Diretor Ivo Moreira  \  Periodicidade Mensal
segunda, 02 abril 2012 21:33

Conversas à beira bar

 
DJs...
Nos dias que correm, surgem cada vez mais DJs (wannabes) ou projetos envolvendo os mesmos. A polémica estalou! As casas agradecem os cachets mais baixos e a capacidade de movimentar gente, característica típica de RPs. Mas no meio de tanta polémica acabamos por atirar pedras, quando de facto mesmo nós temos telhados de vidro...

Um dia ao olhar à volta cheguei a uma conclusão: no nosso dia-a-dia protagonizamos algo que segue a mesma linha lógica sobre a qual muitos de nós se queixam.

As casas procuram DJs mais baratos que arrastem gente para os ouvir, fazendo um paralelo com outra realidade. Neste mundo existe tanta gente que tem um amigo habilidoso que consegue arranjar o nosso computador, TV ou máquina de lavar roupa, aí poupamos uns trocos por não precisarmos de recorrer a pessoas ou empresas especializadas que nos sairiam mais caras.
Então essas mãos e mentes habilidosas, embora não sejam formadas ou treinadas para a área especifica, acabam por “desenrascar” de uma forma que nos serve perfeitamente e nos favorece economicamente, retirando trabalho a quem estudou, treinou ou se especializou em determinada arte, ciência, etc.
 
A luta dos DJs já remonta a tempos míticos em que se criticava quem não tinha um mix perfeito ou não tocava uma determinada linha musical da eleição da maioria dos artistas mais conceituados. Agora para além da técnica ser quase nula por parte destes, ainda existe a problemática da qualidade musical que é em grande parte a única possível... numa conversão medíocre de um vídeo online para formato áudio (o que é ainda mais reprovável)!
 
Mas no meio de tantas polémicas esquecemo-nos que ser DJ não é apenas o “mix perfeito”, é sim a espiritualidade e a forma de estar com a música e o público numa sintonia repleta de boas vibrações e, de facto, o que falta em profissionalismo ou habilidade a todos os "wannabes" é compensado com essa boa vibe que eles levam para as cabines e pistas!

Prego atrás de prego (usando a gíria DJística) eles constroem uma noite bem regada de sorrisos, dança e amizade ainda que a técnica e qualidade sonora estejam ausentes... se bem que a base da história do DJing era apenas passar música sem ter necessariamente que existir o "mix". Se formos ao "fusilis" da questão, este novos iniciados também podem ser considerados DJs porque passam música (mesmo que pareça uma noite de feira popular ou um bom bailarico da terrinha)!

Já cansa tanta queixa. Vivemos num mundo livre e cada um tem o direito de experimentar, viver, vibrar e a música e o público potenciam toda uma panóplia de emoções. Chega de tanto drama, "diz que disse" e mau estar entre os demais.
Todos sabemos que no final prevalece sempre a qualidade e a alma que poucos podem oferecer. Em todo esse mundo se procura o barato de biscates mas no final quando queremos qualidade garantida, acabamos por recorrer a quem “sabe o que faz” e está certificado para isso, porque o mais barato por vezes sai caro...
Fica esta no ar para os mais atentos: “Deixa-os andar” como diria o mais típico dos portugueses!
 
Francisco Praia
www.facebook.com/funkyou2djs
Publicado em Francisco Praia
domingo, 17 fevereiro 2019 23:28

Os ciclos

O que podemos esperar de 2019? 
Um novo ano entrou e a apreensão que sentimos no seio da indústria da musica electrónica em Portugal é evidente. 
Em 2017, num dos artigos de opinião que escrevi para a 100% DJ, fui criticado quando afirmei que estávamos "a chegar ao fim do EDM". Hoje, é claro para todos que o EDM (electro, progressive, big room) está em queda e a adaptar-se a um novo ciclo.
Poderia fazer um exercício com cada um de vós para encontrar motivos e justificações, mas não existem. 
Tudo tem um ciclo, "sai de moda" e tem uma ascensão, pico e declínio. 
É certo que os estilos a que chamamos EDM (erradamente, porque EDM é uma sigla que abrange toda a música electrónica) não irão desaparecer, simplesmente deixarão de ser a principal referência para os amantes da Dance Music, e produtores e DJs terão de adaptar-se, reinventar as suas produções e actuações ou optar por manter o seu registo e identidade, tendo a noção que irão trabalhar para "um nicho de mercado", tal como outras sonoridades mais "clubbing" tiveram de fazer e "aguardar". 
 
Talvez esteja errado mas não consigo imaginar o aparecimento de nada de novo na música electrónica. Poderá aparecer algo "criativo" com alguma fusão de estilos, mas coloco muitas dúvidas que apareça um "Dubstep, D&B, Hard Style ou uma variação da House Music" que consiga afirmar-se como "novo ou inovador". Estou convicto que os ciclos serão cada vez mais rápidos e passageiros, tendo as diferentes sonoridades um nicho muito próprio de seguidores. 
 
Então e em Portugal? 
Portugal não é diferente e assistimos neste último ano ao desaparecimento de dezenas (para não dizer centenas) de DJs e produtores, sendo cada vez mais difícil a afirmação de novos talentos sem terem um elevado investimento financeiro que lhes permita ter uma equipa, meios de comunicação e marketing e uma rede de contactos que os acompanhe e catapulte para o mercado. 
Em termos de sonoridades também não somos diferentes do resto do mundo. 
Há um claro regresso das vertentes mais "House", o Techno está em novo crescimento e as sonoridades com vocais (letras completas) ocuparam o espaço do que antigamente chamava-mos de "comercial". 
O mercado (leia-se pessoas/consumidores) é e sempre será quem tem a última palavra e tudo o que julgamos prever ou ter certezas, não passa de uma leitura dos sinais que o mercado vai dando. 
 
