Diretor Ivo Moreira  \  Periodicidade Mensal
quarta, 12 fevereiro 2014 12:28

Identidade

 
Olá a todos, leitores, ouvintes e demais amantes da música de dança, colegas cronistas e toda a equipa da 100% Deejay. Feliz 2014 a todos!
 
Na minha primeira crónica do presente ano, falarei de um assunto que aos poucos, está a acabar com algo bastante importante em todos os negócios, IDENTIDADE. Não só na música, mas também nos espaços.
Parece que neste momento, e em jeito de gíria, temos dois pesos, duas medidas:
 
    - Tudo ao molho e fé em Deus
    - Isto é o Tomorrowland
 
Pode parecer demasiado generalizado, mas não o é. Vamos por partes. No primeiro, temos as casas e os DJs que tocam tudo e mais alguma coisa. Da música pimpa portuguesa ao Electro/Progressive/EDM (call it what you want), passando pela musica brasileira (de quase todos os géneros), remixes de bradar aos céus de clássicos (a típica remix portuguesa com grooves afro), e não esquecendo claro, a vaga de música africana (dos afro-beats pimba à Kizomba, lá toca de quando em vez, um Liquideep, Blackcoffe???) que assaltou o país com as suas danças... peculiares. 
 
Ora isto não tem mal nenhum se se enquadrar no negócio a que a casa se propôs, e, claro, se feito com pés e cabeça. Tocar um "Animals" depois de um "Show das Poderosas" seguido de um "Baixó" com uma acapella pelo meio de Daft Punk é uma "sopa" que pode criar "enfartamento". As coisas feitas com nexo, sentido, neste tipo de casas/negócio, só têm a ganhar. A noite mudou mas há coisas que não, e os horários (sim, as pessoas chegam mais tarde, é verdade), sendo uma das coisas que prejudicou bastante, podem, se bem aproveitados, não prejudicar tanto como se julga. É uma questão de aproveitar certos estilos musicais para fazer as pessoas chegarem mais cedo. É possível, e eu já o vi feito em muito bom negócio por muito bom DJ que pela nossa noite ainda vai tendo... Identidade. O DJ residente deve proporcionar uma viagem ao público, uma sensação de bem-estar, tocar nas emoções e acima de tudo, fazê-lo se tiver mestria, com a sua identidade de encontro ao que se propõe o negócio do club onde trabalha.

A música mudou, os festivais, os clubs e até os próprios DJs, mas olhar só para um lado, acho que não é opção.

 
A segunda... bem, a segunda, é aquele típico trabalho de DJ que, ou começou há pouco tempo, ou então, quer agradar aos amigos que tal como ele, sonham com o festival Belga e com o Top 10 do Beatport. Cada qual com a sua ideologia e direito, mas esta opção para um DJ residente, pode não ser a melhor. Principalmente quando ainda com a casa a menos de meio gás, já vai para lá do "Land". Se esta é a identidade dele - ser residente - pode não ser a melhor opção, ou então como muitos fazem sabiamente, incutem o seu gosto e cunho aos clientes, de forma correcta, com mestria, podendo então tocar o que mais se gosta, não chocando com o ouvido e gosto do público a que o club se propôs agradar e cativar. Penso que ouvir o "Distorted Kick" da Spinnin' Records a noite inteira não é a ideologia de um club com... Identidade.
 
A música mudou, os festivais, os clubs e até os próprios DJs, mas olhar só para um lado, acho que não é opção. Portugal vive provavelmente a maior crise (não só económica), a nível de noite e de tudo o que engloba esta. Musical, temática, mas acima de tudo uma grave crise de identidade que leve as pessoas a querer dizer: "Vamos lá!". E neste aspecto, o DJ actual (salvo excepções como é lógico), não ajuda com a referida "sopa" ou a ilusão do palco "Tomorrowland" que em cima referi. 
 
Esta realidade já me fez pensar várias vezes porque ainda continuam artistas de outros estilos a produzir, a caminhar e a remar para um lado que parece condenado. Pois bem, não está condenado e recomenda-se. Há poucos dias, a senhora Roisin Murphy (a Diva dos Moloko), esteve a actuar na discoteca Lux em Lisboa, para uma casa cheia, e o que me arrepiou ver um vídeo de um Lux cheio a cantar a uma só voz "Forever More". Lux é um exemplo de uma casa com IDENTIDADE (sim, em letras maiúsculas). Quem não gosta não consome, mas quem gosta, sabe sempre que mesmo desconhecendo o que se vai passar, é dentro do que está habituado. Isto é Identidade. Isto é o que falta à noite portuguesa. Diversidade, identidade, qualidade a que se propõe o negócio, independentemente do que seja. Há espaço para todos, para todos os gostos, mas na minha modesta opinião, há que perceber a que cada tipo de cliente se quer chegar. O DJ pode e tem que ter um papel fundamental nesse aspecto, e muito sinceramente, faltam bons profissionais para fazer o "negócio" andar. 
 

(...) Isto é o que falta à noite portuguesa. Diversidade, identidade, qualidade a que se propõe o negócio, independentemente do que seja...

 
É lógico que existem muito boas excepções que fogem a esta crise de identidade. Negócios cimentados, outros mais recentes, sabem desde o porteiro ao DJ, ao que a casa se propôs e... são sucesso. Saber o que se quer e acima de tudo, saber o que se poder oferecer e fazer com o que se tem, necessita de uma liderança com mestria, seguida de uma equipa com vontade e a remar toda na mesma direcção. 
 
