segunda, 30 abril 2012 21:57

Warm Up

Warm up é um expressão do Inglês que significa "aquecer" ou "aquecimento". É utilizada na gíria dos DJ's quando se refere ao primeiro que toca, ou o que toca no início da noite.
Posto isto, a minha primeira crónica vem a propósito disso mesmo, dos "Warm up" na noite Nacional.

São raras as noites que no fim das mesmas, consigo comentar, "que grande Warm up que me fizeram hoje". Muito raras e é uma pena que em Portugal pouco ou nada se perceba desse assunto.
A globalização dos DJ’s, a aposta das casas em DJ’s residentes sem nenhuma cultura musical (excetuando os "hits" e "bootlegs" de "hits" do momento), levou a que não exista um cuidado com o ouvido do cliente.
A noite nos dias de hoje começa por volta das 2h30, e termina tarde, bastante tarde. Se não houver um cuidado musical, pode acabar bastante cedo, e como em tudo na vida, os preliminares são muito importantes.
Infelizmente, muitos DJ’s residentes não percebem que quando têm um DJ convidado, o Warm up, é talvez a parte mais importante para o sucesso musical dessa noite. É o trabalho que se faz antes do convidado que prepara o cliente para o que vem.
 
Nestes quase 5 anos que toco de Norte a Sul do país todos os fins de semana, raras foram as noites em que o Warm Up foi bem feito. O DJ residente é o responsável pela música da Discoteca o ano todo, não apenas quando lá vai um convidado, e o facto de não perceber isso, leva a que muitas vezes as noites não corram como esperado, ou da melhor forma. O DJ residente não percebe que tem o ano todo para brilhar (e aí sim, brilha, se o fizer o ano todo), não apenas aquela noite.
 
É muito triste ver DJ’s residentes a colocarem às 2h00 da manhã a fasquia tão alta que o convidado (por melhor que seja), pouco ou nada irá fazer depois. Esquece-se o residente que não está a brilhar nem a tirar protagonismo ao convidado, está pura e simplesmente a estragar a noite. Cansa os clientes, pois a loucura vem com os copos (e aquela hora ainda não "estão no ponto"), gasta músicas, fere ouvidos (muitas vezes até o som já está "no pico"), etc...
 
Um Warm up é para aquecer, não para escaldar assim que se chega à pista de dança.
É realmente triste ver que pouca ou nenhuma cultura se ouve nos dias que correm. Tocar os Hits todos antes do convidado entrar, muitas vezes tocar músicas do convidado, é realmente demonstrativo do que vai na noite nacional. Brilhar quando uma casa está cheia por um convidado, é fácil. Mas brilhar a sério é quando não se tem um convidado, e aí, aposto que até se faz um Warm Up em condições.
 
Um bem haja e controlem as emoções, a noite funcionará muito melhor, experimentem!! Abraço!
 
Massivedrum
www.facebook.com/massivedrum.official
Publicado em Massivedrum
segunda, 21 maio 2018 19:36

Avicii. O outro lado da vida de um DJ

A morte de Tim Bergling, mais conhecido por Avicii, um dos principais nomes da EDM mundial, veio confirmar o que já se sabia sobre a pressão que é feita pela "máquina" que envolve uma indústria que gera muitos milhões. O fenómeno DJ "Superstar Mundial" é relativamente recente, mas o impacto e o dinheiro gerado já se pode comparar (superando-o até em alguns casos) aos da maior parte das "super bandas" que (ainda) existem e enchem estádios. Movendo tantos milhões, envolvendo tanta gente, transformou-se obviamente num negócio muito importante que se centra simplesmente numa ou duas pessoas (ou três, como no caso dos Swedish House Mafia). Com uma estrutura altamente profissionalizada, de muitas pessoas e que abrange varias áreas de negócio, o seu objectivo é simplesmente o de rentabilizar ao máximo o artista ou artistas que com quem trabalham. E como infelizmente os números que as vendas de música representam cada vez são menores devido à pirataria digital (apesar de o tema "Levels" ter sido licenciado à Universal Music por 500.000 Euros!), a principal maneira de rentabilizar um artista destas características são os espectáculos ao vivo.
 

(...) o que vi foi uma pessoa muito jovem que de repente se encontrou com um tema que foi um êxito à escala mundial, com tudo o que isso representa.


A morte de Avicii, uma pessoa jovem, com um sucesso planetário e com tudo para ser feliz, perturbou-me e fez-me pesquisar mais sobre a pessoa e sobre os eventuais motivos do seu falecimento. Obviamente que já o conhecia, mas por a sua música ser totalmente oposta aos meus gostos musicais, nunca acompanhei muito de perto o seu trajecto como artista, apesar de conhecer obviamente os seus principais êxitos e de sentir que tinham bastante qualidade, dentro do seu estilo. Sabia que ele tinha deixado de fazer espectáculos ao vivo em 2016 por motivos de saúde, mas não sabia bem a história e o que tinha acontecido até chegar a esse ponto. Fui por isso ver o documentário "True Stories" sobre o seu percurso, desde o início, e o que vi foi uma pessoa muito jovem que de repente se encontrou com um tema que foi um êxito à escala mundial, com tudo o que isso representa. Vi também que parte de esse êxito se deveu ao seu "manager", Ash Pournouri, à sua gestão e ás suas negociações com as várias editoras interessadas em "Levels". O resultado foi um grande "hit" de tal forma que o nome Avicii foi projectado para a primeira linha dos DJs/Produtores de EDM, com pouco mais de 20 anos. 

