Diretor Ivo Moreira  \  Periodicidade Mensal
domingo, 09 agosto 2020 14:43

A saúde mental do entretenimento

O verão em Portugal é sinónimo de festa, diversão e convívio. Não só festivais de verão com cartazes internacionais, mas sobretudo centenas de festas municipais e religiosas, bailes, convívios e concertos ao ar livre espalhados em todo Portugal e Ilhas. 

Por esta altura do ano é normal para quem trabalha no sector de entretenimento toda a azáfama, correria, poucas horas de sono. A criação de sorrisos e felicidade a milhares de pessoas é uma rotina diária. E tudo isto graças ao trabalho dedicado de milhares de técnicos, artistas, agências, seguranças, limpeza, comerciantes locais, carrocéis, entre outros.

O que está a acontecer no verão 2020 é uma nova realidade que nunca foi experienciada. 

Até que ponto estará em causa a saúde mental de todos os profissionais deste sector? E já agora a de todos os utilizadores finais, o público, que neste caso é apenas e só toda a população portuguesa? 

Ter contas por pagar e a família para sustentar é uma realidade que assusta qualquer indivíduo na nossa sociedade.

O sentimento de impotência é gigante. Ainda que se pense desesperadamente em trabalhar temporariamente noutro sector económico, permanece o "pequeno" problema de toda a economia portuguesa estar em baixa, numa altura em que a maioria das empresas entram em período de férias e o turismo externo cai a pique devido à pandemia. 

Para a maioria das pessoas não se vê grande solução, portanto. Isto obviamente potencia o desespero interno mental de qualquer indivíduo. Estão aqui em causa graves problemas de saúde para muitos milhares de pessoas, nomeadamente depressões, que poderão originar um ciclo destrutivo individual e familiar nos próximos meses. 

Para piorar tudo, há a incerteza total sobre o futuro do próprio sector. 

Quando nem sequer há uma luz ao fundo do túnel... fica tudo mais difícil de consciencializar, enfrentar e lutar.  Afinal de contas, se não sofremos de COVID podemos ainda assim sofrer outras consequências muito graves para a nossa saúde a longo prazo.

E o que irá acontecer à população em geral que se vê privada, ou muito limitada, de animação, convívio, reencontros...? Não há mesmo nenhuma forma de minimizar estes danos sociais? Já se percebeu que Portugal é dos poucos países Europeus onde nem sequer será autorizado abrir estabelecimentos de entretenimento num formato de horário normal noturno, absolutamente necessário para dar um boost de diversão e satisfação a todos.

Num país desenvolvido, toda esta temática do âmbito psicoemocional deveria ser abordada pelos governantes, comunicação social, etc. Contudo, mais uma vez Portugal ignora por completo a componente psicológica de uma grave crise num sector de atividade, e neste caso, do possível início de uma crise financeira em todo o país. Foi assim em 2010 e é agora com o COVID. 

Sobretudo no sector de entretenimento e cultura devemos por isso estar mais atentos e solidários uns com os outros, a todos os níveis. Nunca houve uma situação tão extremista de desaparecimento de atividade como a dos dias de hoje.

É importante e benéfico haver sempre concorrência num sector de atividade. No entanto um fator muito mais valioso se levanta: a saúde mental de todos nós, que irá fazer a diferença para que o sector se possa levantar mais rapidamente, assim que haja condições sanitárias e governamentais para tal.

A união, o apoio e o positivismo são absolutamente necessários para enfrentar os desafios e estigma social que ainda todos nós temos pela frente, enquanto durar a sociedade COVID19. 

#NãoVaiFicarTudoBem, mas podemos contribuir para que fique tudo melhor!
 
João Casaleiro
CEO Agência DO HITS
Publicado em João Casaleiro
domingo, 02 novembro 2014 22:26

O fim do EDM

Um novo ciclo da música electrónica está a terminar. Nunca consegui perceber esta "história" do EDM e a confusão sobre o que é realmente. As letras EDM significam Electronic Dance Music mas ficou claramente conotado com o Progressive e Big Room. 
 
Este título que dei ao artigo de opinião (fim do EDM) não é algo que possa ser levado à letra. É óbvio que não vai acabar mas nota-se claramente que deixará de ter o impacto que tem tido nos últimos anos. O EDM passará a ser um estilo musical que muito poucos DJ’s e Produtores terão sucesso ao estar conotados com o mesmo. Os clubes e discotecas já deixaram de contratar como contratavam os DJ’s que tocam este estilo porque perceberam que o EDM é algo que "exige" uma produção, é necessário um "espírito de festival", não é dançável (que é o que se pretende num clube ou discoteca) e que, apesar de movimentar milhares de fãs, foi (está) a ser explorado até à exaustão. 

Os clubes e discotecas já deixaram de contratar como contratavam os DJ’s que tocam este estilo porque perceberam que o EDM é algo que "exige" uma produção (...)

 
Vou fundamentar as minhas palavras. Um clube/discoteca retira os seus dividendos da venda de bebidas (percentagem mais elevada) e um percentual mais baixo do valor das entradas. O público (leia-se clientes) está mal acostumado e já não aceitam o que era normal, até há meia dúzia de anos, onde eram feitas "triagens" na porta dos clubes e onde passámos a ter dezenas de promotores a vender pulseiras ou ingressos e a haver "guest lists". Grande parte dessas verbas que são pedidas "para entrar" já não são para o estabelecimento mas sim para as equipas de promotores e RP's, deixando apenas a venda de bebidas como retorno para a casa. Se o retorno vem da venda de bebidas, volta a ser necessário que o estilo de música permita que os clientes estejam o maior tempo possível dentro dos estabelecimentos, os DJ’s consigam "ler uma pista" e ter "altos e baixos" na sua actuação para enviar as pessoas ao bar, tenham um determinado tipo de cliente que queira dançar, ouvir música, tenha qualidade no atendimento e que não esteja "aos saltos", a levar com confetis no seu copo, levar encontrões ou com uns miúdos aos saltos e a pisarem tudo o que esteja em meio metro quadrado e onde vá realmente para um clube/discoteca e não para um festival ou casa de espectáculos. 
 
É justamente nos festivais onde o EDM não vai "morrer" e onde continuará a arrastar os fãs. No entanto, acho que consegui passar a mensagem do porquê do EDM e em especial os DJ’s que o tocam terem uma tendência para desaparecer. A quantidade de DJ’s que seguiu a tendência do EDM tornou a oferta bem maior que a procura e com esta mudança (óbvia e objectiva), - bem como a saturação e exploração excessiva deste estilo - vai trazer dissabores a muita desta nova escola de DJ’s que surgiu nos últimos anos. 
 