Um último reparo. Aos DJs que aceitam residências para não estarem em casa e depois não se predispõem a tocar dentro do enquadramento a que o negócio da casa se dirige, mais vale ficarem no quarto. Prejudicam a casa e a eles próprios. Penso que será melhor opção tentarem perceber onde podem mostrar o seu trabalho e o mesmo funcionar. Erros de casting podem acabar com carreiras e/ou negócios. É tudo uma questão de perceber onde nos enquadramos, qual é a nossa Identidade.
 
Saudações musicais.
 
Publicado em Massivedrum
segunda, 01 outubro 2012 23:46

A ressaca e as suas curas

 
Este artigo pode parecer chato, (principalmente se tiveres mesmo de ressaca), mas no final vais concluir que, tal como nós, fãs ferrenhos de uma noite bem aproveitada, vai dar-te muito jeito no dia em que não souberes o que fazer mais para curá-la e quiseres livrar-te desse mau estar ou dor de cabeça torturantes. Vais ver que ainda nos vais agradecer.

Vamos começar por saber o que é a ressaca. Em linhas gerais a ressaca é provocada por um conjunto de três efeitos produzidos pelo álcool: desidratação, choque nervoso e desnutrição.
Desidratação porque o álcool é diurético e literalmente faz-nos correr para o WC centenas de vezes. O choque nervoso acontece porque quando se bebe muito, estamos a provocar uma overdose de uma "droga" e isso mexe com o sistema nervoso. É por isso que quando estamos mesmo naqueles dias de ressaca extrema trememos que nem varas verdes. Por último, mas não menos importante, a desnutrição: o álcool reduz a quantidade de vitaminas e nutrientes do corpo, elementos que são importantíssimos para a manutenção do sistema de defesa do organismo.
 
Além destes efeitos provocados pelo álcool, o mesmo é metabolizado pelo fígado. E aí é que está o nó da questão. Para processar as moléculas do álcool, o fígado usa duas enzimas e nem todos gozamos da quantidade de enzimas suficientes e eficientes. É por esta razão que existem pessoas que ainda não se cruzaram com uma manhã de ressaca, enquanto que outras, não podem ver uma garrafa de cerveja à frente que passam mal. No fundo, trata-se de uma questão de estrutura física ou mesmo genética, o que não tem nada a ver com tamanho.
Outro dado importante: o álcool é expelido do corpo pelos rins e pelos pulmões e afeta principalmente o lobo frontal do cérebro, responsável por controlar o julgamento (literalmente o juízo) e as relações sociais. Há quem diga que se perdem neurónios a cada bebedeira, mas é no fígado que o álcool deixa marcas mais profundas.

Depois de dar-mos uma olhadela a certos e determinados estudos, podemos realmente concluir que os efeitos do álcool no fígado são muito preocupantes, embora pouca gente ligue a isso no calor da festa.
 

"Para os mais impacientes, deparamos com testemunhos, que atestavam, que um valente cheeseburguer com batata grande e cola grande seria o auge (aguardamos o estudo científico para o comprovar) ..."

 
Explicações científicas à parte, o facto é que desde que os gregos inventaram a cerveja, que a cura da ressaca é um dos dilemas da humanidade. O primeiro conselho e mais importante de todos seria: não beber e garantimos por experiência própria (cof cof) que não vais ficar nem com um pouquinho de ressaca, mas se não vão nesta cantiga temos outras dicas para ti.
Repara que quando alguém bebe demais e vai parar ao hospital, o primeiro passo, é tomar glicose, o álcool reduz a quantidade de açúcar no sangue, (daí aquela moleza), então, a tática ideal e infalível é andar sempre com uma barrinha de chocolate no bolso. É tiro e queda e o efeito é melhor do que todas essas confusões de banhos gelados, dormir ou qualquer outra loucura que possa ter efeito contrário e piorar a situação. O mais seguro mesmo é o dito chocolatinho, (santo de cada dia), quando te começares a sentir mal, durante ou após a bebedeira. Procura não te sentares ou fechar os olhos no "durante".

Existe quem defenda que mastigar gengibre, ajuda a aliviar o stress do estômago, mas o repouso, frutas, verduras, muita água e vitamina B, sem contar com uma ou duas Aspirinas, Guronsan (ou outro), continua a ser a solução mais usada. Mas existem outras, nomeadamente: beber um litro de água antes de ir para a cama e tomar um remédio para a dor de cabeça. Verás que no outro dia vais estar melhor do que se chegasses a casa e não tomasses nada!
 
A esta altura já pensas: "E aquela secura irritante que não passa!!". Se tomares uma colher de azeite antes de começares a beber, segundo os nossos antepassados, não vais passar por essa sensação porque, provavelmente, nem vais conseguir beber mais!  Também, há quem diga que um bom sumo de limão ou tomate, no dia seguinte, ainda em jejum, costuma fazer milagres. Segundo outras culturas, um copo de cerveja gelada, assim que te levantas, também produz um efeito positivo. Pelo menos não passas por todas as sensações desagradáveis! Uma receita interessante que encontrámos para curar para a ressaca: comer uma canja de galinha. Mas aconselhamos a pedires a alguém que a faça ou a fazeres a canja antes de saíres à noite. De madrugada e de ressaca o mais certo é nem dares com um prato! Para os mais impacientes, deparamos com testemunhos, que atestavam, que um valente cheeseburguer com batata grande e cola grande seria o auge (aguardamos o estudo científico para o comprovar), mas podemos já adiantar que coca-cola e outras bebidas com gás e cafeína são irritantes para o estômago.

