Diretor Ivo Moreira  \  Periodicidade Mensal
segunda, 05 março 2018 21:25

Num Mundo de Lobby's

No mundo do negócio, seja qual for a arte existe sempre a tendência às ajudas e aos conhecimentos entre entidades que tendem em favorecer quem por norma com as mesmas trabalha ou priva.

Este é um assunto bastante sensível e delicado, sendo que centralizando a questão, no meio da electrónica, deparamo-nos sempre com a questão do talento vs conhecimentos. Existe a necessidade de ter uma estratégia a longo prazo e no entanto estar sempre atento às oportunidades que possam surgir no intuito de fazer as melhores escolhas para uma carreira consistente. É preciso encarar a construção de uma carreira musical como jogar uma lotaria ou entregar a sorte ao destino, assim como dizer tenho um amor ou um dom, mas de verdade quem decide é a indústria e todos os que apoiam e seguem o meu trabalho. 

No meu caso em específico e ao longo da minha carreira sempre me fui deparando com algumas situações e entidades que me ajudaram, mas também com outras tantas que me fizeram trabalhar ainda mais e criar projectos que me ajudassem a depender apenas das minhas ideias e do trabalho artístico que tinha e tenho traçado como objetivo a alcançar. 

Não obstante tudo o que já mencionei é não menos importante referir que apesar de todo apoio que tenho e tive (do qual estou infinitamente grata), sempre foi o facto de eu fazer aquilo que mais gosto que de certa forma ajudou a ter uma carreira sólida. Basicamente por mais que sejam as "ajudas" e conhecimentos, se todas as vezes que que subo a uma cabine o trabalho não for bem feito, não existe nenhum "lobby" que ajude a longo prazo. 
Esta é a verdadeira realidade e resumo da questão, acreditar no que faço, fazê-lo com paixão sempre com o intuito de inovar e agradar todos aqueles que me seguem, porque são esses a quem eu agradeço e devo o sucesso da minha carreira como artista. Trabalhar bastante, ser optimista e humilde são os antídotos para a questão desta minha opinião.

Acontecem várias vezes e pessoalmente conheço inúmeros talentos, estes infelizmente por não conhecerem alguém ou uma plataforma que os ajude a mostrar o trabalho acabam por ficar no anonimato ou desistir, o que é lamentável. Eu como proprietária de uma editora e com a curadoria de alguns projectos faço tudo ao meu alcance para que estas situações não aconteçam, como apostar em novos talentos, contudo nem sempre é o suficiente. Mas por outro lado acredito que com persistência e a dedicação tudo é possível.
Publicado em Miss Sheila
quarta, 21 fevereiro 2018 21:15

Fala quem sabe

A noite nacional é uma pálida imagem da de décadas anteriores, o número de espaços noturnos que mantêm a porta aberta está reduzido à contagem com os dedos de uma mão, em tempos, não tão longínquos, precisávamos dos dedos dos pés para os contar.

Durante a década de 90, em Lisboa, vimos abrir espaços como cogumelos, mais e maiores, a meio da década abriam as Docas de Santo Amaro de Alcântara, alguns metros mais à frente, abria um quarteirão com o Dock’s, Blues Café, Kings&Queens e o filho mais novo e também o mais pequeno, o Indochina, abria o Lux, espaços que se juntavam aos já existentes Plateau, Kremlin, Kapital, corria-se a Av. 24 de Julho com bares porta sim porta não, até chegarmos a Alcântara e encontrarmos o Alcântara-Mar e o Benzina, havia o Bairro Alto onde milhares circulavam pelas ruas. A maioria dos espaços tinham um dia por semana e, ao fim-de-semana, bastava abrir a porta que a enchente era garantia, a estatística falava em mais de 100.000 utentes da noite Lisboeta.

Foram anos de loucura e de abundância, o tempo das vacas gordas, de norte a sul, os empresários tinham um sorriso de orelha a orelha e os bolsos cheios, os deles e de quem para eles trabalhavam. Chegamos então a 2018 e o que temos? Uma fatia bem fina desse bolo. E qual a razão desta desertificação? Os empresários e os clientes trocam acusações, as redes sociais estão carregadas de opiniões, na maioria de treinadores de bancada. Fala-se do ambiente, da música, da falta de qualidade, será? Vamos a factos, Portugal deverá passar dos actuais 10,3 milhões de habitantes para apenas 7,5 milhões em 2080, de acordo com as projecções da população residente do Instituto Nacional de Estatística, devemos cair dos 10 milhões já a partir de 2031, ou seja, dentro de 14 anos. Qual o target dos espaços noturnos? Que idade tinham aquela centena de milhares de pessoas que saíam nos anos 90 e ainda no início do século XXI? Pois é, 18-30 anos, são esses os mais noctívagos, os mais disponíveis para sair, a partir dos 30 anos casam, têm filhos, a vida muda, com as obrigações riscam a vida noturna da lista das suas rotinas. Juntando aos dados demográficos, temos que juntar os culturais, as alterações que os avanços tecnológicos provocaram, quem não recorda que a rua era a nossa segunda casa? E a noite? No Verão era todos os dias, no resto do ano a sexta-feira e o sábado eram sagrados. Mas para as novas gerações não, a noite não é sagrada, e a casa é hoje palco de campeonatos de jogos nas mais modernas consolas de jogos, de maratonas de séries de televisão gravadas nas box’s ou extraídas em downloads ilegais, noites acompanhadas por álcool mas comprado barato num qualquer supermercado.