Outros sinais claros que vão sendo transmitidos pelo mercado são os que vêm da indústria discográfica e das rádios. Ainda há dias terminou o ADE e essa mensagem clara (que define a nível mundial) veio também da Holanda. As discográficas não querem continuar a apostar num estilo musical esgotado e as que apostam são as que não estão acessíveis ao comum dos DJ’s e onde os seus interesses são com os artistas que elas próprias agenciam ou adquiriram exclusivos. Casos como o Nicky Romero e até o próprio Hardwell são um exemplo e vamos ouvir produções sem aquela "agressividade" do EDM puro.
 
Temos em Portugal o único DJ/Produtor que vingou (e continuará a vingar) com este estilo musical - o Kura - porque foi quem se destacou da concorrência e conseguiu moldar a sua imagem e sonoridade, deixando claro que o seu objectivo era para o mercado Internacional. Editar pela Revealed, Protocol, Armada ou Ultra é mais do que suficiente para fundamentar as minhas palavras e para que se perceba que a única maneira de seres reconhecido num estilo musical destinado a massas e a festivais é se tiveres uma projeção internacional (o que traz reflexos no seu país, como é óbvio).
 
Deixo aqui uns parêntesis em relação ao Kura para que esta malta nova perceba uma coisa. O Kura não está aqui à meia dúzia de anos. Começou como todos os grandes DJ’s, a trabalhar à noite (ainda sem ser DJ), "engoliu muitos sapos", tocou por trocos, foi criticado, trabalhou anos a fio a acreditar e a fazer aquilo que pretendia e só ao fim de uma década é que atingiu o patamar em que está. Quem pensa que faz uma faixa e que vai ter alguém a trabalhar por ele ou que vai ter um "hit" e tornar-se uma estrela, lamento desiludir mas isso nunca vai acontecer. 
 
"Os sonhos não têm pernas mas tu tens, por isso corre atrás deles" mas não julgues que isso aparece de um ano para o outro. Num próximo artigo de opinião irei escrever sobre o trajecto e as dificuldades que os TOP DJ’s portugueses tiveram para chegar ao patamar onde estão. 
 

Sim... o EDM está a "morrer" (para alguns) mas a musica electrónica nunca esteve tão bem como está actualmente.

 
Não querendo fugir ao tema deste artigo e porque há muito para escrever sobre ele e estas linhas são poucas para isso, vou deixar a minha recomendação a todos os que entraram nesta industria à pouco tempo. 
 
Pesquisem o que está a ser vendido actualmente na indústria discográfica, oiçam o que as rádios estão a difundir e a apostar, pesquisem o que está a surgir lá fora e antecipem a vossa produção e os vossos registos o mais rápido possível. A Portugal chega tudo com algum "delay" e se conseguirem começar já a ser identificados com o "futuro", as vossas hipóteses de chegarem mais longe na vossa carreira aumenta. Caso o vosso objectivo seja seguir o estilo de música que gostam ou trabalhar para um "nicho" de mercado e esperar que o mesmo seja apetecível ao mercado, preparem-se para ter imenso trabalho e esperar vários anos e mesmo assim nada garante que venham a ser um DJ com sucesso. 
 
Vou terminar com um pensamento muito próprio. Ser DJ é uma arte, ser produtor é algo que até podes saber como fazer, mas podes não ter o "dom" para isso. Eu também sei jogar futebol mas quando cheguei à idade dos séniores, não consegui jogar profissionalmente e receber por isso (no entanto sabia jogar futebol). Ser DJ ou Produtor não é para todos. É uma profissão como outra qualquer com o acréscimo que tens de ter talento e tens de trabalhar imenso. Só o trabalho não chega, teres talento e não trabalhares também não te faz chegar a lado nenhum e na larga maioria das vezes, o trabalho árduo até vale mais que o talento natural que possas ter. 
 
Sim... o EDM está a "morrer" (para alguns) mas a musica electrónica nunca esteve tão bem como está actualmente. Resta saber qual é o novo caminho que esta indústria vai seguir e se vamos voltar a ter um novo ciclo com estilos já existentes.

 

Ricardo Silva
DWM Management
Publicado em Ricardo Silva
terça, 16 abril 2019 19:39

DJs vs Produtores Musicais

A indústria da música é um mistério para todos os que estão de fora. As portas para entrar são muitas, mas pouco nítidas. Existem vários caminhos a percorrer, mas estão todos intercalados. 

Na música eletrónica um dos primeiros dilemas é por onde começar. Vou ser DJ ou vou ser Produtor Musical? Queremos ser os dois, mas será que essa é a solução para todos?

Um DJ não tem de ser um Produtor e vice-versa, cada um tem um papel dentro da indústria e o caminho a percorrer está diretamente relacionado com o objectivo de cada um.

O DJ é um entertainer, um intérprete das músicas que toca. Os seus talentos passam pela selecção da música, pela presença de palco e pela capacidade de ler a multidão que tem à sua frente. O seu grande desafio é pôr até a pessoa mais tímida, no fundo da plateia, a dançar. Não é um trabalho fácil. Cada espectáculo exige preparação, capacidade de interpretação e uma energia equivalente àquela recebida pelas dezenas, centenas ou milhares de pessoas que têm à frente.

O produtor não precisa de ser um entertainer. O processo de criação de áudio requer outro tipo de competências. É um processo igualmente criativo, mas mais longo e mais solitário. Precisa de existir uma capacidade de apreciar e absorver vários estilos de música e, mesmo assim, criar algo completamente diferente. 

Embora seja comum no meio associar imediatamente o DJing e a Produção Musical à música eletrónica, ambos os profissionais têm um leque de competências que vão muito além deste universo. Um apaixonado pela música eletrónica tem dúvidas por onde começar, porque as vê como complementos, imagina-se como um DJ de festas e festivais que pretende produzir as próprias músicas. 

No entanto, num contexto de formação, é importante que no início do seu percurso sejam guiados, mostrando-lhes as diversas carreiras que podem percorrer, e que cada caminho é infinitamente mais abrangente do que o preconceito inicial. Como em qualquer área de formação e desenvolvimento, é necessário entender que o futuro é incerto e que uma formação sólida numa dada área pode resultar numa carreira promissora por caminhos não previstos. É nestes caminhos alternativos que as duas áreas se separam e cada um deve analisar qual a opção que reúne competências que o possam levar a trajetos profissionais mais promissores e nos quais se sentirá mais realizado.