Se isto estiver a ser demais para a tua cabeça, (que neste momento poderá estar à roda com a noite passada), podes fazer uma pequena cábula com alguns dos conselhos mais práticos que encontrámos, para colares no espelho onde te arranjas todas as noites antes de saíres:
 
 
  • Alimenta-te bem antes de começar a beber, para que os efeitos do álcool não sejam tão intensos;
  • Nunca bebas à pressa! (nem que a loira que te tirou do sério esteja a dirigir-se para a porta acenando-te para ires com ela). A bebida é para ser saboreada calmamente, e sem pressas;
  • Faz um esforço e bebe água (entre as bebidas alcoólicas) para que o efeito do álcool não seja tão forte;
  • Modera a quantidade de álcool a ingerir;
  • No dia seguinte, opta por alimentos leves, chá, café, muita água, (mesmo muita), para hidratar o corpo, e come alimentos com sal e potássio para repor os nutrientes que perdeste. Não te esqueças de ingerir muita vitamina B.
 
Tem calma! O que estás a sentir vai passar em breve!
 
Amanhã tudo regressa ao normal! E estás pronto para mais uma, VENHA ELA!!! De preferência ao som dos FUNKyou2 - The Party Rockers!!!!
 
Francisco Praia
FY2 - The Party Rockers
Publicado em Francisco Praia
quarta, 01 fevereiro 2017 21:25

It's all about music

Vivemos numa era digital. Inicialmente, quando surgiram as primeiras tecnologias digitais todos e em todas as áreas profissionais, mas em particular na música mostraram alguma resistência à mudança. No entanto, rapidamente os benefícios e vantagens do formato digital conquistaram os profissionais em todos os quadrantes.
 
Eu, por acaso, confesso ter sido um dos resistentes a esta mudança e deixei o vinyl muito depois de ter aparecido a possibilidade de trabalhar a música de forma digital. Mas isto tem uma justificação forte. Antigamente, nos primórdios da cena digital, todo o material técnico para DJ não era de grande qualidade. Felizmente as coisas mudaram, hoje em dia a qualidade por exemplo dos CDJ seja da gama mais básica aos topo de gama, apresentam qualidades técnicas e funcionalidades que os seus primórdios nem sonhavam.
 
Na minha área musical, atravessando esta nova tendência, alguns temas que me interessavam começaram a deixar de ser prensados em vinyl e por isso quase de uma forma natural fui incorporando no meu setup de DJ a tal vertente digital (CDJ) para poder ir acompanhando o que se passava e tocar até alguns temas exclusivos, remix’s ou mashup´s que em parte não eram editados no formato vinyl. Facto esse, prende-se com a redução de custos, não só de produção como de edição e distribuição. O formato digital revela-se assim, um meio extremamente económico e com potencial lucrativo brutal.
Com isto, viria mais tarde a comprar um Mac (computador portátil) para poder iniciar-me nesta nova era. À primeira vista só o facto de me libertar de kilos de peso das malas de discos para me movimentar de gig para gig já era uma grande vantagem.
 
Desenvolveu-se no entanto, ainda algum preconceito especialmente entre a comunidade DJ relativamente aos DJs que optam por abraçar esta evolução tecnológica recorrendo assim, por exemplo, ao tão afamado sync ou a controladores digitais que recorrem a comunicação MIDI. Parece-me um assunto que apesar de muito polémico, se afasta do conceito essencial que é o trabalho de DJ na sua essência.
 

O facto de um DJ assumir a utilização de sync, não faz dele menos DJ do que um DJ que continue a trabalhar com vinyl.

 
A essência de ser DJ não é, nem nunca foi o formato de som que se opta para tocar ou trabalhar, mas sim a forma como o faz, ou seja, a escolha dos discos e a técnica com que os passa é sempre o primordial, no entanto, historicamente o DJ é conhecido pela utilização de discos em vinyl, através do qual também a técnica transparecia, aliás, nos dias de hoje ainda se registam vendas muito acentuadas que são na sua maioria graças aos DJs que persiste com a utilização do vinyl.
 
O vinyl hoje é visto como uma jóia e os temas lançados neste formato são aclamados muitas vezes como raridades ou edições limitadas que são muito apetecíveis especialmente entre os DJs mais underground o que acontece mais em vertentes como o techno, tech-house e house.
 
Este preconceito de que falamos prende-se muito, na minha opinião, com a resistência a mudança. O facto de um DJ assumir a utilização de sync, não faz dele menos DJ do que um DJ que continue a trabalhar com vinyl. A época em que o DJ precisava e gostava do vinyl também para demonstrar a sua superioridade técnica já era… Na verdade, um "SYNC DJ" pode tornar o seu trabalho bem mais complexo e personalizado relativamente a qualquer outro DJ. Existem vários exemplos de sucesso internacional que utilizam um setup complexo recorrendo a sync para poderem introduzir desde samples,  loops ou acapellas.
 
O paradigma de DJ hoje é muito diferente do que era ha 10 anos... ou nem tanto. Porque na realidade as pessoas não querem muito saber se o DJ X ou Y toca em vinyl ou cd ou pen... a sério? Ainda há quem acredite que isso é a essência do que quer que seja? 
Pode ser um plus, ou algo que abone a favor do DJ para quem aprecie o som do vinyl por exemplo, mas mesmo assim nem nisso vejo uma vantagem... tudo depende do que é melhor para cada DJ... cada um escolhe o seu setup de acordo com o que acredita ser melhor para o seu trabalho. E aqui encontramos outra grande vantagem, na minha opinião da era digital que é a oferta de possibilidades de escolha e da entrada mais facilitada de novos talentos no mercado.
 

As pessoas não querem muito saber se o DJ X ou Y toca em vinyl ou cd ou pen.