Concluindo, com estes dados, depressa chegamos à conclusão que a classe etária que tentamos aliciar está diminuída, a manta ficou cada vez mais curta, para uma casa encher a outra fica vazia, não há público. Muitos não aguentaram a instabilidade e fecharam portas, outros abrem somente para eventos e ainda há os teimosos que derretem dinheiro como se tivessem numa mesa de jogo à espera que a sorte vire, mas não vira, porque a sorte é só parte da razão do sucesso, uma pequena parte, a maior é o saber, o conhecimento, as capacidades de gestão, tudo características ausentes na maioria dos que se encontram no comando dos melhores espaços noturnos, mas essa é outra história.
 
Assinado: A Gerência.
 
Zé Gouveia
Publicado em Zé Gouveia
Apesar de ser difícil evitar comentar o facto de, mais uma vez, todo o sector da diversão nocturna e produção de eventos estar a pagar o preço da subida dos contágios de Covid-19, quase dois anos (!) depois deste pesadelo ter começado (apesar de serem as escolas o grande motivo desta subida), e depois de só nos terem deixado trabalhar "sem restrições" desde 1 de Outubro até 1 de Dezembro (60 dias!) a minha crónica este mês é sobre um tema bem diferente.
 
Há umas semanas chegaram-me vários vídeos de uma atuação "D.J." de alguém que, não o sendo profissionalmente, estava a exercer essa actividade, num local público, onde as pessoas pagam para entrar e onde a música é um dos produtos que esse local "vende”. As pessoas pagam para entrar, para dançar, para beber um copo, socializar. Como acontece em todos os locais do género. 
 
Num dos vídeos que recebi, a qualidade da atuação, a parte técnica, não era propriamente a melhor, e resolvi publicar esse vídeo numa rede social. O certo é que o vídeo atingiu uma repercussão que eu não estava à espera e o "performer", indignadíssimo, conhecido pela sua linguagem "solta" no Twitter, partiu para o insulto grátis e "mandou" os seus seguidores fazer o mesmo, numa onda de "social media bullying" que eu só vi bastante mais tarde, porque aos primeiros "comentários" menos próprios usei aquela opção bastante útil que se chama "silenciar".
 
Tem alguma piada que estas pessoas que vão actuar como D.J.'s num local aberto ao público, onde eles próprios digam que "eu não sou D.J., estou a fazer isto por paixão/amor à música" para justificar a sua menor capacidade para, tecnicamente, fazerem um bom trabalho, fiquem indignadíssimos quando alguém grava um vídeo dessa falha, desse momento em que a coisa não está a correr bem. Hoje em dia toda a gente tem um telemóvel com uma boa câmara de vídeo e se o nosso trabalho corre mal, temos que ter encaixe para aceitar a crítica dessa falha, venha ela de profissionais, venha do público.
 
É verdade que há alguns anos atrás, quando a carreira de D.J. começou a ter um grande destaque a nível dos media e com o aparecimento dos softwares que permitem o "beat mixing" muito mais facilmente do que até então, muita gente que nunca tinha estado à frente de uma mesa de mistura cedeu à tentação de começar a fazer atuações D.J. em espaços abertos ao público. Actores, ex-futebolistas, manequins, bailarinos, entre outros, decidiram assumir actuações como D.J. em discotecas, bares e eventos. Alguns com mais sucesso do que outros, mas o certo é que houve uma "fornada" de figuras "públicas" que decidiu enveredar por esse caminho. 
 
Obviamente não tenho nada contra isso, se os donos dos espaços/eventos os contratam, é porque acham que vão fazer dinheiro com as suas actuações, ninguém faz contratações para perder dinheiro, acho eu.
 
A pergunta pertinente na minha opinião é: vamos "ouvir" o D.J. ou vamos "ver" o D.J.? 
É um facto que nos últimos anos houve uma tendência para o aparecimento de D.J.'s/"live acts" com grande interação com o público, com saltos, microfone, toda uma parafernália de efeitos luminosos, de fumo, sonoros, que criam um conceito de espetáculo total em que o D.J. e a música são só uma parte desse espetáculo. Ou seja, nestes eventos vamos “ver” e “ouvir” os D.J.'s num conceito de espectáculo global.
 
Embora não sendo a minha área, obviamente que não tenho nada contra esse tipo de espectáculos/actuações D.J., há muita gente que gosta e de facto é um quase sempre um evento com muito mais impacto a nível visual do que um evento "normal" onde a música é o principal motivo de este acontecer, a principal atracção.
 
O tema desta crónica leva-me a essa pergunta: devemos "alimentar" essa curiosidade sobre uma figura "pública" que vai para dentro de uma cabine, para fazer um trabalho que tem muitas falhas técnicas só porque é "aquele senhor da TV"? É isso o mais importante? 
 
Ou é a música, a maneira como ela é usada, o que verdadeiramente importa?
 
