Portugal tem sido nos últimos anos conhecido e reconhecido pela enorme paixão pelos espetáculos ligados à música.  Os portugueses gostam de consumir música, de encher salas de concertos e festivais de verão. Se no final do verão de 2015 havia dúvidas de que os portugueses “respiravam” música, com as constantes confirmações de artistas internacionais desde o final de Agosto que vão marcar presença em 2016, não há margem para dúvidas.
 
Com a presença de artistas internacionais em 2016 como Adele, Muse, Justin Bieber, U2, AC/DC, Florence and the Machine ou Bryan Adams (entre tantos outros...) com espetáculos a solo, está dada a garantia de que 2016 vai ser um ponto de passagem das principais tours internacionais. A questão que me ocorre quando penso na confirmação de uma artista como Adele, a maior artista internacional da actualidade, que esgotou duas datas do MEO Arena em poucas horas e que bateu todos os records de vendas é: onde anda o velho do Restelo que fala tantas vezes do Portugal dos pequeninos?
 
O facto de sermos o ponto de entrada para a Europa faz com que grande parte das tours dos maiores artistas internacionais passe por cá, mas sem a qualidade dos nossos produtores de espetáculos, a viagem durava mais uma hora e aterrava em Espanha. A premiação constante das principais produtoras de eventos quer a nível nacional quer a nível internacional, fez com que o reconhecimento que há muito se pedia acontecesse, e que a garantia de qualidade que sempre existiu “obrigasse” as principais agências internacionais a incluírem o nosso país na Tour. A música é actualmente uma das melhores formas para mostrar o nosso País.
 

A música é actualmente uma das melhores formas para mostrar o nosso País.

 
Em 2012 com a crise económica sentiu-se uma quebra de vendas de espetáculos e festivais de verão. A estratégia das principais produtoras de espetáculos passou, e bem, por chamarem a atenção de espectadores estrangeiros com um cartaz que captasse o interesse, através de um trabalho de RP intensivo nos principais países vizinhos ligados à música internacional (Reino Unido, Espanha e França). O Turismo, outro dos sectores com mais qualidade que o nosso país oferece, foi a plataforma de entrada. Passados quatro anos percebe-se que resultou, atendendo ao facto de cada vez mais estrangeiros marcarem presença nos principais festivais de verão no nosso país. O facto do preço dos bilhetes ser dos mais baratos da Europa, do Turismo de Sol e Mar (ao contrário do Reino Unido que é conhecido pela chuva e lama) e do cartaz ser dos melhores da Europa, faz com que estejam reunidas todas as condições para que tenhamos cada vez mais público estrangeiro nos eventos ligados à música.  
 
Um dos pontos mais interessantes para analisar com a quantidade de espetáculos que Portugal vai ter em 2016 nas principais salas é a repercussão que os principais festivais de verão vão sofrer atendendo ao poder de compra dos portugueses. As escolhas são mais que muitas, mas a carteira não aumenta, infelizmente. 
 
Outro dos pontos interessantes em 2016 para analisar é a mudança de paradigma da música em Portugal. Se é ponto assente que o EDM (Eletronic Dance Music) já teve melhores dias e que o Kizomba já não enche clubs como acontecia há um ano atrás, percebemos que, e felizmente, as coisas estão a mudar. O Hip-Hop e o RnB parecem estar a voltar ao que já aconteceu no passado, refletindo-se no aparecimento e confirmação da qualidade de muitos artistas nacionais e internacionais tanto em espetáculos a solo como nos principais festivais de verão. De salientar a estreia de Wiz Khalifa e o regresso de  Kendrick Lamar em Portugal este verão.
 
A verdade é que chegamos a 2016 com uma certeza: as agências e as produtoras de espectáculos nacionais estão a trabalhar melhor do que nunca, de uma forma cada vez mais séria e profissionalizada e com a garantia que o ano que se avizinha vai ser um dos melhores anos que Portugal já viu no mundo da música, a rebentar pelas costuras.
 
Hugo Dinis Silva
Publicado em Hugo Dinis Silva
terça, 04 julho 2017 22:50

Algarve: destino de festa

A noite algarvia é um tema recorrente na minha vida, perguntam-me frequentemente por ela – como é? Como está? E por aí em diante – especialmente quando vou em tour para o Brasil, país irmão e cheio de curiosidade pela cena portuguesa.
 