Temos que olhar para tudo isto como uma espécie de benção. Temos DJs como o Richie Hawtin ou o Dubfire no techno ou ainda Deadmau5 do house progressivo que hoje em dia quase sempre só tocam recorrendo a controladores MIDI e eventualmente CDJ ou ainda exemplos como Ricardo Villalobos, Sven Vath, entre outros que preferem utilizar ainda o vinyl. 
 
Achei importante abordar este tema no sentido de tentar fazer as pessoas perceberem que o trabalho de DJ é muito mais do que o formato de música que utiliza para trabalhar. Embora trabalhe hoje em dia recorrendo unicamente ao formato digital mais precisamente aos CDJ, acho injusto muitas críticas que ouço, tanto de profissionais como de amadores ou público em geral relativamente ao facto de se usar CDs, pens ou ainda recorrendo a softwares como o Traktor ou o Serato para tocar fazendo assim parecer que só o vinyl é valido para profissionais e tudo o resto não interessa.
 
Hoje em dia, com a qualidade dos estúdios, das tecnologias, etc., a música tem uma qualidade incrível e portanto o formato analógico ou digital não diz respeito, nem afeta negativamente a música, ou pelo menos esse não é o suposto... a tecnologia existe para facilitar o nosso trabalho e para nos ajudar a desempenhar os nossos trabalhos.... mas seja como for, e aliás como dizia a musica... "It's All About Music”.
 
Publicado em João Garcia
quinta, 14 janeiro 2016 22:10

Precisamos de mais carreiras e menos hits

Nos últimos dois ou três anos a música portuguesa tem observado um tremendo crescimento. Os artistas nacionais - talvez mais do que nunca - partilham hoje o palco principal dos grandes festivais portugueses ombro a ombro com os mais prementes artistas internacionais. Nas rádios, se a batalha começou enviesada, mercê da imposição das tão faladas quotas de música portuguesa, hoje em dia é no mínimo injusto afirmar que a música portuguesa só consegue manter a sua presença nas principais tabelas de hits por via dessas mesmas quotas. A música portuguesa está melhor do que nunca e deve, antes de mais, a si própria este sucesso. 
 
Lembro-me de há pouco mais de três anos ter assistido em pleno Talkfest a um presidente de uma Federação Académica desafiar os seus colegas a “ter a coragem” de construir um cartaz para uma “grande queima” com base em artistas nacionais, de forma a justificar a constante aposta em artistas internacionais. Quase como se apostar em música portuguesa fosse sinónimo de insucesso de bilheteira. Ora esta lógica, como prova o mercado actual, transfigurou-se completamente. Basta analisar, a título exemplificativo, os cartazes das principais “queimas” do país no último ano para chegar a algumas conclusões interessantes: Em Lisboa a quota de artistas lusófonos é cerca de 95%, no Porto de 84% e Coimbra nos 90%. 
 
Estes números não devem obviamente ignorar outros factores como a tremenda escalada de preços da grande generalidade dos artistas internacionais nos últimos anos - e neste contexto, é incontornável pensarmos no caso da tão falada bolha do EDM, cujos principais artistas subiram de tal forma os cachets que pressionaram os promotores a aumentar o preço dos bilhetes, resultando em shows com cada vez menos público.
 

(…) há anos atrás ‘cantar em inglês’ era garantia de um sucesso mais rápido, hoje em dia é exactamente o oposto.

 
Ainda assim, é iniludível concluir que existe, de facto, mercado e público para consumir música portuguesa. E não é difícil perceber porquê. O poder da língua na nossa cultura é inestimável. Não só falamos e pensamos em português, como sentimos em português. E é por isso que, se há anos atrás “cantar em inglês” era garantia de um sucesso mais rápido, hoje em dia é exactamente o oposto. “Cantar em inglês” significa competir com os maiores do mundo. Significa competir com Calvin Harris, com Rihanna, com David Guetta, com Beyoncé, com Paul McCartney. Significa jogar um jogo que não é o nosso sempre na casa do adversário. Soa a falso, a fabricado. E é exactamente o contrário do que o nosso público, ávido de coisas novas e autênticas procura.
 
No entanto, chegou a altura de repensar e dar o próximo passo: pensar numa estratégia de mercado concertada. E é nesse plano que a música portuguesa ainda se encontra num estado de insipiência. É preciso ainda profissionalizar muitas áreas como a comunicação, o marketing e essencialmente o management. Precisamos de mais carreiras e menos hits. Mas acima de tudo, precisamos que o talento e criatividade desta nova geração de músicos seja acompanhado em igual proporção por estrategas que lhes façam justiça. A rádio, o público e os artistas estão prontos. Falta a indústria adaptar-se. Esperemos que rápido.
 
DJ e Produtor
Publicado em Hugo Rizzo
Existe um filósofo francês chamado Paul Virilio que defende que, na sociedade actual, é a velocidade o que define os vencedores e os líderes. Nas palavras dele: “a velocidade da luz já não transforma o mundo, a velocidade da luz é hoje o mundo”. Nada mais correcto. A meu ver, a velocidade é hoje a força motriz de qualquer pessoa. Todos estabelecemos prazos - cada vez mais curtos - para alcançar objectivos e encaramos como falhanço se não os alcançarmos. A nossa sociedade hoje funciona assim. É refém da velocidade. Fazer bem é fazer rápido.
 
É certo que este é o mundo em que vivemos. Se olharmos para o que nos rodeia percebemos facilmente que as músicas se tornam facilmente epifenómenos. Basta pensar que há não muitos anos atrás, hits mundiais das pistas de dança subsistiam no tempo e, hoje em dia, é bastante improvável apanhar os hits de 2013 ou 2014 em 2015. Nos próprios radioshows dos top DJ’s da actualidade há uma quase obsessão com a novidade e a exclusividade. É mesmo difícil em grande parte deles encontrar “músicas já editadas”, quase como se as músicas por já terem sido editadas ultrapassassem o prazo.
 