Termino este primeiro artigo de opinião de 2019 com uma palavra para a 100% DJ, a quem parabenizo por mais um ano e agradeço o convite para continuar esta longa parceria/participação. 
Publicado em Ricardo Silva
terça, 15 março 2016 17:28

Moda de música ou música da moda

Começo por agradecer ao Portal 100% DJ pelo simpático convite de me juntar a esta prestigiada família.
Quando me convidaram para escrever esta crónica, pensei com medo, estando ciente de estar ao lado de tanta gente conhecedora da indústria, que eu não teria expertise suficiente sobre o assunto.
 
Confesso que pensei que deveria fazer como tantos famosos artistas mundiais o fazem… pedir a alguém que escrevesse e eu apenas dava o nome! 
 
Não cedi à tentação e escrevi apenas este texto como um... desabafo!
 
Lembro-me agora de uma troca de opiniões que tive nos finais dos anos 80 com o meu Pai, sobre um estilo musical que estava a dar os primeiros passos em Portugal: o House Music.
 
Nessa altura eu defendia a música gerada e difundida pelo "messias" Mr. Frankie Knuckles e que tinha como elemento característico a batida electrónica sempre acima dos 120 bpm. 
O meu Pai, amante de música e locutor de rádio nas madrugadas da Antena1, não compreendia como era possível alguém ouvir aquilo a que chamava “barulho” e pior... como era possível ainda alguém gostar.
 
Nessa altura, pensava eu: 
- O meu pai está mesmo velho, pois não compreende as novas tendências da música.
 
Hoje, passados anos, quando saio à noite nos principais eventos ou clubes mundiais, penso ao ouvir as músicas da moda:
- Como é possível alguém gostar disto?
 
Acredito que a minha filha pense também como eu há uns anos atrás que o pai coitado, já está velho e não entende nada sobre música moderna. 
 
Estou assustado com esta ideia, confesso! 
 
Será que estou mesmo a ficar velho e sem a capacidade de me atualizar musicalmente?
 
Penso então que talvez ainda haja uma possibilidade de me safar deste meu envelhecimento de actualização musical, peço então a vossa ajuda para refletirem comigo:
 
O agora auto-denominado EDM - (a que eu carinhosamente chamo “Música das Buzinas”). Começa logo pela usurpação de um nome - EDM
 
  • EDM - Electronic Dance Music é toda uma cultura de música de dança e electrónica e não apenas uma categoria dentro da pasta completa do House Music.
 
Aqui começa a minha reflexão sobre o que é a moda de música ou música da moda.
 
  • Nos anos 90 havia um estilo de música (EuroPop), que por tão frequentemente e quase que em exclusivo se ouvir nas feiras populares, até se utilizava a simpática denominação de música “carrinhos de choque”. 
 
A “Música das Buzinas” e enganosamente chamada EDM é na sua generalidade semelhante à música “Carrinhos de Choque”, sendo a sua construção sem grandes alterações na sua génesis musical e a aplicação de apenas modernos retoques de produção de máquinas que não existiam na altura.
 

Fico triste, pois acho que o House Music que eu defendi, se transformou apenas num espectáculo de estrelas Pop(…)

 
PLEASE, onde está então a novidade? Porque é que a música de “carrinhos de choque” era foleira na altura e está agora na moda movimentando milhões de seguidores?
 
A resposta a esta pergunta é quase tão difícil como saber o porquê de os carros brancos nessa altura serem chamados frigoríficos com rodas e agora até eu estar a pensar em ter um?
 
Ainda há pouco tempo, falei com um conjunto de reconhecidos coreógrafos que me disseram que era quase impossível hoje em dia, coreografar espectáculos com a “Música das Buzinas”. 
Então como é possível? Fica então a minha dúvida, se a base da música electrónica é fazer as pessoas dançar, como é possível ser difícil fazer dançar os coreógrafos?
 
Será que quando se diz que a máxima "nada se inventa e tudo se transforma", já esgotou o espírito de imaginar música realmente nova? 
Era necessário pegar em tudo o que era piroso há uns anos atrás, retocar, modernizar tecnologicamente e virar tendência?
 
Fico também rendido, quando me recordo que até eu próprio, no concerto dos Swedish House Mafia no Meo Arena, estava na pista maravilhado com o espectáculo visual e que dei por mim a pensar que a magia que ali estava a acontecer em termos técnicos, não era compatível com a possibilidade de os artistas poderem estar a tocar realmente, pois tudo batia perfeito: as explosões de CO2 com a batida, as imagens com os vídeos e os laser com os refrões que todos cantávamos, mas que isso afinal, ou seja a arte inicial dos artistas, já não era fundamental!
 
Fico triste, pois acho que o House Music que eu defendi, se transformou apenas num espectáculo de estrelas Pop e onde o marketing de comunicação do mundo actual, nos fez perder o gosto e a consciência própria do que realmente gostamos e ensinou-nos ou impingiu-nos a seguir tendências e conceitos que por muito que já tínhamos achado foleiro ou pimbas em determinadas alturas das nossas vidas, agora somos seguidores convictos.
 
Provavelmente eu, estou de facto, velho!
 
João Paulo Lourenço
Publicado em João Paulo Lourenço
segunda, 02 maio 2022 22:05

Tudo na mesma

Depois de dois anos de pandemia que forçou a uma paragem da actividade do entretenimento nocturno e eventos, o regresso veio trazer o que já se esperava - ficou tudo na mesma. 

Apesar dos esforços de inúmeras pessoas, onde associações foram criadas com investimento pessoal, numa tentativa de municiar os DJs das ferramentas necessárias para o seu reconhecimento profissional, as dificuldades foram encontradas dentro da própria "comunidade DJ". 

Rapidamente foram esquecidas as "queixas" de falta de apoios sociais, a inexistência de "voz" junto das entidades competentes, o reconhecimento da profissão e o auxílio para todos aqueles que iniciam ou que já exercem mas não têm o conhecimento de situações em que verbas que são suas por direito ficam nas mãos de terceiros.  