O documentário "True Stories" saiu em 2016, pouco depois de Avicii ter decidido deixar de actuar ao vivo e de ter rescindido contrato com o seu "manager", e resultou de 300 terabytes de vídeo que o seu amigo Levan Tsikurishvili registou durante 4 anos. A maneira como o documentário narra a história, como regista as imagens de um Avicii deitado na cama a trabalhar no seu portátil depois de ter sido operado para lhe retirarem a vesícula e o apêndice, mostra bem a pressão que havia sobre si. Dois anos antes tinham-lhe diagnosticado uma pancreatite aguda, uma infecção crónica no pâncreas que normalmente é devida ao excesso de álcool e que provoca dores insuportáveis, e em que nos casos mais graves pode provocar taquicardia e ansiedade, o que obviamente só agrava o problema. No documentário pode ver-se como nessa fase Avicii teve que reduzir e limitar muito o que comia (a comida agrava o problema porque activa a formação dos sucos pancreáticos que neste caso provoca uma dor intensa) e emagreceu muito. Apesar disso é visível a pressão do seu "manager" para tomar os analgésicos (que para este nível de dor já se podem tornar aditivos) para fazer os muitíssimos espectáculos que tinham em agenda, porque nesta altura Avicii facturava a módica quantia de 17 milhões de dólares ao ano.
 
Ash Pournouri, o seu "manager" até 2016, descobriu Tim como produtor aos 18 anos quando era promotor de eventos em "Clubs" e estava a terminar o curso superior de advocacia. Vendo o seu talento e a sua rapidez em produzir temas decidiu agencia-lo e mostrar o seu trabalho aos melhores DJs e Produtores na altura, criando uma empresa para o efeito que, com todo o sucesso atingido por Avicii fez dele um milionário até 2016, ano que Tim deixou de ser representado por ele e tomou conta da sua agenda e também da sua vida. O que se pode ver no documentário "True Stories" é que Ash, sendo uma pessoa mais extrovertida e mais "agressiva" comercialmente do que Tim, levou o artista até ao limite físico com os inúmeros espectáculos, muitas vezes em dias consecutivos e a milhares de quilómetros de distância uns dos outros. Obviamente que Tim queria o sucesso, buscava o êxito que teve e que Ash o ajudou e muito nesse objectivo, mas não estava psicologicamente preparado para o peso que a dimensão desse êxito representava. Com uma personalidade introvertida que não gostava de ser o centro das atenções, é difícil imaginar o que teve que superar para subir a um palco e ter que actuar em frente de milhares de pessoas, ter que ter uma cara alegre e sorridente mesmo quando estava sobre o efeito de fortes analgésicos e com imensas dores. Mas era o centro da máquina que gerava milhões e de uma maneira ou doutra teve que o fazer, até atingir o seu limite físico.
 

(...) é difícil imaginar o que teve que superar para subir a um palco e ter que actuar em frente de milhares de pessoas, ter que ter uma cara alegre e sorridente mesmo quando estava sobre o efeito de fortes analgésicos e com imensas dores.


E isso leva-me ao motivo desta minha crónica, o outro lado da vida de um DJ. Há muita gente, especialmente as gerações mais novas que aspiram a ter uma carreira como DJ que provavelmente só veem a parte dos "braços no ar", a parte dos aplausos, das caras sorridentes na cabine onde tudo parece fantástico e maravilhoso. Obviamente que é fantástico vermos as caras felizes das pessoas que estão à nossa frente a dançar a música que estamos a passar! Mas há uma outra parte, uma outra cara da moeda que não é visível ao grande público. São as muitas horas que passamos em viagens, voos muitas vezes atrasados que nos fazem andar a correr no aeroporto, com poucas horas de sono (ás vezes de directa) e que provocam um grande desgaste físico. E mesmo assim, na noite seguinte temos que estar na cabine, com um sorriso na cara e de "braços no ar". Já sem falar na pressão que existe para que as nossas actuações sejam sempre boas, tenham impacto e que agradem ao público que temos à frente. Essa pressão existe sempre e é gerida de diferentes maneiras pelos diferentes artistas, mas também provoca desgaste, de uma maneira ou doutra.

É óbvio que somos pagos para essa função e em alguns casos muito bem pagos. Mas também é verdade que o dinheiro não serve de nada quando atinges um limite físico como infelizmente atingiu Tim Bergling e que o levou, como indicam as últimas noticias, ao suicídio. É um exemplo extremo de como uma actividade vista por muitos como uma coisa fantástica e maravilhosa (que também é) mas que tem uma parte não visível ao grande público que é extremamente desgastante.

Aconselho por isso a todos os que aspiram a ser DJs a verem o documentário "Avicii: True Stories" para verem o outro lado da vida aspiram a ter. É óbvio que nem todos vão ter um calendário "louco" com o de Avicii, com actuações quase todos os dias (situação que numa fase da sua carreira chegou a acontecer) mas se quiserem mesmo levar a sério uma carreira como DJs (e produtores) e caso tenham sucesso, vão querer fazer mais e mais "gigs". Embora isso ao princípio seja fantástico, quer pelo dinheiro que entra, quer pelo reconhecimento que representa, a medio-longo prazo, se não tiverem cuidado, o preço a pagar pode ser muito alto. Demasiado alto no caso de Tim Bergling. Que descanse em paz.
 