Este, a meu ver é um dos principais problemas da nova geração de produtores e DJ’s que surgiu nos últimos dois / três anos. É obcecada com a velocidade. Quer, a todo o custo, fazer rápido. Mas atenção que fazer rápido não significa fazer bem. Mas o erro não está em querer fazer rápido. O erro está em só querer fazer rápido, ou, de outra forma, só admitir como sucesso fazer rápido.
 
A verdade é que o insucesso gera frustração. E, em grande parte das vezes, o insucesso e a frustração são nada mais que sinónimos de impaciência. Todos olham para fenómenos como Martin Garrix ou Madeon e pensam “também quero ser um prodígio de 16 ou 17 anos, cheio de sucesso”. Mas esquecem-se que estamos a falar em primeiro lugar de artistas com uma estrutura profissional gigantesca e em segundo lugar de artistas que, apesar da juventude, já cá andam há alguns aninhos. 
 

O talento só não é premiado quando os talentosos desistem. Parece um cliché, mas é assim que a vida funciona.

 
Por isso quando se sentirem frustrados, ou a achar que vivem num mundo cruel em que só não têm sucesso porque “o público não tem cultura”, “nenhuma agência aposta em mim”, “não tenho um bom estúdio”, “não tenho dinheiro para investir”, “nasci no país errado”, pensem que grande parte dos top DJ’s da actualidade, tirando poucas excepções, construiu uma carreira ao longo de 5, 10 ou 15 anos antes de chegar ao topo. É como em tudo, nenhum recém-licenciado começa a trabalhar como Director numa multinacional. Se for um prodígio, trabalhar e fizer tudo bem, certamente lá chegará. E sim, em Portugal como em tudo, as coisas obviamente demoram um bocadinho mais.
 
Não estou a dizer para serem passivos ou abrandarem o ritmo. Nada disso. Apenas que precisam de conviver com o tempo, tendo sempre em mente que o talento é sempre premiado. Mais tarde ou mais cedo. Pode tardar, mas é quase uma inevitabilidade. O talento só não é premiado quando os talentosos desistem. Parece um cliché, mas é assim que a vida funciona. É como diz o ditado: “Roma não se fez num dia”.
 
Hugo Rizzo
Publicado em Hugo Rizzo
terça, 10 novembro 2015 00:03

Top 100 DJs: como deverias chegar ao topo

 
Começo por felicitar os dois Portugueses que se mantiveram no TOP 100 - mais um ano em que Portugal está, e bem, representado no top e a na minha opinião o Diego Miranda (#58) e o Kura (#61) são os DJs/Produtores nacionais (do circuito 'comercial') que mais trabalharam a nível internacional este último ano e por isso fico feliz ao ver que o seu trabalho foi recompensado.
 
Analisando a DJ MAG, é preciso ter em atenção que de há uns cinco, seis anos para cá se tornou um top de popularidade versus investimentos e que, dentro de todos os estilos de música e de DJing, na minha opinião, apenas incide dentro do comercial - até porque são esses os DJs que fazem campanhas de votação. Não vemos os DJs do 'underground' (Exemplo: Seth Troxler, Jamie Jones, Dubfire, etc - só para referir alguns, dentro das centenas de excelentes produtores e DJs) preocupados com as votações nem a fazer campanha. Alguns até fazem comentários a ridicularizar o top, mas se não fazem 'campanha', acabam por ser ultrapassados por outros, se calhar não tão bons DJs ou produtores. Claro está que, para muitos DJs, o lugar que ocupa na DJ MAG representa mais ou menos concertos ao longo do ano e ainda um aumento ou diminuição de cachet.
 

O lugar que ocupa na DJ MAG representa mais ou menos concertos ao longo do ano e ainda um aumento ou diminuição de cachet.

 
Esta premiação é um negócio para a DJ MAG e possivelmente é o que sustenta a revista, já que toda a gente a conhece mas contam-se pelos dedos as pessoas que algum dia a abriram, folhearam ou compraram. Como o voto é feito através do Facebook, criaram uma base de dados dos votantes com todas as preferências que o Facebook partilha. Inclusive, surgiram rumores por parte de alguns DJs internacionais que a DJ MAG exige a compra de uma página de publicidade para poder figurar no top.
 
Na minha opinião, a forma mais justa de avaliar quem deveria estar no top 100 da DJ MAG seria com uma contagem de venda de bilhetes ao longo do ano, número de músicas vendidas aliado à performance enquanto DJ - mas como isso é praticamente impossível e a DJ MAG é por votação, vão sempre haver surpresas nos resultados e discordâncias no público em geral, que não imagina as jogadas de bastidores que são feitas, mas ainda assim, ficam revoltados. Para mim este não é um top real do panorama mundial de DJs e produtores de todos os estilos, fica-se apenas no circuito 'comercial' - como o top do resident advisor (que se calhar o pessoal do 'comercial' não conhece) também não é um top real porque se foca em DJs do 'underground'. Ambos valem o que valem.
 
Em relação aos últimos resultados da DJ MAG, no que fui acompanhando nas diversas redes sociais, o que me quis parecer foi que o sentimento de revolta foi superior aos anos anteriores - é normal que o público em geral esteja surpreendido com os resultados da votação, uma vez que muitos artistas reconhecidos internacionalmente não lideram a tabela e ficaram em posições mais distantes do topo ou nem sequer entraram no top 100. O top 20 não me faz confusão e nele figuram os artistas que previa, independentemente das posições. Os resultados mais surpreendentes são os do meio da tabela com artistas consagrados em posições muito longe do top 50 e a perder o lugar para DJs que não têm esse reconhecimento, quer no meio artístico quer junto do público. Hoje em dia os resultados não são um reflexo real do sucesso e trabalho em produção musical, vendas de bilheteira, número de plays, tops de vendas de música ou de performance de palco. 
 