Carlos Manaça
DJ e Produtor
 
(Carlos Manaça escreve de acordo com a antiga ortografia)
Publicado em Carlos Manaça
domingo, 05 novembro 2017 21:31

A noite de novo em prime time

Mas qual Urban Beach? O problema não é de hoje nem de ontem. Foi, é e será sempre, apenas e só o "K"!
 
Começo por esclarecer, que discordo totalmente e considero inadmissíveis alguns dos actos que vi por parte de alguma da segurança da casa mas, também estou longe de conhecer toda a verdade pois, garantidamente que tudo isto aconteceu fruto de muita coisa.
 
Infelizmente, a noite não é segura e não o é por uma razão simples. À volta de quem sai tranquilamente para se divertir, existe quem saia apenas e só para arranjar problemas, quem saia para roubar, quem saia para alimentar grupos de conflito e tudo, sem a polícia se encontrar nas redondezas; é mais fácil e menos complicado estar em operações Stop na caça à multa! Mas, manda quem pode, obedece quem é esperto e também os polícias acabam embrulhados num problema que não é deles.
 
Ao longo de duas vidas, provavelmente somados, pelo menos sessenta anos bem intensos, apenas registei um problema com a segurança e esse, foi prontamente resolvido pela dita segurança no local e no mesmo dia. Para ser respeitado, é preciso respeitar e essa, é a regra de ouro que cada vez alimenta menos gente que por aí anda.
 
Há bons e maus profissionais, sejam eles seguranças, empresários, barmans, djs ou outros, tal como, existem bons e maus clientes e até, clientes que servem para um mas, não servem para outro espaço. Não raras vezes, tudo isto, é bizarramente conotado com racismo ou sectarismo mas, meus caros, no Palácio de Belém apenas dorme o Presidente e quem ele bem entende e para usufruir da Assembleia da República, é preciso fazer parte da corja reinante ou então, só passando pela revista e de Cartão de Cidadão na mão. Não somos todos portugueses? Não deveríamos todos poder ir à cantina da AR?
 
O "K" por desde sempre ter definido padrões, regras, ideias e formas, por nunca se ter escondido de assumir pretender ser, ter e fazer o melhor, sempre seleccionou e isso, naturalmente que foi provocando e continua a provocar uma profunda dor de corno a quem não está dentro dos padrões por eles definidos. É traumático, imagino que seja mas, é a tal democracia a funcionar. Ou não? Serei eu obrigado a abrir o meu investimento a quem não quero? Não me parece!
 

Ao contrário do que a maioria pensa, a segurança não é gratuita, custa muito dinheiro a uma casa (...)

 
Nos últimos anos, não raras vezes vi situações em que, sem um segurança é impossível uma rapariga chegar ao seu carro sem ser importunada e como polícia não há, lá vão sendo enviados os seguranças da casa. Estaladões no meio da rua a miúdos já vi muitos e sempre, por grupos de animais, que por um telemóvel é capaz de tudo.
 
Ao contrário do que a maioria pensa, a segurança não é gratuita, custa muito dinheiro a uma casa, é mais uma área delicada a controlar... tem que se lhe diga! Porém, sem ela, garantidamente que cada discoteca seria uma selva, onde imperaria a lei das matilhas mais fortes e nada mais.
 
No dia em que nos deparamos com esta triste história à porta do tal "Urban Beach", em Coimbra, dois selvagens em pleno dia desfazem um bom samaritano de forma bastante mais barbara em plena rua. Fecharam os MacDonalds do país? Abriram Telejornais com eles, foram para o Facebook vociferar? Algum Ministro veio teorizar? Claro que não, a história é o Urban, a azia é o "K" e foi por isso, que tudo o que é paineleiro tudo fez para se meter no assunto. O Urban tem 38 queixas? E quantas tem o Metropolitano? É só tentar perceber a proporcionalidade, não esquecendo, que nos Urban's bebe-se álcool e é por norma, onde o João se atira à Clara que é namorada do Manuel... e repito, não há polícia!
 
Com e sem geringonças, todos meteram a foice em seara alheia mas, alguém se preocupou com a verdade, com as razões, com o que se passa noite a noite país fora! Todos falam do que não sabem e isso, é triste e caricato.
 
O Urban é mau? Come criancinhas? É provável que sim mas, é a casa que os mais novos preferem na cidade de Lisboa. Será, que é por ali chegarem e serem muito mal tratadas? Será esta, uma geração masoquista? Duvido!
 
Este é um problema de polícia, quem abusou, certamente será julgado e condenado dentro das razões que existirem para isso já que isto não é um caso de lesados do BES. Os ditos seguranças estão devidamente detidos, os dois "doutores" de Coimbra, à solta! Dois pesos e duas medidas.
 
Para ser franco, a quase totalidade dos comentários metem-me nojo, sinto neles de imediato repulsa, por neles rever traumas privados de muita gente que, em bicos de pés, aproveita para ladrar em regime de vingança pacóvia. É o que temos! 
 

Depois dos resultados da irresponsabilidade do Estado nos incêndios deste ano, a irresponsabilidade da falta de polícias à porta dos espaços nocturnos mantém-se vinte anos depois.

 
Lentamente, da melhor noite da Europa em 1994 para a catástrofe que se vê hoje passaram apenas vinte e tal anos e houve, quem previsse este desfecho, ele aí está.
 