Ainda que um DJ possa estar mais associado à música eletrónica, a festas, clubes ou festivais, e que esse seja o grande sonho de um jovem aluno, o futuro pode reservar-lhe a uma carreira de sucesso na rádio, relegando as festas para complemento esporádico ou apenas hobby. Neste caso, as competências de Produção Musical serão pouco mais do que um saber que não ocupa lugar ou mais uma ocupação de tempos livres.
 
Por outro lado, um produtor musical, poderá escolher ao longo do seu percurso dedicar-se à produção de música para outros, sejam eles DJs ou bandas, etc. O conhecimento técnico e criatividade de um produtor musical pode levá-lo até carreiras ainda mais distantes da sua ideia inicial, fazendo carreira na televisão, cinema, rádio ou até no desenvolvimento de músicas para a indústria dos videojogos. Tudo o que precisa de acompanhamento de música precisa das competências de um produtor musical. 
 
Se já andas com o "bichinho" da música, seja eletrónica ou não, começa por pensar em que contexto é que gostarias de te inserir. Alarga o leque de opções e entende que decisão te pode abrir mais portas com que te identifiques. Esse primeiro passo vai-te ajudar a aproveitar ao máximo o tempo de aprendizagem. 

Se o teu objectivo é entreter uma multidão, então vais querer ser DJ.
Se gostavas de fazer a banda sonora de um filme, vais querer ser produtor musical. 
Se gostavas de fazer criar efeitos sonoros para um jogo de playstation, vais querer ser produtor.
Se gostavas de passar música na rádio, então, se calhar, queres mesmo ser DJ.
E os exemplos continuam.

A verdade é que não estás limitado a um ou outro, podes ser os dois, podes não querer perder a oportunidade de tocar o teu próprio som. As opções são infinitas e nós não podemos escolher por ti. Esperemos que isto tenha ajudado, pelo menos a definir prioridades e a alinhar objectivos.
 
AIMEC
Academia Internacional de Música Eletrónica
Publicado em AIMEC
sexta, 23 outubro 2020 21:31

A Conexão que falta

Faz precisamente meio ano (6 meses) desde que redigi a minha última crónica, infelizmente pouco do que desejamos mudou! Mas desta vez não vou escrever acerca disso, mas sim relatar um pouco e registar a minha opinião sobre o que tem vindo a acontecer.

Enquanto o calor do Verão já lá vai e com ele os bons números que estávamos a registar relativamente ao novo vírus, a vontade de regressar e estar junto do público é cada vez maior, tanto para mim, como para todos os que sentem saudade de uma boa dose de conivência social sem qualquer tipo de restrições.

Durante este tempo tenho vindo a trabalhar no estúdio, onde preparo os meus novos e próximos releases assim como os da minha editora "Digital Waves", ou gravo os meus programas de rádio. Tenho feito também alguns "live streams" com alguns parceiros de forma a manter a proximidade com o meu público e continuar a mostrar toda a música nova que recebo e compro, mas, claro, de uma forma mais responsável a que me sinto obrigada.
 
No dia 15 de Agosto fiz o "Eco Stream", com as redes sociais a transbordar sessões em direto, e a questão dos direitos de autor bloquearem as transmissões. Senti que era momento para fazer uma pausa com estas ações. Reuni a maioria dos meus parceiros a nível mundial (foram mais de 50!) e fiz algo ainda mais especial. Foram duas horas de set, onde preparei um pouco das sonoridades com que mais me identifico de forma apresentar uma viagem musical coerente, transmitida através de um dos meus locais de eleição para relaxar perto de minha casa, o "Parque Ambiental do Buçaquinho". Foi fantástico estar em contacto com a natureza com a minha música e o resultado final foi fantástico.
 

Não existe a conexão, a sinergia, a emoção de estar frente a frente e em perfeita sintonia a cada beat que passa.


Tudo isto é bonito e adoro, mas falta o mais importante, o meu público! E por mais que possam dizer que é alguma coisa, sim é, mas não o sinto da mesma forma. Não existe a conexão, a sinergia, a emoção de estar frente a frente e em perfeita sintonia a cada beat que passa.

E isto leva-me a outra questão. A questão de não ter feito nenhum evento (com as devidas restrições e cuidados claro) desde que a pandemia se instalou. 

Tive a possibilidade de fazer vários eventos, devidamente preparados e atendendo às demais directrizes que já todos sabemos e são desnecessárias de enunciar. Mas decidi não fazer para já. Preciso de sentir o que já referi e acima de tudo reside em mim uma enorme responsabilidade e necessidade em ver esta questão resolvida, o mais breve possível. Só aí fará realmente sentido.
 
Para ir de encontro à essência da questão e na minha opinião apenas, vejo muitas coisas a acontecer, umas bem feitas e com consciência dos riscos e da conjuntura atual, outras nem por isso. E aí reside a questão em jeito de interrogação retórica, "vale a pena?."

Tenho que deixar claro que existem muitos a fazê-lo com cuidado e por necessidade, aí sou totalmente a favor. De resto, acho que algumas prioridades devem ser revistas. Vamos ter muito tempo para festejar e estarmos todos juntos, e vai saber muito bem, mas primeiro tem que haver real consciência do que se passa e agir em conformidade com isso. É imprescindível manter uma mente positiva e continuar com as demais ações de forma a manter a cultura bem viva e a "chama" com o público bem acesa.

Por outro lado a questão do Estado e os apoios às entidades nesta fase são imprescindíveis e não podem de forma alguma ser descorados...  As medidas de apoio (para as salas de espetáculo, clubs, promotores, artistas, staff, todo o sector de animação noturna, etc.) para todo este "mundo" referente à cultura electrónica devem ser urgentemente revistas e executadas de uma forma sólida e permanente. Contamos com muito pouco e é impossível qualquer tipo de instituição resistir a meio ano sem faturação, desta forma, as falências serão inevitáveis e um grave problema sem solução será instalado.

As entidades governamentais têm que assumir uma posição especifica para todas estas actividades de animação, se assumem que não há condições sanitárias para o funcionamento, têm de compensar e assegurar que este sector que tanto contribui para a cultura e turismo não passa por mais dificuldades que as que já tem vindo a suportar.
 
Como refere José Ortega "A cultura é uma necessidade imprescindível de toda uma vida, é uma dimensão constitutiva da existência humana, como as mãos são um atributo do homem."
 

Temos muitos bons artistas em Portugal, de fazer inveja ao resto do mundo e refiro isto em todas as vertentes da electrónica. Agora, mais do que nunca, faz sentido dar prioridade ao produto nacional.


Na minha opinião também, a forma como vamos retomar deve ser cuidadosamente pensada e não feita por impulso. Temos oportunidade de mudar algumas coisas que estavam menos bem no nosso sector, foi-nos dada esta oportunidade, não a podemos deitar a perder.