 
Carlos Manaça
DJ e Produtor
 
(Carlos Manaça escreve de acordo com a antiga ortografia)
Publicado em Carlos Manaça
Tempo de pandemia e estado de emergência é também tempo de uma reflexão sobre o impacto da nossa área e nas consequentes mudanças no futuro. Neste momento, a incerteza é sem dúvida a maior preocupação numa indústria que foi fustigada pela necessidade de parar a sua actividade, muito antes de todas as outras áreas de sociedade.

A indústria da música, uma área fundamental da cultura, vive tempos difíceis. Músicos, técnicos, agentes, promotores e todos os restantes postos directos e indirectos de trabalho gerados por esta área que em muito contribui para a sociedade, estão com o seu futuro em suspenso.

Em Portugal como na maioria dos países do mundo urge a necessidade de um plano de contingência que passa pela preservação da saúde pública e pelo controlo social e económico. Essas medidas implicam estabelecer prioridades e a música não é assim considerada numa primeira fase. No nosso país por força da sazonalidade da nossa actividade existe muito trabalho considerado precário. A curto prazo terá de ser criado um fundo/linha de apoio excepcional para determinadas áreas da sociedade como a indústria da música e do entretenimento em geral. Se é prioritária a saúde pública e a contenção da pandemia, implica que eventos sejam cancelados ou adiados, tendo em conta que são foco de provável contágio.

Todos aqueles que estão directa ou indirectamente dependentes desses mesmos eventos estão impedidos por tempo indeterminado de exercer a sua actividade, mesmo quando toda a sociedade estiver já de volta ao seu normal funcionamento. É com certeza imprudente acelerar a retoma dos eventos e espaços de diversão, sob pena de assistirmos a uma "segunda vaga" de surto da epidemia que poderá ser mais penalizadora e certamente atrasará a retoma à normalidade.

No entanto é fundamental criar medidas de apoio e um organismo que lidere esse processo de uma forma estruturada.

Este é o momento certo para a indústria da música se unir de uma forma organizada e concertada à imagem de outras áreas. Apenas com uma estratégia será possível salvar uma indústria que ficará exposta.

É sem dúvida um momento único e ímpar na sociedade moderna que vivemos. Como em todas as "guerras" existem consequências, momentos de crise e readaptações para o futuro.

Podemos estar perante uma crise sem precedentes, talvez a mais dura e com maiores consequências, mas é também um momento de mudança de hábitos, de consciência social e de adaptação a uma nova realidade.
Numa fase em que é ainda imprevisível prever o que acontecerá com a economia e sociedade em geral, a música tem e terá sempre um papel fundamental na sociedade e mesmo em tempo de confinamento tem a capacidade de transmitir emoções. Cabe aos músicos e restantes intervenientes continuarem a brindar o público com a emoção e alegria que apenas a música é capaz.

A sociedade e os governantes têm o dever cívico de preservar esse bem tão precioso que contribuiu diariamente para o bem-estar de todos, num momento que é difícil mas que testa a capacidade humana de se superar e reinventar.

Devemos todos contribuir activamente mantendo as regras de afastamento social e medidas de prevenção. Só assim poderemos voltar a fazer festa em breve!

#StaySafe #VaiCorrerTudoBem
 
Fernando Vieira
Publicado em Fernando Vieira
quinta, 28 março 2019 21:30

A Indústria e a Integridade Criativa

Os termos Artista e Criação podem ser muito relativos se tivermos em linha de conta todas as necessidades de uma Indústria absolutamente focada na massificação e na componente financeira em detrimento da liberdade artística. Até onde a nossa liberdade criativa se pode sobrepor à realidade quando temos que ter em linha de conta que nada mais do que uma simples opinião muitas vezes pode ser escrutinada até à exaustão, muitas vezes por pseudo-críticos que percebem tanto da nossa Arte de fazer música como eu percebo de cirurgias cardíacas. Infelizmente sou obrigado a chegar à conclusão que como Artistas a nossa liberdade criativa vai até onde a Indústria precisa, é ela que dita as regras, as necessidades e as tendências. 

Posto isto, pergunto eu de uma forma muito directa, o que percebe a Indústria de criatividade, sensibilidade ou originalidade? Serei obrigado a dizer absolutamente nada. Há muitos anos os Artistas ditavam as tendências com a sua criatividade, livre de segundas intenções e absolutamente pura do ponto de vista dos resultados. Não havia redes sociais, não havia estudos de mercado, ou se gostava ou não. Paralelamente a esta maneira de colocar a Arte, temos hoje em dia uma realidade onde o Criativo é literalmente encostado à parede. Alguém acha que o mercado precisa disto, existe um nicho para determinado tipo de "produto" e é isso que se procura. E quem quer fazer uma carreira guia-se pelas directrizes impostas. Torna-se absolutamente banal um qualquer compositor afirmar que tem a fórmula mágica, fórmula essa que lhe foi demonstrada por uma realidade comum e que poderá ou não ser seguida, correndo nós o risco de sermos considerados "infiéis" se optarmos por fugir ao rebanho e apresentamos algo que seja considerado fora do padrão porque todos nos devemos reger. 