A desconfiança natural por parte da maioria dos DJs é justificada com o passado, onde várias associações foram criadas com intuitos poucos claros ou onde visavam o lucro, mas nem com o aparecimento de associações sem fins lucrativos, onde os associados não pagavam quotização, com estatutos claros e onde todos os associados tinham direito de apresentar candidatura aos orgãos sociais, tiveram uma recepção por parte desta comunidade para poderem oferecer o que os DJs tanto "reclamam" mas que pelos vistos não pretendem ter...

Foi uma oportunidade perdida e basta olhar para o modelo Holandês para perceber que há (havia) uma oportunidade única que podia levar à internacionalização do produto português e internamente munir os DJs de ferramentas que permitisse darem passos em frente nas suas carreiras.

Ao invés disso, agências e agentes (como eu) passaram a canalizar os seus esforços para outras áreas dentro da música, eventos e entretenimento e dezenas (para não dizer centenas) de DJs e produtores de música electrónica vão ficar pelo caminho ou com maiores dificuldades, havendo mesmo um decréscimo acentuado na contratação para eventos não especificados onde os DJs tinham o seu espaço e que foi ocupado por outro tipo de artistas e estilos musicais. 

Não há culpados (cada um é livre de fazer o que entender) mas há responsáveis e essa responsabilidade não precisa de ser assumida mas está imputada a quem deixou ficar "tudo na mesma". 
 
Ricardo Silva
Agente Artístico e Empresário
Publicado em Ricardo Silva
domingo, 17 março 2019 16:41

Valores

Este tema é algo que até mesmo eu não sei expressar a 100%, mas vou falar-vos um pouco dos valores que devemos considerar válidos e no limite da humildade, e também dos cuidados que nós artistas devemos ter em conta quando nos propomos a um público. 

Todos sabemos que a música eletrónica entrou na "moda" há alguns anos, e, consequentemente o número de DJs/Produtores/Sonhadores/Amantes aumentou ao longo desde esse período. 

No contexto artístico onde estou inserido, já me deparei com inúmeros casos onde o artista elabora enormes riders hospitaleiros, com direito a camarim de luxo, bebidas de marcas caras, toalhas PRETAS, entre outras tantas coisas... Perguntam-me "O que tens contra isso?" Respondo claramente que nada e considero que os artistas se valorizem e peçam aquilo que acham indispensável para o dia da sua performance. Mas será que depois na hora da atuação estão em condições de alguma coisa? Parece que alguns não compreendem que estão a tocar para o público, que estão a ser pagos e que têm de agir como qualquer contratado em qualquer outro serviço. Refiro isso porque há muitos artistas que antes da atuação bebem exageradamente, fazem uma vida de excessos antes de entrar em cena e depois "dá barraca".  O porquê de escrever sobre este tema não é nada contra quem o faz, porque sinceramente não me importo com o nível de atuação de A, B, ou C, escrevo apenas porque prentendo chamar a atenção dos excessos no meio onde estamos. Todos nós nos dizemos ser grandes artistas, falamos bem de nós próprios a toda a hora e considero isso positivo, no entanto é necessário fazer valer o que dizemos. Sinto até que seja um pouco imaturo não nos sabermos comportar dentro do nosso espaço de trabalho, a cabine. 

Para além disso, há ainda aqueles que não sabem ser educados com os colegas de trabalho, não me refiro a colegas/artistas, mas sim Técnicos de Som/Luz/Produção/Organização/Fotógrafos, etc... Sim, porque somos todos parte de uma comunidade! Comunidade esta em que precisamos uns dos outros para trabalhar, onde os artistas aparentam ter algum complexo com a comunicação, porque muitas vezes são mal-educados e chegam a ser desagradáveis para quem com eles está a trabalhar. 

"CAROS AMIGOS DJS, NÓS NÃO SOMOS REIS DE NADA, NÃO SOMOS ESTRELAS E O MUNDO NÃO GIRA À NOSSA VOLTA".

Entendam que não precisamos ser arrogantes para quem está a trabalhar. Temos espaço para ser artistas, músicos e na nossa cabeça até temos espaço para ser estrelas, mas acima de tudo devemos ser pessoas, e boas pessoas, porque só assim deixamos a nossa marca. Este é realmente um tema que me incomoda, não por viver isso na pele, mas porque já vi acontecer inúmeras vezes.

Nunca se esqueçam desta lista:
Sem Técnico de Som: Não ouvimos 
Sem Técnico de Luz: Não vimos
Sem Produção: Não comemos 
Sem Organização: Não recebemos 
Sem Fotógrafos: Não recordamos 
Sem Público: Não nada.
 
Zinko
Publicado em Zinko
segunda, 19 março 2018 19:36

O que fiz para estar onde estou

A música é o que nos faz ser DJs? 

Todos sabemos que hoje a indústria da música eletrónica atravessa um período de mudança - o que é bom para uns e maus para outros. Em todas as formas de arte há tendências, o público segue-as e dependemos do público para "vingar" neste ramo. A música tem um período de consumo muito mais rápido se comparado a anos passados. Não me quero alongar nesta questão, mas há forma de contornar isso? 

A minha carreira de DJ/Produtor começou há 6 anos atrás. Nunca imaginei poder trabalhar com grandes artistas, nem lançar em grandes editoras como Lokosound ou Revealed. Para mim era sem dúvida algo muito distante, sobretudo olhando para o estado do mercado: muito saturado de demasiada informação desnecessária e com escassez de música. Será que se perdeu o que realmente me fez passar horas agarrado ao computador? 

Já tive muitos fracassos, e já ouvi muitos “nãos” e ainda acontece - porque acontece a todos - mas as “derrotas musicais” não se superam com uma foto no Instagram, nem tão pouco com likes. De certo que sobe a auto-estima e que alivia o processo de focagem noutro passo. 

Estou a dar a minha opinião, não quero discordar de ninguém que diz o contrário. Claro que todos nós sabemos que as redes sociais têm um peso enorme na carreira de um artista e que hoje talvez até tenham mais peso do que a própria música. Isso não significa que precisamos de deixar de ser produtores para ser modelos - a música, como já disse, é e sempre será o mais importante. 