Nasci e cresci no Algarve, e com mais de 20 anos como DJ foi no Algarve que tive as primeiras oportunidades da minha carreira. Essas oportunidades aconteceram em espaços que fazem hoje parte da história e são referências quando se fala da dance scene nacional. A primeira de todas foi como DJ residente do bar Mitto, em Albufeira, que se tornou lugar de visita obrigatória para todos as pessoas influentes na noite de Lisboa e Porto que iam sempre lá no início da noite. Com a palavra a passar e uma clientela conhecedora da música e do meio, o meu trabalho no Mitto resultou num convite para tocar em algumas noites do Capítulo V, um club único, com um glamour e uma clientela selecionada a dedo, e que não voltou a repetir-se na cena nacional.
 
Algum tempo depois, em 1998, fui convidado para ser DJ residente da Locomia, que vivia os seus anos de ouro que ficaram inscritos na história da electrónica nacional. Ali, na cabine com vista para a Praia de Santa Eulália, pude tocar com praticamente todos os nomes de referência da dance scene mundial tanto do techno (que fazia as festas de sexta-feira), como do house (aos sábados). Partilhar a cabine com vultos como Deep Dish, Erick Morillo, David Morales, Richie Hawtin, Jeff Mills, ou Frankie Knuckles, entre muitos outros.
 
O Mitto, o Capítulo V e a Locomia foram as minhas escolas musicais, naquelas cabines aprendi tudo sobre a arte de ser DJ, da comunicação com o público ao trabalho de fazer, com ele, uma viagem musical e, em última instância como a política musical constrói uma casa.
 
Escrever sobre o Algarve sem mencionar a Páscoa é quase impossível. No final dos anos 90 e início dos anos 2000, as férias da Páscoa eram obrigatórias ser passadas no Algarve. Nessa altura do ano as casas do Norte do país assentavam arraiais no Algarve e havia uma sucessão louca de festas com nomes nacionais e internacionais de referência. Vejo as festas à tarde na piscina da Locomia como a pré-história dos sunsets de hoje. Recentemente tive oportunidade de rever o Little Louie Vega, e não é que ele se recordava de lá estar a atuar com Masters at Work?
 

Vejo o fenómeno dos sunsets como uma alternativa muito saudável e inclusiva – permite que todos, independentemente da idade, possam frequentar a festa.

 
O que nos ficou desses tempos em que a Páscoa era no Algarve, e não num Spring break na costa espanhola, foram os sunsets. Apesar desta perda para Espanha – e os operadores turísticos deviam pensar em relocalizar as celebrações dos finalistas para o Algarve – tudo se tem vindo a transformar, e surgem novos espaços que apesar de existirem apenas 20 a 30 noites entre Julho e Agosto, trazem novidades a cada noite enriquecendo a cena nacional.
 
Vejo o fenómeno dos sunsets como uma alternativa muito saudável e inclusiva – permite que todos, independentemente da idade, possam frequentar a festa. Por ser durante o dia e porque as pessoas que estão na praia são “seduzidas” pela música que os DJs tocam em alguns espaços nas mais diversas praias algarvias. As pessoas acabam por se agrupar perto destes "beach points", e ficam a dançar e a curtir até para lá das 22h.
 
As festas nos barcos também eram, e continuam a ser, muito procuradas. Apesar de terem uma vertente e um público mais alternativo são momentos únicos e espetaculares que o Algarve continua a oferecer. Aqui destaco as que participei com a subida pelo Rio Guadiana em que o barco que fazia a travessia de pessoas pra Espanha, saía de Vila Real de Sto. António, e regressava ao final das tardes de verão.
Fui acompanhando sempre muito de perto as tendências e mudanças dos mais variados espaços no Algarve, como algarvio de gema, e há muitos anos que realizo um sunset em parceria com o grupo No Solo Água, que começou em Vilamoura e em 2011 ganhou a designação por que ficaria conhecido até hoje: Infinity Sunset by Pete Tha Zouk.
 
Na segunda edição, ainda em Vilamoura, decidi saltar de paraquedas e aterrar numa praia da Falésia repleta de gente, 18 mil pessoas segundo as contas oficiais, e depois de aterrar fui conduzido à cabine onde toquei mais de 5 horas de set. Foi algo único, com a adrenalina no máximo, e absolutamente inesquecível na minha carreira de DJ.
Este ano marquem a data de 13 de Agosto nas vossas agendas, porque o Infinity Sunset by Pete Tha Zouk acontece no No Solo Agua da Marina de Portimão, com entrada gratuita e permitida a todos, para que juntos possamos fazer uma grande festa a dança na areia ou com os pés dentro de água. Até lá!
 