É evidente que existem sempre fugas à tirania industrial, o que graças às mesmas redes sociais, que tanto aniquilam os verdadeiros criativos, curiosamente acabam por ajudar a furar a hierarquização implementada, fazendo com que mesmo sem termos os padrões ditos consensuais conseguimos chegar ao "paraíso". É evidente que dada a globalização das artes, os diferentes serão sempre meros influenciadores de minorias, se bem que por vezes uma minoria pode dar lugar a um culto que nenhuma máquina industrial oleada ou organizada consegue combater. Ao longo dos anos temos tido os mais variados exemplos de "rebeldes" que acabaram por encostar às cordas a promiscuidade negocial de um mercado absolutamente agarrado a um pagamento de favores e troca de identidades por desvios mais fáceis para os objectivos pretendidos, ganhando respeito das entidades ditas especialistas, não de uma forma natural mas porque também estas perceberam que a equação não tem que ser exata. O que seria de nós se um dia alguém tivesse chegado perto dos Beatles e lhes tivesse dito que estavam errados na sua visão, porque comercialmente não iria resultar? 

E como estes teria centenas de exemplos para vos dar, nos mais variados sectores da Arte. A personalidade Artística acaba por ser o nosso único trunfo perante uma realidade em absoluta decadência e tentativa de monopolização da criação, o que me parece absolutamente desprovido de qualquer sentido de lógica. Quem cria deve ser livre física e espiritualmente para conseguir transportar de dentro de si cá para fora uma forma de comunicação que cada um de nós, como seres humanos, temos para oferecer de uma maneira muito singular. Cada um de nós é especial, seja a pintar um quadro, a escrever um poema ou a compor uma música. Hoje em dia tudo gira à volta da imagem, de quem tem mais seguidores, quem influencia mais, quem choca mais. Na minha opinião, a liberdade criativa é o maior dom que nos foi conferido e se alguém nos está a tentar retirar isso, devemos cerrar os punhos e lutar com todas as nossas forças para que jamais esse objectivo seja alcançado. 

Como Artista sou muito pouco flexível naquilo que é a minha identidade criativa, admito. Tenho a perfeita noção que pago a minha fatura por isso, mas tenho a certeza que estou a contribuir para a defesa de todos aqueles que no futuro sejam também essencialmente focados na criação e no transmitir vibrações e sensações únicas uns para os outros, que no final das contas é a principal função de quem tem a responsabilidade e o dom de poder oferecer algo para a posteridade. O importante não é o agora, mas sim o que deixamos para o futuro. A presunção de pensarmos que somos os mais importantes só porque estamos no nosso tempo acaba por ser actualmente o maior pecado da sociedade criativa em geral.
 
Carlos Vargas
Publicado em Carlos Vargas
quarta, 15 julho 2020 21:35

Bares e Discotecas: Os Esquecidos

Festas ilegais em vivendas.
Festas ilegais na via pública.
Festas ilegais em bombas de gasolina.
Festas ilegais em todo o lado e os legais fechados e sem hipótese de trabalhar.

Que sentido faz hoje dia 15 de Julho, ainda não haver legislação para os Bares e Discotecas poderem trabalhar?
Que sentido faz querer turistas quando depois quando chegarem aqui a animação é idêntica a um cemitério?
Que destinos turísticos vivem ou sobrevivem sem animação?
Que sentido faz incentivar aglomerados de gente sem regras, sem cuidados sanitários, sem controlo?
Que sentido faz estar a incentivar a proliferação da pandemia em vez de evita-la?
Que sentido faz condenar milhares de empresas à falência?
E centenas de milhares de pessoas ao desemprego e à miséria?
Que tipo de sociedade estamos a criar?

Não reconhecer o direito das pessoas para se divertirem e obriga-las à clandestinidade, não é digno de um estado democrático.
Eu sei que conseguem fazer melhor.
Nós sabemos que até sabem.
Basta quererem.

Devolvam a vida a quem faz viver.
Não há dia, sem a noite.
 
Eliseu Correia
Empresário
Publicado em Eliseu Correia
Há poucos anos, era comum vermos discotecas a apostar em diferentes estilos musicais. Mesmo dentro da música dita ‘mais comercial’, as discotecas, sobretudo as das grandes cidades, dirigiam-se muitas vezes a públicos diferenciados, explorando nichos de mercado e subculturas que partilhavam os mesmos valores e gostos musicais. As discotecas desempenhavam um importante papel na promoção desses valores, sendo a música a sua principal ferramenta.
 
O aparecimento da cena house em Portugal, no início dos anos 90, foi um exemplo de uma grande subcultura que partiu dos DJ’s, primeiro, e das discotecas, depois, e que surgiu como um fenómeno de contracultura, respondendo à necessidade de quebrar com os unanimismos culturais estabelecidos.
 
Hoje, essa realidade alterou-se profundamente. As discotecas já pouco se diferenciam entre si: todas tocam as mesmas músicas, tendo os hits e a música de cariz popular tomado conta da maioria das casas do país. Arrisco a dizer que nunca como hoje os padrões de exigência estiveram tão baixos. Alguém imaginaria, há 10 anos, uma discoteca reputada de uma grande cidade a tocar o Emanuel? Salvo raras exceções, como o Carnaval, isso apenas seria possível em discotecas de província que, apesar de serem importantes, não ditavam tendências. Faziam parte de um Portugal profundo que nós, gente da cidade, insistíamos em subvalorizar. Por mais comercial que a música fosse, havia uma fronteira que as casas de referência raramente ultrapassavam.
 