Deixo também a minha sugestão a todos os promotores, proprietários de clubs, etc.. Temos muitos bons artistas em Portugal, de fazer inveja ao resto do mundo e refiro isto em todas as vertentes da electrónica. Agora, mais do que nunca, faz sentido dar prioridade ao produto nacional.

Existe também a possibilidade de mudar a mentalidade da noite ter que começar tão tarde, podemos recuar todos um pouco os horários e fazer as coisas com mais coerência, mas isso exige uma grande sinergia que obviamente depende de todos.

Até breve, numa cabine, bem perto de vocês.
 
Publicado em Miss Sheila
sexta, 29 maio 2020 22:08

Indústria da noite VS Pandemia

Nesta minha crónica para a 100% DJ decidi não falar do foco principal que normalmente guia a ideologia desta plataforma, mas faço-o muito por achar que nesta altura as duas acabam inevitavelmente por estar interligadas, ao mesmo tempo que peço desde já desculpa aos leitores pela extensão da mesma. 

Desde o princípio do mês de Março que o nosso país, bem como o resto do mundo tem sofrido de uma forma absolutamente inesperada com uma pandemia assassina e muito calculista que tem matado indiscriminadamente um pouco por todo o mundo. Na altura, o confinamento geral acabou por ser a decisão mais correcta, causando danos imediatos na nossa sociedade e comércio, bem como na nossa indústria, a nocturna, que como todos sabemos vive constantemente numa situação periclitante e de constante luta pela sobrevivência. É evidente que factores como o distanciamento social e todos os cuidados que nós, como cidadãos, tivemos que começar a adoptar, imediatamente fizeram perceber que os negócios de diversão nocturna iriam imediatamente ser os mais afectados, e com todo o sentido. 

A verdade é que cumprimos o nosso papel e, sem qualquer tipo de indicações ou apoios de qualquer espécie, fomos até, por iniciativa própria, os primeiros a compreender que era hora de cerrar os punhos e lutar contra um inimigo invisível. Os dias foram passando, a pandemia foi sendo controlada, o nosso país e Governo foi tido como exemplo lá fora e lentamente foram começando a ser dados passos para que lentamente pudéssemos todos voltar à normalidade, mesmo que condicionados e sendo obrigados, como é lógico, a ter em linha de conta que o problema não tinha desaparecido, mas sim controlado. 

Sector a sector, muito cuidadosamente, foram sendo abertas as portas das vidas de milhares de empresários, que puderam pelo menos olhar para o futuro com uma perspectiva mais animadora. Até aqui tudo bem, até nos termos começado a aperceber que esta mesma esperança não iria ser dada a todos, tendo inclusivamente os bares sido passados do sector de restauração e bebidas, onde sempre "viveram", para um sector invisível que até aos dias de hoje ainda não conseguimos muito bem perceber qual é. Numa primeira fase abriria a indústria que teria que abrir, e bem, e os bares e discotecas nem sequer eram tópico de conversa, quanto muito com uma previsão, mas na altura achei que tal era perfeitamente compreensível. Seguiu-se a segunda fase de desconfinamento, abrindo já o sector de restauração e bebidas, de onde os bares foram retirados como que por magia, e mesmo que com regras e restrições de horários lá tivemos cafés e restaurantes a ter a possibilidade de funcionar, sendo mais uma vez o sector noturno ignorado e sem qualquer tipo de informação relativamente ao futuro. Nesta altura, já os empresários lutavam contra a situação de ausência de qualquer tipo de apoio ou pelo menos uma perspectiva que daria uma luz ao fundo de um túnel muito escuro.
 

É verdade que faltará muita organização para se conseguir criar uma força que realmente tenha um peso suficiente para que pelo menos sejamos considerados, e isso é sem dúvida culpa nossa (...)


É verdade que faltará muita organização para se conseguir criar uma força que realmente tenha um peso suficiente para que pelo menos sejamos considerados, e isso é sem dúvida culpa nossa, se calhar passamos tempo demais a trabalhar e não devíamos, mas isso não significa que, devido a isso, tenhamos que continuar a ser ignorados quase em forma de desprezo ao ponto de serem absolutamente inexistentes as palavras "sector nocturno" nos comunicados do nosso primeiro-ministro, à excepção da única vez em que foi confrontado directamente por um orgão de comunicação social, a TSF, tendo o mesmo até parecido ter ficado bastante incomodado ao ponto de apenas dizer que se a indústria nocturna tivesse que ficar encerrada durante o Verão, iria ficar e isso não iria ser problema nenhum. 

Quando tomei conhecimento deste comentário, na minha opinião de uma irresponsabilidade política absolutamente inexplicável, dei por mim a analisar a situação actual, na qual observo alguns café e restaurantes que têm que encerrar às 23 horas, a funcionar ilegalmente até horários permitidos aos bares, a oferecerem serviços de bar sem terem qualquer tipo de especialização para isso, e numa altura em que até já se fala em levantar grande parte das restrições a este tipo de estabelecimentos, muitos deles continuam a não mostrar qualquer tipo de preocupações com as regras da Direção Geral de Saúde e a laborarem numa perspectiva bastante animadora, até porque se tivermos em linha de conta que uma boa parte da população portuguesa se encontra em "tele-trabalho", várias vezes conseguiremos facilmente afastar o cenário de pandemia dos nossos pensamentos ao andar na rua, tal é a descontração com que vemos as pessoas a retomarem as suas vidas de uma forma absolutamente normal, ao ponto de poderemos imaginar até que estamos em pleno Verão, notando-se um afluxo a esplanadas, cafés e restaurantes absolutamente anormal e até surpreendente para a data, na minha opinião, isto tudo para não falar na proliferação de festas ilegais, algumas que contaram já com mais de 100 pessoas como já me foi relatado por vários colegas de norte a sul do país e onde até, segundo a comunicação social, já aconteceram violações. 
 

Cada um civicamente acaba por ser responsável pela sua conduta, e irá sofrer, ou não, as consequências das suas atitudes (...)


Até aqui infelizmente tudo bem, cada um civicamente acaba por ser responsável pela sua conduta, e irá sofrer, ou não, as consequências das suas atitudes, mas ao voltarmos um pouco atrás reparamos num pequeno pormenor que me parece que estará a passar ao lado da vista de todos. Então, e o sector nocturno, como está no meio disto tudo? Absolutamente esquecido, com senhorios, empresários, bartenders, DJs, músicos, funcionários, marcas de bebidas, pequenos e grandes distribuidores e todos os que dependem desta indústria absolutamente entregues à sua sorte e, pior que tudo, a sentir na pele uma discriminação e desprezo sem comparação num Estado Democrático, ao mesmo tempo que assistem a esta série de acontecimentos que parecem estar a passar ao lado da opinião pública.