Pete Tha Zouk
Publicado em Pete Tha Zouk
quarta, 05 junho 2019 21:55

Miss Sheila - 20 Anos de Música

Para a minha primeira crónica de 2019, o tema selecionado é imprescindivelmente o meu 20.º aniversário de carreira e o meu percurso no mundo da música, desde o dia "zero", até aos dias de hoje.

20 anos, parece que foi ontem, no entanto muito tempo se passou desde o dia em que fiz a minha primeira atuação profissional ao vivo. "20", não é o número exacto e correspondente à minha ligação com a musica electrónica, mais concretamente com o "House e Techno". Comecei bem antes de 1999, a experiência das primeiras "raves", o meu cargo na Bimotor DJ com as encomendas internacionais de vinyl para Portugal, os eventos no Rocks, a Kaos Records, a Supersonic... tudo isto e muito mais faz parte da minha introdução ao "mundo" que hoje chamo "meu", e um importante pilar naquilo que hoje sou.

Resumir a minha carreira não é de todo tarefa fácil. 
Sempre tive uma imensa paixão pela música. Nasci em Sasolburg (Africa de Sul), depois vivi em Nova York, até que conheci o maravilhoso país que é Portugal, onde passei a residir.

Iniciei bem cedo a minha experiência com a música no geral, já nos Estados Unidos, com as aulas de piano, flauta e bateria. Sempre senti que eu e a musica éramos mais que meros "conhecidos", havia algo que me fazia sentir bem e em harmonia, sempre que ouvia um tema com que me identificasse. Naturalmente, senti a necessidade de partilhar esses sentimentos. Daí surgiram as primeiras experiências com a arte do "DJing", isto já em Portugal, no bar do qual era proprietária em conjunto com o meu irmão. Malibu Bar, era na Praia De Esmoriz e foi onde tive a oportunidade de dar início e desenvolver a minha paixão pela electrónica. Na altura, Esmoriz era prova-velmente uma das cidades onde residiam mais DJs. A forma como falávamos acerca dos temas mais recentes, do panorama no geral, contribuiu bastante para aquilo que sou hoje e para todo o "background" que ganhei.

Considero que tenho uma carreira solida e sinto-me imensamente grata por isso. Contudo, o processo de gestão de uma carreira para que tudo prevaleça de forma relevante e consistente não é de todo fácil, tema que já abordei de uma forma mais concreta na minha Crónica de Opinião: "A Máquina atrás do artista".

Fazendo uma retrospectiva, passei por varias gerações. Inicialmente onde apenas existia o "vinyl",  aquelas malas pesadas e os "White Labe" exclusivos, posteriormente o início da "Era Digital", onde surgiram os primeiros "CDjs", mais atualmente os DJ Softwares. Todo este processo de evolução no que diz respeito às ferramentas para actuação fez-me ganhar bastante experiência, que se reflete nos dias de hoje, sempre que saio para trabalhar.
 
A música também mudou bastante, felizmente a música boa nunca vai acabar, isto é algo certo, mas é normal que existam mudanças, devido às influências (culturais, sociais, políticas) ou mesmo ao material de estúdio, que em paralelo ao de performance ao vivo, também foi alvo de um grande "upgrade" ao longos dos tempos.

A música também mudou bastante, felizmente a música boa nunca vai acabar, isto é algo certo, mas é normal que existam mudanças, devido às influências (culturais, sociais, políticas) ou mesmo ao material de estúdio, que em paralelo ao de performance ao vivo, também foi alvo de um grande "upgrade" ao longos dos tempos.


Resumidamente, o facto de no início não ser tudo tão simplificado, fez com que eu e os artistas da minha geração tivéssemos que nos esforçar um pouco mais para que o produto final fosse o mais perfeito possível.

A nível do trabalho de estúdio e produção, como já referi inicialmente, também houve um grande desenvolvimento, seja a nível do Hardware, Software ou mesmo a forma como a informação é partilhada.

Editei o meu primeiro disco em 2001, pela conceituada "Tango" em parceira com o Joeski. Desde aí fui desenvolvendo as técnicas de forma intensa e editando originais e remisturas um pouco pelos quatro cantos do mundo, Digital Waves, Kaos, Magna (Portugal), Fresh Form, Datagroove (Espanha), Moderate (Itália), Fatal (Holanda), Na-nowave (Japão), Tango (EUA), Hypno (Reino Unido) e mais recentemente pela conceitua-da e restrita Natura Viva onde apenas figuram os melhores do mundo. 