"Os atuais empresários e gestores de discotecas parecem não perceber que, ao tentarem dirigir-se às massas, estão a adotar um modelo de negócio esgotado."

 
Hoje, a mesma receita é aplicada a todos os públicos, como se as pessoas fossem todas iguais e partilhassem todas dos mesmos gostos. Os atuais empresários e gestores de discotecas parecem não perceber que, ao tentarem dirigir-se às massas, estão a adotar um modelo de negócio esgotado. A tendência dos negócios, das marcas, do marketing e da comunicação é precisamente a oposta: "Como vivemos numa época de proliferação de culturas, as marcas têm de fazer escolhas. Não lhes é possível agradar simultaneamente a todas as pessoas, muitas vezes nem sequer a uma clara maioria delas"[1] . Não é por acaso que as marcas que têm feito maior sucesso nos últimos anos têm sido aquelas que souberam dirigir-se a nichos de mercado: Red Bull, Smart, Diesel, Apple ou Frize são apenas alguns exemplos.
 
No excelente livro 'A Cauda Longa', Chris Anderson explica porque é que o futuro dos negócios é vender menos de mais produtos, e traça o perfil desta nova economia da cultura e do comércio: os mercados fragmentam-se em inúmeros nichos, que se multiplicam à medida que os custos de produção e distribuição diminuem; por outro lado, os produtos de massas têm tendência a perder fulgor porque vendem cada vez em menores quantidades.
 
Um dos exemplos desta nova realidade é o comércio da música. A venda online de música alternativa – chamo-lhe 'alternativa' para a diferenciar dos hits – já representa uma quota superior à dos próprios hits. A título de exemplo, basta o iTunes vender apenas uma vez todas as músicas do seu stock, para isso representar mais de 20 milhões de músicas vendidas. Ou seja, a música alternativa toda junta tem já um valor económico superior ao dos hits.
[1] João Pinto e Castro, “Marketing Ombro a Ombro”, p. 41.
 
A diminuição dos custos de produção proporcionou a proliferação de diferentes estilos musicais, de inúmeros nichos e subculturas, e uma liberdade criativa sem paralelo na história da indústria discográfica: as editoras têm agora menos poder; os produtores deixaram de estar sujeitos aos caprichos dos A&R, ou quaisquer outros intermediários, e são cada vez mais independentes.
 
Com as lojas online, os custos da distribuição baixaram consideravelmente, resultando num preço de venda ao público bastante reduzido. Sendo a capacidade de armazenamento destas novas plataformas praticamente ilimitada, os seus stocks são gigantescos e permanentes. Resultado: nunca houve tanta música, tão diversificada, acessível e barata como hoje.
 
Mas se a música atual é tão variada, por que razão as discotecas andam todas a tocar o mesmo? É paradoxal que, numa indústria cultural cada vez mais tribalizada, as discotecas portuguesas apostem, como nunca, num modelo de negócio baseado em música para as massas, na música que mais vende no grande mercado – os chamados ‘hits’.
 
 
Apesar de reconhecer que é apenas um lado da realidade, vou arriscar três eventuais razões para este fenómeno.
 
Em primeiro lugar, porque "quando não se sabe para onde se quer ir, qualquer caminho serve para lá chegar". As discotecas são, salvo raras exceções, um modelo de negócio em que o amadorismo e o improviso imperam. Num negócio tão saturado como é o das discotecas, ainda continuam a abrir-se casas noturnas apenas porque sim: não se definem estratégias, não se traçam objetivos; tudo é deixado ao acaso. As discotecas não são geridas como empresas ou como marcas que precisam de ser valorizadas. Uma análise SWOT é ainda, para muitos empresários, um conceito exótico. E ao fim de tantos anos a trabalhar em discotecas, continuo a questionar-me como é que é possível haver tantos empresários com tão pouca sensibilidade para entender a música e as novas indústrias culturais, elementos basilares deste negócio.
 
Em segundo lugar, porque está enraizada a noção de que só a música popular – ou popularucha – é que tem público. É uma ideia muito repetida. Mas será verdadeira? Basta olharmos para os cartazes dos festivais de verão para percebermos que o grande público pode coexistir com as tribos. A programação de grande parte destes festivais assenta precisamente no equilíbrio entre as massas e os nichos de mercado. O Lux Frágil tem seguido uma estratégia idêntica. Mesmo aceitando a ideia de que só a música popular é que tem público, todos sabemos que a música, por si só, não enche uma casa. Quantas discotecas dirigidas para massas estão neste momento vazias ou afundadas em dívidas? Mesmo que não seja de forma consciente, todos temos a noção de que há outras variáveis em jogo.
 
Por fim, porque o recurso à música comercial parece, à primeira vista, o caminho mais fácil. A meu ver, é mais um grande equívoco. Nem toda a gente tem perfil ou está habilitada a trabalhar para as massas. O raciocínio dos empresários que olham para a música comercial como a grande panaceia é mais ou menos deste tipo: "A discoteca X toca música comercial. Está cheia. Logo, a minha discoteca, para estar cheia, tem de tocar música comercial". Esta argumentação é frágil porque a realidade é mais complexa. Há muitos outros elementos a ter em conta.
 

"Mesmo aceitando a ideia de que só a música popular é que tem público, todos sabemos que a música, por si só, não enche uma casa. Quantas discotecas dirigidas para massas estão neste momento vazias ou afundadas em dívidas?"

