deixou de ser aquela pessoa que tinha cultura, conhecimento musical, a pessoa que tinha capacidade para "mexer contigo" durante 5 ou 6 horas para passar a ser um indivíduo que mete uma playlist durante 1h00, dispara uns confetis e CO2 e vai para casa com o ego em alta a pensar que é o melhor artista do mundo.
 
Perdeu-se o principal... A MÚSICA.
 
O DJ deixou de o ser para passar a ser um mero "entertainer". Alguém que "não precisa" de ter "skills", alguém que não "arrisca" e testa novas músicas e sonoridades. O DJ é alguém que é uma cópia de outro DJ que tem mais sucesso que ele. O DJ deixou de ser um "educador musical" para ser uma "jukebox" em que ele lá estar a ser pago pelo serviço que presta ou uma caixa onde inserimos moedas e escolhemos o que queremos ouvir é a mesma coisa.
 
Eu ainda acredito que há esperança para a profissão tão nobre que é ser DJ. 
Acredito que vai piorar antes de melhorar mas que os DJs voltarão às cabines e deixarão os palcos onde tocam playlists. Acredito que o verdadeiro DJ ainda existe e está apenas "adormecido" e a aguardar que esta fantochada termine. 
Eu ainda acredito nos verdadeiros DJs.

Ricardo Silva
DWM Management
Publicado em Ricardo Silva
sexta, 05 abril 2013 14:50

Mudam-se os tempos, muda-se o respeito

 
Passo bastante tempo em estúdio e esse facto permite-me estar também atento ao que se passa nas redes sociais e internet. Ora algo que me tem vindo a intrigar nos últimos tempos, é a tremenda falta de respeito e facilidade com que os mais novos (talentosos ou não) artistas, tratam os mais velhos (maior parte com "cartas mais que dadas").

Eu compreendo o entusiasmo de alguns jovens, que conseguindo "imitar" a sonoridade de alguns artistas internacionais, são colocados em pedestais por amigos "facebookianos", que sendo igualmente joviais, não medem a "crítica exageradamente positiva".
 
Todos sabemos que colocar um preview musical no facebook leva a que 90% dos comentários sejam positivos, por razões óbvias. Ora essa situação não demonstra a realidade do talento artístico. Pelo menos no caso dos jovens. Mas acontece que estes jovens "artistas" ficam deslumbrados e pensam que podem argumentar, criticar e achar que apenas o que fazem está correcto e é bom.

Esta é uma situação grave. O respeito é um dos alicerces da inteligência e bem-estar entre "nós", seres pensantes.


Presenciei, recentemente uma bárbara situação em que um importantíssimo produtor foi "gozado", criticado e "escovado", até ao limite. Por quem?! Pois, aí é que está! Por quem ainda não mostrou/provou nada. Por quem ainda não tem sequer argumentos de "venda" artística e acima de tudo, e mais grave, por quem, ao pé de quem criticou é muito pequenino.

Esta é uma situação grave. O respeito é um dos alicerces da inteligência e bem-estar entre "nós", seres pensantes. Opiniões são opiniões, e todos somos livres de as ter, de as dar. Mas a crítica, a crítica é algo diferente e quando é dada com malícia, torna-se falta de respeito.

Gozar um artista que até já pouco tem a almejar, vindo de quem tem ainda tudo a almejar, é sinceramente e desculpem a expressão, mentecapto!

Estes "jovens" esquecem-se que editar uma música nos dias de hoje, não tem sequer um terço do valor que era editar há dez anos atrás. Porquê? Porque hoje em dia não tem custos, porque hoje é facílimo chegar às editoras, porque hoje, se "te enganares" num release, dois dias depois podes lançar uma nova. Porque hoje o risco para as editoras é quase nulo. E porque hoje, hoje até o youtube te ensina a "criar um hit"!
Com isto não significa que o talento tenha deixado de existir, porque existe e bastante, mas esse, esse não precisa de anos para "dar o salto" e afirmar.

Tentar subir uns degraus, difamando o mais velho é feio e no facebook, todos vêem!

Penso que colocar os pés bem assentes no chão e olhar o futuro com entusiasmo e "ganas" é o melhor caminho para os jovens, mas sempre a respeitar o próximo e o mais velho, pois esse, foi o que abriu portas para o "sonho"!
 