De salientar também que em 2014 realizei um dos meus sonhos, abrir uma editora. A minha Digital Waves está também de parabéns em 2019 com os seus já 5 anos de existência. Estou a preparar desde Janeiro alguns temas, que vão sair até ao final do ano juntamente com tudo o que está projectado entre mim e a minha agência para esta temática.

Para finalizar, durante todo este percurso tive o prazer de conhecer pessoas fantásticas e conhecer outros países e culturas, como foi mais concretamente o caso de Nova Iorque, Ibiza, Geneva, Luanda, Cidade do Sal, Luxemburgo, Rotterdam, Bruxelas, Funchal, Lyon, Hartford, Sevilha, Vigo, Neuchatêl, Friburgo, Amsterdão, entre muitas ou-tras fantásticas cidades do mundo, como Portugal, obviamente! 

Assim sendo e de forma a celebrar este marco na minha carreira, do qual não podia estar mais grata por cada minuto, decidi retribuir todo o apoio e carinho que recebi ao longo dos anos, com a temática "20 Years of Music", que irá originar dois grandes eventos no final do ano. Um a Norte e outro a Sul. Mais novidades estão planeadas para sair, por isso fiquem atentos, este ano festejamos juntos.
 
Publicado em Miss Sheila
terça, 01 abril 2014 16:16

(Sem título)

Escrever nunca é fácil.
Sobretudo quando se trata de uma primeira vez: os temas escorregam, misturam-se e nem sempre à velocidade certa.
Andei com dúvidas. Queria falar sobre o Djiing no feminino. Não, quero falar das novas sonoridades. Não, quero falar da noite no geral. E, afinal, quero só contar uma história.
 
Hoje quando me sentei na minha Workstation, chuva de primavera a bater na janela, gata com fome, assuntos por resolver, era um dia que começava como os outros. Vi os mails, abri o Facebook e entre os posts delirantes de um 1 de Abril cinzento a noticia da morte de Frankie Knuckles. 
 
Pus o Your Love a tocar.
Homenagem pequena. Era eu também assim, pequena, quando aprendi a gostar de House Music. A minha entrada na rádio tratou de me afinar o ouvido, de me mostrar sonoridades que estavam longe dos meus hábitos e que tinham essa capacidade. A de me levar para longe.
 
Quando, anos depois, pensei que poderia ser uma musical contadora de histórias: ele estava lá. Referencia, reverência. Inspiração. Intocável.
Tal e qual está agora. Ah, a p*ta da insustentável leveza da vida. 
Lugar-comum, tanta verdade nunca antes dita: hoje ficamos mais pobres. Mas depois não. Porque se é o imaterial que nos enriquece, então temos hoje mais de estrela do que pó. Numa House Music pura, bonita, cheia de bom feeling. Pode ser que já não se ouça. Tanto melhor porque é coisa que se sente.
 
Como sempre, para sempre: obrigada pela inspiração. São breves linhas, as tais difíceis de escrever. Mas são a única coisa breve da tua partida, porque o que nos deixas é muito maior do que algum dia poderias imaginar. Há legados que não morrem. Mesmo assim, esta poderia ser uma mentira de 1 de Abril.
See you on the dancefloor, godfather.

 

Publicado em Mariana Couto
quinta, 14 janeiro 2016 22:10

Precisamos de mais carreiras e menos hits

Nos últimos dois ou três anos a música portuguesa tem observado um tremendo crescimento. Os artistas nacionais - talvez mais do que nunca - partilham hoje o palco principal dos grandes festivais portugueses ombro a ombro com os mais prementes artistas internacionais. Nas rádios, se a batalha começou enviesada, mercê da imposição das tão faladas quotas de música portuguesa, hoje em dia é no mínimo injusto afirmar que a música portuguesa só consegue manter a sua presença nas principais tabelas de hits por via dessas mesmas quotas. A música portuguesa está melhor do que nunca e deve, antes de mais, a si própria este sucesso. 
 