 
Não escondo que, numa sociedade cada vez mais fragmentada culturalmente, a música popular funciona como um poderoso agregador social. E esta é, quanto a mim, a chave para percebermos o fenómeno que estamos a viver. Mas o que me incomoda não é a música popular em si mesma. Eu também gosto de música comercial. O problema é que há cada vez menos espaço para a diferença. A repetição das mesmas fórmulas e a constante diminuição dos padrões de exigência, por falta de visão e criatividade, estão a transformar as discotecas em bailes de sede. E isso devia, por si só, fazer-nos refletir a todos.
 
Alex Santos
Publicado em Alex Santos
 
Não me identifico com a grande maioria da música produzida por David Guetta, sobretudo porque desprezo o caráter industrial que as suas produções assumiram. São músicas produzidas em série, num estúdio que mais parece uma fábrica "fordista", que visam apenas conservar, a todo o custo, a sua notoriedade, numa indústria cada vez mais efémera e em que a música assume um relevo cada vez menor, sendo apenas uma das muitas variáveis em jogo. Há muitos anos que a música vazia de David Guetta, pura e simplesmente, não me toca.
 
Dito isto, e pondo os gostos de parte, fico sempre incrédulo quando vejo os inúmeros boatos que sobre ele circulam na Internet. O último li-o no Wunderground, um portal irlandês dedicado à arte e música underground, carregado de mexericos e artigos falsos que apenas servem para ridicularizar alguns artistas e capitalizar leitores rancorosos - para os mais incautos, foi deste mesmo portal que saiu a notícia, também falsa, de que Axwell se iria retirar da indústria musical.
 
Estes artigos teriam piada se os leitores percebessem claramente de que se trata de escrita humorística - como acontece, por exemplo, com o Inimigo Público. O problema é que, ao incluir a informação verdadeira e falsa no mesmo saco, o Wunderground gera a confusão e induz os leitores em erro. Para além de o artigo ser uma sátira evidente, repleto de episódios inverosímeis e caricaturais, faz uma alusão a um post no Twitter de Guetta que nunca existiu.
 
Mas o que mais me espantou nesta história, e que acabou por ser a principal razão por que se multiplicaram os sites que mencionaram o assunto, foi o facto de Frankie Knuckles e David Morales, pioneiros do House e referências incontornáveis dos primeiros produtores de música eletrónica portuguesa - entre os quais eu me incluo -, terem contribuído para amplificar o equívoco, ao comentarem, no site da rádio online americana Coco.fm, um artigo falso como se fosse verdadeiro. Aquilo que não passava de um artigo satírico passou a ser visto como notícia.
 
Conclusão: passadas algumas horas, dezenas de sites referiam a polémica e milhares de pessoas em todo o mundo prontificavam-se a crucificar Guetta, com comentários que exalavam ódio e ressentimento. Porquê? Sobretudo, porque, influenciados por uma campanha na Web que visa ridicularizá-lo, não gostam da música que ele passa e produz. Não querendo fazer de advogado do diabo, posso dizer que já o vi a pôr música antes de ele ter atingido o estatuto que hoje tem e, apesar de não ser a minha praia musical, até o achei eficaz e competente. Alguns colegas meus dizem o mesmo. Para mim, a qualidade de um DJ não é medida pelo estilo de música que ele toca.
 

Às vezes, sinto-me numa cena em que estamos todos à espera da machadada final, uma espécie de "Dance Music Sucks" (...)

Não gostar de David Guetta, é uma coisa; enxovalhá-lo e linchá-lo publicamente, utilizando o boato como modus operandi, é outra muito diferente. Os fins não justificam os meios. No final do dia, é toda a música de dança que perde, que fica cada vez mais dividida e, por isso mesmo, enfraquecida. Às vezes, sinto-me numa cena em que estamos todos à espera da machadada final, uma espécie de "Dance Music Sucks", num remake do conhecido episódio protagonizado por Steve Dahl que simbolizou o fim da era Disco.
 
Para além de ter tornado patente a crispação e a divisão que hoje existem entre duas diferentes correntes de música de dança, uma mais underground e outra mais mainstream, este episódio serve para nos relembrar de que é necessário sermos especialmente prudentes quando lemos online. Se nem tudo o que aparece em revistas e jornais é verdadeiro, imagine-se na Internet, que não passa pelo crivo jornalístico ou de gente preparada para rever o material publicado.
 
"Como disse o antigo primeiro-ministro britânico James Callaghan, 'uma mentira pode dar a volta ao mundo antes de a verdade conseguir calçar as botas'. Nunca tal foi tão verdade quanto com a acelerada, destravada e desgarrada cultura da blogosfera da atualidade"1.
 
1Andrew Keen, O Culto do Amadorismo
 
Alex Santos
Publicado em Alex Santos
terça, 15 dezembro 2020 22:17

Pensar o futuro

Se tivesse de escrever sobre o que se passou este ano na Cultura e mais concretamente nos Djs e/ou na música electrónica, certamente 2 linhas seriam suficientes ou até mesmo um "texto em branco".

O ano de 2020 ainda não terminou e apesar de estarmos quase a entrar em 2021, tudo indica que iremos permanecer em 2020 até ao Verão (para ser optimista). 