Quanto à famosa PSG, terá certamente bons e maus profissionais, terá mais ou menos culpas no cartório e penso, pelas medidas agora tomadas no Urban Beach que metade dos bares do Bairro Alto irá também fechar ou talvez não, pois por aí, continua tudo a levar bom tratamento, não têm K!
 
Depois dos resultados da irresponsabilidade do Estado nos incêndios deste ano, a irresponsabilidade da falta de polícias à porta dos espaços nocturnos mantém-se vinte anos depois. Será assim tão difícil perceber, que hoje, sair de uma discoteca sem um segurança às 5 da manhã é um risco de alto calibre por culpa dos políticos que temos que apenas souberam legislar para o pagamento de direitos, direitos conexos e sei lá que mais direitos!
 
Mais uma vez, o "K" está na dança e pelo que vejo, não faltam idiotas a opinar e certamente que a grande maioria movida por outros interesses ou traumas.
 
Este, para mim, é apenas e só mais um caso de polícia. Tudo o resto que tenho lido, é apenas e só de lamentar.
 
Miguel Barreto
Publicado em Nightlife
domingo, 17 março 2019 16:41

Valores

Este tema é algo que até mesmo eu não sei expressar a 100%, mas vou falar-vos um pouco dos valores que devemos considerar válidos e no limite da humildade, e também dos cuidados que nós artistas devemos ter em conta quando nos propomos a um público. 

Todos sabemos que a música eletrónica entrou na "moda" há alguns anos, e, consequentemente o número de DJs/Produtores/Sonhadores/Amantes aumentou ao longo desde esse período. 

No contexto artístico onde estou inserido, já me deparei com inúmeros casos onde o artista elabora enormes riders hospitaleiros, com direito a camarim de luxo, bebidas de marcas caras, toalhas PRETAS, entre outras tantas coisas... Perguntam-me "O que tens contra isso?" Respondo claramente que nada e considero que os artistas se valorizem e peçam aquilo que acham indispensável para o dia da sua performance. Mas será que depois na hora da atuação estão em condições de alguma coisa? Parece que alguns não compreendem que estão a tocar para o público, que estão a ser pagos e que têm de agir como qualquer contratado em qualquer outro serviço. Refiro isso porque há muitos artistas que antes da atuação bebem exageradamente, fazem uma vida de excessos antes de entrar em cena e depois "dá barraca".  O porquê de escrever sobre este tema não é nada contra quem o faz, porque sinceramente não me importo com o nível de atuação de A, B, ou C, escrevo apenas porque prentendo chamar a atenção dos excessos no meio onde estamos. Todos nós nos dizemos ser grandes artistas, falamos bem de nós próprios a toda a hora e considero isso positivo, no entanto é necessário fazer valer o que dizemos. Sinto até que seja um pouco imaturo não nos sabermos comportar dentro do nosso espaço de trabalho, a cabine. 

Para além disso, há ainda aqueles que não sabem ser educados com os colegas de trabalho, não me refiro a colegas/artistas, mas sim Técnicos de Som/Luz/Produção/Organização/Fotógrafos, etc... Sim, porque somos todos parte de uma comunidade! Comunidade esta em que precisamos uns dos outros para trabalhar, onde os artistas aparentam ter algum complexo com a comunicação, porque muitas vezes são mal-educados e chegam a ser desagradáveis para quem com eles está a trabalhar. 

"CAROS AMIGOS DJS, NÓS NÃO SOMOS REIS DE NADA, NÃO SOMOS ESTRELAS E O MUNDO NÃO GIRA À NOSSA VOLTA".

Entendam que não precisamos ser arrogantes para quem está a trabalhar. Temos espaço para ser artistas, músicos e na nossa cabeça até temos espaço para ser estrelas, mas acima de tudo devemos ser pessoas, e boas pessoas, porque só assim deixamos a nossa marca. Este é realmente um tema que me incomoda, não por viver isso na pele, mas porque já vi acontecer inúmeras vezes.

Nunca se esqueçam desta lista:
Sem Técnico de Som: Não ouvimos 
Sem Técnico de Luz: Não vimos
Sem Produção: Não comemos 
Sem Organização: Não recebemos 
Sem Fotógrafos: Não recordamos 
Sem Público: Não nada.
 
Zinko
Publicado em Zinko
domingo, 17 fevereiro 2019 23:28

Os ciclos

O que podemos esperar de 2019? 
Um novo ano entrou e a apreensão que sentimos no seio da indústria da musica electrónica em Portugal é evidente. 
Em 2017, num dos artigos de opinião que escrevi para a 100% DJ, fui criticado quando afirmei que estávamos "a chegar ao fim do EDM". Hoje, é claro para todos que o EDM (electro, progressive, big room) está em queda e a adaptar-se a um novo ciclo.
Poderia fazer um exercício com cada um de vós para encontrar motivos e justificações, mas não existem. 
Tudo tem um ciclo, "sai de moda" e tem uma ascensão, pico e declínio. 
É certo que os estilos a que chamamos EDM (erradamente, porque EDM é uma sigla que abrange toda a música electrónica) não irão desaparecer, simplesmente deixarão de ser a principal referência para os amantes da Dance Music, e produtores e DJs terão de adaptar-se, reinventar as suas produções e actuações ou optar por manter o seu registo e identidade, tendo a noção que irão trabalhar para "um nicho de mercado", tal como outras sonoridades mais "clubbing" tiveram de fazer e "aguardar". 
 