Lembro-me de há pouco mais de três anos ter assistido em pleno Talkfest a um presidente de uma Federação Académica desafiar os seus colegas a “ter a coragem” de construir um cartaz para uma “grande queima” com base em artistas nacionais, de forma a justificar a constante aposta em artistas internacionais. Quase como se apostar em música portuguesa fosse sinónimo de insucesso de bilheteira. Ora esta lógica, como prova o mercado actual, transfigurou-se completamente. Basta analisar, a título exemplificativo, os cartazes das principais “queimas” do país no último ano para chegar a algumas conclusões interessantes: Em Lisboa a quota de artistas lusófonos é cerca de 95%, no Porto de 84% e Coimbra nos 90%. 
 
Estes números não devem obviamente ignorar outros factores como a tremenda escalada de preços da grande generalidade dos artistas internacionais nos últimos anos - e neste contexto, é incontornável pensarmos no caso da tão falada bolha do EDM, cujos principais artistas subiram de tal forma os cachets que pressionaram os promotores a aumentar o preço dos bilhetes, resultando em shows com cada vez menos público.
 

(…) há anos atrás ‘cantar em inglês’ era garantia de um sucesso mais rápido, hoje em dia é exactamente o oposto.

 
Ainda assim, é iniludível concluir que existe, de facto, mercado e público para consumir música portuguesa. E não é difícil perceber porquê. O poder da língua na nossa cultura é inestimável. Não só falamos e pensamos em português, como sentimos em português. E é por isso que, se há anos atrás “cantar em inglês” era garantia de um sucesso mais rápido, hoje em dia é exactamente o oposto. “Cantar em inglês” significa competir com os maiores do mundo. Significa competir com Calvin Harris, com Rihanna, com David Guetta, com Beyoncé, com Paul McCartney. Significa jogar um jogo que não é o nosso sempre na casa do adversário. Soa a falso, a fabricado. E é exactamente o contrário do que o nosso público, ávido de coisas novas e autênticas procura.
 
No entanto, chegou a altura de repensar e dar o próximo passo: pensar numa estratégia de mercado concertada. E é nesse plano que a música portuguesa ainda se encontra num estado de insipiência. É preciso ainda profissionalizar muitas áreas como a comunicação, o marketing e essencialmente o management. Precisamos de mais carreiras e menos hits. Mas acima de tudo, precisamos que o talento e criatividade desta nova geração de músicos seja acompanhado em igual proporção por estrategas que lhes façam justiça. A rádio, o público e os artistas estão prontos. Falta a indústria adaptar-se. Esperemos que rápido.
 
DJ e Produtor
Publicado em Hugo Rizzo
domingo, 16 setembro 2018 22:47

Os "ginastas" da Dance Scene

O motivo da minha crónica deste mês vem na sequência de um post de um DJ que li há alguns dias numa das suas redes sociais em que dizia "isto é o que eu faço quando me pedem para tocar EDM" e fazia um gesto com a mão e o dedo do meio erguido dizendo também no mesmo post "I'm a Techno addict!". Como eu tinha a noção que o dito DJ tinha produzido há relativamente pouco tempo temas originais/remixes de EDM que tinha visto à venda no Beatport e que até tinha uma agenda internacional preenchida, fui um pouco atrás na sua rede social e realmente estavam lá os posts relativos a "great EDM Remix", vídeos no estúdio "what a EDM BOMB!", fotos com alguns dos artistas EDM do momento, etc. E fiquei realmente um pouco confuso...
 
O motivo da minha surpresa não é o facto de o DJ em questão ter mudado de estilo. Acho isso perfeitamente normal e faz parte do nosso percurso, quer como artistas, quer como pessoas. O que me faz muita confusão é como certos artistas podem, num momento querer ser os maiores num determinado estilo musical, porque está na moda e quando este deixa de estar na moda já é uma porcaria, já "passou o seu tempo" ou "isto é o que eu faço quando me pedem para tocar...". Essa parte já não entendo. Se até há pouco tempo querias ser o "novo príncipe do EDM", não podes, passado um ano e meio, dois anos, dizer que "isto é o que eu faço quando me pedem para tocar EDM" com um gesto obsceno. Até porque hoje em dia temos a internet que regista tudo o que publicamos, para sempre. E se vais publicar que és um "techno addict" e que "EDM sucks", ao menos apaga os posts anteriores onde dizes que estás a produzir a próxima "bomba EDM" ou que "respiras EDM". É o mínimo que se pode fazer em nome da coerência.
 
Entendo que seja o estilo musical mais "underground" que está na moda, mas ver alguns artistas (e muitas pessoas) que até à bem pouco tempo diziam mal do techno em favor de outros estilos (não só EDM) que agora são "techno addicts" faz-me alguma confusão. 