 
Publicado em Massivedrum
quarta, 29 agosto 2018 14:32

DJ e artista, dois mundos diferentes

Com o aumento de DJs a atingir valores de saturação na nossa indústria, cada vez mais se discute a diferença entre o DJ e o produtor. Sendo este um tema cada vez mais sensível por motivos óbvios, acaba também por ser cada vez mais natural a sua discussão. Se há muitos anos atrás o DJ era visto apenas como um seleccionador de música com capacidades inatas para mexer com uma pista e despertar diferentes tipos de sensações no seu público, com a mudança das necessidades do mercado passou a ser insuficiente idealizar uma carreira ascendente sem ter a vertente de produção associada ao seu trabalho. Claro que continuarão a haver grandes profissionais dentro do circuito que continuam a trabalhar e a ser requisitados com bastante frequência no nosso país, mas será suficiente para a longo prazo continuarem activos no mercado e a terem o reconhecimento que muito certamente mereceriam? 

Na minha opinião infelizmente terei que dizer que não. Cada vez mais o grande público quer associar o artista à música, anseia por poder dançar ao vivo ao som do nome que fez a música que houve no carro, em casa ou na rádio. É claro que poderemos sempre discutir a qualidade do produtor enquanto DJ, como poderemos também fazer o inverso, mas no final irá prevalecer sempre a opinião e a necessidade do público, afinal de contas aquele que de uma forma muito cruel, mas ao mesmo tempo inquestionável leva os clubs e promotores a contratar os artistas. Artistas, essa palavra que de uma forma impensável hoje em dia se confunde por completo com o DJ. 

Antigamente remetido ao cantinho mais recôndito da discoteca, não altura tão discreto como por exemplo o bartender saltou para a frente, com o seu templo/cabine a ser o centro do espaço e de todas as atenções. A imortalização do artista vem do seu legado, do que deixa para a posteridade e das sensações que deixa nas pessoas que ouvem a sua música, que de alguma forma as vai marcar devido às mais variadas situações da sua vida e que o simples DJ nunca vai conseguir almejar. Chama-se a isso mesmo a marca da criação, uma criação superlativa e que em momento algum poderá ser reduzida ou minimizada por uma qualquer data menos conseguida ou casa menos preenchida. 
 
(...) a indústria da música é tudo menos justa, tudo menos lógica e muito menos sentimentalista, sendo que a realidade dos factos é que hoje em dia uma música pode levar um artista do absoluto anonimato para o topo do mundo (...)

Que isto certamente soará extremamente injusto, sem dúvida que sim, mas a indústria da música é tudo menos justa, tudo menos lógica e muito menos sentimentalista, sendo que a realidade dos factos é que hoje em dia uma música pode levar um artista do absoluto anonimato para o topo do mundo, sendo também claro que quem está sujeito a uma mudança destas não poderá nunca competir com um DJ com experiência, competente e altamente habituado a lidar com a pressão da pista, algo nada fácil e apenas ao alcance de muito poucos, mas mais uma vez o artista acaba por encontrar na sua criação musical o escudo e poder para se poder proteger das mais variadas forças negativas que continuamente estão contra esta profissão. 

Hoje em dia, mais do que nunca penso que o mais importante para a estabilização de uma carreira acaba por ser a qualidade, não a quantidade, e se muitas vezes somos queridos pelos nossos fãs, clubs ou promotores, isso se deverá à capacidade de nos mantermos musicalmente e ideologicamente fiéis a tudo em que acreditamos genuinamente, em alturas mais ou menos difíceis da nossa profissão, que existem tal como em todas as outras, mas a força com que as ultrapassamos diz muito do nosso carácter como seres humanos, homens (mulheres) ou artistas, afinal de contas o tal carisma que acaba por ser fundamental para todos os que estão em cima de uma cabine e em frente a umas boas centenas de pessoas para as fazer felizes e tirar deste mundo durante algumas horas.

DJ e produtor são obviamente dois mundos completamente diferentes, sempre com a certeza que cada um de nós, sejamos DJs e produtores ou apenas DJs temos a bênção de poder tocar a vida das pessoas, nem que seja à nossa maneira, algo de que nem todos se podem gabar de conseguir fazer, sendo isso ao mesmo tempo uma responsabilidade enorme, apenas para as costas de alguns, quer seja a fazer música, a seleccioná-la numa pista ou ambas. Teremos sempre magníficos DJs que nunca farão música, magníficos produtores que nunca irão ser exímios DJs e outros que serão brilhantes nas duas vertentes, mas o artista, aquele que move multidões e que desperta paixões, apenas o vai conseguir com a sua linguagem criativa, com a forma como vai fazer o seu público chorar, rir, dançar ou adormecer a ouvir a sua criação, esta terá que ser uma verdade considerada inquestionável.
 