Dan Maarten
Publicado em Daniel Poças
sábado, 14 abril 2018 22:47

O DJ e a (in)capacidade de integração

Muitas vezes me perguntam a opinião acerca do actual estado da noite e do mercado de trabalho para os DJs nacionais. Apesar desta ser uma temática bastante complexa, basta recuarmos uma dezena de anos para facilmente conseguirmos encontrar um paralelismo que de certa forma ajuda a responder a esta pergunta. Será fácil para mim e todos os meus colegas conseguirmos nomear pelo menos quinze ou vinte clubes dessa altura que geriam as suas programações baseadas não nas exigências musicais acentuada dos seus clientes mas sim numa política de gestão daquilo que eles próprios consideravam importante para oferecer uma real e sustentada personalidade e identidade para as suas casas. Era relativamente usual vermos todos os fins de semana vários artistas nacionais a viajarem de Norte a Sul do país, criando desta forma uma dinâmica de indústria que acabava por ser benéfica para uma classe que paulatinamente ia criando os alicerces imprescindíveis para conseguir atingir um nível de profissionalismo condizente com as exigências de um mercado em pleno crescimento.
 
O problema, na minha opinião, surgiu quando as regras mudaram de um momento para o outro. O nosso país entrou em crise, trazendo com isso sérias consequências aos mais variados sectores da nossa sociedade, incluindo, como é óbvio, as artes. As rádios abriram o filtro numa tentativa de conseguir cativar cada vez mais ouvintes e a televisão não demorou a fazer o mesmo, já para não falarmos do facto de que a maioria da população portuguesa passou a dispor de Internet de uma forma praticamente livre, o que a tornou uma ferramenta magnífica que dava a todos a possibilidade de se educarem a eles próprios, neste caso específico musicalmente. Esta opção soa, por si própria bastante interessante, termos a possibilidade de ouvir o que muito bem entendermos não só é um feito amplamente merecido mas também uma grande vitória na livre expressão de um povo, nomeadamente na procura de informação, especialmente nós, que não à tanto tempo assim saímos de um ditadura que nos impedia inclusivamente de estar em contacto com novas formas de expressão artística. 

(…) tornou-se automaticamente muito mais difícil gerir e programar um espaço de dentro para fora, uma vez que as pessoas passaram a querer ouvir nas pistas de dança o que ouviam no carro ou em casa.

 
Mas com todas estas boas notícias surgiram também algumas menos positivas. Devido ao facto de muito rapidamente nos termos apercebido de que, comercialmente falando, cada pessoa acaba por ter a sua própria maneira de apreciar a música, tornou-se automaticamente muito mais difícil gerir e programar um espaço de dentro para fora, uma vez que as pessoas passaram a querer ouvir nas pistas de dança o que ouviam no carro ou em casa. Com isso rapidamente a personalidade e identidade de um clube passou para segundo plano, fazendo com que os empresários deixassem de se poder dar ao luxo de pensar a médio longo prazo, tendo que começar a repensar todas as decisões comerciais dos seus espaços, incluindo a parte da programação musical, que passariam a ter nas suas cabines. De um momento para o outro, o DJ nacional que não fosse musicalmente "acessível" ao que a partir daquela altura os responsáveis dos espaços necessitavam, acabaram por lentamente começar a ser postos de lado, muito por culpa dos cachets que a partir dessa altura começaram a ser considerados altos e não justificados devido ao facto do estilo de determinado artista não se enquadrar com a política musical adoptada por determinado espaço. 

O que importava era o lucro fácil e rápido,  tanto por uma questão concorrencial como principalmente para se conseguir fazer frente a compromissos financeiros, algo absolutamente compreensível para quem, como eu próprio, também tem negócios na Indústria da noite além da música, mas que facilmente retira consistência e preponderância para algumas das características principais que um espaço que oferece um serviço de diversão nocturna deveria proporcionar aos seus clientes, a diferença, qualidade e identidade em que tanto me foco nesta crónica e que como é evidente também se reflecte no tipo de consumos que uma clientela de circunstância oferece, afinal um risco que se corre quando se quer encher uma casa a qualquer custo. Consequência natural de todas estas mudanças foi o facto de ano após ano vermos clubes que ainda tentavam seguir a política do "elitismo", como então lhe passaram a chamar, a fecharem portas, incapazes de contrapor uma política de qualidade com o facilitismo auditivo com que os grandes grupos cada vez mais acenavam. Começou-se então a culpar o DJ nacional pela sua "incapacidade de integração" no circuito e voltámos por exemplo a apostar nos grandes nomes internacionais, o que longe de ser mau em muitos casos, camufla um problema muito grande, que é o facto de que o que é nosso ter cada vez menos espaço para trabalhar, pelo menos por valores equitativos com o seu valor, até porque não nos podemos esquecer de que não são só os artistas internacionais que vivem exclusivamente da música.