Talvez esteja errado mas não consigo imaginar o aparecimento de nada de novo na música electrónica. Poderá aparecer algo "criativo" com alguma fusão de estilos, mas coloco muitas dúvidas que apareça um "Dubstep, D&B, Hard Style ou uma variação da House Music" que consiga afirmar-se como "novo ou inovador". Estou convicto que os ciclos serão cada vez mais rápidos e passageiros, tendo as diferentes sonoridades um nicho muito próprio de seguidores. 
 
Então e em Portugal? 
Portugal não é diferente e assistimos neste último ano ao desaparecimento de dezenas (para não dizer centenas) de DJs e produtores, sendo cada vez mais difícil a afirmação de novos talentos sem terem um elevado investimento financeiro que lhes permita ter uma equipa, meios de comunicação e marketing e uma rede de contactos que os acompanhe e catapulte para o mercado. 
Em termos de sonoridades também não somos diferentes do resto do mundo. 
Há um claro regresso das vertentes mais "House", o Techno está em novo crescimento e as sonoridades com vocais (letras completas) ocuparam o espaço do que antigamente chamava-mos de "comercial". 
O mercado (leia-se pessoas/consumidores) é e sempre será quem tem a última palavra e tudo o que julgamos prever ou ter certezas, não passa de uma leitura dos sinais que o mercado vai dando. 
 
Termino este primeiro artigo de opinião de 2019 com uma palavra para a 100% DJ, a quem parabenizo por mais um ano e agradeço o convite para continuar esta longa parceria/participação. 
Publicado em Ricardo Silva
segunda, 16 maio 2022 15:10

Para onde caminha a Noite...

À medida que a pandemia parece estar cada vez mais para trás, a necessidade de capitalização das empresas sobrepõe-se a tudo o resto. Cada vez mais reparo que não interessa muito o que se passa dentro do clube, desde que o mesmo esteja cheio. É pena este tipo de mentalidade, pode parecer estranho, mas acho mesmo que perdemos uma excelente oportunidade para mudar o paradigma da noite no nosso país. Durante a pandemia dei por mim várias vezes a pensar que no meio de tudo o que de mal nos estava a acontecer, pelo menos uma coisa boa seria o facto de todos podermos fazer uma auto-análise que nos permitiria ver como estávamos e víamos as coisas e de que forma as poderíamos alterar. Não resultou...

Independentemente dos gostos musicais de cada um, que podem ser próprios ou por imposição de uma máquina comercial completamente desprovida de consciência, a população mais jovem vai-se perdendo num vazio musical e pessoal onde o que conta é a aparência e a irreverência, seja lá isso o que for para eles. Claro que se pensarmos nisto numa forma mais profunda, por muito que custe ouvir, a culpa começa em casa, como é óbvio, mas para não me desviar do propósito desta crónica, é realmente assustador tentar perceber por onde andará a música dita "comercial" nos próximos tempos, se tomarmos em linha de consideração o que se está a passar agora.

Pelo caminho que as coisas estão a tomar, é óbvio que, salvo raras exceções, cada vez iremos ver menos deejays convidados a pisar as nossas cabines, ou pelo menos nacionais, uma vez que se é para se ser irreverente e cool, que seja em grande, por isso tem que ser internacional, para assim seguir a tendência do mercado. Se queremos ter um público cool e irreverente, temos que os educar dessa forma. Ao menos vejo aqui alguma coerência, há que admiti-lo!

O grande problema actual para qualquer artista nacional com personalidade e identidade musical é que se analisarmos friamente isto tudo com uma perspectiva única e exclusivamente virada para o imediato, obviamente que não faz sentido, do ponto de vista empresarial, estar a contratar um deejay com vontade própria por uma razão muito simples. Se o objetivo é injetar dinheiro na empresa, porquê estar a pagar muito dinheiro, quando praticamente pelo mesmo que se paga a um profissional de segurança podemos ter uma noite absolutamente garantida e não correr riscos? É óbvio que este tipo de pensamento, numa primeira análise rápida, nos faz elogiar os dotes empresariais de qualquer gerente de espaços nocturnos.
Mas infelizmente o que não estamos a conseguir perceber são as consequências que tudo isto vai causar na noite em termos futuros, no seu ambiente, na sua segurança, na forma como todos os profissionais da noite vão poder fazer o seu trabalho, em resumo, na essência da noite.

Na música, muitas vezes ouvi dizer que enquanto o artista mandava na indústria, as coisas iam fluindo. A humanidade artística e a singularidade humana dos mesmos mantinha tudo arrumado nos seus sítios. o problema foi quando a indústria começou a mandar no artista. Uma indústria que não olha a meios para atingir objectivos, que não tem sentimentos, qualquer tipo de amor ou criatividade para dar, uma indústria que apenas vê uma coisa, números. Da mesma forma, também a noite sempre ditou as regras nos clientes, regras essas que eram invioláveis, e que faziam com que a noite fosse especial, com uma mística e um mistério associados até a um ligeiro medo por quebrar certas barreiras, o que de uma forma muito lógica, mantinha o equilíbrio.
 