Os bares não podem abrir, mas os restaurantes e cafés trabalham o nosso mercado, as discotecas não podem abrir mas o festival do Avante não pode deixar de ser feito, as salas de espectáculos têm limitações do tamanho de 20m2 mas os aviões não têm restrições porque os passageiros apenas olham para a frente, ou seja, resumidamente, a cultura e a diversão nocturna não poderão nunca ser equacionados porque apenas não temos direito e somos um factor gravíssimo de risco. E será que ninguém pensa que talvez conseguíssemos dar mais garantias de segurança do que o café da esquina, onde toda a gente se abraça e faz de conta que tudo isto passou? E será que as discotecas não fariam um melhor trabalho de segurança do que uma qualquer garagem da Amadora? E o que fazemos aos milhares de artistas que ganhavam a vida a causar lazer e descontração a todas estas pseudo-figuras nas suas pausas de trabalho no Verão onde já eram imprescindíveis, para lhes dar música, fazer cocktails ou simplesmente os servir, o que fazemos aos milhares de funcionários altamente especializados que cada vez mais engrandeciam a qualidade de serviço do nosso país ao ponto de colocar Portugal como um dos mais apetecíveis destinos turísticos do mundo? O que fazemos aos milhares de espaços que anualmente enchiam os cofres do Estado com milhões de Euros em impostos apesar de serem constantemente bombardeados com impostos, taxas e licenças completamente desajustadas e algumas até inconstitucionais. 

Já não basta sermos preteridos em relação a um qualquer café ou esplanada que há anos que só sabe o que é servir cafés, tostas-mistas ou refrigerantes, ou a uma qualquer garagem ou anexo de acesso duvidoso, onde não existe qualquer tipo de segurança, não só contra o Covid mas também contra a nossa própria integridade física?
 

A pior coisa que poderemos algum dia sentir como cidadãos contributivos e activos dentro da economia do nosso país é sermos constantemente postos de lado, ao ponto de nem contarmos para uma terceira fase, e última de desconfinamento.


A pior coisa que poderemos algum dia sentir como cidadãos contributivos e activos dentro da economia do nosso país é sermos constantemente postos de lado, ao ponto de nem contarmos para uma terceira fase, e última de desconfinamento. O tratamento tem que ser igual para todos, cada sector tem que trabalhar para o seu mercado, porque é precisamente para isso que está habilitado, e um estado de direito não pode nunca dar a entender que devido a interesses políticos, existem prioridades e não-prioridades, a isto se chama viver num estado democrático. Ou se abre ou se fecha tudo, conforme os interesses não é boa política. 
Onde está o dinheiro dos nossos impostos de que finalmente tanto precisamos para conseguirmos superar isto? É que agora precisamos dele, e não pode haver desculpas. Acho também que está na altura de darmos o nosso grito de revolta, espalhando a nossa revolta um pouco por todo o país, até porque, ou muito me engano, ou não me parece que esta situação vá ter algum tipo de alteração nos tempos mais próximos, até porque à hora que escrevo esta crónica recebo a notícia de que por exemplo os cinemas vão abrir com total liberdade em termos de ocupação, já para não falar dos aviões não vão ter também qualquer tipo de restrições e até da festa do Avante, que vai ter que ir para a frente. E como ficamos nós, bares e discotecas deste país? Provavelmente iremos ter que deixar de existir...

Para terminar, e como um artista que já levou o nosso país a todo o mundo, e como empresário que já há muitos anos contribui arduamente para o sistema financeiro do nosso país, sempre sem falhar, até porque tal não me é permitido, ao contrário do oposto, sinto que o meu país está a falhar comigo, com os meus colegas artistas e com os meus colegas empresários, e isto é simplesmente inadmissível, diria mesmo que é uma vergonha pandémica! 

A realidade é esta, nós para eles não contamos para nada, a não ser para entregar os impostos, e isto é uma postura de país de terceiro mundo completamente inaceitável em pleno Século XXI. Está na altura de darmos uso à nossa voz, até porque como já percebemos, a comunicação parece claramente estar em sincronia com esta ostracização em relação a esta situação, ou muito me engano ou estamos prestes a ser o único sector a nível nacional que irá continuar encerrado.
 
Carlos Vargas
Publicado em Carlos Vargas
Todos falavam da iminência de uma nova crise, no final de 2019 era prognóstico que no ano seguinte era certo que uma crise económica nos iria bater à porta. Ninguém ligou, qual 1.º prémio do Euromilhões, que todos pensam que só sai aos outros, a crise veio por forma de uma pandemia que nos confinou todos em casa, que desacelerou a economia a velocidades perto do ralenti, fechou quase todos setores de atividade, foi democrática e ninguém estava preparado.

A noite foi das primeiras a fechar portas, mesmo antes do governo decretar o seu encerramento, já muitos cancelavam eventos e outros fechavam mesmo portas. Foi a primeira a fechar e, apesar dos esforços dos empresários desta indústria, parece estar a ficar para o fim sem data marcada para abrir portas. 

E que noite podemos nós encontrar? Como serão as discotecas e os bares adaptados a esta nova realidade? Tenho pensado muito neste assunto e não se admirem se aquilo que irei agora escrever seja diferente do que já tenha escrito no passado, mas a realidade é que, em virtude das informações e desinformações que tenho recebido, ao longo deste tempo de pandemia, tenho tido um comportamento quase bipolar e muitas vezes prefiro reduzir-me ao silêncio.

A pergunta é simples, é possível, com todas as restrições abrir uma discoteca ou um bar? Sem dúvida, todos os espaços podem abrir e, acima de tudo, têm o direito de abrir, coloquem todas as restrições, imponham as regras, exequíveis claro, mas permitam que cada empresário tome a decisão de abrir ou não, se pode e tem condições para abrir ou não, porque os seus clientes, os utentes da noite também têm o direito de escolher se vão ou não comparecer na noite. 

A palavra de ordem é "bom-senso", por parte de todos, os empresários e os utentes. Porque a realidade é esta: ou nos portamos bem ou, à imagem do ocorrido da Febre Espanhola, uma segunda vaga será catastrófico, por isso "juizinho". 

Tudo é possível, com peso e medida. Todos de máscara na noite? Será possível projetar uma noite onde todos estarão de máscara? Com certeza, até digo mais, pode ser muito divertido, com a certeza que a pista de dança saberá bem melhor. Covid-vos a dançar... Boa noite!
 
Zé Gouveia
Publicado em Zé Gouveia
terça, 01 março 2016 20:53

Obrigação ou imposição?