Posto isto chegamos ao estado do nosso mercado actual, que se resume a quatro opções quando se pensa no curto prazo: opção um, apostamos em nomes internacionais quando queremos ser "elitistas", porque assim não se chateia ninguém, afinal de contas está na moda e pode passar as músicas que quiser, até porque, opção dois, temos um DJ residente que resolve tudo porque sabe e tem as músicas todas que lhe vierem pedir, faz toda a gente feliz e melhor que tudo, cobra tanto como um funcionário qualquer do clube. Opção três, temos aqueles rapazitos que conhecem toda a gente, até passam música com os cotovelos e em tronco nu se for preciso e trabalham tão bem como o DJ Residente e por último como opção quatro temos aquele artista com 10, 15 ou 20 anos de Carreira, que lutou anos a fio pelo respeito e reconhecimento de uma profissão que no início era tudo menos apaixonante ou cheia de glamour mas que aqui e ali não tem as músicas que toda a gente conhece e certamente não se importará de trabalhar por um cachet simpático (aos olhos dos proprietários dos espaços) para ter o seu nome num alinhamento com um grande nome internacional, afinal já tem tão pouco trabalho que até o estamos a ajudar. É lógico que como resultado final, a vertente identidade e personalidade acaba claramente por ficar comprometida, mas no final o que interessa é que tenhamos fotografias com a casa cheia, os compromissos financeiros resolvidos e dinheiro em caixa, se bem que esperando ao mesmo tempo que ninguém se lembre de abrir um novo espaço por perto, porque não convém, pode-se perder freguesia e isso não interessa a ninguém, especialmente depois desta trabalheira toda que tivemos a preparar tudo como eles gostam.

Que fique bem claro que não pretendo de maneira alguma minimizar o trabalho de alguns excelentes clubes, DJs residentes ou DJs nacionais e internacionais que continuam a estar no nosso circuito de trabalho, muitos deles meus amigos que muito admiro e que valorizam a nossa indústria, esta crónica tem um teor claramente generalista que reflecte, na minha opinião, uma situação geral e nunca individual, estando obviamente centrada única e exclusivamente na temática DJ, uma vez que olho para o tema DJ/Produtor como uma realidade completamente diferente e que será inclusivamente tema para uma futura crónica.
 
Carlos Vargas
Publicado em Carlos Vargas
quarta, 08 outubro 2014 22:28

Teremos sempre Paris

Parece que já lá vai, sem ter chegado verdadeiramente.
Foi um verão atípico que aqueceu pelos motivos menos evidentes e que teve como acendalha uma loira fleumática.
 
É curioso porque recordo, nítida e claramente, de ouvir o Bernardo Macambira falar nisto: "devíamos era trazer a Paris Hilton a Portugal!"
Na altura, a sex tape da loiríssima herdeira do império Hilton era mais importante que qualquer #bendgate. Brejeirice à parte.
 
Por outro lado, no éter e no clubbing vivíamos uma gloriosa época de bons beats e criatividade. As "presenças na noite" eram coisa de um género de Verão interior feito de decotes e de saias muito curtas.
 

Do outro lado da barricada, com a mesma irada tinta, imprimem-se notas para pagar um cachet que se acredita milionário.

 
Devem ter passado muitas estações, muitas modas que nunca foram compridas, até esta em que acordamos com o anúncio da presença de Paris Hilton em Portugal enquanto DJ. 
 
Correm rios de tinta: as redes sociais espumam-se em opiniões várias. Do outro lado da barricada, com a mesma irada tinta, imprimem-se notas para pagar um cachet que se acredita milionário.
 
Imagino o Macambira a rir. Dou por mim a pensar o quão legítima é esta transformação.
 
Conforme os DJs evoluíram para prestações nas quais se evidenciam enquanto verdadeiros entretainers, as "presenças" também tiveram de se reinventar para continuar a ter trabalho. 
 
Já sei: "A Paris Hilton não precisa". Pois, pois não: mas precisa de olear a máquina da fama que faz com que não precise. Presença habitual nos melhores clubs do mundo, Paris a Empreendedora conseguiu encontrar a forma certa de continuar a fazer dinheiro. Se é DJ, se é de esperar um set inovador, surpreendente?
 
Mas é por isso que alguém "vai ver" a Paris Hilton? A expressão está lá: "ver", que ouvir é outra coisa.
 
Afinal, ainda que separadas por um oceano de dinheiro, não há todo um segmento no mercado nacional que está na cabine para - essencialmente - ser visto?
 
Teremos sempre Paris. A dar o mote.
 
Até porque música é amor, mesmo em tempo de guerra digital.

 

Publicado em Mariana Couto
quinta, 28 maio 2015 19:35

Soundcloud: o princípio do fim?

Quem se lembra do MySpace? Grandes artistas foram descobertos, muitos temas, álbuns apareceram no MySpace e foram assinados em Major Labels. Com o evoluir dos tempos, o site acabou por ficar obsoleto porque não acompanhou a rápida evolução da internet e outros serviços semelhantes apareceram e acabaram por o substituir. 
 
Um deles foi o SoundCloud, que nos últimos 5 anos foi uma das principais, se não a principal plataforma de divulgação de música e onde foram descobertos vários artistas e outros tantos promovidos à exaustão.
 
A par com a evolução do SoundCloud, a pirataria também ganhou proporções gigantescas e hoje em dia é sabido que a venda de música já não é aquilo que outrora foi, no entanto, o investimento nos artistas por parte das labels não parou de existir ou diminuiu. Pelo contrário, como hoje em dia é mais fácil fazer música com um computador, é preciso investir ainda mais para garantir que os artistas e as musicas têm a visibilidade necessária.
 
Um utilizador frequente do SoundCloud sabe que por lá se encontra imensa música “gratuita” e, na verdade, há mais bootlegs e mashups do que temas originais (ou havia), o que faz com que as labels não vendam os temas originais. E mesmo que as músicas não estejam em free download, sabe-se que há sempre meios de contornar isso e o público em geral consegue fazer mais rápido um download pirata para ouvir no carro (não interessa a qualidade da música) do que comprar um tema.
 