Mas o tempo passou, e as mentalidades mudaram. Infelizmente parece-me que também na oferta nocturna os papéis se inverteram. Os clientes passaram a mandar na noite. Vamos ver como vai correr... Ou muito me engano ou provavelmente num futuro próximo os protagonistas da noite mais bem remunerados terão que ser mesmo os seguranças, e com muita tristeza digo que uma noite sem segurança, visão de futuro e uma forma de estar comandada de dentro para fora não me parece muito próspera. Espero estar enganado.
 
DJ & Produtor
Publicado em Carlos Vargas
sexta, 09 fevereiro 2018 21:24

Recap da música electrónica

Um novo ano começou e aceitei, mais uma vez, o convite da 100% DJ para deixar alguns artigos de opinião para os leitores/utilizadores deste portal que tem prestado um serviço de informação isento e de qualidade sobre a indústria da música electrónica em Portugal. 

Não tenho a presunção de achar que sou um conhecedor profundo ou um "visionário" do que se irá passar no futuro mas lanço o desafio a quem não leu artigos de opinião anteriores e publicados neste portal para que percebam um pouco que há sinais que surgem e que quem trabalha neste meio consegue sentir e prever mudanças e que na altura foram alvo de imensas críticas. 

Tive o privilégio de assistir ao início do aparecimento da música electrónica em Portugal e aos primeiros DJs que ousaram agarrar nos "martelinhos" e fazer uma carreira. Sinto a tristeza inerente de ter visto muitos deles desaparecer devido ao aparecimento das novas tecnologias, ao "facilitismo" da produção musical onde tudo passou a ser "informatizado" e as "máquinas" foram metidas para um canto e onde um PC, um teclado e uns programas informáticos bastam para que saia uma obra musical. 

Na ultima década assistimos a uma autêntica "epidemia" de novos DJs e produtores musicais que julgaram que tinham encontrado o "El Dorado" na música electrónica. 

Deixo uma pergunta: 
- Onde estão 80% desses DJs que apareceram do nada e desapareceram mais rápido do que surgiram?

Poucos, muito poucos, são os DJs que surgiram nos últimos cinco anos e que continuam no mercado. Apenas permaneceram aqueles que souberam adaptar-se às mudanças (leiam os artigos anteriores que mencionei) e outros que souberam profissionalizar-se. Continuamos a ter os "velhinhos" e aqueles que fizeram uma carreira (mais de 10 anos no mercado) como referência e a manterem a indústria em movimento por um único motivo... quiseram uma carreira e deram atenção ao mais importante - A Música. 

A música electrónica (seja qual for o estilo) não é diferente de outro tipo de música qualquer. Tivemos o "boom" da Kizomba e assistimos à sua queda. Temos agora o Hip Hop em alta  e que está a cometer o mesmo erro que a Kizomba. Tenho a certeza que daqui a uns anos vamos todos olhar para trás e só conseguimos lembrar-nos de meia dúzia de nomes que marcaram estes estilos e que vão continuar no mercado no futuro. Façam esse exercício para a Kizomba e vejam se conseguem dizer 10 nomes de artistas portugueses ou que estivessem no mercado português, quando foram mais de uma centena que percorreram palcos e clubes deste país. 

A música electrónica sofreu (está a sofrer) o mesmo "problema". Está a haver a triagem natural do mercado. Quer pela qualidade, quer pela "oferta vs procura". 

Olhem para esta indústria como um negócio, para vocês como um produto e para música como arte. Só assim poderão ter sucesso. Querer vender arte (leia-se múisica) sem a divulgar, dificilmente haverá quem a queira comprar. Tenham um produto (leia-se DJ + Música) que seja apetecível ser adquirido e para isso é preciso olhar para a indústria como um negócio. 
Se não pensares desta forma ou quiseres apenas ser "um artista", lembra-te que os maiores artistas só tiveram reconhecimento depois de falecerem... 
A escolha é tua...
 

Ricardo Silva
DWM Management
Publicado em Ricardo Silva
quarta, 15 maio 2019 21:12

O melhor ainda está para vir

Quando recebi o convite da 100% DJ para escrever uma crónica de opinião, acabei por ser obrigado a fazer uma reflexão sobre todos os que estiveram, a determinada altura, presentes no meu percurso, ampliando o que fazia e por onde andava. Tenho pretensões de ser uma série de coisas, mas nenhuma delas passa por escrever. Deixo isso para a minha irmã Patrícia e para o meu pai, os profissionais do sector, mas sempre gostei de desafios e portanto vou dar o meu melhor, como é habitual, naquilo que me proponho fazer.

Com 40 anos feitos e tendo começado a trabalhar à noite aos 16 - como "apanha-copos" - no bar Amas do Cardeal, em Évora, pro bonno e por carolice, para aquele que veio a ser meu sócio e, ainda hoje, um dos meus melhores amigos, João Pedro Queiroga, terei uma quase obrigação de dar a minha visão da movida em Portugal.