Olá noctívagos, foi longo o tempo que passou desde a minha ausência neste meio editorial de temática noturna. O pedido de participação da 100% DJ estende-se desde longa data e várias foram as recusas, não por falta de interesse, não por falta do mérito neste editorial que merece desde sempre e cada vez mais o apoio dos profissionais da noite, simplesmente porque o meu rumo profissional foi-se afastando desde meio, nunca a 100%, mas a vida são portas que selecionamos, abrimos e fechamos no constante dia-a-dia. Atempadamente a 100% DJ fez o convite que foi aceite no momento, no entanto os dias passam a correr, as semanas e meses sem vermos vão riscando o calendário e dei por mim a 24 horas da entrega desta crónica. Não é fácil cumprir prazos editoriais, mas eu, confesso que abusei da boa vontade tão atempada por parte da 100% DJ. Com isto, dei por mim a pensar se escrever esta crónica seria uma obrigação ou uma imposição. A minha forma de escrita é direta e sincera, dito isto, a resposta não podia ser mais clara que, não é uma obrigação, nem é uma imposição, é o respeito pela 100% DJ, é o respeito pelos seus leitores.
 
Na noite há situações nas quais se aplicaria a mesma questão “obrigação ou imposição?”, ora vejamos, selecionemos uma das posições de profissionais mais aclamadas do sector, o DJ! É obrigação aceitar alguns trabalhos ou é imposto que o faça? É obrigação ter que tocar alguns temas ou é imposição? Focaremos inicialmente o primeiro ponto. O aceitar algumas datas, gigs, trabalhos, como acharem melhor expressão, vai depender muito da carreira do mesmo, do “estatuto” que o mesmo conseguiu ganhar, conquistar e alcançar. Um artista em início de carreira e completamente amador deverá aceitar todo e qualquer tipo de trabalho, é em prólogo do mesmo esta aprendizagem, o ganhar experiência, sujeitar-se mesmo àquelas casas que nada conhece e por vezes de pista vazia…
 
Um DJ em início de carreira mas já com nome “regional”, não diria que bloqueia casas que não são do seu interesse, mas não aceita caches ridículos, não aceita tocar numa casa que trabalhe com um estilo musical com que não se identifica, ou fora da sua zona de conforto; este modelo ambiciona alcançar mais degraus, patamares e estatuto, preocupa-se com cada passo que possa dar em falso, prejudicando o seu futuro.
 

(…) pedir uma kizomba, a um DJ bem definido na vertente Techno, House, ou mesmo EDM, seria no mínimo ridículo (…)

 
Por fim, temos o DJ de renome, e não, não falo de um estatuto “topo”, não falo do artista que já alcançou inclusive renome internacional, este, antes de aqui chegar esteve anos num “piso” que não é “carne nem é peixe”, no entanto é alguém com nome no mercado, é aquele artista que no mínimo quando é falado, quem não conhece, responde, “não sei quem é, mas já ouvi falar”. Este artista está num patamar em que se pode dar ao luxo de selecionar onde irá tocar, esta questão pode não só partir de pontos pessoais, como de uma questão de gestão de carreira, ou seja, não tocar repetidamente num raio de quilómetros dentro de um determinado tempo de modo a não cansar o mercado e por sua vez o seu nome. Esta gestão neste patamar é já muitas vezes feita por um manager ou um bom booker que tenha capacidade de aconselhamento. Aquando a chegada a este “estatuto” o artista jamais aceita tocar num evento, ou numa casa que não seja o seu estilo musical (já muito bem definido neste patamar), a título de exemplo, pedir uma kizomba, a um DJ bem definido na vertente Techno, House, ou mesmo EDM, seria no mínimo ridículo, e o próprio público com “dois palmos de testa” nem se atreveria a fazer este pedido, isto aquando conseguida a aproximação do artista, muitas vezes inalcançada já neste DJ.
 
“Estatuto” - palavra tão usada nas linhas anteriores, de ânimo leve, bem sei, trata-se de anos de trabalho, nos quais tantos ficam “à sombra da bananeira” e acabam por desistir.
 
Em suma, e tentando concluir sem me alongar este ponto, até serem “gente”, sejam humildes! Vivemos uma geração em que está na moda ser DJ, quem leva esta profissão a sério são poucos, o que torna tudo muito mais difícil. “Obrigação ou imposição?” - depende de ti!
 
A música, o género, as faixas! 
É aqui que se coloca a grande questão, a prova de fogo. Para bons entendedores, as linhas anteriores serviriam de resposta a este segundo ponto. No entanto, vivemos nos últimos anos a “geração Juke Box”, dou por mim a partilhar a cabine com profissionais, colegas, amigos, que são abordados constantemente ao longo da noite com pedidos de temas, géneros e autores. Ora… falemos do passado, a cabine do Disc Jockey não era inacessível ao público há 15 anos porque ele tinha mau feitio, era justo por situações como a descrita agora.
 

(…) um DJ, nomeadamente os residentes, tantas vezes esquecidos, e são quem exerce a função de melhor escola dentro da profissão (…)

 
Escuto entre conversas, entre amigos de profissão, entre profissionais por diversas vezes, que o público é limitado, pede sempre os mesmos temas! A questão impõe-se: devo ou não ceder a estes pedidos?
 
Serei obrigado? Sinto a imposição do público…
 
Como tudo na vida aplica-se o bom senso, o nem 8 nem 80, mas acima de tudo, se um DJ, nomeadamente os residentes, tantas vezes esquecidos, e são quem exerce a função de melhor escola dentro da profissão, um artista que toca numa casa de estilo misto e que acabou de tocar mais de 15 minutos de kizomba, muda o seu estilo para house ou qualquer outro, e eis que surge o “piolho” do público a pedir aquele tema da moda dentro do género “kizomba”, é óbvio que este pedido deve ser totalmente ignorado! 
 
Eis que se coloca a grande questão… “mas passado uma hora devo repetir? É uma obrigação? Ou é uma imposição?” Tantas vezes do público, tantas outras do gerente ou proprietário da casa. A resposta certa?! Gostaria de dizer que não! Não vão repetir um tema que acabaram de tocar, MESMO HÁ UMA HORA ATRÁS! Lembram-se do bom senso? Eis a hora de aplicar o mesmo. Para obter a resposta, pensem, ou perguntem-se! Quem sou eu? Onde estou a tocar? Mas acima de tudo… quem está na pista? A noite é um negócio! A mercearia vende batatas, o banco notas e a discoteca bebidas, consumidas por quem vos ouve, sem eles, não és nada! É a eles que tens de agradar! Significa isso que tens de te repetir? Significa isso que tens de fazer um mau trabalho que não gostas nem consideras correto? Volta ao ponto 1! Em que patamar estás tu?
 