"Não digo que as redes sociais devem ser postas de parte, porque eu mesmo não as ponho (precisamos delas para promover o nosso trabalho e dar-nos a conhecer ao público), estou a dizer que a maneira mais fácil de não sermos postos de parte é não por de parte a música." 

 

É importante ter um Manager/Agente? Ou será mais importante ter uma equipa?

Uma das lições mais importantes que aprendi ao longo destes anos em que sigo no ramo da música, é a que temos de ser nós a “bater com a cabeça” para ver o que está mal e com quem não devemos trabalhar. 

Eu trabalhei desde sempre com o Miguel. O Miguel não é agente, nem manager, não tem formação na área: trabalha em restauração. Mas a vantagem de trabalhar com o Miguel é que ele me conhece: as fraquezas, as forças, os dias bons e maus. E o mais importante é que ele acredita tanto no "ZINKO" como eu. Por isso acredito solenemente que a formação de uma equipa forte, com base na credibilidade do projecto e na confiança mútua é um ponto-chave para tudo funcionar.

Hoje em dia sou agenciado, sim, e tenho alguém "do outro lado". Tratamo-nos como equipa, delineamos estratégias e caminhos para chegar onde queremos. Mesmo que não consigamos, amanhã tentamos novamente. 

Quem quer que escolham para a vossa equipa nunca tratem a pessoa como alguém que está a trabalhar para vocês, mas sim que está a trabalhar convosco. A importância de ter um manager ou agente passa a não ter nexo se não se tratarem como equipa. "Nenhum treinador consegue ganhar campeonatos sem jogadores", é uma mensagem simples, mas que para mim faz toda a diferença. Eu sei quem não estaria onde estou agora, talvez até mesmo a escrever um texto de opinião, se não tivesse uma equipa a trabalhar comigo. 


Enviar Promos

A parte mais importante do artista passa obviamente pela música. Podemos cada vez mais potenciar a mesma e fazê-la chegar aos ouvidos de quem queremos. O envio de promos é algo muito importante no momento em que temos uma "nova música", mas é importante termos um método adequado e prático para o fazer.
 
Alguns pontos que tenho notado quando recebo as promos no meu e-mail.
 
1 - Apresentação 
Acho que ninguém gosta de ser abordado sem uma apresentação do que vai ouvir antes - nome, idade, país, breve descrição -, mas não é preciso alongar ao ponto de escrever uma biografia inteira. Artistas como Hardwell, Afrojack, ou Martin Garrix não estão minimamente interessados se vocês têm uma casa à beira-mar, ou se o vosso cão se chama "Rex". Uma breve descrição e o link da música chega perfeitamente. 

2 - Links
Nenhum artista dos que falei há pouco vai fazer download do vosso ficheiro, por isso acho que o mais prático será enviar um link privado de Soundcloud com download activo, ou link de Dropbox. A falta de pré-escuta é um ponto crucial para a música não ser ouvida. Passados 5 ou 6 emails com anexo, o que enviarem será considerado spam,  perdendo-se boas oportunidades de serem ouvidos, porque a vossa música podia estar boa.

3 - Música
Têm de estar certos de que o que estão a enviar é o melhor que conseguem. Nunca sabemos se o artista a quem enviamos a promo vai ouvir ou não. Por isso é óbvio que um ponto que todos devem considerar é que músicas inacabadas, sem mix/master, entre outros problemas, provavelmente não vão ter feedback ou se tiverem não vai ser o que gostariam de ouvir. Isso faz com que nós fiquemos desmotivados.

Processo Criativo / Mixing e Mastering
Neste tópico certamente não há muito para dizer, pois cada um tem o seu formato de trabalho e as suas manias. Não vou falar de nada que quem faz música não saiba, contudo acho importante referir alguns pontos. Não são precisas colunas topo de gama para fazer música. Não é preciso um estúdio de milhares de euros, não é preciso um teclado midi super atual e cheio de controladores, pois a maior parte das minhas músicas foram feitas de fones, teclado do computador sentado na mesa da minha cozinha. 

É tudo uma questão de conforto. Ter um espaço organizado é o ponto, não tem de ser o espaço nem a altura, acho que naquele momento tem de se estar completamente focado no que se está a fazer - esse é o truque -, obviamente que um bom computador e um bom equipamento ajuda, mas não é o mais importante. O mais importante é sim conseguir passar a ideia da cabeça para o software. 

A música não tem tempo para se fazer, eu tenho músicas com dois anos que sofreram alterações durante esse espaço de tempo até ter o produto final com que me sinto satisfeito. A minha faixa “Footprint” em colaboração com o “Tong Apollo” saiu em novembro de 2017, a ideia da música ficou pronta ainda em 2016. Mudámos tudo, 4 drops diferentes até chegarmos ao resultado final. Já a “Guaraná” demorou três dias a ser feita e consegui assiná-la numa das maiores editoras do mundo. O que importa na realidade é a ideia. Claro que uma ideia bem executada só tem a ganhar. 

Tentar fazer algo diferente não é nada fácil, eu sei disso, sei que fazer algo num estilo muito ouvido - Big Room, por exemplo - mas que não soe genérico é complicado. As labels procuram cada vez mais ideias novas, para criar tendências, algo novo, que não se ouve no mercado. É isto que chama a atenção dos A&R´s, a meu ver é tudo uma questão de ideias e alguma sorte. 

Depois existe a segunda parte, talvez das coisas mais importantes, pode parecer que não faz diferença, mas faz: o Mix/Master é algo que vai finalizar a música. Por vezes sem darmos conta é o que falta, aquele pormenor que não sabemos o que é.  Eu pago esse serviço: https://wiredmasters.co.uk/. Não sou profissional da área, ainda estou a aprender e a pouco e pouco é algo que se vai encaixando no ouvido, pois também tem a ver com o gosto de cada um. 