Ao longo dos anos, do país e dos meus, assistimos a uma mudança de paradigma: É que diversão, é diversão e para satisfazer novos hábitos houve que conceber novos produtos. Daí, hoje existir uma ampla oferta, com muita qualidade, que passou para outros horários: matinés, sunsets, after work e por aí vamos... Hoje, estes produtos, são os meus preferidos. Gosto muito de ouvir grandes DJs e poder estar na cama à meia noite.  A idade é outra. Agora que penso nisso, é curioso: Em Évora, nos meus 14 ou 15 anos, os míticos 90’s, havia matinés ali à Rua Serpa Pinto. O álcool era-nos vedado e mesmo assim divertíamo-nos tanto!

A vida é feita de ciclos e voltei a ser um cliente de "matinés". Fuse e Bloop são aqueles que acompanho mais regularmente por fazerem um trabalho incrível e tropeço amiúde num esforço em fazer melhor, dar sempre alguma coisa de novo ao cliente, e, a cereja no topo do bolo, tudo feito com muita seriedade e profissionalismo. A qualidade dos artistas é do melhor que o panorama, neste caso de música electrónica, tem para oferecer. 

Hoje vivo em Lisboa e portanto é a realidade que tenho mais presente e por onde me movo mais vezes. No que diz respeito ao turno da noite, o tradicional, vejo uma grande melhoria nos últimos três anos. Acho que se assimilou que fazer ofertas iguais e tentar trabalhar sempre na zona de conforto ou naquilo que podia ser mais óbvio, já não chega para um público cada vez mais diversificado e exigente.
 
Fuse e Bloop são aqueles que acompanho mais regularmente por fazerem um trabalho incrível e tropeço amiúde num esforço em fazer melhor, dar sempre alguma coisa de novo ao cliente, e, a cereja no topo do bolo, tudo feito com muita seriedade e profissionalismo.

Actualmente temos bons clubes em todas as vertentes da música. O Kamala tem feito um trabalho incrível nas suas casas, o João Magalhães, este ano, conseguiu dar uma nova vida ao Mome. Lust e Urban atingiram as grandes massas e o Lux, como a grande referência no panorama alternativo em Portugal e lá fora, continua a dar cartas na nossa madrugada. Já não saio muito, mas quando o faço, tenho imenso por onde escolher e sempre bom.


Pensamos em casas ou empresários, mas não podemos deixar de falar de outros que são tão ou mais importantes para nivelar a oferta por cima. Hoje temos barmans e barmaids profissionais que fazem tudo com uma recém inaugurada qualidade. Este que vos escreve, foi, ele próprio, barman no Inox Clube em Évora e tudo o que fosse mais do que vodka com gelo e sumo de qualquer coisa, já não dava! Éramos todos assim! 

E na música, são tantos os DJs e tão bons, que acabam por contrariar aquela história de que qualquer um é DJ e blá-blá-blá. Essa mesma premissa, acabou por aumentar a vontade de tantos tentarem, é certo, mas uma grande parte deles apostou mais e melhor na profissão e permitiu usufruirmos todos de gente de grande valor em vários géneros de som. Saímos todos a ganhar! Destaco o curador do (meu) The Garden, o Moullinex e o meu grande amigo Audio Deep: O primeiro, um génio da música e o segundo, um dos melhores de Portugal, que está a começar a chegar aos sítios certos, para nosso gáudio.

Nem tudo são rosas e, para quem não está em Lisboa ou Porto, as coisas são realmente mais complicadas. Embora constate que, cada vez mais, estas produtoras, se atrevem a partir para o interior, descobrindo a grande qualidade de profissionais que lá se encontram. Se existe bom público, tem que existir bons profissionais, parece óbvio. O consumidor dá pouco por isso, mas é imperativo falar da importância das marcas dos produtos que se vendem habitualmente nestes espaços: Quando abri o primeiro bar, tinha cerca de 20 anos, o Pátio da Lua. Vendia, e tal como todos os outros empresários, não fazia a mínima ideia sobre quem estava por de trás das marcas de bebidas e dos seus distribuidores. Nós comprávamos, mais ou menos ao preço que nos queriam vender, aquilo que acreditávamos que o público consumiria. Mais à frente, no Praxis, a coisa foi piando de outra forma. Com a acrescida maturidade, tínhamos sempre alguém a trabalhar de perto connosco nas compras, a ajudar no que podia, para que os negócios fossem realmente vantajosos nos dois sentidos. Pensando nisto, só me vem à cabeça, com saudade, o grande Artur.
 
Hoje com Pernond Ricard, por exemplo, com quem trabalhamos, chego a vê-los como consultores... o Rúben, homem da marca, falou comigo sobre o The Garden, mais do que qualquer outra pessoa, antes e depois de abrir! E faz sentido: conhecem melhor o mercado que qualquer um dos proprietários e podem ajudar a criar um conceito único e não a tal cópia que ninguém quer. Afinal, são eles que, realmente, sabem o que todos os seus outros clientes vendem.
 