É verdade que o techno está na moda há já alguns anos e que parece que assim se vai manter durante algum tempo. Obviamente que não tenho nada contra isso até porque toco alguns temas techno nos meus sets, apesar de não ser um DJ cuja base seja esse estilo. Gosto de alguns dos temas que saem neste momento, embora já não seja tão fã da "nova" moda do techno mais rápido (para cima de 130/132 BPMs) que é bastante popular neste momento e que projectou vários DJs para a ribalta nos últimos tempos. Talvez porque, embora para a malta mais jovem seja uma sonoridade nova, alguns dos temas que estão na moda aos meus ouvidos soam-me ao techno que se tocava nos anos 90, inícios de 2000 com alguns sons novos, mas cuja base é bastante parecida e por isso não me soa a "novidade". Mas o certo é que há milhares de pessoas que seguem esse estilo e que enchem pavilhões, clubs, eventos e que para eles é uma sonoridade totalmente nova, coisa que entendo perfeitamente e que respeito totalmente. 

Mas será mesmo necessário que de repente quase toda a gente "viva para o techno", "respire techno" e seja "techno fanatic"? Entendo que seja o estilo musical mais "underground" que está na moda, mas ver alguns artistas (e muitas pessoas) que até à bem pouco tempo diziam mal do techno em favor de outros estilos (não só EDM) que agora são "techno addicts" faz-me alguma confusão. 

Tal como disse antes, obviamente que não tenho nada contra os artistas que mudam de estilo musical, isso faz parte do percurso de vida, da evolução pessoal de cada um, e é uma situação perfeitamente normal. O que me faz confusão é o aproveitamento de alguns em "mudar" para o estilo que está na moda dizendo mal do estilo que lhes deu muito dinheiro a ganhar. Quer publicamente quer em privado. Os Ingleses têm uma expressão para isso, chamam-lhe "jump on the bandwagon".

PS: Recentemente o DJ e produtor de EDM Hardwell comunicou que ia fazer uma pausa nos seus gigs por tempo indefinido para se dedicar a ser "Robbert e deixar de ser Hardwell 24 horas por dia" devido à pressão que isso significava na sua vida pessoal e ao efeito que estava a ter sobre a sua criatividade como artista. O que me levou a ler mais uma vez a crónica anterior que escrevi para a 100% DJ sobre o falecimento de Avicii. A vida de um DJ de topo com uma agenda internacional como Avicii ou Hardwell tinham, não é nada fácil. Felizmente Hardwell percebeu onde estava o seu limite e conseguiu parar a tempo...
 
Carlos Manaça
DJ e Produtor
 
(Carlos Manaça escreve de acordo com a antiga ortografia)
Publicado em Carlos Manaça
quarta, 28 maio 2014 18:55

O futuro da EDM

Corro o risco de esta crónica entrar na história da 100% DJ como a menos popular, ainda assim acho que tem que ser feita. Odeio quando as pastilhas elásticas perdem o sabor e é neste ponto que a EDM está neste momento. Foi-nos apresentada com uma embalagem muito cativante cheia de cor e quando demos a primeira trinca era fenomenal: uma autêntica explosão de sabor. Mas foi perdendo o sabor à medida que a fomos mastigando incessantemente.
 
Exagerou-se em tudo. Na quantidade de músicas, de "novos produtores", de versões 2.0, 3.0, 50.0 de hits. Perdeu-se a alma e a essência. De todo o oceano de faixas lançadas nestes últimos anos, contam-se pelos dedos as que ficarão para a história da música electrónica dentro de uns anos. É o que acontece quando as pastilhas elásticas deixam de ter sabor, deitamos fora e nem nos lembramos mais delas. Simplesmente comemos outra quando nos apetecer. O sabor é o mesmo, o que importa é a novidade.
 

Tudo foi feito para não deixar morrer a EDM.

 
Por outro lado, neste processo, pecou-se em muito pouca coisa. Não sou dos que acha que houve falta de criatividade. Criatividade foi o que não faltou na EDM. Reinventou-se o Dubstep, reinventou-se o Minimal, reinventou-se o Tribal, o Hip Hop, e até - pasmem-se - o Reggaeton. Tudo foi feito para não deixar morrer a EDM.
 