Depressivos e apreensivos já todos nós estamos, pelo que resolvi partilhar convosco "um olhar sobre o futuro" e deixar-vos algumas informações do que se está a fazer, pensar e planear para os DJs Portugueses. 

Recentemente (Setembro de 2020) foi criada uma Associação sem fins lucrativos que juntou várias pessoas do sector e que dá pelo nome de "Associação Portuguesa do Entretenimento" que engloba também os DJS e produtores (consultem www.apent.pt).

Esta Associação não tem qualquer valor de inscrição como associado, não cobra qualquer quotização (em virtude da actual ausência de actividade do sector) e não recebeu qualquer apoio financeiro, sendo totalmente suportada pelas verbas e trabalho dos sócios fundadores. Em Janeiro irá ter um espaço físico (sede) para que possa iniciar o seu trabalho social e com espírito de missão onde um dos principais "problemas" para resolver está relacionado com os DJs. 

Os DJs sempre "reclamaram" por não serem ouvidos, reconhecidos como profissão e serem devidamente regulados, mesmo havendo associações específicas mas que pouco ou nada fizeram ou podem fazer devido à sua natureza juridica, falta de representatividade ou interesses próprios. Com esta nova Associação, devidamente enquadrada, legalizada e estruturada, há finalmente condições para "pensar o futuro". 

Os estatutos dão total autonomia aos associados e é deles a associação e não de uma pessoa singular ou um grupo de pessoas, o que permite que TODOS tomem iniciativa e apresentem ideias, projectos e "exigências" que sejam levadas junto das entidades competentes para que haja uma regulamentação, reconhecimento da profissão e principalmente um olhar sobre a importância do papel que o DJ desempenha na Cultura Portuguesa. 

Todos aqueles que agora estão a passar dificuldades, não têm qualquer tipo de apoio, não podem desenvolver projectos, partilhar o seu trabalho por falta de meios físicos e equipamentos, ter perspectivas de futuro, expôr as suas ideias, etc., não terão mais desculpas porque cada associado é "dono" da associação e terá os mesmos direitos (e deveres) que os restantes associados. 

Os tempos estão difíceis e nada podemos fazer sem ser "pensar o futuro" e está nas mãos de cada um de nós, alterar, precaver e melhorar o futuro de todos nós. 

Os meus votos de Boas Festas (na medida do possível) para todos e aproveito para parabenizar o portal 100% DJ por mais um aniversário ao serviço da divulgação e promoção do melhor que fazemos em Portugal nesta área específica que necessita mais que nunca de ser apoiada.
 
Ricardo Silva
DWM Management
Publicado em Ricardo Silva
sexta, 23 janeiro 2015 22:17

Os talibãns dos géneros musicais

 
A guerra dos géneros musicais que hoje em dia se vive na scene é quase tão inútil, descabida e infrutífera como a guerra dos sexos. Discutir se há um género musical superior ou inferior é o mesmo que discutir quem é que é melhor: os homens ou as mulheres. É óbvio que não há géneros musicais superiores ou inferiores e é óbvio que a música evolui, mas o talibanismo musical tem sido a saga da história da música electrónica: pelo menos em Portugal.
 
Comecei a interessar-me a sério pela música electrónica em pleno auge do Iberican Sound, quando o house progressivo era rei e senhor e era totalmente diferente do que é hoje em dia. Os ritmos tribais e étnicos pareciam encaixar na perfeição nas teclas mais dark e atmosféricas. E Portugal tinha uma palavra gigante a dizer na scene internacional. Rui da Silva tinha acabado de chegar a níveis estratosféricos com o tema "Touch Me" e artistas como DJ Vibe ou Carlos Manaça eram dos mais aclamados do mundo inteiro, o que fazia do nosso país: "A Paradise Called Portugal".
 
Depois aconteceu o inevitável quando se espreme uma laranja até à casca. Deixa de haver sumo e passamos para a próxima. E surgiu uma vaga de electro house que trouxe para a ribalta artistas como Trentemoller, Mylo, Tiga, Tiefschvartz e, numa vertente mais comercial, o mais conhecido David Guetta. Eu, que tinha nascido em plena era do tribal house e do house progressivo via esta nova vaga com um quase ódio. Eram os destruidores da minha cultura. Era um miúdo e sem o saber estava a comportar-me como um autêntico "velho do Restelo": acalorado pelo conforto do "mais do mesmo" e aterrorizado com a ideia de mudança. Mas tudo na vida evolui e a história - mesmo que cíclica - escreve-se sempre em frente. Foi então que o maximalismo do electro house e, de certa forma, do tribal house gerou a emergência de uma nova corrente: o minimal techno.

Não estar na redoma de um estilo musical único faz-nos evoluir musicalmente mesmo dentro do nosso estilo musical de origem.

Foi a primeira vez que evoluí a sério e num curto espaço de tempo a minha produção musical. Não estar na redoma de um estilo musical único faz-nos evoluir musicalmente mesmo dentro do nosso estilo musical de origem. Só depois de me dedicar a tentar perceber o conceito, técnicas e elementos do minimal é que consegui, enfim, colocar-me num patamar de produção musical que me satisfazia pessoalmente. 
 
Mas, rapidamente, o minimal techno gerou o ressurgimento com grande pompa e circunstância de um estilo que estava adormecido há demasiado tempo - o techno. Muita gente falava num novo techno com um BPM mais lento e capaz de se fundir facilmente com os estilos que tinha sucedido.
 