Obrigação ou imposição? Foste obrigado a colocar ou a tocar aquele género musical? Foi-te imposto aquele tema? 
 
Não! O bom senso! Tu mesmo deverás chegar à resposta do que foi certo naquele momento. Naquela casa. Naquele gig. Naquele momento da tua carreira! Mas acima de tudo, o que o público estava a sentir.
 
Mais que um profissional, és um educador musical. Não o fazes por obrigação, não o fazes por imposição. É a profissão que escolheste, é isso que queres ser?
 
Ivo Bacelar
Publicado em Ivo Bacelar
quarta, 07 março 2012 00:00

Ser ou não ser

Deixou de ser, finalmente, a questão.
Estamos no acelerado século XXI. E todos querem ser 2 em 1. Ou 3 em 1. O que estiver mais a jeito para trazer a fama com que se sonha de dia e, sobretudo, de noite.
Estamos na era dos futebolistas-estrela, dos cantores-estrela, dos manequins-estrela, dos DJ-estrela.
Ora, se para dar toques na bola é preciso ter "jeito", se para cantar é preciso ter voz e se para ser manequim é preciso, pelo menos, ter altura e ter um palmo de cara... Para ser DJ basta ter meia dúzia de trocos no bolso e fazer o "Curso".
Sim, pode ser a fama que primeiramente motive todos aqueles que lutam por um lugar ao sol (de preferência em Miami), mas não é essa a principal razão que leva tantos (e tantas) a suspirar pela profissão.
A verdade, crua e dura, é que, para ser DJ - nos dias de hoje - não é necessário qualquer talento: as máquinas fazem o que só o coração dos homens deveria comandar. E este é o motivo que torna o Djing, a profissão mais desejada.

Numa época difícil, em que as expetativas de futuro são cada vez menores e em que se fecham centros de novas oportunidades, há lá possibilidade melhor do que a de ser DJ?
Ou DJ e manequim? Ou  DJ e ator? Ou DJ e futebolista? (um bocadinho mais difícil, esta!)

Na verdade, nada contra. O único problema é da infinita desilusão: porque tudo o que é fácil é facilmente imitável, porque copiar é mais fácil do que criar e porque, no fim, apenas meia dúzia conseguem atingir o patamar onde se pintam os sonhos.
Isto não quer dizer que não seja legítimo querer "ser DJ". Pelo contrário. Todos podemos ser tudo... Aquilo que consigamos aprender. Mas nem todos vão lá chegar: nem todos têm a aquela “chama”, naquela que é a essência de ser "dono" de uma cabine, mestre musical de uma noite, a não mais esquecer. E Darwin volta a acertar em cheio.
Entretanto descobrem-se verdadeiros mestrados nestas questões do ser ou não ser DJ. Em geral aparecem em imundas páginas das redes sociais e nada acrescentam de valor ao que é o fenómeno do momento. E esta é outra questão: o momento dita esta moda, outras mais estão para vir.
 
Pelo meio apenas fazem história os que, 3, 6 ou 1 data por mês, são qualquer coisa mais. Música. Coração. Carisma e ética. Disciplinas que não se avaliam via diploma e cujo valor é muito maior do que aquele que qualquer pseudo super equipamento para DJ pode comprar.
 
Mariana Couto
coutomi(at)gmail.com
Publicado em Mariana Couto
terça, 10 novembro 2015 00:03

Top 100 DJs: como deverias chegar ao topo

 
Começo por felicitar os dois Portugueses que se mantiveram no TOP 100 - mais um ano em que Portugal está, e bem, representado no top e a na minha opinião o Diego Miranda (#58) e o Kura (#61) são os DJs/Produtores nacionais (do circuito 'comercial') que mais trabalharam a nível internacional este último ano e por isso fico feliz ao ver que o seu trabalho foi recompensado.
 
Analisando a DJ MAG, é preciso ter em atenção que de há uns cinco, seis anos para cá se tornou um top de popularidade versus investimentos e que, dentro de todos os estilos de música e de DJing, na minha opinião, apenas incide dentro do comercial - até porque são esses os DJs que fazem campanhas de votação. Não vemos os DJs do 'underground' (Exemplo: Seth Troxler, Jamie Jones, Dubfire, etc - só para referir alguns, dentro das centenas de excelentes produtores e DJs) preocupados com as votações nem a fazer campanha. Alguns até fazem comentários a ridicularizar o top, mas se não fazem 'campanha', acabam por ser ultrapassados por outros, se calhar não tão bons DJs ou produtores. Claro está que, para muitos DJs, o lugar que ocupa na DJ MAG representa mais ou menos concertos ao longo do ano e ainda um aumento ou diminuição de cachet.
 

O lugar que ocupa na DJ MAG representa mais ou menos concertos ao longo do ano e ainda um aumento ou diminuição de cachet.

 
Esta premiação é um negócio para a DJ MAG e possivelmente é o que sustenta a revista, já que toda a gente a conhece mas contam-se pelos dedos as pessoas que algum dia a abriram, folhearam ou compraram. Como o voto é feito através do Facebook, criaram uma base de dados dos votantes com todas as preferências que o Facebook partilha. Inclusive, surgiram rumores por parte de alguns DJs internacionais que a DJ MAG exige a compra de uma página de publicidade para poder figurar no top.
 
Na minha opinião, a forma mais justa de avaliar quem deveria estar no top 100 da DJ MAG seria com uma contagem de venda de bilhetes ao longo do ano, número de músicas vendidas aliado à performance enquanto DJ - mas como isso é praticamente impossível e a DJ MAG é por votação, vão sempre haver surpresas nos resultados e discordâncias no público em geral, que não imagina as jogadas de bastidores que são feitas, mas ainda assim, ficam revoltados. Para mim este não é um top real do panorama mundial de DJs e produtores de todos os estilos, fica-se apenas no circuito 'comercial' - como o top do resident advisor (que se calhar o pessoal do 'comercial' não conhece) também não é um top real porque se foca em DJs do 'underground'. Ambos valem o que valem.
 
Em relação aos últimos resultados da DJ MAG, no que fui acompanhando nas diversas redes sociais, o que me quis parecer foi que o sentimento de revolta foi superior aos anos anteriores - é normal que o público em geral esteja surpreendido com os resultados da votação, uma vez que muitos artistas reconhecidos internacionalmente não lideram a tabela e ficaram em posições mais distantes do topo ou nem sequer entraram no top 100. O top 20 não me faz confusão e nele figuram os artistas que previa, independentemente das posições. Os resultados mais surpreendentes são os do meio da tabela com artistas consagrados em posições muito longe do top 50 e a perder o lugar para DJs que não têm esse reconhecimento, quer no meio artístico quer junto do público. Hoje em dia os resultados não são um reflexo real do sucesso e trabalho em produção musical, vendas de bilheteira, número de plays, tops de vendas de música ou de performance de palco. 
 