E a EDM não morreu. Não sou dos que acha que "isto está tudo a mudar" só porque um dia acordámos com mais faixas de deep/tech no top 10 do Beatport do que de EDM. Isso é fácil de explicar. Houve muitos bons lançamentos de Deep/Tech e não tão bons lançamentos de EDM, nesta semana. É só isto.
 
A EDM tem uma característica que nunca outro estilo musical dentro da dance music teve. Tornou-a em pop music. Música que eu oiço, tu ouves, mas também a minha mãe, o teu avô ou a tua filha. Toda a gente ouve. É mainstream. E o mainstream, meus caros amigos não acaba, reinventa-se.
 
E é exactamente essa a minha previsão - que vale o que vale, ou seja muito pouco - a EDM não morre, reinventa-se. É preciso dar-lhe alma. Fundi-la com música. Com reggae, com hip hop, com world music, com as raízes do house, do techno, do deep, do jungle, enfim, com tudo.
 
Mais do que nunca, é preciso criatividade, porque uma coisa é certa: quem continuar no caminho fácil do "mais do mesmo" vai definhar.
 
Hugo Serra Riço
Publicado em Nightlife
sábado, 02 março 2013 17:44

Seleção musical

 
Hoje em dia quando saímos encontramos festas e clubes onde a "onda" musical é a mais variada possível. Essa mesma diversidade nem sempre é do agrado de todos. Mas a verdade é que essa variedade é um "mal necessário" bem-vindo, visto que os "gregos e troianos" saem por demais satisfeitos e realizados com essa "confusão" musical. No entanto, essa "estratégia" nem sempre é do agrado de todos pelo que os telemóveis começam (nessa altura) a voar na direção da cabine com sugestões e "exigências".
 
Todos os artistas poderão encarar isso como algo desanimador mas não o devem fazer. Qualquer DJ pode encontrar nesses momentos um forte fio condutor para se orientar numa boa leitura de pista. Aliado a isso vêm boas oportunidades de estreitar a relação com o público e/ou fãs.
 

Nem todos se podem dar ao luxo de passar o que realmente gostam em troca de um bom cachet.

 
Nós, 'FY2 - The Party Rockers', enquanto profissionais da área temos neste ponto um grande suporte para o nosso trabalho/projeto. A leitura de pista e a biblioteca musical diversificada são dois pormenores fulcrais na hora de "bombar" as pistas que encontramos no nosso caminho. Quilómetros de festas e eventos que nos desafiam a cada noite.
 
Claro está que as opiniões entre os DJs variam na hora de falar sobre este assunto. Mas iremos sempre cair na velha definição do que é realmente ser DJ. Nem todos se podem dar ao luxo de passar o que realmente gostam em troca de um bom cachet.
 
Por isso "caros colegas" sempre que torcerem o nariz neste tipo de situações fechem os olhos por momentos e lembrem-se que tudo tem uma vantagem, só temos que a encontrar no meio de toda a confusão de luzes, música e fumo.
 
 
Francisco Praia
FY2 - The Party Rockers
Publicado em Francisco Praia
segunda, 23 julho 2018 22:25

Clubs vs Festivais

Nesta crónica resolvi abordar um tema que considero bastante questionável, actuações em Clubs e Festivais. Qual o mais indicado, preferido ou recomendável... segue a minha opinião.

Em época de Verão, sinónimo de calor, férias e festas ao ar livre chegam os inúmeros Festivais. Actualmente em Portugal podemos orgulhosamente dizer que temos alguns dos melhores eventos "outdoor" do mundo, sendo de forma originária ou em parceria, consecutivamente de forma positiva a maioria dos principais nomes mundiais passam assiduamente pelo nosso país, contribuindo para a economia, distinção no panorama ou simples facilidade de acesso ao entretenimento.

Várias vezes sou questionada acerca de qual o meu formato de evento preferido para participar, embora a resposta não seja fácil é simultaneamente bastante objectiva, um evento num Club tem uma capacidade mais reduzida, o que origina um público e tipo de evento mais canalizado e direcionado ao cliente alvo, consequentemente são festas mais pequenas, mas mais calorosas onde tenho mais contacto directo e comunicação com o público. Embora neste caso, maioritariamente "não seja tão favorável" a nível de exposição artística e marketing, quando comparado com um festival, mas neste caso a interactividade é única, o que proporciona uma experiência mais intensa e directa.