O SoundCloud como o conhecemos está a acabar e não interessa se pagas um serviço premium ou não.

 
Quando foi anunciada a parceria entre o SoundCloud e a Zefr, uma das plataformas líder de mercado de gerencia de direitos e royalties, que é responsável por identificar os temas no YouTube e consequentemente entregar os direitos e royalties às labels, pensou-se que iam terminar os famosos “takedowns” no SoundCloud porque as editoras iriam finalmente poder ganhar dinheiro com os temas que iriam sendo colocados no SoundCloud e que seria implementado o mesmo sistema de publicidade paga que o YouTube. No entanto, o resultado foi outro: nessa semana os artistas revoltaram-se contra o SoundCloud porque os “takedowns” foram gigantescos e até chegaram a nomes como Martin Garrix, que viu os seus temas originais serem removidos.
 
O SoundCloud como o conhecemos está a acabar e não interessa se pagas um serviço premium ou não. Os mix sets, bootlegs e mashups estão a ser apagados diariamente e, é o que vai continuar a acontecer a curto-médio prazo.
 
Apesar do SoundCloud ter pago mais de 2 milhões de dólares em publicidade aos seus parceiros, a Sony afirma que não ganha dinheiro suficiente e é quem está a criar mais problemas.
 
Sabemos que o SoundCloud tem uma audiência mensal de cerca 350 milhões de utilizadores e que, apesar de tudo, ajudou a desenvolver e a lançar artistas como a Lorde, promover artistas do meio como o Drake, Miguel e mesmo a Beyonce e ainda a descobrir outros tantos. Mas o que se passa é, ao mesmo tempo que os artistas precisam de exposição, as labels precisam de ser pagas pela música e enquanto o SoundCloud não pagar aquilo que as labels acham justo, a situação vai-se manter como está e vamos continuar a ver os takedown’s diários e a revolta dos artistas. 
Inclusive a Sony já retirou temas de grandes artistas como Adele, Miguel e Hozier; e sabe-se também que as negociações entre os dois falharam por falta de acerto monetário. 
Um serviço que outrora foi feito a pensar nos artistas, hoje em dia é controlado pelas editoras.
 
Como o SoundCloud é um dos principais “fornecedores” de musica dos blogs, sites e redes sociais, pela sua fácil integração, a pergunta que eu faço é: quanto tempo falta para aparecer um sério concorrente do SoundCloud e que o destrone, como aconteceu com o MySpace?
 
Dan Maarten
Publicado em Daniel Poças
quinta, 18 fevereiro 2016 20:07

O talento das redes sociais

Para os fãs de música, as redes sociais são salas imensas cheias de musicalidade nos diversos estilos, onde se compram bilhetes para os festivais de verão e se descobre qual o DJ que vai estar no clube onde costumam frequentar. Para os artistas, pode significar a exposição necessária para a sua carreira.
 
Antes do boom da internet ser o que é hoje, os artistas encontravam as músicas novas nas lojas de venda ao público onde, espantem-se, era necessário pegar num vinil ou cd e realmente ouvir. Não havia Beatport, iTunes, Traxsource ou Soundcloud. Não havia forma de publicitar os gigs da mesma maneira que há hoje e para se estar a par das novidades, era necessário sair à noite e ouvir outros DJs.
 
Posto isto, Não sou hipócrita. Hoje em dia, em todas as áreas e todas as profissões, o “Social Networking” é uma ferramenta que não se deve negligenciar, de forma alguma. 
 
No entanto, por vezes dou por mim a pensar: “Quando é que o talento na gestão das redes sociais se sobrepôs ao talento musical?”.
 
Parece-me que grande parte dos novos DJs são mestres em design, percebem imenso de logos e de photoshop, inclusive até conseguem colocar mais pessoas no clube X do que aquelas que realmente lá estiveram. Tiram umas fotos do suposto estúdio com legendas “quase pronta a nova música”, mas que nunca sai... porque simplesmente estar dias a fio em frente a um computador a fazer música não é tarefa tão simples quanto parece ser. E a má notícia é: tu só vais tocar a um clube de topo ou um festival estilo Tomorrowland quando tens músicas tuas.
 
Não importa se tens 100.000 fãs no Facebook se o teu “engagement” e “edge rank” são nulos. Não é isso que faz de ti melhor artista nem faz com que vás tocar ao clube A ou B.
 

Não importa se tens 100.000 fãs no Facebook se o teu “engagement” e “edge rank” são nulos. Não é isso que faz de ti melhor artista nem faz com que vás tocar ao clube A ou B.

 
Os produtores de grandes eventos, festivais ou clubes, procuram sempre artistas que as pessoas se possam relacionar através da música, seja ela Big Room, Techno, HipHop, Kizomba, whatever. Se enquanto artista não tens a criatividade para seres um DJ diferente dos outros, através de scratch, uso de máquinas ao vivo - maschine, por exemplo, ou a capacidade de ser produtor de música, a verdade é que nunca vais passar de um DJ de warmups a tocar músicas de outros artistas.
 
O marketing é importante mas até certo ponto... Não importa se tens 100.000 fãs no Facebook se o teu “engage” e “edge rank” é nulo. Não é isso que faz de ti melhor artista nem faz com que vás tocar ao clube A ou B. 
 
No final, o que interessa saber é se tens a capacidade de te distanciar dos outros como DJ/Produtor e sejas realmente reconhecido junto do público: a qualidade vai sempre sobrepor-se à quantidade. 
 
 
Dan Maarten
Publicado em Daniel Poças
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