E foi com a exaustão desta vaga que começa a surgir o que actualmente se chama de "EDM" muito influenciado primeiramente pelo trabalho do Deadmau5 e da fusão brilhante entre o trance e o house que teve a mestria de fazer na altura certa. Muito do que se fez entre 2008 e 2010 eram reproduções quase intactas de um estilo muito próprio do canadiano. E é nessa senda que surgem os Swedish House Mafia e mais tarde Hardwell e tantos outros.
 
Tudo isto para vos dizer que a música, na minha opinião, é como a história: cíclica e pendular. Precisa de se esgotar, de se deteriorar, de degenerar-se e depois de uma revolução de abanões, e de gente que coloque tudo em causa para voltar a tornar-se interessante. Um exemplo que costumo dar e que acho dos mais interessantes é o dos Beatles. Quem ouvir pela primeira vez o primeiro LP "Please Please Me" e o último "Let it Be" de seguida, certamente achará que se trata de uma banda totalmente diferente. Mas quem ouvir todo o trabalho que está pelo meio e analisar a realidade musical da época rapidamente se apercebe que se tratou de uma profunda e extraordinária evolução. No final da década de 60 lançar temas como "Love me Do" ou "From me To You" já não faziam o mesmo sentido e, neste sentido, não deixa de ser curioso que o álbum que demonstrou de forma mais vincada a evolução musical dos Beatles: "Sgt. Pepper’s Lonelly Hearts Club Band" seja considerado pela Rolling Stone como o "maior álbum de todos os tempos."
 

(…) a música, na minha opinião, é como a história: cíclica e pendular.

 
É por este motivo que fico chocado ao ver os talibãs dos géneros musicais a actuar na internet. Estou a falar directamente para os arautos do underground/tech house e techno que vêm na EDM: "música de carrinhos de choque" e para os talibãs do EDM que só de pensarem na possibilidade de a house music voltar a ganhar terreno em géneros musicais como o "future house" ficam logo com urticária. Foram SEMPRE, mas SEMPRE os que souberam sair e aventurar-se, os que fizeram a scene evoluir e dar o próximo passo. Não estou com isto a dizer que todos devamos agora produzir e consumir todos os géneros musicais, mas somente que não se barriquem atrás do EDM e apedrejem o vosso vizinho que por acaso até gosta é de música latina, tech house, psy trance e vice-versa.
 
E acabo com as palavras do insuspeito Carl Cox: "It's about music! Not one music style is better than the other, not one music style is more truly than the other. The whole thing is based on respect. It's all about respect, respect to the music, respect to the DJ's, respect to the crowd and respect to each other. It's all music, music never separates people!". 
 
Hugo Rizzo
Publicado em Hugo Rizzo
sexta, 09 outubro 2020 22:01

Está quase tudo diferente

Muitos de vocês não me conhecem. Faço produção de eventos e é no backstage e longe das câmaras que me sinto bem.

Fiz parte da criação de alguns projetos e conceitos inovadores e do relançamento de muitos outros - (Flash, Bloop, Ribatexas, I Love Baile Funk, Revende of the 90’s, para vos dar alguns exemplos). Neste momento abraço o projeto H Collective, empresa detentora de alguns destes conceitos e entrei recentemente num novo desafio chamado "Lorosae", um Restaurante/Bar de praia na Costa da Caparica.

Nesta altura do ano normalmente estaria envolvido em duas ou três rentrées de espaços noturnos em Lisboa, só que não. Deveria estar a preparar o lançamento da nova Tour Revenge of the 90's, só que não. Estou com tempo para escrever este artigo de opinião durante o mês de Setembro.

Estamos cansados de não poder trabalhar, a tentar reinventar negócios e formas de estar. Estamos com saudades. Passaram 6 meses desde que o nosso mercado parou e dançar juntos de copo na mão já parece uma coisa do passado.

No início parou mesmo, mas em meados de Julho quando alguns espaços, depois de algumas readaptações, começaram a conseguir fazer algum tipo de eventos com lugares sentados e o devido distanciamento, apareceu uma luz de esperança e o pensamento imediato foi: "isto a pouco e pouco vai arrancar". 

Alguns arregaçaram as mangas e conseguiram dar a volta para abrir, outros não tinham nos seus espaços forma de contornar as coisas para estarem legais nas novas regras. Em tempos tão difíceis foi engraçado ver as pessoas a adaptarem-se a estar depois de um copo ou dois sentadas no mesmo sitio a dançar, à frente da cadeira, a irem ao bar e prolongar a conversa com o barman para poderem estar de pé mais um bocadinho a abanar o corpo em modo dança reprimida.

Durante esta fase assisti com tristeza a pessoas exteriores aos negócios, e até mesmo concorrentes, com empenho em fazer denúncias e prejudicar de forma dramática a possível e lenta retoma.

O mercado da noite e eventos está difícil, praticamente parado, e é tempo de dar os braços, estar unidos e arregaçar as mangas. A concorrência é muita, e mais agora que as pessoas que saem de casa para eventos são ainda menos, mas quanto mais unido estiver o mercado maior a força junto das entidades competentes para um aceleramento da retoma. 

Os eventos e a noite como nós os conhecíamos vão voltar. Até lá muita força para todos porque quando voltarmos não vamos ter mãos a medir.
 
Miguel Cruz
Empresário/Produtor de Eventos
Publicado em Miguel Cruz
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