Por outro lado, temos o ponto de vista dos grandes palcos e dos eventos de maior dimensão, nestes casos, a exposição a nível de promoção consegue no geral ser de maior alcance, embora a interacção com o público seja diferente, não significando que seja pior. Neste caso em palco, exijo mais de mim pois tenho que agradar a mais público, embora em paralelo me divirta imenso pois tenho "mais braços no ar" e euforia concentrada. Contudo, isto não faz com que os eventos maioritariamente agendados para mim, Clubs e de pequena dimensão, tenham menor importância ou significado.

No mercado "underground" é normal que os eventos sejam de menor capacidade e direcionados para um nicho de mercado mais reduzido, ao mesmo tempo que os festivais e eventos de maior afluência são fundamentais, tanto para a exposição a nível de promoção como para conseguir mostrar em massa a um número maior e significativamente estreante o meu trabalho e aquilo que define a "Miss Sheila".

Após o mencionado, é relevante resumir que adoro participar em ambos os tipos de eventos, não esquecendo as diferenças, ambos são importantes e um pilar na carreira de um artista como eu. Relevante também é o facto, de que sempre fui bastante grata por conseguir marcar presença de forma significativa em ambas as situações expostas aqui, desde o início da minha carreira.
Publicado em Miss Sheila
Chamo-me Herick Pinto, conhecido como "Baruke", tenho 23 anos, sou DJ profissional há 1 ano, fui formado na Academia Internacional de Musica Eletróncia (AIMEC) e contarei aqui um pouco sobre os sonhos e dificuldades que um jovem DJ encontra no início da carreira.

Desde que me entendo por gente que amo a música e tinha o sonho de seguir esse ramo de trabalho, poder expressar os meus sentimentos, transmitir para o público o que estava a sentir e fazer com que eles também vibrassem e entendessem a história que a minha música estava a contar.

Acredito que como um jovem DJ, não só eu, mas, como todos vocês que estão a iniciar a carreira, posso dizer que partilhamos o mesmo sonho: atuar em grandes palcos, participar nos festivais que fomos como público, mas agora como DJs, sermos reconhecidos, dividir o palco com os nossos ídolos, etc.; Só que muitos não imaginam as dificuldades que existem por trás disso e sonhar é realmente muito bom, mas acho que devemos também tentar perceber e contornar as dificuldades que vão aparecer ao longo do caminho. 

Vou tentar elucidar-vos um pouco sobre algumas dificuldades que podem encontrar ao longo do vosso percurso. Claro que é a minha experiência e acho que todos os jovens iniciantes na carreira também o vão passar ou já passaram por isso.

Em primeiro lugar acredito que uma das maiores dificuldades que encontrei foi arranjar gigs onde pudesse atuar, mostrar o meu talento e o meu som, porque ainda não nos conhecem, não somos ninguém aos olhos dos contratantes, não conhecem o nosso trabalho. Então ficam receosos de contratarem, como dizem "o desconhecido assusta". Quando contratam restringem a música que podemos passar, ou seja, só tocamos as músicas que eles querem e mais nada e isso realmente é muito frustrante, pois todos queremos tocar o nosso estilo, mas, acima de tudo acho que temos que parar e pensar que ser DJ também é um negócio e temos que saber aproveitar as oportunidades que nos são dadas, contruir o nosso curriculum, obter experiência em diversos tipo de sítios, seja em esplanadas, bares, discotecas, concertos, etc... tudo isso conta. 

Sem falar na parte em que muitos de nós trabalhamos, pois ainda não podemos viver da música e temos que garantir o nosso sustento e ter também para investir na nossa carreira. Se não podes investir 100% do teu tempo na música a treinar e procurar por gigs, investe 80 ou 70%, mesmo que seja só aquelas poucas horas do dia, faz algo, pois se ficarmos parados à espera que os contratantes venham ate nós e que nossos trabalhos cheguem sozinhos às mãos deles: não vão chegar, é assim que funciona. Por isso, invistam sempre que possam, é essa a minha dica.

Acredito que com foco no que realmente queremos, conseguimos atingir os objetivos que desejamos na nossa carreira. Eu por exemplo já atuei no "Ministerium Club" um espaço que eu só conhecia como visitante e sempre me imaginei a tocar ali, no Palco LG do Meo Sudoeste também tive a oportunidade de fazer o público vibrar e realmente foram experiências incríveis. Por isso, se realmente é o que tu desejas fazer tenho 3 palavras para ti: Foco, Força e Inspiração!
 
Publicado em Baruke
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