Sei que é um entrave para muita gente, porque são preços que não são acessíveis a todos, e por isso é aconselhável que o investimento seja numa música que valha a pena, porque como disse há pouco faz toda a diferença.

Gostava mesmo muito que este texto ajudasse a malta, isto é só a minha opinião. Não fiz nem mais nem menos que outros artistas, eu trabalho assim e estou a partilhar alguns dos meus métodos com vocês. Todos os erros de que falei acima eu já os cometi. Não me arrependo de forma alguma, serviram para aprender e a acreditar cada vez mais na minha música. Todos os dias trabalho nisto porque acredito. Espero que vocês partilhem este pensamento. Assim será muito mais fácil que nós, amantes de música, tenhamos um maior sucesso e que levemos o nosso país fantástico além-fronteiras pelo que mais gostamos de fazer.
 
Zinko
Publicado em Zinko
terça, 12 novembro 2019 22:06

Quanto vale o "TOP 100 DJs" da DJ Mag?

No passado dia 19 de Outubro foram revelados os resultados de mais um "DJ Mag Top 100 DJs" e mais uma vez, com polémica. Os irmãos Thivaios mais conhecidos por Dimitri Vegas & Like Mike ganharam pela segunda vez (a primeira tinha sido em 2015) e voltaram novamente as acusações de "marketing agressivo" e "caça ao voto" para o "Top 100" da revista inglesa. Já em 2015 foram acusados de que o seu management tinha contratado uma vasta equipa de promotoras para visitar vários eventos onde eles actuavam que, de iPad's na mão com a página aberta e já preenchida com o nome da dupla na votação do Top 100 da revista, pediam o voto a quem estava no evento. Essa equipa da promotoras chegou mesmo a andar por todo o festival Tomorrowland em 2015 (festival co-produzido pela ID&T, empresa que representa a dupla Belga), com os famosos iPad's a pedir o voto para a dupla e não permitindo votar em outros nomes quando alguém lhes dizia que Dimitri Vegas & Like Mike não eram os seus artistas favoritos e queriam votar noutros nomes.
 
Já em 2013 a dupla levantou alguma polémica quando teve uma subida fantástica no "Top 100" da revista Inglesa, passando do lugar 38 em 2012 para a sexta posição em 2013 quando em 2011 tinham entrado pela primeira vez para a posição 79. De 2011 a 2013 tiveram uma subida de 73 lugares no "Top 100" da DJ Mag e tudo devido, segundo algumas pessoas ligadas ao meio, a uma política muito agressiva de marketing direcionado (quase) exclusivamente a pedir o voto para a lista da revista inglesa.

É certo que o "Top 100" da DJ Mag sempre esteve envolto em algumas polémicas, mesmo quando a votação era feita através do envio dos cupões da revista por correio. Fui assinante da revista durante cerca de 20 anos e lembro-me de ler algumas críticas que diziam que já nessa altura a revista "aconselhava" os artistas a fazerem publicidade nas suas páginas como forma de atingir os potenciais votantes e de artistas como Paul Van Dyk, Ferry Corsten e Armin Van Buren (que lideraram a tabela durante vários anos) reconhecerem que gastavam entre 10.000 a 15.000 libras ao ano em publicidade na revista inglesa.

Com o aparecimento das redes sociais a relação dos artistas com o público alterou-se totalmente, passou a ser mais directa, mais pessoal, e as suas campanhas de marketing começaram a usar os "social media" para chegar mais facilmente ao seu público alvo, deixando de usar quase exclusivamente as páginas das revistas especializadas para o fazer. De qualquer forma, o "Top 100" da revista inglesa continua a ser a sua principal fonte de receitas, quer através da publicidade no formato físico, quer na sua página web e tornou-se numa das principais referências de quem contrata artistas para grandes eventos e festivais especialmente de EDM, nas suas varias vertentes, representando uma subida de cachet muito importante para quem colocar ao lado do seu nome a indicação "#1 DJ Mag Top 100 DJs", representando por isso muito dinheiro. Logicamente os artistas/managers apercebendo-se disso, começaram a usar todos os meios ao seu dispor para chegar ao mais alto possível da tabela, sabendo que isso lhes pode acrescentar um valor importante ao seu cachet.
 
O "Top 100" da revista inglesa continua a ser a sua principal fonte de receitas, quer através da publicidade no formato físico, quer na sua página web e tornou-se numa das principais referências de quem contrata artistas para grandes eventos e festivais.

Há no entanto algumas diferenças entre os artistas de topo sobre a maneira como encaram a sua posição neste "Top 100". Enquanto alguns (como Dimitri Vegas & Like Mike, entre outros) gastam verdadeiras fortunas em campanhas online a pedir o voto e em publicidade, há outros que referem que "nunca pediram, nem vão pedir o voto para este tipo de votações". Ainda recentemente Martin Garrix o disse numa entrevista, apesar de ter sido o número um, três anos consecutivamente, 2016, 2017 e 2018.


É um facto que muitos dos artistas da chamada electrónica "não comercial", mesmo aqueles que entram na lista, dizem não dar importância a este "Top 100 DJs" (muitos deles até o ridicularizam, especialmente nos últimos anos) mas o que é certo, é que a sua posição na tabela da revista inglesa influência muito alguns mercados na hora de decidir a contratação para alguns dos eventos/clubes mais importantes. 

A Ásia e o Brasil são dos locais que mais olham para o "Top 100" da DJ Mag, são dois mercados enormes e que representam muito dinheiro para os artistas. Por esse motivo, para muitos deles, especialmente os do circuito mais "mainstream", estar no "Top 100" ou não estar, pode alterar significativamente o valor que vão facturar ao longo do ano, e por isso apostam muito na publicidade nas redes sociais (e não só) para pedir o voto ao seu público para os ajudar a subir o mais alto possível sabendo que isso vai subir consideravelmente o cachet em muitos locais.