Dan Maarten
Publicado em Daniel Poças
domingo, 05 novembro 2017 21:31

A noite de novo em prime time

Mas qual Urban Beach? O problema não é de hoje nem de ontem. Foi, é e será sempre, apenas e só o "K"!
 
Começo por esclarecer, que discordo totalmente e considero inadmissíveis alguns dos actos que vi por parte de alguma da segurança da casa mas, também estou longe de conhecer toda a verdade pois, garantidamente que tudo isto aconteceu fruto de muita coisa.
 
Infelizmente, a noite não é segura e não o é por uma razão simples. À volta de quem sai tranquilamente para se divertir, existe quem saia apenas e só para arranjar problemas, quem saia para roubar, quem saia para alimentar grupos de conflito e tudo, sem a polícia se encontrar nas redondezas; é mais fácil e menos complicado estar em operações Stop na caça à multa! Mas, manda quem pode, obedece quem é esperto e também os polícias acabam embrulhados num problema que não é deles.
 
Ao longo de duas vidas, provavelmente somados, pelo menos sessenta anos bem intensos, apenas registei um problema com a segurança e esse, foi prontamente resolvido pela dita segurança no local e no mesmo dia. Para ser respeitado, é preciso respeitar e essa, é a regra de ouro que cada vez alimenta menos gente que por aí anda.
 
Há bons e maus profissionais, sejam eles seguranças, empresários, barmans, djs ou outros, tal como, existem bons e maus clientes e até, clientes que servem para um mas, não servem para outro espaço. Não raras vezes, tudo isto, é bizarramente conotado com racismo ou sectarismo mas, meus caros, no Palácio de Belém apenas dorme o Presidente e quem ele bem entende e para usufruir da Assembleia da República, é preciso fazer parte da corja reinante ou então, só passando pela revista e de Cartão de Cidadão na mão. Não somos todos portugueses? Não deveríamos todos poder ir à cantina da AR?
 
O "K" por desde sempre ter definido padrões, regras, ideias e formas, por nunca se ter escondido de assumir pretender ser, ter e fazer o melhor, sempre seleccionou e isso, naturalmente que foi provocando e continua a provocar uma profunda dor de corno a quem não está dentro dos padrões por eles definidos. É traumático, imagino que seja mas, é a tal democracia a funcionar. Ou não? Serei eu obrigado a abrir o meu investimento a quem não quero? Não me parece!
 

Ao contrário do que a maioria pensa, a segurança não é gratuita, custa muito dinheiro a uma casa (...)

 
Nos últimos anos, não raras vezes vi situações em que, sem um segurança é impossível uma rapariga chegar ao seu carro sem ser importunada e como polícia não há, lá vão sendo enviados os seguranças da casa. Estaladões no meio da rua a miúdos já vi muitos e sempre, por grupos de animais, que por um telemóvel é capaz de tudo.
 
Ao contrário do que a maioria pensa, a segurança não é gratuita, custa muito dinheiro a uma casa, é mais uma área delicada a controlar... tem que se lhe diga! Porém, sem ela, garantidamente que cada discoteca seria uma selva, onde imperaria a lei das matilhas mais fortes e nada mais.
 
No dia em que nos deparamos com esta triste história à porta do tal "Urban Beach", em Coimbra, dois selvagens em pleno dia desfazem um bom samaritano de forma bastante mais barbara em plena rua. Fecharam os MacDonalds do país? Abriram Telejornais com eles, foram para o Facebook vociferar? Algum Ministro veio teorizar? Claro que não, a história é o Urban, a azia é o "K" e foi por isso, que tudo o que é paineleiro tudo fez para se meter no assunto. O Urban tem 38 queixas? E quantas tem o Metropolitano? É só tentar perceber a proporcionalidade, não esquecendo, que nos Urban's bebe-se álcool e é por norma, onde o João se atira à Clara que é namorada do Manuel... e repito, não há polícia!
 
Com e sem geringonças, todos meteram a foice em seara alheia mas, alguém se preocupou com a verdade, com as razões, com o que se passa noite a noite país fora! Todos falam do que não sabem e isso, é triste e caricato.
 
O Urban é mau? Come criancinhas? É provável que sim mas, é a casa que os mais novos preferem na cidade de Lisboa. Será, que é por ali chegarem e serem muito mal tratadas? Será esta, uma geração masoquista? Duvido!
 
Este é um problema de polícia, quem abusou, certamente será julgado e condenado dentro das razões que existirem para isso já que isto não é um caso de lesados do BES. Os ditos seguranças estão devidamente detidos, os dois "doutores" de Coimbra, à solta! Dois pesos e duas medidas.
 
Para ser franco, a quase totalidade dos comentários metem-me nojo, sinto neles de imediato repulsa, por neles rever traumas privados de muita gente que, em bicos de pés, aproveita para ladrar em regime de vingança pacóvia. É o que temos! 
 

Depois dos resultados da irresponsabilidade do Estado nos incêndios deste ano, a irresponsabilidade da falta de polícias à porta dos espaços nocturnos mantém-se vinte anos depois.

 
Lentamente, da melhor noite da Europa em 1994 para a catástrofe que se vê hoje passaram apenas vinte e tal anos e houve, quem previsse este desfecho, ele aí está.
 
Quanto à famosa PSG, terá certamente bons e maus profissionais, terá mais ou menos culpas no cartório e penso, pelas medidas agora tomadas no Urban Beach que metade dos bares do Bairro Alto irá também fechar ou talvez não, pois por aí, continua tudo a levar bom tratamento, não têm K!
 
Depois dos resultados da irresponsabilidade do Estado nos incêndios deste ano, a irresponsabilidade da falta de polícias à porta dos espaços nocturnos mantém-se vinte anos depois. Será assim tão difícil perceber, que hoje, sair de uma discoteca sem um segurança às 5 da manhã é um risco de alto calibre por culpa dos políticos que temos que apenas souberam legislar para o pagamento de direitos, direitos conexos e sei lá que mais direitos!
 
Mais uma vez, o "K" está na dança e pelo que vejo, não faltam idiotas a opinar e certamente que a grande maioria movida por outros interesses ou traumas.
 
Este, para mim, é apenas e só mais um caso de polícia. Tudo o resto que tenho lido, é apenas e só de lamentar.
 
Miguel Barreto
Publicado em Nightlife
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