A boa nova é que já não há desculpas e aquilo que foi uma alavanca para o sucesso com utilizadores restritos e já poderosos, tornou-se acessível a todos, através do Marketing Digital.
A forma de nos comunicarmos também mudou e, por estes dias, todos o fazemos facilmente através de plataformas digitais. Qualquer um de nós consegue fazer campanhas produtivas, com sucesso e baixo custo e acima de tudo sustentáveis. Há vinte anos era impossível! Na Era pré redes, pré internet popularizada, não ganhávamos para publicidade eficiente. Ter um outdoor como o que tive em Évora era caríssimo! Colar mupies pela cidade, uma despesa faraónica, e aos jornais e revistas, mormente, nem acreditávamos chegar, tal era a despesa. O mercado da publicidade não estava feito (como ainda não está), nos meios tradicionais, para que empresas pequenas apostem na sua divulgação. A boa nova é que já não há desculpas e aquilo que foi uma alavanca para o sucesso com utilizadores restritos e já poderosos, tornou-se acessível a todos, através do Marketing Digital. Bons profissionais na área não faltam - a começar pela minha mulher!

Sim, nós cá por casa tendemos a agregar recursos para ficarmos mais fortes. Ou isso ou, pessoas com visão e futuro, agradam-se, naturalmente, umas às outras.

Voltando ao tema...

Atente-se, por outro lado, nos festivais. Temos muitos e tão bem produzidos, em diferentes regiões, do interior ao litoral, passando pelas ilhas, que passaram a ser bilhete postal para vender o Verão aos estrangeiros. Marcas internacionais em Portugal como o é o caso do BPM no Algarve ou do Rock in Rio em Lisboa ou nacionais - Nos Alive ou Super Bock e um rol de outros com tanta, mas tanta qualidade. Estamos a atravessar uma grande fase e creio que o melhor ainda está por vir! O mais fantástico é que, atrás desta transformação e desta maturidade, que inevitavelmente desaguarão num ainda maior sucesso, estão pessoas a aprender e a crescer, cheias de garra e com uma visão pluralista e abrangente do mundo, por isso não podemos estar mais confiantes no que virá.

Atualmente, ainda que como cliente, na maioria dos casos, tenho orgulho por pertencer a este sector e de tudo o que se tem inovado é realizado!

Beijos e abraços para todos e não se esqueçam: May the party be in you!
 
Francisco Rafael
Empreendedor
Publicado em Francisco Rafael
Tempo de pandemia e estado de emergência é também tempo de uma reflexão sobre o impacto da nossa área e nas consequentes mudanças no futuro. Neste momento, a incerteza é sem dúvida a maior preocupação numa indústria que foi fustigada pela necessidade de parar a sua actividade, muito antes de todas as outras áreas de sociedade.

A indústria da música, uma área fundamental da cultura, vive tempos difíceis. Músicos, técnicos, agentes, promotores e todos os restantes postos directos e indirectos de trabalho gerados por esta área que em muito contribui para a sociedade, estão com o seu futuro em suspenso.

Em Portugal como na maioria dos países do mundo urge a necessidade de um plano de contingência que passa pela preservação da saúde pública e pelo controlo social e económico. Essas medidas implicam estabelecer prioridades e a música não é assim considerada numa primeira fase. No nosso país por força da sazonalidade da nossa actividade existe muito trabalho considerado precário. A curto prazo terá de ser criado um fundo/linha de apoio excepcional para determinadas áreas da sociedade como a indústria da música e do entretenimento em geral. Se é prioritária a saúde pública e a contenção da pandemia, implica que eventos sejam cancelados ou adiados, tendo em conta que são foco de provável contágio.

Todos aqueles que estão directa ou indirectamente dependentes desses mesmos eventos estão impedidos por tempo indeterminado de exercer a sua actividade, mesmo quando toda a sociedade estiver já de volta ao seu normal funcionamento. É com certeza imprudente acelerar a retoma dos eventos e espaços de diversão, sob pena de assistirmos a uma "segunda vaga" de surto da epidemia que poderá ser mais penalizadora e certamente atrasará a retoma à normalidade.

No entanto é fundamental criar medidas de apoio e um organismo que lidere esse processo de uma forma estruturada.

Este é o momento certo para a indústria da música se unir de uma forma organizada e concertada à imagem de outras áreas. Apenas com uma estratégia será possível salvar uma indústria que ficará exposta.

É sem dúvida um momento único e ímpar na sociedade moderna que vivemos. Como em todas as "guerras" existem consequências, momentos de crise e readaptações para o futuro.

Podemos estar perante uma crise sem precedentes, talvez a mais dura e com maiores consequências, mas é também um momento de mudança de hábitos, de consciência social e de adaptação a uma nova realidade.
Numa fase em que é ainda imprevisível prever o que acontecerá com a economia e sociedade em geral, a música tem e terá sempre um papel fundamental na sociedade e mesmo em tempo de confinamento tem a capacidade de transmitir emoções. Cabe aos músicos e restantes intervenientes continuarem a brindar o público com a emoção e alegria que apenas a música é capaz.

A sociedade e os governantes têm o dever cívico de preservar esse bem tão precioso que contribuiu diariamente para o bem-estar de todos, num momento que é difícil mas que testa a capacidade humana de se superar e reinventar.

Devemos todos contribuir activamente mantendo as regras de afastamento social e medidas de prevenção. Só assim poderemos voltar a fazer festa em breve!

#StaySafe #VaiCorrerTudoBem
 
Fernando Vieira
Publicado em Fernando Vieira
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