Carlos Vargas
Publicado em Carlos Vargas
quarta, 10 setembro 2014 22:27

O que é um DJ 'open format'?

Muitas pessoas perguntam-me o que é um DJ de "Open Format", como tal, decidi escrever esta crónica para poder esclarecer essa dúvida persistente sobre este "novo" formato de DJ.
 
A indústria musical tem evoluído de uma forma bastante sólida, já lá vão os tempos em que um artista de Rock só fazia Rock, e um artista de Hiphop, só fazia Hiphop. Nos dias que correm são cada vez mais as fusões entre estilos musicais, o que é óptimo, porque assim conseguimos alcançar um maior leque de pessoas e explorar várias vertentes. Um grande exemplo que podemos ter, é o facto de David Guetta ter "pegado" em várias estrelas do Hiphop, Rnb, Pop e com isto ter feito hits atrás de hits e chegado a mais público!
 
Para mim isto só prova que a música não tem limites, e muito menos tabus só porque o artista “X” fez uma música num género diferente do que é habitualmente conhecido...
 
Às vezes temos que ser ousados e ter coragem para arriscar, só assim é que se marca a diferença, esta é minha opinião não só como DJ mas como produtor também, pois não gosto de produzir um só género musical nem de estar "preso" a um catálogo musical "monocromático"!
 
O DJ "Open Format" (que é o meu caso) usa essa versatilidade musical. É um DJ multi-géneros porque não está vinculado a um só género musical, e quem me vê a atuar sabe que gosto de explorar um set de A a Z, Comercial? Underground? Rock, EDM, Dubstep e música de rádio? Pois bem, na altura certa há espaço para tudo, e não há nada melhor do que ter um público satisfeito depois de ouvirem (como diz o meu manager) um set à lá "DJ Roleta" (ahahah)! 
 
Ainda a reboque do meu modus operandi, passei recentemente pela necessidade de "voltar às origens" deixando o computador de lado sempre que a cabine o permite.

Nos dias que correm são cada vez mais as fusões entre estilos musicais (...)

 
Como DJ e depois de vários anos a tocar com o Traktor, decidi explorar o sistema pendrive com o Rekordbox. Confesso que o “desmame” está a custar um pouco, porque a minha carreira como DJ, como todos sabem, começou no hiphop/scratch, e o Traktor na altura foi o meu melhor amigo (eheh). O desafio do pendrive foi vantajoso por um lado, e desvantajoso por outro... Vantajoso porque acabam as dores de cabeça de chegar a um club e ter de montar computador, cabos, placa de áudio, etc, etc, muitas das vezes (quando tocava com vinyl) tinha de montar um setup à parte (mesa, pratos, traktor...) e na maioria das vezes as cabines não tinham espaço, e aí improvisava-se um palco... Era o chamado "ganda filme" cada vez que ia tocar. 
 
Essa é uma das vantagens do pendrive - rápido e eficaz... uma pessoa chega ao club com uma bolsinha para os fones e a pen, e está feito, sem ter que andar com a mochila do computador atrás e todo o equipamento envolvente. Neste momento vamos com um avanço de 10-0 pen vs traktor, mas calma ainda faltam as desvantagens.
 
Pois bem, para mim as desvantagens do pendrive são poucas, mas ainda assim dão alguma "dor de cabeça" coisa pouca, atenção. Uma delas é o motor de busca muito limitado (no computador basta escrever e aparece tudo... Já para não falar no display que é bem maior), sim porque nós, os DJs de “Open Format” temos muita música e às vezes viramos rapidamente de música e nunca temos um set definido, o que me obriga a ter 10x mais organização no pendrive do que no computador, para depois não "andar aos papéis" perdido em dezenas e dezenas de pastas e playlists na hora de tocar. A última desvantagem (não por culpa do pendrive) é o facto de nem todos os clubs possuírem CDJ 2000/CDJ 2000 Nexus, e aí tenho sempre que recorrer ao traktor! Nesse aspecto os CDJ 2000 Nexus e o pendrive são o "casal ideal" para mim, DJ de “Open Format” e Scratch. 
 
São estes os pros e contras dos diferentes sistemas, que espero ter dado a conhecer um pouco mais desta vertente e também do meu lado "pessoal" no que toca à minha forma de tocar. Um bem-haja a todos, e continuem a divertir-se com muita música. 
 
Instagram: @rustymusik
Publicado em Rusty
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