Uma das acusações que mais ouço e leio ao "Top 100" da DJ Mag é que deixou de ser um top de DJs para ser um concurso de popularidade, onde (quase) qualquer pessoa pode entrar desde que aposte numa campanha de marketing agressiva e junto dos mercados certos. Mas a realidade é mesmo essa, o "Top 100" da revista britânica há muito que não é um "Top 100 DJs" (apesar do nome) mas sim uma tabela de popularidade dos artistas! Esse é o erro de muita gente que ainda teima em ver este top como uma lista dos melhores DJs e produtores, quando na minha opinião há muito que não o é. Especialmente com o aparecimento do EDM, com todos os milhões (em facturação e em pessoas) que envolve anualmente, o "Top 100 DJs" é uma tabela dos artistas mais populares, com mais seguidores nas redes sociais e que participam nos eventos com mais repercussão mediática, que nestes últimos anos têm sido os eventos de música electrónica mais "mainstream".
 
Mas a realidade é mesmo essa, o "Top 100" da revista britânica há muito que não é um "Top 100 DJs" (apesar do nome) mas sim uma tabela de popularidade dos artistas!

Obviamente a popularidade dos artistas também vem do seu bom trabalho, dos seus bons sets nos grande eventos/clubes, do sucesso dos seus temas na rádio, nas listas de vendas, etc. Pelo menos deveriam ser esses os factores mais importantes, na minha opinião, para a popularidade do artista. Mas o certo é que se todo esse bom trabalho que o artista faz, nas várias vertentes, não for bem divulgado, à escala global, este não atinge a popularidade que necessita para um dia poder entrar numa lista como o "Top 100 DJs". Por isso, na minha opinião, há muitos anos que este "Top 100 DJs" é um concurso de popularidade e é assim que o devemos ver.  (Os meus parabéns ao Kura e ao meu amigo Diego Miranda pelas posições #40 e #55).


Talvez para calar um pouco as críticas que sempre aparecem quando são divulgados os 100 nomes do "Top 100 DJs" a revista inglesa criou em 2018 o "Alternative Top 100 DJs" com a colaboração da maior loja online, o Beatport. Esta lista é feita com base nas votações do "Top 100 DJs" normal juntamente com as vendas dos temas dos artistas no Beatport e para muitos é a "verdadeira" lista dos melhores DJs e produtores do momento. Para mim é sem duvida o "Top 100" que melhor reflecte quais os artistas mais destacados dentro da música electrónica nos seus vários estilos (com toda a subjectividade que uma lista deste género pode ter) uma vez que contam também os números de vendas dos seus temas e não só a votação dos fans. 

Por cá e felizmente com muito menos polémica está a decorrer até dia 20 de Novembro a votação para o "Top 30" da 100% DJ. Para apoiarem os vossos artistas favoritos basta escolherem 4 nomes e votar online em www.top30deejay.pt. Já faltam só 8 dias para terminarem as votações!
 

Carlos Manaça

DJ e Produtor

www.facebook.com/djcarlosmanaca

 

(Carlos Manaça escreve de acordo com a antiga ortografia)

Publicado em Carlos Manaça
quinta, 05 setembro 2013 19:24

Verão 2013 on tour

Este Verão marcou-me muito pela positiva, não só pelos imensos gigs, mas também pelos novos conceitos de festas que têm vindo a surgir no mercado e onde os sunsets ao que parece vieram para ficar! Que não hajam dúvidas que o público gosta de ser brindado com diferentes tipos de "formas de diversão", sejam elas em clubes, festivais ou sunsets e neste verão tive o privilégio de poder fazer parte de todos eles como artista. 
 
Tenho a sorte de trabalhar com boas equipas desde o meu management (Europa Agency), passando pela MTV Portugal - na qual sou o DJ oficial, com a Mega Hits, entre muitas outras empresas, que em conjunto têm elevado a fasquia no que toca ao meu percurso como artista e onde o público (acredito) fica sempre a ganhar, pois artista feliz é sinal de boa música entregue ainda com melhor disposição.
 
Posso dizer que neste Verão existiram vários gigs que me marcaram também pelas boas energias e que já deixam muitas saudades, como por exemplo na EXPOFACIC em Cantanhede, onde tive oportunidade de privar com o Steve Aoki, o AQUASHOW, em Quarteira, na Cornetto Aqua Night Session by MEGA que foi uma experiência fantástica e com muito boa "onda" (confesso que adorei este conceito). Não dá para imaginar que iria ter, um dia, "um mar de gente" dentro de uma piscina a dançar ao meu som (quase 3 mil pessoas). Ah! E o festival Ocean Spirit, em Torres Vedras, que foi a verdadeira loucura e teve a maior enchente de sempre, com cerca de 10 mil pessoas.
 
Não me posso esquecer dos sunsets da MTV que têm animado o público por Portugal inteiro e onde pude desenvolver uma linha musical mais completa, entre muitas outras festas que participei neste verão quente de 2013 (onde estão os cientistas que diziam ser o mais frio 
dos últimos 200 anos!!?), onde fiz dançar o party people mas onde também eu, como sempre, me diverti e adorei cada momento em que estive na cabine com o dance floor cheio do "meu people". 
 
Mas também há a outra parte dos gigs que são as viagens! O me cativa, em cada uma delas, é o facto de poder conhecer Portugal como nunca pensei conhecer devido estar a maior parte das vezes em estrada, e cada vez me surpreendo mais com o que conheço deste cantinho a que chamamos Portugal. No festival de Mêda, perto da Guarda, além da simpatia das pessoas e o facto de num festival de bandas ter conseguido aguentar a "pista" ao rubro até ao fim, fui presenteado com uma vista de cortar a respiração em Vila Nova de Foz Côa, o que me fez acreditar que mal conheço este nosso Portugal e que tantas surpresas nos reserva. Vista absolutamente incrível!!! 
 
Com o fim do Verão vem uma nova season e com esta mais projetos! Estou a preparar novas músicas e surpresas para o público em geral. Tenho vindo a preparar várias colaborações com artistas nacionais e internacionais (para já fica em segredo... eheh), e num balanço geral, estou bastante contente com os resultados que tenho vindo a desenvolver. Em breve vão ficar a saber mais sobre o que se passa à volta do "RUSTY", o meu mundo!
 
Sigaaaa!!.
 
 
RUSTY
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Publicado em Rusty
sábado, 17 outubro 2015 22:33

“To sync or not to sync”

Este é um tema sobre o qual recebo algumas perguntas nas minhas redes sociais e que até agora não tenho comentado ‘publicamente’ nas minhas crónicas. Tem havido algum debate sobre este assunto (que felizmente abrandou nos últimos tempos), mas de vez em quando volta a ocupar muito espaço nas redes sociais e fóruns. E há posições totalmente ‘extremistas’ quer de um lado, quer do outro!
 
De um lado, surgem aqueles que defendem exclusivamente a utilização dos pratos pelos DJs, o vinil como suporte musical, renegando outros suportes ou sistemas digitais como meio de ‘distinguir’ os ‘verdadeiros DJs’, desqualificando aqueles que não o fazem.
 
Do outro lado, temos os que dizem que o “vinil está totalmente desactualizado” e “fora de moda” e que os que usam os sistemas como Traktor, Serato (ou outros) é que estão ‘à frente’, muitas vezes catalogando de “antiquados” os DJs que ainda usam exclusivamente (ou quase) o vinil como formato. 
 
É verdade que o avanço da tecnologia, a divulgação e popularidade de sistemas como o Traktor e o Serato, veio permitir a muitas pessoas de outras áreas e que não tinham qualquer passado como DJs, actuarem em clubs ou eventos, uma vez que a sincronia entre as músicas é relativamente fácil com estes sistemas digitais. Até ao aparecimento destes sistemas, o ‘beat matching’, o acertar de batidas entre dois (ou mais) temas, era quase uma ‘arte oculta’ para as pessoas ‘normais’, ou pelo menos era uma tarefa que demorava algum tempo para ser aprendida, o que levava a que só alguns se aventurassem a tentar fazê-lo. 
 

Com a mediatização que o papel do DJ teve nos últimos anos, era normal que houvesse este aumento repentino no número de DJs.

 
Com a mediatização que o papel do DJ teve nos últimos anos, era normal que houvesse este aumento repentino no número de DJs. Se a tecnologia permite uma maior facilidade no djing, era só uma questão de tempo até muitas pessoas, que até aí nunca tinham entrado numa cabine, tentassem a sua sorte.
 
Esta repentina ‘invasão’ de DJs no mercado veio despertar o ‘fundamentalismo’ de alguns, defendendo que só através do vinil (ou CD’s - embora os últimos leitores de CD da Pioneer também já tenham o botão SYNC) se pode apreciar o ‘verdadeiro DJ’, uma vez que com um computador portátil “qualquer um pode ser DJ”. Houve até alguns clubs em que chegaram a proibir os ‘sets’ com Traktor ou Serato e cancelaram alguns artistas que os usavam.
 
Acontece que o ‘beat matching’ é só um dos factores que um (bom) DJ tem que dominar num set... A verdade, é que em todos estes anos já ouvi grandes sets em vinil, em CD (sem SYNC) com Traktor (ou Serato) com SYNC e também já ouvi alguns não tão bons em todos estes formatos... Por isso digo e repito, ser DJ não é só saber acertar batidas, sincronizar dois ou mais temas simultaneamente. 
 
Há muitos outros factores que contribuem para um grande (ou mau) set. Saber usar a mesa de mistura, os volumes, conhecer os temas que se vão tocar, perder horas a procurar/selecionar a música que se vai usar, ‘organizá-la’ para um set (não gosto da expressão ‘programar um set’, porque acho que isso não se programa) saber criar momentos, manter o público a dançar durante duas, três ou mais horas, não é tarefa fácil... E isso não vem incluído nos programas que permitem o SYNC dos temas.
 
É verdade que nos últimos anos se assistiu a uma aproximação de alguns top DJs às ‘playlists’ usadas pelas rádios. Não tenho nada contra isso, até porque esses artistas movem milhares de pessoas e enchem clubs, eventos e festivais. Mas esse factor - o facto de um DJ set de muitos top DJs ser composto de muitos temas que tocam nas rádios generalistas, aliado à facilidade que a tecnologia veio trazer, fez com que muita gente que até agora nunca tinha pensado em passar música entrasse no ‘circuito’ de DJs em Portugal (e não só). E isso veio criar alguns preconceitos contra o uso de laptops no DJing…
 

Sinceramente não tenho saudades da altura do vinil, até porque foram muitos quilómetros e horas a carregar malas de 120 discos.

 
Na minha opinião, o que conta realmente é a MÚSICA. Se esta é transmitida através de vinil, de CD’s, de um programa, de que forma for, é o resultado final do set que me importa. Se o DJ consegue fazer-me dançar durante uma, duas, três horas, se gosto da música dele, não me interessa qual o formato em que ela me chega... Tive o prazer de estar horas ao lado de DJs que só usaram dois pratos Technics e fizeram sets INCRÍVEIS, mas também assisti a alguns sets de DJs que montaram dois computadores portáteis, uma Maschine (uma caixa de ritmos da Native Instruments) dois controladores X1 da Native Instruments, uma caixa de ritmos, entre outras coisas e o resultado final não foi tão bom como outros DJs que usaram só os dois pratos...
 
Não tenho qualquer problema em usar o SYNC nas minhas actuações com o programa Traktor. Se a tecnologia está aí, não vejo o porquê de não a usar. Sinceramente não tenho saudades da altura do vinil, até porque foram muitos quilómetros e horas a carregar malas de 120 discos. Mesmo que agora decidisse voltar a usar só o vinil, a maior parte das cabines dos clubs ou eventos já não estão preparadas para esse formato e iria ter problemas em conseguir temas de alguns artistas que neste momento só existem em formato digital.
 
É óbvio que quando chegas a um club ou evento e vês uma parafernália de equipamento montado para o DJ actuar, visualmente isso cria alguma expectativa. Mas no final, o que interessa é a capacidade desse DJ te levar numa ‘viagem’, fazer-te dançar, fazer-te ‘explodir’ num momento, fazer-te abrandar noutro momento e conseguir que vibres com a sua música. E isso pode acontecer tanto com um artista que usa dois (ou mais) pratos e discos em vinil (ou CD) sem SYNC, como com um DJ que usa um programa como o Traktor, (ou outro) com SYNC. Na minha opinião, o que interessa é o resultado final e não o método para o alcançar...
 
Carlos Manaça
 
(Carlos Manaça escreve de acordo com a antiga ortografia)
Publicado em Carlos Manaça
segunda, 17 março 2014 14:19

Projeção além-fronteiras

Na minha primeira coluna para a 100% DEEJAY, vou falar sobre o "vá para fora cá dentro", (não, não é uma crónica turística, dos top restaurantes e hotéis) mas sim sobre a projeção que os produtores e DJs portugueses alcançaram além-mar.
 
A música é uma parte importante da nossa estrutura, não só enquanto pessoas, mas também enquanto sociedade. Quantos de nós não associam momentos importantes a uma música específica? Quantos de nós, não esboçamos sorrisos quando ouvimos a nossa música preferida? Quantos de nós se recordam de revoluções e marcos importantes na nossa história através da música? 
 
A música sempre esteve e estará presente. As pessoas gostam e procuram-na. O desenvolvimento de aplicações cibernéticas, permitiram o boom musical além-fronteiras. Hoje em dia, é possível um produtor dar a conhecer o seu trabalho a qualquer parte do mundo. Basta um click, uma partilha, uma página nas redes sociais. Quantos nomes de referência atuais não começaram a sua carreira por colocar um vídeo no Youtube? Quantos deles não se renderam ao imenso poder da web? Não há veiculo mais rápido. 
 
Óbvio que o boom musical, permite o aparecimento de um maior número de nomes, e de um boom de ditos "DJs". A propósito disto, costumo brincar, e quantos de nós não temos um DJ ou um produtor no nosso círculo de amigos? Eles estão aí e vieram para ficar. Procuram vingar no mundo da música, deter um nome mundial e mexer com as emoções do público. Os cursos de DJ e Produtor proliferam e têm cada vez mais alunos. Todos querem aprender. Todos querem ser os melhores.
 
Se há 15 anos atrás, (tinha eu 20 anos), nomes como DJ Vibe, Carlos Manaça, Frank Maurel, Jiggy, eram a referência na dance scene portuguesa, e o que eu pagava para ver; hoje em dia na nova geração onde me incluo, temos Pete Tha Zouk, Diego Miranda, Kura, Christian F, Mastiksoul, Tom Enzy, Rui Santoro, MassiveDrum, Karetus, entre outros - a fazer furor nas pistas de dança. Uma mudança de paradigma? Também. O comercial ou EDM tem vindo a passos largos a marcar posição nos maiores e melhores clubes nacionais. Impulsionado pelas rádios e pelos programas televisivos da temática da noite, veio para ficar. Sobre isso já não existem dúvidas. 
 

É uma sensação indescritível ouvir as pessoas lá fora a cantar as nossas músicas.

É frequente no Brasil, Angola, Moçambique e Suíça, serem publicitadas festas com nomes nacionais. O fenómeno que carinhosamente apelido, do "Vá para fora cá dentro". Sempre ouvi dizer, o que é nacional é bom. E subscrevo! Faz-se boa música em Portugal, faz-se música que as pessoas gostam de ouvir, não só aqui, como noutros países. É uma sensação indescritível ouvir as pessoas lá fora a cantar as NOSSAS músicas... em jeito de brincadeira, dá dez a zero às batatas-fritas do McDonalds em dia de ressaca.
 
O trabalho dos DJs Pete tha Zouk e Diego Miranda em terras das águas de coco, veio abrir todo um mercado para os DJs em crescimento. Se pensarmos que Portugal tem aproximadamente 10 milhões de habitantes e só São Paulo tem o dobro, estamos a falar numa potência enorme em termos de público. Há muita gente a quem fazer chegar o nosso trabalho. 
Agora sonha-se não só com tocar nas casas de referência a nível nacional, como também poder tocar em São Paulo, Rio de Janeiro, Luanda... and so on... o mundo tem os braços abertos para os DJs. Aqui e em todo o lado! 
 
É cada vez mais normal, estarmos de férias no estrangeiro e termos um DJ português a tocar num club ou evento local. O bom trabalho é reconhecido pelas pessoas e são elas que fazem crescer um DJ. As tours no Brasil, África e Europa, começam a ser uma constante na agenda dos profissionais do DJing. 
 
Acredito que com o passar do tempo, cada vez mais nomes portugueses irão figurar nos melhores cartazes mundiais. Há muitos nomes com valor e a fazer um FANTÁSTICO trabalho. Com esforço, dedicação, empenho e muito sacrifício tudo é possível. E nós, portugueses, sempre fomos conhecidos por sermos um povo lutador.  
 
Não só no estrangeiro, mas também cá dentro a aposta nos nomes nacionais tem vindo a crescer. Num mercado onde a oferta é vasta, a procura também o é. Se Portugal tivesse uma industria noturna tão bem oleada como a Holanda, não teríamos só o melhor jogador do mundo em Portugal. Provavelmente teríamos também o melhor DJ. O Pete Tha Zouk na posição 37, foi o português que mais se aproximou desse feito. 
 
Os clubes publicitam os nomes nacionais e têm casa cheia. Faz-se um bom trabalho em Portugal, e é-se reconhecido. Cativa-se o público e eles chamam por mais. Na prática, tudo se resume a uma conjugação de interesses: As pessoas procuram a música e a música encontra-as, numa simbiose perfeita.

 

Publicado em Eddie Ferrer
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